Tempo De Estrelas escrita por Hanna Martins


Capítulo 12
Promessas


Notas iniciais do capítulo

Preparados para saberem sobre o passado de Finnick e Katniss?



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– Lembre-se do que combinamos! Nada de apelidos! – me adverte Peeta, no carro.

– Ok, não vou te chamar de nenhum apelido, docinho! – falo sarcasticamente.

– Katniss! – me repreende Peeta.

– Tá bom, tá bom, vou parar. Você não é nem um pouquinho divertido!

Ele bufa.

Descemos do carro. Acho que não há nenhum paparazzi por perto, porém, mesmo assim Peeta pega em minha mão. Temos que atuar, afinal haverá outras pessoas neste jantar, além de Haymitch.

O restaurante é um daqueles lugares caros frequentados por pessoas importantes da sociedade. O atendente, que veste um terno elegante e de uma marca luxuosa, em vez de nos conduzir para uma mesa, nos leva até um corredor cheio de portas. Ele abre uma das portas, revelando uma pequena sala, em que há uma mesa com cinco lugares. Haymitch está sentando ao lado de outro homem, que me causa a leve imprevisão de já tê-lo visto antes, só não sei a onde.

– Que bom que vocês chegaram! – exclama Haymitch, indicando que nos sentemos.

– Como vai? – Peeta cumprimenta o homem, que está ao lado de Haymitch, de um modo amigável, ele deve conhecê-lo.

Peeta, como um bom moço, puxa a cadeira para que eu me sente. Sorrio para ele. Você pode enganar o mundo, Peeta, menos a mim!

– Este é Plutarch Heavensbee, o diretor do clipe – apresenta Haymitch. – E esta é Katniss Everdeen.

Reconheço o nome imediatamente. Já ouvi muito sobre Plutarch Heavensbee, um dos diretores mais conhecidos. Seu último filme fez tanto sucesso, que ele se tornou um dos diretores mais disputados. Tem sido feito várias especulações sobre seu novo projeto. Sério, que vou trabalhar com ele?

– Gostaria de dizer que para mim será ótimo trabalhar com vocês! Tenho várias ideias para este clipe... – fala Plutarch, animado.

Plutarch é interrompida pela porta que se abre.

– Desculpa pelo atraso.

O que ele está fazendo aqui?

– Não se preocupe, Finnick, nem começamos o jantar – diz Plutarch. – Quero apresentar a vocês o compositor e interprete da música, que será tema do filme, Finnick Odair.

– Olá – cumprimenta Finnick sorridente, seu olhar percorre por cada uma das pessoas da sala, porém se detém um pouco mais de tempo em mim.

Agora tudo faz sentido, o show, a festa do presidente Snow, tudo isso era um plano para colocar Finnick como o cantor da música do casal apaixonado aqui. Estou furiosa, quero bater em Finnick, quero arrancar seu sorriso do rosto, quero...

– Peeta faz o estudante rebelde que se apaixona pela estudante estudiosa, interpretada pela Katniss – volto a realidade ao escutar o meu nome. – O que você acha da ideia, Finnick, de interpretar o amigo da estudante, que sofre em silêncio com medo da amiga ser enganada pelo garoto? – pergunta Plutarch.

– Adoraria! – responde Finnick.

– Eu e Haymitch estamos discutindo...

Deixou de prestar atenção na conversa, quando Plutarch pronunciou a palavra amigo. Amigo? Sim, Finnick, um dia foi meu amigo...

– Katniss – chamou Finnick, me passando um bilhete.

Abri o bilhete tomando cuidado para que a professora não visse, afinal a aula era de matemática, e a professora odiava qualquer tipo de distração. Li o bilhete:

Você vem me ouvir tocar, hoje à tarde, no restaurante de meus pais?

Virei para trás, Finnick se sentava na carteira atrás de mim, sorri, fazendo um rápido sinal afirmativo, voltando rapidamente minha atenção para a explicação da professora.

