Consegui mantê-la viva, afinal, e me tornei seu mordomo. Vi seu filho nascer, mas não suportei mais viver ao lado de seu marido e fui embora. Ela não sabia de meus sentimentos, então tudo bem. Ou pelo menos era o que eu pensava.

Com o passar do tempo, seu marido faleceu. Seu filho casara e estava a espera de um bebê, ao qual chamaria Vincent. Eu já não aguentava mais ficar longe de Miranda, então uma noite fui em sua varanda.

Apesar dos 60 anos, ela estava bonita como sempre. Seus cabelos haviam crescido até a cintura, e seu rosto estava com algumas rugas pela idade, mas nada que abalasse sua beleza. Pelo menos não aos meus olhos.

Miranda estava como passara os últimos 10 anos: deitada em sua cama olhando fixo para o teto. Ela me parecia uma boneca de porcelana.

Ao seu lado, em uma cadeira próxima à cama, dormia o jovem mordomo da família Phantomhive, Tanaka. Esperei-o sair do quarto, à meia-noite, para poder conversar em paz.

– Undertaker... - Sua voz estava rouca, mas reconhecível - É você? - Ela agora tinha-me ao seu lado.

– Sim, sou eu - Apenas disse.

– Você demorou.- Miranda se sentou na cama e ficou me olhando. - Não mudou nada. Já eu...

– Você é linda. - Ah, aqueles olhos azuis... Não conseguia me desviar de seu olhar. - Sabe, eu-

Fui interrompido. Ela me beijara como nunca a vi beijar alguém. Eu retribuí, claro. Fomos parados apenas por um acesso de tosse que tomou conta de sua garganta. Eu deitei-a de volta na cama e então falei:

– Esperei 40 anos por isso...

– Eu sei, Shinigami.

Minha respiração parou por um momento. "Quando ela descobriu", eu me perguntava. Fiquei em choque. Apenas voltei à realidade quando ela passou a mão em meu rosto. Eu a peguei e dei-lhe um beijo. Miranda recomeçou a falar, dessa vez, sozinha:

– Eu sempre soube da existência de Shinigamis. Meu pai possuía um mordomo que era um, e aquele não se importava de dizer. Que descuidado. Eu acabei reconhecendo suas características. Nunca contei a ninguém, não iriam acreditar mesmo. - Ela virou-se para mim - Undertaker - tosse - Eu guardei o seu segredo, agora você me deve um favor.

– O que quiser. - Eu respondi. Como não? Ela me tinha em suas mãos desde a primeira vez que a vi.

Miranda então sorriu, mas uma lágrima caiu de seus olhos. Eu não entendi o que estava acontecendo até que ela disse:

– Me mate.