Bella Volturi escrita por Carol Swan


Capítulo 15
(2ª Fase) Olhos de Sangue




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Olhos de Sangue

 

Os meninos tentavam acalmar Tylor na porta da torre enquanto eu subia as velhas escadas de carpete vermelho.

Como o mundo de uma pessoa pode mudar em uma simples noite...

O homem pálido e sombrio com feições de anjo era o meu pai. Apesar de toda aquela conversa louca e surreal, eu sabia que era verdade.

As dores que agora latejavam por todo o meu corpo serviam de confirmação.

Nunca vi algo semelhante.

As dores que sofri durante toda a minha vida, eram irrelevantes comparadas a essa.

Estava acostumada sempre a ser a mais forte, a mais rápida...

Sai da escuridão da torre e entrei na praça fracamente iluminada parando rente á porta.

Ben, Eric, Thomas e Mike estavam parados em pé na frente de Tylor, que estava sentado na escadaria de costas para mim.

- Respira Tylor! Foi apenas uma peça da Bella!

Ben dizia inutilmente.

Os garotos me olharam assim que notaram a minha presença.

- Bella! Olhe o que você fez!

Disse Eric, mas não com um tom de preocupação, e sim fascínio.

- Demais...

Completou Thomas.

Olhei para o menino moreno que estava sentado nos degraus da escadaria de costas para mim. Ele olhava para frente e os joelhos balançavam.

- Ele está falando de demônios brancos de olhos de fogo...

Mike disse rindo da cara do amigo.

Assim que Mike concluiu a frase, o rosto de Tylor se virou lentamente, me encarando.

Seus olhos estavam úmidos e arregalados.

Ele estava com medo de mim.

- Ora, vamos Tylor. Não era de verdade... Era apenas uma brincadeirinha...

Disse sorrindo para descontrair a situação.

Mas ele não mudou sua expressão.

- Acho melhor irmos. Antes que alguém sinta a nossa falta...

Disse Ben que analisava a praça vazia.

Concordamos e começamos a caminhar pela praça deserta, Mike se ofereceu para ajudar Tylor a se levantar, caso seus joelhos não agüentassem.

O céu estava completamente negro. Não havia estrelas e nem lua. Tendo apenas o auxilio da luz amarelada que vinha dos antigos postes, Eric tentava conversar comigo sobre o que acontecera na torre, mas ao perceber que eu não estava disposta a falar no assunto acabou desistindo. Tylor mantinha a maior distancia possível de mim.

Seguimos pelas ruas estreitas até chegarmos ao alojamento. As luzes estavam apagadas e não havia nenhum barulho, apenas o som contínuo da respiração dos alunos e os roncos da idosa professora de artes, Sr. Lunister.

Mike destrancou a porta da frente com a chave extra que haviam furtado.

Subimos pouco a pouco as escadas, o chão rangia alto demais.

Ao chegarmos ao andar certo, os meninos foram para o quarto deles e eu para o meu.

Fui até a beliche onde estava acomodada. Jéssica continuava adormecida na parte inferior.

Pulei direto para a cama, jogando a cabeça no travesseiro.

Suspirei

A noite havia sido longa... E muito significativa.

Muitas informações para serem digeridas.

Eu revia os momentos na torre em minha mente enquanto a luz do sol rompia a escuridão ao longe. Pouco a pouco, a claridade ia tomando a cidade.

Me deitei de bruços e coloquei a almofada sobre a cabeça, caindo na inconsciência enquanto sentia a exaustão tomar conta de todos os meus músculos.

 

O silêncio na tenda era quebrado pelo barulho periódico da velha cadeira de balanço. A velha se balançava ao fumar um cigarro.

Suas vestes eram muito gastas e coloridas, mas a cigana trazia em seu rosto um pesar.

- Assassinos...

Suas rugas se aprofundavam cada vez que pronunciava alguma palavra.

- Assassinos...

A velha voltava a repetir com o ódio crescente em seu peito, tornando cada vez mais palpável em sua voz.