Estávamos no último ano do colégio. Eu não tinha nenhum amigo, além de Finnick. Ninguém gostava muito de nós, os esquisitos, eu, a garota que só queria saber de estudar, Finnick, o garoto que só pensava em ir embora da pequena cidade e se tornar um músico famoso. Ninguém acreditava no potencial de Finnick.

Ele usava enormes óculos fundos de garrafas, que escondia o que tinha de mais bonito, seus incríveis olhos verdes. Só eu sabia o quanto aqueles olhos eram belos. Além dos óculos, usava aparelho, e seu rosto estava sempre cheio de espinhas, igual ao meu. Naquela época parecia que a fada da espinha havia vindo nos visitar. Finnick era alto, porém, sua altura só causava mais estranheza, já que ele andava todo desengonçado. Não sei como aquele garotinho baixinho cresceu tanto. Finnick saiu da sétima série, como o garotinho mais baixo da sala, e voltou na oitava série, como o mais alto. Ele odiava isso, já que por ser magrelo e alto, ganhava apelidos nada gentis.

Porém, para mim, Finnick não era nada disso, para mim ele era o garoto mais lindo que existia. Adorava ver seus olhos verdes, que só eu conhecia. As letras, que ele compunha, eram lindas, e sua voz era perfeita. Não sei como ninguém não via aquilo. Finnick tinha talento, havia nascido para cantar e compor músicas. E por que não admitir, eu estava perdidamente apaixonada por ele. Não sei como aconteceu, como a amizade se transformou em amor. Finnick era meu primeiro amor. Por isso, eu não sabia o que fazer. Tinha medo de confessar meus sentimentos e Finnick não sentir o mesmo, não queria que nossa amizade terminasse por isso.

Como combinado, fui ao restaurante dos pais de Finnick, ouvi-lo tocar. Finnick subiu no pequeno palco com seu violão e cantou uma de suas composições. Sua voz estava linda, e a música também. Aliás, nunca tinha ouvido aquela música antes. Reparei que eu não era a única pessoa que achava a música de Finnick boa. Uma moça bonita e elegante, que aparentava ter uns vinte e cinco anos, escutava completamente absorta a voz de Finnick.

Ele terminou de cantar a música e veio em minha direção, sentando-se à mesa em que eu estava.

– O que achou? – perguntou, parecia nervoso.

– Perfeita! Esta música é linda – respondi.

– Que bom que gostou – ele pareceu um pouco menos nervoso. – Porque esta música eu fiz para você!

– O q-quê? – foi a minha vez de ficar nervosa.

– Com licença – interrompeu uma moça.

Reconheci a moça que havia escutado a música de Finnick completamente absorta.

– Sim, posso ajudar? – perguntou Finnick, pensando que era um cliente, já que ele ajudava os pais no restaurante.

– Foi você que compôs esta música?

– Sim, fui eu.

– Queria dizer que está música é incrível – a moça sentou-se à mesa. – Meu nome é Johanna Mason, trabalho em uma gravadora e estamos procurando por jovens talentos. Fiquei impressionado com sua voz. Você tem talento.

Finnick mal pode esconder sua empolgação. Johanna e Finnick conversaram bastante. No final, Johanna deu um cartão para Finnick pedindo que entrasse em contato com ela.

– Katniss! Dá para acreditar nisto, eu posso gravar um cd! – disse Fannick que me acompanhava até minha casa.

– Sim! – respondi cheia de orgulho. – E você vai ver o sucesso que irá fazer! Até vejo você em todas as capas de revistas: “Finnick Odair, o músico mais talentoso do mundo”.

– E você vai estar do meu lado: “Katniss Everdeen, a garota que inspirou Finnick Odair a compor a música que o revelou ao mundo, ‘Meu coração" – disse Finnick sorrindo.

– Você compôs mesmo esta música pensando em mim?

– É claro! – ele parou de andar e pegou em minha mão. – Katniss... eu não sei como dizer isto...

Olhei para ele, confusa.

– Katniss... eu... te amo... E a música “Meu coração” simboliza o que eu sinto por você... Katniss, quer namorar comigo?

Ao ouvir aquelas palavras meu coração disparou, Finnick me amava? Ele queria namorar comigo?

