POV Scorpius

Naquele ano não haveria comemoração do dia dos namorados como ocorria nos outros anos, a festa fora cancelada porque alguns espertinhos haviam ironizado o dia por todos os corredores do terceiro andar. Era uma maneira de nos punir. O que eu pensava que não iria funcionar, pelo menos não comigo ou com Alvo e Luke.

Nos outros anos nós não tínhamos namoradas, bom eu continuava não tendo, então saíamos pela festa procurando garotas que gostassem de ficar sem compromisso. Foi isso que levantou nossa fama por aí. Mas passou.

- Sério cara, é só a Alyss. – Luke fez uma careta para Alvo, o moreno continuava sentado na cama inventando presentes fantásticos e completamente malucos para Alyss

- Alyss é mais que tudo isso. – Al suspirou

- Você não acha que está agindo apaixonado demais? – eu o encarei enojado

- Não é isso. – ele finalmente nos encarou – Alyss é demais...para mim, entendem?

- Areia demais para o seu caminhãozinho? – Luke soltou uma risada pelo nariz

- É mais ou menos isso. – o moreno se levantou indo em direção à porta – Gosto muito dela, não queria decepcionar no nosso primeiro dia dos namorados.

- Gosto muito da sua irmã também, Al, mas nem por isso estou desesperado por um presente. – Luke sorriu – E além do mais, Alyss falou de você esse tempo todo, ela gosta de ti e vai gostar do presente que escolher.

Eu tinha certeza que essa conversa se estenderia dali até Hogsmeade, então procurei levar meus pensamentos para outra dimensão. Bom, não é que não queira ajudar meus amigos nessa difícil decisão, mas é que vocês entenderam, não? Luke Zabine namora Lylian Potter e Alvo Potter namora Alyss Blackmonn, que por sua vez é a melhor amiga da Lylian. Eles estão em família. Vão se entender completamente.

Já se entenderam para namorar com a irmã do melhor amigo, porque não se entenderiam quanto a presentes?

- Divagando Malfoy? – ouvi a voz dela ao meu lado e olhei ligeiramente para baixo

Rose Weasley sorria sem nem me olhar, apenas andando ao meu lado. Ela era bem mais baixa do que eu, então era natural que eu passasse meu braço sobre seus ombros para que pudéssemos andar até as carruagens sem nos perder no meio daquele mar de pessoas que iriam as compras naquele bendito sábado.

- O que vai fazer em Hogsmeade, ruiva? – eu a encarei, curioso

Ela corou levemente e olhou pela janela da carruagem. Deu de ombros como se não se importasse com nada referente aquela data, mas falhou miseravelmente.

- Alyss e Lylian se juntaram para comprar presentes. Eu sobrei. Só quis passear um pouco. – ela não me encarou – Você sobrou também?

- Mais ou menos. – eu dei de ombros – Mas não posso sair com você hoje.

- Ah. – ela pareceu decepcionada – Tudo bem. Eu só vou comprar alguns doces e talvez um livro, pretendo fazer uma caminhada de volta ao castelo.

- Sério, Rose. Desculpa. – eu queria que ela me encarasse, mas ela meramente sorriu e saltou rápida da carruagem quando esta parou na entrada da vila

Eu não gostava de ver ela daquele jeito, mas Rose acabou desaparecendo na multidão antes que eu pudesse impedir. Então só restava me conformar e conversar com ela naquela noite durante a ronda dos monitores que fazíamos juntos. E essa noite prometia já que todos estariam escondidos por aí presenteando seus namorados e tentando fazer juras de amor de todas as formas.

Acabei sorrindo sozinho. Nós dois nos divertiríamos hoje à noite. Porque, apesar de todas as nossas diferenças, Rose e eu gostávamos das mesmas coisas e isso nos unia. Quando menores eu brincava que era eu e ela contra o mundo. Isso é até irônico agora.

E foi pensando nisso que eu percebi tudo o que se passava nos últimos meses. Todos nós crescemos, assumimos mais compromissos, tínhamos um futuro em mãos para planejar. Não éramos mais aqueles garotos idiotas que podiam brincar com tudo porque no dia seguinte tudo era consertado. Não. Seriamos adultos em poucos meses, quando terminássemos a escola.

E estava na hora de assumir o que eu realmente queria. O que realmente me deixava feliz e certo de que poderia seguir em frente sem medo. E nesse exato ponto do meu pensamento, andando pelas ruas de Hogsmeade e olhando as vitrines foi que eu encontrei o que vim procurar aqui hoje. Era exatamente como eu imaginava. Ideal.