Estiquei meu braço para tocar no ombro da cigana, mas não consegui. Minhas mãos atravessaram a mulher como se eu não existisse, como se eu não tivesse matéria.

Mas a cigana sentiu a minha presença. Ela se virou para mim lentamente.

- Você é um deles...

Os olhos da cigana eram verdes da cor de esmeraldas, e havia neles ao me fitar, dois sentimentos tão contraditórios.

Me olhava como se eu fosse um monstro e ao mesmo tempo com carinho, afeição.

- Metade humana... Metade Vampira.

Tudo ao meu redor ia sumindo na escuridão, até eu me encontrar completamente só

- Vampira?

Minha voz soou no vazio como notas musicais.

 

Acordei aos poucos. Meus músculos ainda gritavam por descanso.

A claridade já era muito maior no quarto, já devia ser tarde, mais tarde do deveria .

Me levantei para ficar sentada.

Todas já estavam acordadas.

Havia uma tensão a mais no ar, as meninas estavam divididas em grupos, mas em todas as rodinhas de amigas se estendia o mesmo assunto...

Acontecera alguma coisa

Pulei da beliche o mais rápido que eu pude, caindo de joelhos no chão por ainda estar enrolada nos lençóis.

Ângela e Jéssica que estavam na beliche ao lado, olharam sobressaltadas para mim.

Arranquei o lençol que me prendia e o joguei sobre a cama e fui rapidamente para o lado de Jess.

- O que aconteceu?

Ang estava preocupada, seus olhos varriam o quarto ansiosos por mais informações. Sua voz soou fraca:

- Tylor sumiu...

Senti o chão ceder em meus pés.

- Se ele demorar mais para aparecer e parar com essa brincadeira vou persegui-lo pelo resto da vida. Não vejo a hora de sair desse fim de mundo!

Jess olhou pela janela.

- Tudo aqui fede...

Ang olhou chocada para Jess.

- Não dá para ter um pouquinho de sensibilidade? Algo muito sério pode ter acontecido com ele.

Jess revirou os olhos.

- Relaxe Ang. Quando ele se cansar de seu joguinho barato ele aparece.

Jess e Ang ficaram discutindo enquanto eu andava devagar de volta para a beliche.

Encostei a testa na madeira.

Será que o assustei tanto assim?

Fechei os olhos e me concentrei em minha audição.

O som de tudo ao meu redor ficou instantaneamente mais alto.

Atravessando o som dos cochichos do quarto, procurei pelas vozes dos meninos.

Lá, a situação não era diferente...

 

- Mike!

Chamou Thomas do outro lado do ambiente. Sua respiração era lenta e profunda.

O som da madeira se contraindo com peso formava o som dos passos de Mike que andava em direção de Thomas.

- O que foi?

Um breve silêncio se seguiu entre os dois.

- Vi Tylor saindo ontem á noite depois que voltamos...

Sua voz soava preocupada

- Por quê?

Os dedos de Thomas estalavam nervosos

- Eu não sei... Ele estava se revirando na cama, parecia não conseguir dormir...

Sua respiração se acelerava sentindo medo pelo amigo.

- Bella pregou uma peça nele... Acho q bem dada até demais...

Mike refletia sobre o assunto. Mas completou rapidamente:

- Não conte a Bella sobre isso.

Um mau pressentimento me assombrava. Rapidamente, fui diminuindo a intensidade de meus sentidos.

Tarde demais Mike.

Se algo acontecesse ao Tylor, seria minha culpa.

Peguei minha mochila de couro preta em cima da cama e a taquei sobre o ombro. Jess e Ang me fitavam de longe quando andava em direção da porta do dormitório.

Assim que minhas mãos tocaram a maçaneta, as mãos da Sra. Lunister me impediram.

- Aonde você pensa que vai mocinha?

Seus olhos escuros cobravam explicações.

Cerrei os dentes com força e dei um largo sorriso.

- Ao banheiro.

