De todas as experiências estranhas que eu tive, conhecer Charlie foi a melhor delas. Conhecer uma pessoa que se diz meu avô era uma experiência estranha, certo? Principalmente pelo fato que ele não sabia nada sobre vampiros, apenas sobre Jacob, e ele logo me perguntou se eu não virava um lobo gigante. Devia ser difícil para ele viver achando que Bella era uma humana comum e apaixonada, me pergunto como ela viveria depois da morte dele, Charlie era uma pessoa tão legal, e ter ele como pai devia ser ótimo. Ou talvez ele se transforme no último minuto como ela, porém duvido muito, se Edward mal quis transforma-la, tampouco são as chances de Charlie ser transformado.

Nós fizemos coisas que humanos normais fariam. Assistimos uma partida de baseball – essa fora a parte mais desinteressante do dia -, fomos a uma lanchonete em que quase morri tentando comer um hambúrguer, e Charlie me contou mais sobre sua rotina como policial, sobre a infância perturbada de Bella e que eu também tinha uma vó. Uma coisa estranha era que ele me disse que eu havia me mudado de Forks por um tempo com minha família, Jacob não disse nada, apenas sorriu.

No final do dia, voltamos para casa rindo sem motivo. Charlie sabia contar algumas piadas, e seu jeito melancólico de explicar que minha mãe era meia travessa deixava tudo mais divertido. Quando voltamos a mansão Cullen, minha mãe nos recebeu nada feliz, Edward também não parecia animado em saber de minha tarde, muito pelo contrário.

– Jacob o que você fez? – Bella gritou, encolhi-me perto de Jake, que apenas suspirou fundo.

– Bella eu...

– Não Jacob, apenas pare com esse “ Bella eu ”, você não percebe que você sempre toma as decisões sem nos consultar? E essa não é a primeira vez! Quantas vezes nós precisamos avisar que todos os seus atos tem consequências? Charlie podia ter morrido da primeira vez, não podemos deixar nada passar despercebido, acha que ele vai acreditar em tudo que diz? Ele pensa melhor do que você pensa, Jacob. Pare de tomar as decisões a respeito de Renesmee, ela é minha filha, e você ainda acha que tem algum direito idiota de lobo sob ela? Eu cuidei dela quando todos queriam ao contrário, ou você já se esqueceu?

Eu estava paralisada e sem reação, eu nunca havia visto Bella daquele jeito, e até sentiria pena de Jacob se não estivera ficando brava com ele também. Minha mãe e ele nunca discutiam, a menos que o assunto fosse sério. Jacob quase matou Charlie? Com esse pensamento brusco, me afastei dele e fui para o lado de meu pai.

– Jake, por que faz isso? – perguntei meio sem chão, Edward me abraçou.

– Edward, leve Renesmee daqui. – Bella sussurrou.

– Não, eu quero ficar, eu... eu preciso...

– Nessie não, você não pode ficar aqui agora, precisamos conversar com Jacob, vai ficar tudo bem, vá para o chalé, eu te encontro lá depois.

– Pai, por favor – tentei ficar parada enquanto ele me empurrava, mas parecia que meus esforços eram insignificantes – e eram, afinal ele era um vampiro com mais de cem anos –.

– Filha, nós precisamos conversar, você não entenderia nada agora.

– É claro que eu não entenderia, e sabe o que eu também não entendo? O porque de vocês não serem sinceros comigo. Desde que eu me mudei eu escuto oque eu preciso fazer, que isso é tão perigoso quanto aquilo, que não posso falar com tal pessoa porque pode ser perigoso. Já pararam pra pensar em mim? Caramba, Jake me levou para conhecer Charlie e foi uma das melhores coisas desde que... e vocês nem sequer tocaram nesse assunto, não me contaram sobre Charlie ou Renée, não me contaram o por que dessas reuniões quase todo santo dia, e se quisessem mesmo me contar não fariam tudo enquanto eu durmo!

– Estamos tentando te proteger – Bella falou e pude escutar sua voz falhando.