Não olhei a volta quando comprei o que precisava e simplesmente comprei uma cerveja amanteigada para voltar bebendo enquanto iria para Hogwarts. Eu não precisava mais ficar ali no meio de tantas pessoas. Estava tudo certo agora.

Esperei que encontrasse a ruiva andando para o castelo, mas ela não estava à vista, ou já havia voltado ou demorou mais do que desejava na vila. Suspirei de forma cansada e segui calmamente até o castelo. Era muito mais longe do que parecia e a noite já estava chegando quando finalmente adentrei meu dormitório.

Tomei um banho quente e me joguei na cama esperando pelos outros, que resolveram aparecer só após o jantar, e tempo suficiente para se arrumarem e desaparecem com seus presentes.

- Ah Scorpius? – Al me chamou da porta – Por favor, não vistorie a torre de astronomia hoje e nem a Sala Precisa, ok?

- Fale isso para a Rose. – eu ri dele, Rose não perderia a oportunidade de aprontar com os primos

Ele sorriu e desapareceu com Luke porta afora. Eu suspirei e verifiquei o horário. Eu iria vê-la em alguns minutos e finalmente saber o que havia acontecido com ela naquele dia. Só não esperava encontrá-la a minha espera no local marcado.

- Oi. – eu estava surpreso, quem estava adiantado era eu e ela já estava ali

- Ah, oi Scorpius. – ela se desencostou da parede, meio assustada

- Aconteceu alguma coisa? – franzi o cenho, o que ela tinha naquela noite

- Não é bem isso. Eu só queria saber se podia fazer a ronda sozinho hoje? – ela pediu com a cabeça baixa, parecia que seus dedos eram mais importantes do que me olhar

- Eu... – fiquei triste com isso, afinal esperava conversar com ela, e se ela tinha algo essa noite era um encontro, não? – Tudo bem.

Ela soltou a respiração como se estivesse prendendo até aquele tempo. E então retirou de dentro da capa um pergaminho enrolado.

- É para você. – ela enfiou em minhas mãos rapidamente e voltou às costas andando apressada

Eu pisquei repetidamente, meio abobado. E então percebi que não podia deixá-la fugir.

- Ei, Rose! Espera! – corri atrás dela e a segurei pelo pulso

- Olha, Scorpius. Já foi difícil fazer isso assim, pensei até em te mandar por correio coruja, por favor não complique mais. – ela tentou se soltar

- Eu só queria dizer que também comprei um presente para você. – falei calmamente, um sorriso se alastrando pelo meu rosto

- Comprou? – seus olhos finalmente encontraram os meus, os azuis dela brilhavam intensamente naquela noite

- É claro que comprei. – eu sorri soltando seu pulso e puxando-a pela cintura de encontro a mim – Eu nunca minto para você.

Ela sorriu e relaxou finalmente voltando a ser a minha Rose Weasley. Porque, sinceramente, não importava se isso só ocorria nas noites em que tínhamos ronda e se só nós dois soubéssemos. Ela sempre seria só minha.

- Não há outra garota, Rose. Só você. – eu beijei sua testa, ela sorriu se apoiando em meu peito – Mas eu pensei que havia outro quando pediu que eu fizesse a ronda sozinho!

Não queria demonstrar ciúme assim, mas foi inevitável. Ela riu baixinho, enquanto me encarava.

- E você iria deixar eu ir? – ela pediu baixinho me arrepiando inteiro

- Bom, você estava estranha o dia inteiro. E eu não me senti no direito de te impedir. – dei de ombros

- É que é dia dos namorados. – ela sentenciou por fim, como uma confissão – Não sabia como rotular o que tínhamos e queria lhe dar um presente porque para mim o que temos é importante. Não sabia como iria reagir.

- Eu sei, porque me senti um pouco assim também. – eu acariciei seu rosto – Mas o que temos é muito importante para nós dois eu acho. Eu gosto muito de você e acho que somos um casal incrível.

- Eu gosto de você também, loiro. – ela sorriu – Mas sabe, estou começando a pensar que gostaria que me beijasse no café da manhã também.

- Só no café da manhã? – eu ergui as sobrancelhas

- No almoço, no jantar e no nosso tempo livre. Acho que em todos os momentos. – ela abaixou a cabeça – E não são só os beijos, é poder andar por aí contigo sem precisar fingir que sou apenas sua amiga. Sei que muito da nossa convivência não vai mudar, mas quero algo a mais.