– Katniss? – Finnick me olhava, seu nervosismo era palpável.

– Eu... quero – consegui pronunciar depois de algum tempo.

Finnick sorriu, e se aproximou de mim. Ele se inclinou para ficar de minha altura. Nossos lábios se uniram desajeitadamente. Nunca havíamos beijado ninguém antes. Finnick não despertava interesse nas garotas, era o cara esquisito; e os meninos nem notavam minha presença, era a nerd, que só pensava em estudar, cheia de espinhas.

Não mudou muita coisa depois que passamos a namorar. Eu e Finnick sempre andávamos juntos, fazíamos tudo juntos. A única coisa que mudou foi que começamos a trocar beijos e algumas carícias. Eu estava muito feliz, pensava que não havia garota mais feliz do que eu.

Havia três meses que estávamos namorando, quando Finnick recebeu um telefonema de Johanna. Ela tinha conseguido uma audição para ele. Finnick mal podia conter sua alegria. Eu estava muito feliz por ele. Era tão bom ver Finnick feliz, com aquele sorriso imenso no rosto.

Finnick fez a audição e acabou passando. Todos ficaram impressionados com a voz dele e com as letras de suas músicas. Ele começou a fazer viagens, e se apresentar. No inicio nos falávamos por telefone todos os dias, mandávamos mensagens. Ele me contava sobre sua vida, como tudo era uma novidade. E eu comemorava com ele por cada apresentação que ele fazia. No entanto, isso não durou muito, aos poucos, os telefonemas e as mensagens foram diminuindo. Mas, eu entendia que Finnick estava muito ocupado, apesar de triste por não falar com ele com muita frequência, estava feliz que Finnick havia conseguido realizar seu sonho.

Já fazia um mês que Finnick havia viajado. Quando ele me mandou uma mensagem avisando que estava chegando. Meu coração disparou, Finnick estava voltando! Não tínhamos nos falado por telefone nenhuma só vez. Finnick apenas havia me enviado duas mensagens durante aquele mês:

1 – “Aqui é lindo, Katniss. Estou trabalhando muito”.

2 – “Vou começar a gravar o cd!”.

Sim, foram exatamente estas palavras que ele usou nas mensagens que me mandou. Como não queria que Finnick se sentisse aborrecido comigo por ficar mandando um monte de mensagem e ligando, já que ele estava muito ocupado, apenas respondi as duas mensagens que ele me enviou.

Fui no restaurante dos pais de Finnick. Ele estava se apresentando no palco improvisado. Nunca havia visto tantas pessoas antes naquele lugar, inclusive, não havia lugar suficiente para todos se sentarem, algumas pessoas estavam de pé. As meninas davam gritinhos entusiasmados.

Olhei para o palco e lá estava ele, Finnick. E então, compreendi os gritinhos entusiasmados das meninas. Finnick estava diferente, não usava mais os enormes óculos fundos de garrafa, nem aparelhos nos dentes, e não havia vestígio de espinhas em seu rosto, sua pele era perfeita. Ele vestia roupas negras, iguais aos das estrelas do rock, aliás ele parecia uma estrela do rock. No entanto, sua voz ainda era a mesma voz, linda e deslumbrante.

Escutei Finnick cantar. Estava muito feliz com seu retorno. Mas, ele não parecia ter notado minha presença, foi só depois que o restaurante esvaziou, e Finnick dar autógrafos e tirar fotos com todas aquelas meninas (que pareciam loucas para fazer algo mais do que isto com Finnick) que ele veio falar comigo.

Ele beijou meus lábios rapidamente, começou a contar sobre sua viagem e seu novo visual.

– Johanna disse que eu precisava de eu visual que combinasse mais comigo. Foi ela que criou meu visual. Acho que ficou ótimo! – falava sem parar, sem me dar tempo para falar qualquer coisa. – Olha só, é Johanna – disse, pegando o celular que tocava. – Oi, Johanna – falou com um enorme sorriso nos lábios. – Imagina! Eu não estava fazendo nada. É claro...

