O shopping mais próximo ficava a cinco quarteirões da minha casa. Eu me arrependi quase que imediatamente de não ter ido de carro. Não pela distância, mas pelo frio.

Enrolei meu cachecol mais uma vez pelo meu pescoço.

— Me desculpe. - Jack murmurou - Está bem frio hoje.

Bufei.

— Jura? - perguntei, ironicamente.

— Eu fiquei animado com o dia de hoje e acabei exagerando. - ele disse - Eu faço muito mais neve quando estou animado, é involuntário.

— Por que você estava animado? - perguntei

Ele sorriu.

— Por causa da missão. - ele disse

Revirei os olhos e mordi minha língua para não deixar o quanto aquilo era adorável.

— E me desculpe pelo seu aniversário de oito anos. - ele disse

Ri.

— Depois de nove anos, o orgulho finalmente abandonou Jack Frost e ele se desculpou! - exclamei

Jack riu.

— Tudo bem. - eu disse - A festa foi bem divertida, de qualquer forma.

— Eu disse que seria. - ele sorriu

Revirei os olhos mais uma vez.

— Os adolescentes conseguem te ver, certo? - perguntei

—  Conseguem. A infância ainda está fresca nas memórias deles. - Jack explicou - Os adultos não conseguem porque faz tempo que pararam de acreditar.

Assenti.

— Então os adultos que estão passando aqui estão me achando uma idiota por estar conversando sozinha? - ri

— No caso, uma pessoa saiu de casa nesse frio. - ele disse - Mas sim, acho que aquele cara te achou um pouco maluca.

Bufei e peguei meus fones de ouvido da bolsa, para disfarçar meu bate-papo.

— Boa ideia. - sorriu ele

— Eu sou cheia de boas ideias. - murmurei

Jack riu.

— E não se preocupe, eu tenho dinheiro de emergência. - disse ele - Eu vou pagar as roupas.

— Fico mais tranquila. - eu disse - Achei que você fosse querer roubá-las.

Jack me mostrou a língua.

— Mas Jack, tenho outra dúvida. - murmurei - Como a gente vai fazer se nenhum adulto consegue te ver? Os professores não vão te ver, as tias da cantina, o diretor… Vai parecer muito suspeito.

— Eu tenho um pouco do pó mágico dos Guardiões. - ele disse - Faz com que qualquer um consiga me ver.

Assenti.

— Eu pensei em tudo, sabe? - ele sorriu

Bufei e abri a porta do shopping.

— Certo. - eu disse - Entra ai.

Ele entrou e nos deparamos com um shopping quase deserto. Éramos os únicos malucos a irem ao shopping em um dia da semana, de manhã, no meio da neve.

— Aquela loja é bonita. - murmurei

Jack segurou minha mão e correu até a loja.

— Se você continuar ficando animado desse jeito, vai começar a nevar aqui dentro. - ri

— Nah, - ele sorriu - Eu preciso estar muito animado e feliz mesmo para fazer nevar em ambientes fechados.

— Já aconteceu antes? - perguntei

Ele negou.

Entramos na loja e Jack rapidamente jogou um pouco do pó na vendedora.

— Bom dia. - ela sorriu

— Bom dia. - eu disse - Ele quer dar uma mudada no visual.

A vendedora sorriu.

— Algo em particular? - ela perguntou a Jack.

— Tudo que você tiver do meu tamanho. - ele disse

Encarei Jack, rindo.

— Existe um animal faminto por compras dentro de você, Jack Frost. - murmurei

Ele riu e revirou os olhos.

— Vamos pro provador. - eu disse

Fomos para os fundos da loja e a vendedora trouxe uma pilha de roupas. Separei as mais bonitas e entreguei a Jack.

— Avise quando você estiver vestido, eu quero ver. - murmurei

— Sim, senhora. - ele sorriu

Sentei em um banco e Jack entrou no provador.

Alguns momentos depois, ele saiu vestido com uma calça jeans e uma camisa xadrez avermelhada.

— Ficou ótimo. - eu disse - Mas vamos ter que comprar alguns casacos também.

— Eu não sinto frio. - ele disse

— Mas você precisa parecer que sente. - eu disse

Ele assentiu.

— Você precisa sair por ai todo empacotado e brega do jeito que todos saem no frio.