Seus olhos me analisavam desconfiado.

- Espero que você saiba que nenhum aluno vai deixar o prédio até encontrarmos aquele moleque.

Não a respondi.

A raiva era tanta, que achei que também fosse capaz derreter seus óculos de fundo de garrafa.

Pelo visto, todos naquele lugar estavam achando graça no sumiço de Taylor.

Com as pernas meio trêmulas ela se afastou de meu caminho.

Sabia escolha

Passei pela porta e a fechei com força. Andei pelo comprido corredor e entrei no banheiro abafado trancando a porta.

Fui até a janela larga e baixa e arrastei o vidro. A corrente de ar criava sensações agradáveis em minha pele quente. Meu cabelos balançavam a medida que o vento entrava no banheiro.

Suspirei.

Me encostei no parapeito e olhei para baixo.

É uma boa queda...

Taquei a mochila pela janela, logo encostou na grama provocando um baque surdo. Rezei para que me celular não estivesse no fundo da mochila.

Agora era a minha vez.

Se eu era tudo aquilo que Aro dissera, quatro andares não deveriam ser nada.

Subi no parapeito da janela e me agachei. Fechei os olhos e respirei fundo.

Tentava me acalmar quando ouvi uma voz chamar:

- EI!

Abri os olhos e olhei para cima.

Um senhor calvo estava encostado na varanda do quinto andar no prédio ao lado.

- Precisa de uma altura maior...

Disse entre sorrisos.

Bufei.

Aquilo não podia estar acontecendo de verdade.

- Obrigada!

Gritei com um sarcasmo bruto.

Voltei a me focar no chão lá embaixo, quando batidas soaram na porta do banheiro. Eu não podia esperar mais.

Sem pensar, pulei da janela e fechei os olhos.

O vento passou pelo meu corpo com uma velocidade maior, logo eu me encontrava no chão. Abri os olhos, fitando a grama verde sob meus pés. A aterrissagem foi macia, leve e indolor.

Sou capaz de pular prédios inteiros...

A incredulidade sumia de minha mente. Um sorriso escapou pelos meus lábios.

Acho que posso me acostumar com isso.

Me levantei rapidamente e peguei a mochila caída ao meu lado.

 

Comecei procurando pelos arredores do alojamento, depois procurei em volta da torre da noite passada.

Nada de Tylor.

Eu descia a rua que dava na entrada para Volterra ao mesmo tempo em que procurava com minha audição.

Adorava a idéia de ser sobrenatural e no fundo, eu sentia orgulho por ser filha daquele homem. Além de belo, ele era forte e inteligente. E no modo autoritário, ele devia ser o líder.

Filha do chefe... Já é um bom começo...

Ri de mim mesma.

Devia haver tantas coisas para se saber.

Meus pensamentos se agitavam em minha cabeça enquanto eu apreciava a paisagem.

Eu estava em um campo aberto, a grama era muito verde ali na região, o que dava um forte contraste com a vegetação seca do horizonte.

Os muros que cercavam a cidade já estavam atrás de mim.

Talvez Jess tivesse razão. Talvez fosse apenas uma brincadeira ou até mesmo uma revanche.

Os ventos eram fortes devido a altitude da cidade, sem os muros, meus cabelos estavam vulneráveis.

Suspirei.

Dei meia volta. Mas, em um segundo o vento mudou de direção.

Meu cabelo voou para meu rosto, junto com um cheiro desagradável.

Tornei a me virar.

O cheiro de ferrugem e sal me atingiu com força. Minha garganta começou a arder

Eu devia ser alérgica ou algo parecido, pois era a segunda vez que minha garganta reagia ao cheiro de...

O cheiro entrou pelo meu nariz, piorando a situação da minha garganta. Assustada, identifiquei o cheiro:

Sangue.

 

Algo estava errado, muito errado.

Comecei a correr morro abaixo com um mau pressentimento nascendo em meu peito.

Obriguei minhas pernas se esticarem ao máximo, a cada passada minhas pernas eram impulsionadas com uma força que me era estranha.