Ele falava com muito entusiasmo com Johanna, o que me lembrava, vagamente, o antigo Finnick. Ele deveria estar cansado, precisava de um tempo. Pensei com minha doce ingenuidade. Como pude ser tão tola? Como pude me enganar tanto? Como pude ser tão idiota!

Os dias passaram. No colégio, Finnick era disputado por todos, alunos e até mesmo professores queriam falar com ele. Eu quase nem via ou falava com Finnick, e nas raras vezes que eu o via, trocávamos pouquíssimas palavras.

Eu estava triste, sozinha. Porém, eu acreditava (me enganava) que Finnick logo iria voltar a ser aquele garoto que eu conhecia.

Até que veio aquele dia. O colégio organizou uma festa. Finnick iria tocar, o colégio estava lotado. Antes do show, fui até ao camarim de Finnick, improvisado em uma sala de aula, queria desejar a ele boa sorte. Pensei que ele ficaria feliz em me ver. Ah, ele estava feliz, muito feliz, porém, não era por minha causa.

Abri a porta discretamente, queria fazer uma surpresa. Mas, a surpresa foi eu quem teve.

Em um canto da sala, vi Finnick sem camisa, com a mão na coxa de Johanna.

– E a sua namoradinha, Finn? – disse ela com uma voz rouca e sedutora.

– Quem? Katiniss? – riu. – Qual é, Johanna? Ela é só uma idiota que faz tudo o que eu mando. Katniss é uma pirralha. Ela não é como você, uma mulher. Katniss é um cachorrinho de estimação. Eu tenho pena dela. Deixe a imbecil pensar que eu gosto dela, e ter um pouco de alegria. Quem vai querer aquela garota? Ela deveria me agradecer por eu ter namorado com ela. Se não fosse eu, aposto que ela nunca teria beijado ninguém na vida. Katniss nunca irá atrair homem nenhum – deu uma gargalhada. – Eu só estou com ela porque eu preciso de alguém para fazer algumas coisas por mim, como meu dever de casa – riu novamente. – E ela irá fazer tudo o que eu pedir. Katniss nunca chegará nem aos pés de uma mulher como você!

Ao ouvir estas palavras algo que estava dentro de mim se quebrou, era meu coração. Eu perdi a capacidade de amar naquele momento, e o único sentimento que fui capaz de sentir foi ódio.

– Seu cretino! – gritei. – Vou acabar com você!

Parti com todas as minhas forças para cima de Finnick, porém não cheguei muito perto, já que um homem me segurou por trás, era um segurança.

– Me solta – gritei, tentando me livrar do segurança. – Vou acabar com a raça deste canalha!

– Acabar com minha raça? Você? – falou de um modo sarcástico Finnick. – Você ainda não percebeu seu lugar? Você não significa nada para mim, é apenas meu brinquedinho com que eu gosto de jogar nas horas vagas. Mas agora eu já não tenho mais horas vagas para desperdiçar com você!

– Eu juro que vou acabar com você! – gritei enquanto era levada para fora da sala por um segurança.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu me sentia um lixo, uma idiota, uma babaca, como eu poderia ter me deixado enganar por alguém desta maneira?

Naquele dia, eu chorei todas as minhas lágrimas, prometi a mim mesma que nunca derramaria mais lágrimas por homem algum, prometi que me vingaria de Finnick, faria o pagar por tudo que me fez passar.

Depois de pensar muito, cheguei à conclusão que a melhor vingança seria roubar aquilo ele mais gostava, que naquele momento era a fama. Estava disposta a fazer de tudo para conseguir a minha vingança. Foi por isso que deixei aquela cidade, e vim para este lugar, trabalhei e estudei feito uma louca para me tornar uma atriz de renome e fazer Finnick pagar por tudo o que me fez passar.

E agora ele está em minha frente todo sorridente, fazendo minhas feridas sangrarem. Minhas feridas são mais profundas do que eu pensava, elas ainda doem como naquele dia.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do passado da Katniss e do Finnick? Ela tem ou não motivos para odiar Finnick e querer se vingar dele?