- Entendo. – eu me afastei sério demais, vi ela ficar confusa em apenas um segundo

- Olha, Scorpius, podemos discutir isso ainda. Verificar os prós e os contras e... – ela suspirou, cansada

- Eu já pensei sobre isso. E se é isso que quer, então estamos de acordo. – eu sorri para ela – Não quero te perder e sim, quero ter algum domínio sobre você. Desde a primeira vez que te beijei morrendo de medo de perder a sua amizade, eu quero você só para mim. Então, namora comigo?

Os olhos dela brilhavam mais a cada palavra e eu os vi aumentarem de tamanho quando olhou para as duas alianças pratas na palma da minha mão. A verdade é que eu queria admitir para todo mundo que estávamos juntos. E me encontrar com ela durante as rondas seria só um bônus e não um encontro escondido.

- Claro que sim. – ela sorriu, eu me adiantei para colocar uma aliança em seu dedo enquanto ela fazia o mesmo comigo – Vai ter de pedir ao meu pai, sabe disso não é?

- Sim, já pensei que vou começar deixando-o me ganhar no xadrez. – eu sorri – Bom, mas esse não era meu presente. O seu presente eu mandei fazer porque eu o imaginei perfeito demais para simplesmente comprar.

Ela franziu o cenho, mas abriu o embrulho mínimo que lhe entreguei. Seu sorriso só aumentou quando pegou a delicada pulseira.

- Bom, deixei que eu coloco. – eu peguei de sua mão e prendi em seu pulso – O leão é porque você é grifinória e a cobra porque sou sonserino, o escorpião e a rosa somos eu e você, assim como o R e o S que representam nossos nomes.

- E o trevo de quatro folhas? – ela me encarou

- Ainda não entendeu? – eu passei a mão pelo seu rosto, tinha certeza que meus olhos brilhavam agora – O trevo de quatro folhas representa sorte para a vida no mundo trouxa. Você é meu trevo, Rose. Ou em outras palavras, minha vida só é perfeita porque você está nela.

- É lindo. – ela deixou uma lágrima escapar – O que você disse.

- Você é linda. – eu beijei seus lábios calmamente, mas não me aguentei muito e a puxei para mais perto a beijando com vontade

- Ei, espera aí! – ela me afastou

- Ah, não está com medo que alguém nos veja, não é? – eu fiz uma careta – Estou com vontade de te beijar desde que nos separamos ontem à noite.

- Não é isso. – ela riu – Eu só quero que abra o meu presente.

- Ah! – eu corei e peguei o pergaminho no bolso, desenrolei-o e abri me deparando com um mapa das estrelas onde estava em primeiro plano a constelação de escorpião

- Bom, seu nome significa escorpião e seus olhos quando brilham me lembram as estrelas, então eu fiz alguns contatos e consegui que renomeassem uma das estrelas da constelação de escorpião. – ela apontou uma estrela bem no centro do principal risco da constelação, sem a qual a constelação não existiria – Ela carrega seu nome agora.

E bem embaixo da estrela, estava o nome Scorpius em letras pratas, assim como o nome das outras estrelas.

- Isso é sério? – eu a encarei

- Sei que gosta de astronomia, então pensei que fosse gostar. – ela deu de ombros, preocupada

- Obrigado. – eu engoli em seco – É o melhor presente que já ganhei. Significa muito para mim.

- Uau, deixei Scorpius Malfoy sem palavras. – ela brincou e me abraçou

- E quando eu fico sem palavras perto de você, eu penso em outra coisa. – eu sorri e voltei a beijá-la

Rose não resistiu dessa vez. Deixou-me completamente livre para me aproveitar de seus beijos o quanto eu queria, afinal agora não precisávamos mais esconder de ninguém. Ou talvez tivéssemos, porque mais alguém pareceu tentado a nos interromper.

- Ah eu sabia que eles tinham algo! – Lylian saiu de trás de uma tapeçaria grande ali atrás junto com Luke, Alvo e Alyss

- Ah não. – eu suspirei e sorri para minha ruiva, ela só se aconchegou em meus braços em meio aos risos dos outros quatro

Afinal eles eram nossos amigos, e eu teria o resto da minha vida para ter momentos a sós com a minha ruiva. Porque eu nunca mais ficaria longe dela.