Forcei meu corpo ao seu limite.

Os arbustos eram apenas borrões ficando para trás.

Entrei na floresta densa, onde o cheiro era mais forte.

O cheiro de sangue agora se misturava com o cheiro da terra que se levantava por onde eu passava.

Eu podia ouvir o som dos carros na estrada perto dali ficarem para trás. Definitivamente aquele não era o meu momento mais normal.

Onde estava o meu limite?

O cansaço não vinha, nem mesmo uma simples dor muscular. Apenas minha respiração e meus batimentos cardíacos estavam alterados, mas nada muito significativo.

Era como se um outro lado meu, um lado ainda desconhecido, viesse à tona e tomasse conta de meu corpo e de meus sentidos.

Agora sim, eu estava me conhecendo de verdade.

Rompi a cerca que era formada por arbustos. Seus galhos secos não conseguiram provocar em minha pele nenhum tipo de arranhão.

Estanquei no pequeno espaço.

Minha visão ficou turva por um momento enquanto uma queimação ardia em minha garganta.

O choque me invadiu.

A pequena figura estava coberta por uma capa escura familiar, o capuz escondia seu cabelo e o rosto estava oculto no pescoço de Tylor, que jazia sem vida no chão.

Um som saia do pescoço de Tylor, era como se a figura estivesse beijando seu pescoço agora sem vida.

Sua garganta fazia movimentos contínuos como se bebesse algo...

Senti meu queixo cair.

Horror

Essa palavra não demonstrava nem metade do que eu sentia.

Ela estava drenando seu sangue como uma parasita!

 

Quando finalmente se desgrudou de Tylor, seu corpo já não havia nenhum calor. Ela não havia deixado uma sequer gota em suas veias.

Ela estava de olhos fechados, mas sua expressão era de prazer.

O gosto do sangue humano banhava sua garganta provocando seu delírio.

Assim que abriu os olhos, ficou ciente da minha presença.

Agora os olhos podiam ver o que antes os outros sentidos não podiam, quando estavam entorpecidos naquele momento de insanidade.

O capuz caiu em suas costas. Seu cabelo liso e dourado deslizou para seus ombros, emoldurando seu rosto pálido.

Rezei para acordar, pedia que tudo não passasse de um terrível pesadelo. Eu poderia acordar e Tylor ainda estaria vivo com sua mesma cara de bobo de sempre.

Mas não aconteceu.

Eu não acordei.

Seu corpo continuava imóvel, largado no meio daquela floresta.

A garganta já não queimava, mas restava um nó. Aquele nó fazia meus olhos queimarem e ficarem umedecidos a ponto de trasbordar. As lágrimas desceram sobre minha pele, deixando um rastro frio por onde passava.

Uma avalanche de sentimentos.

Medo, dor, raiva, tristeza...

Assassinos...

Me recordei das palavras que a cigana dissera em meu sonho.

- Vampira...

Deixei escapar em voz alta.

A menina por instante me pareceu mais pálida do que nunca.

É isso o que eles são. E era isso o que eu era...

Eu era metade demônio.

- Bella...

Seus delicados lábios pronunciaram meu nome em sua doce voz de criança.

- Que infeliz... Surpresa.

Jane estava nervosa.

Como se tivesse feito algo errado, como se tivesse desobedecido ordens.

Minhas mãos estavam tremulas.

Tudo o que eu queria era sumir. Desaparecer para que eles não me achassem, que se esquecessem de mim.

Só nesse momento que tomei consciência da mochila em minhas costas. Apesar de estar lotada, seu peso era insignificante.

Eu tinha tudo o que precisava.

Um cartão de crédito e todos os documentos, inclusive o passaporte.

Minha mente começou a planejar e a traçar rotas.

Se eu queria sumir, essa era a minha chance. Só éramos eu e ela. Aro estava longe e não chegaria a tempo.

Não importava os planos que tivesse para mim...

Ele jamais me encontraria.

 


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