– Me proteger? Escondendo coisas de mim? Eu sei que a verdade pode ser tão fatal quanto a mentira, e que posso ficar me preocupando com qualquer coisa depois de descobri-la, mas eu preciso mesmo pedir sinceridade da minha própria família? Dos meus próprios pais? Até de você, Jacob? Você faz as coisas escondido como se fosse dono da razão, isso está errado, muito errado. E querem saber? Eu já me cansei das mentiras de vocês, não precisam mais se dar ao trabalho de descobrir as coisas e pensar se devem ou se precisam de tempo pra inventar alguma coisa, eu não quero saber de mais nada.

E finalizando as palavras mais difíceis que eu já disse em toda a minha vida, corri para longe deles, atravessei o lago e corri o máximo que pude. Eu ainda não tinha um destino, mas minha visão estava embaçada pelas lágrimas que eu não queria derramar, e no final acabei tropeçando em alguma coisa.

Meus pais não vieram atrás de mim, no final, a conversa devia ser mais interessante que minha fúria. E oque estava acontecendo? Onde estava Alec? Uma voz no fundo de minha consciência perguntou, ora essa, Cullen! E porque diabos onde o Volturi está ou deixa de estar é de sua maldita conta? Afinal, oque era de minha conta nesta história?

A verdade é que eu sentia falta de Alec, não como melhor amigo, paixão ou coisa assim, eu gostava da presença dele, seu jeito comum me deixava confortável e eu acreditava facilmente em quase todas as palavras que ele dizia. Suas aulas eram simples, rápidas até certo ponto, e eu entendia. Por que, cá entre nós, se um menino extremamente bonito – extremamente ao extremo de qualquer beleza no mundo, mesmo – estivesse na sua frente lendo ou explicando coisas, como não prestar atenção?

Cullen idiota.

(...)

Naquela noite, meus pais voltaram mais cedo do que de costume. Bella subiu ao meu quarto para tentar conversar comigo, mas dei-lhe a desculpa que eu estava cansada, e minha imitação de olho pesado pareceu convence-la. Acordei e eram 1:30 da manhã, já era domingo, e a única coisa que eu queria é para que a Segunda-Feira chegasse logo, para mim passar o dia inteiro trabalhando, chegar em casa exausta e ser poupada dos olhos cautelosos de meus pais, indo direto para a cama. Mas como querer não é poder....

Minha cabeça estava doendo, vampiros possuíam dores de cabeça? Ah, sim. Jasper havia me contado que Alice tinha as vezes, e o que a fazia melhorar logo era o cheiro de Jacob... E não, eu não iria sair chamando por ele depois de tudo. Meus pais não estavam dormindo, disso eu sabia, vampiros não dormem. Levantei da cama sonolenta e fui o mais rápido que pude para a cozinha.

Eu não sabia se havia ou não remédios ali, mas encontrei um vidro com vários, aspirina, qualquer coisa que acabasse com aquela dor. Não era como se fosse fazer efeito logo, e por conta disso, engoli umas 4 capsulas. Suspirei.

O dia logo amanheceria mas eu não estava com sono, não mais. Meus pensamentos estavam tão desorganizados que apenas pensar em quem eu era agora me dava espasmos, por um dia eu gostaria de voltar a ser aquela garota perdida, aquela garota que não sabia o por que de estar viva, o por que de estar no mundo, a garota que passara sua vida num orfanato. Não exatamente aquela garota, mas o meu sobrenome estava pesando muito.

Eu também não queria esquecer de tudo, não. Havia boas lembranças que eu queria levar comigo, mas... é tão difícil. Minha família estava me botando para baixo, era até pior do que antes. Ele escuta você; uma voz em minha mente sussurrou. Oh, Edward? Se esse era o caso, oi papai.

Eu não me importava com oque iriam descobrir em minha mente, não mais. O que eu estaria escondendo, sendo que eu não sabia de nada para poder esconder? Pelo menos alguém precisava ser sincero nesta casa, não? Meus pensamentos se tornaram mais embaçados e a única coisa que veio em minha mente perturbada antes de mergulhar no sono, foi um par de olhos vermelhos seremos que me fazia falta.