— Você fica linda com roupas de frio. - ele desdenhou

Sorri.

— Obrigada. - eu disse

— E eu acho que a sua estação favorita é o inverno. - ele continuou - Você só finge que me odeia para me irritar.

Ele entrou de novo na cabine, para colocar outra roupa.

— Vai sonhando. - ri

A vendedora trouxe mais algumas jaquetas e casacos e Jack provou os bonitos.

No final das contas, saímos da loja com cinco calças, dez camisas, três jaquetas, dois moletons, três cachecóis e mais dois tênis. A vendedora havia ficado extremamente animada ao saber que compraríamos tudo.

— Uma tarefa a menos. - ele sorriu

Assenti.

— Podemos almoçar e ir para a escola. - eu sorri

Ele sorriu.

— Vou escolher uma roupa bonita. - ele disse

Ri.

— Todas são bonitas. - sorri - Para compensar o fato de que você é feio.

Ele riu e me acertou com a sacola.

— Você está com fome? - perguntei - Você come?

— Não como. - ele disse - Quer dizer, eu posso comer, se quiser, mas não fico com fome.

— Estranho. - murmurei

Ele sorriu.

Entramos em uma café e eu pedi comida para nós dois. Jack havia sentado em um dos sofás confortáveis.

Entreguei a ele o café e o bagel.

— Espero que você goste. - eu disse

Ele sorriu.

— Jack, você vai precisar de um nome? - eu disse

— Um nome? - ele franziu as sobrancelhas - Eu tenho um nome.

Bufei.

— Não podemos usar Jack Frost na escola. - eu disse

— Certo. - ele disse - Que tal Jack, o magnífico?

— Não vou nem responder. - murmurei

Ele riu.

— Jack Sparrow? Jack Dawson? - ele perguntou

— Jack! Seja realista! - ri - Nada de piratas ou Leonardos DiCaprios.

— Jack Smith. - ele disse

— Parece um agente secreto. - sorri

— Mas é maneiro! - ele protestou

Ri.

— Certo. - concordei - Jack Smith então.

Ele sorriu.

— Eu estou animado. - ele disse

— Eu sei. - murmurei, sorrindo. - Bem vindo ao mundo dos adolescentes, Jack Smith.

— Obrigada, Alice Bennett.

Sorri.

— Você tem documentos? - perguntei - Pra escola?

Jack assentiu.

— Tenho pós mágicos. - ele disse

— Você soou como um traficante de drogas. - eu disse

Ele deu uma gargalhada.

— Eu sou um Guardião da Infância, Alice!

Dei de ombros.

Jack recolheu nossos copos e jogou os guardanapos no lixo.

— Vamos? - ele perguntou

Assenti e saímos do café. Jack parou em um banheiro para trocar de roupa, já que iríamos direto para a escola. Depois, paramos em uma papelaria onde ele comprou um caderno, algumas canetas e uma mochila.

Estávamos perto da saída do shopping, quando Jack segurou meu braço.- Nós ainda não compramos seu presente. - ele sorriu.

Dei de ombros.

— Não tem problema. - eu disse - Eu posso pensar em alguma coisa depois.

Jack sorriu e me puxou até a livraria.

— Escolhe algum. - ele disse - Quero te dar um livro.

— Jack, você não precisa…

— Preciso. - ele me interrompeu.

Assenti.

— Obrigada. - murmurei

— De nada. - ele sorriu

Me virei para uma das estantes.

— Na verdade, acho que você deveria escolher dois livros. - ele disse - Um pra comprar com o cartão da sua mãe também. Ela iria achar estranho te ver sem comprar um.

Assenti.

— Tem razão. - sorri

Me virei para as estantes e fiquei uma boa meia hora procurando os livros perfeitos. Jack parecia estar se divertindo com minha confusão.

— Eu nunca li nenhum livro. - ele disse, enquanto pagávamos os livros que eu havia, enfim, escolhido.

— Por que? - perguntei

— Eu nasci há muito tempo atrás, Lizzie. - ele sorriu E nunca tive muito tempo.

— Você pode ler qualquer livro meu que quiser. - eu disse.

— Obrigado. - ele sorriu.

Sorri.

— Temos que ir para a escola. - ele disse

Assenti.

— Vamos. - respondi.