Eu andava lentamente pelo corredor, procurando por alguém. Era difícil por causa de todo o alvoroço de fim de ano, mas eu finalmente te vi. Para a maioria você era invisível, e continuava fazendo questão de ser.

Seus cabelos estavam soltos, a cascata de fios enrolados e ruivos belamente aninhada em seus ombros. Já estava com roupas trouxas, pronta para ir embora, e seus olhos azuis claros percorriam todo o movimento, provavelmente esperando tudo aquilo passar.

Me encostei na parede e fiquei te observando. Você foi a coisa mais linda que já vi. Percebi o canto de seus olhos me notarem, mas você parecia tão convencida de que não era você que eu encarava e continuou o que estava fazendo.

Ao te observar, me lembrei da primeira vez que te vi, na Plataforma 9 e meia. Estava em pé, ao lado de seu primo Albus. Parecia tão convencida já usando aquele uniforme, e sua postura estava tão firme e confiante que eu podia jurar que não estava nervosa, a não ser pelo fato de estar tremendo levemente.

Nos encontramos pela primeira vez no expresso, no meio do corredor, enquanto zanzávamos atrás de uma cabine. Você tinha perdido seus primos de vista enquanto eu só procurava alguma cabine livre. Você estava completamente vermelha e me perguntou quase tão baixo que eu não tinha conseguido ouvir se eu vira algum garoto baixo de cabelos pretos e olhos verdes passara por ali. Neguei com a cabeça e você saiu de lá correndo.

O resto do primeiro ano foi, por pena, pura rivalidade. Você sempre passava de mim nas matérias, suas notas eram sempre as mais altas, e eu tinha raiva disso. Comecei a usar de verdade minha inteligência e foi aí que começou uma competição em silêncio de quem tirava mais 'Ótimos' nas matérias. Não sei porque eu continuava tentando se você sempre ganhava.

No segundo ano, você começou a se fechar de verdade. Substituiu as pessoas que andavam com você por livros, e só conversava com Albus. Mesmo diminuindo nossa rivalidade, vez ou outra ainda fazíamos nossas disputas silenciosas.

No terceiro ano, você fez um teste para o time de quadribol da Grifinória e entrou como apanhadora. Eu precisava ser o apanhador também, então me tornei o novo apanhador da Sonserina. A partir daquele ano, nossas disputas iam muito além das salas de aula.

No quarto ano, você começou a ficar mais bonita do que já era, a chamada 'puberdade'. Me aproximei de você e viramos amigos até que razoáveis, mas não nos falávamos muito. Mesmo assim, fim de tarde de sábado era o mais esperado de minha semana, quando eu ia encontrar você nos jardins e ver juntos o pôr-do-sol, enquanto ríamos de piadas completamente idiotas.

Foi quando percebi que eu realmente gostava de você. Talvez fosse esse seu jeito de agir, linda, silenciosa e tímida. Ou talvez fosse sua insanidade, sendo feliz sem ser normal. Não sei ao certo o que, mas alguma coisa me fez gostar de você.

No quinto ano, arranjei uma namorada e passei a não comparecer nos jardins aos sábados no horário do pôr-do-sol. Foi o meu maior erro. Uma vez, aproveitei que ela estava na detenção e tive as esperanças de que você estaria me esperando no gramado ao pôr-do-sol.

Você estava lá. Mas com outro garoto. E um que você conversava tão naturalmente e ria tão fácil que eu desisti de ir até lá com você. Virei as costas e sai de lá.

Pouco tempo depois, um boato passava de aluno em aluno que você estava namorando com esse garoto, cujo nome não fiz nem questão de guardar. A partir daquele momento, as pessoas começavam a te olhar. Você passava e todos te olhavam. Ganhou até admiradores secretos que tentavam chegar perto de você. E eu só olhando.

Por que eu só olhava? Porque eu sinceramente não me achava digno de ter sua atenção. Aos poucos fui te deixando de lado e agora lamentava enquanto te via longe de meu alcance. Lamentava em silêncio e deixava a culpa me corroer por dentro. Porque eu sinceramente não te merecia.

E então o sexto ano começou. A professora de poções nos colocou juntos em um trabalho na sala de aula e apenas nos falávamos por instruções indistintas, sem olhar um para o outro. Fomos pegar o frasco de bezoar juntos e nossas mãos se encontraram. Nos olhamos rapidamente e você estava mais linda do que eu lembrava. Seus cabelos ruivos estavam presos de qualquer jeito com uma pena velha e seus olhos brilhavam. Os azuis mais lindos que já vi.

Você ficou super vermelha, como sempre, e afastou a mão da minha. Aquilo me decepcionou um pouco, já que queria te agarrar e, ali mesmo, beijar esses seus lábios vermelhos loucamente. Mas contive a tentação e continuei a minha poção enquanto você continuava a sua.

No fim, você voltou a ser invisível, e assim era melhor para mim. Ter garotos de encarando além de mim não era nada reconfortante.

E agora, no final desse sexto ano, lá estava você, com seu gato Bubble, que por acaso é muito feio, indo embora embarcar no expresso.

Eu poderia ir até você. Deixar todo esse nhé nhé nhé de lado e dizer logo o que sinto por você. Eu devia roubar um beijo seu que te deixasse sem fôlego e fizesse com que você me amasse assim como eu te amo. Mas não estava disposto a estragar tudo.

Estava melhor do jeito que estava. Eu e você, um amor incompreendido que um dia possa ser fazer sentido. Um amor proibido com famílias rivais, como naquela história trouxa de 'Romeu E Julieta', mas a nossa não terminaria como aquela. Ninguém morreria, ninguém se enfrentaria, as famílias só se aceitariam e tentariam conviver como pessoas civilizadas.

Talvez aquilo poderia nunca acontecer, mas eu queria que sim. Tudo que precisava fazer era entender você.

O que parece ser uma missão impossível. Porque você, Rose Weasley, é o maior mistério do mundo, que estou mais que disposto a desvendar.