Hitler E Sua Escova escrita por Harpia


Capítulo 3
Drei


Notas iniciais do capítulo

Oh não



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Após desembarcar através das esteiras em que as bagagens dos humanos eram transportadas até o saguão do aeroporto, a escova seguiu sem rumo até o centro de Berlim, subindo na traseira de um táxi depois de ouvir a conversar entre o motorista uniformizado e um passageiro engravatado e muito eloquente. O automóvel estacionou vinte minutos depois em frente à uma casa velha, de três andares e uma varanda pequena. Descendo pelas alças da maleta do senhor, sentiu o baque contra o cimento. Haviam folhas secas caídas de uma árvore gigante que havia crescido no meio da calçada e elas sopravam com o vento, se tornando obstáculos em seu caminho do qual tinha que desviar, mas não foi tão difícil quanto escalar a escada da varanda até a porta da frente. Havia um símbolo na porta, era uma suástica. Subindo na maçaneta, a escova apertou o botão macio da campainha. Não levou muito tempo até que alguém atendesse à porta e a puxasse com tanta força que teve que se agarrar firmemente na superfície redonda e cromada. Ela reconhecia aquelas mãos grandes e peludas, logo ao erguer sua cabeça, o fitou aliviada. Era o bigodudo gostosão de seus sonhos mais doces e amargados; dependendo, é claro, do que ele havia comido antes de botá-la na boca.

– O que você está fazendo aqui? –- Adolf perguntou grosso de surpresa, erguendo as sobrancelhas.

Não era o tipo de cumprimento que ela esperava depois de tanto tempo sem vê-lo.

– Eu... Eu... Vim ver te ver –- a escova o respondeu gaguejando, esperando para ser maltratada novamente.

Após um minuto de silêncio e desconfiança, ele a agarrou entre os dedos e abraçou-a, sorrindo. –- Essa é a melhor surpresa que alguém poderia ter me feito.

– Mas eu continuo brava com você –- a escova afirmou, estreitando seus olhinhos e se afastando de seu amado.

Hitler tentou abraçá-la novamente. –- Não fique, querida, posso te dar uma vida melhor agora que eu tenho um emprego maravilhoso.

– Você me deixou muito tempo sozinha, acho até que deve estar usando outra escova qualquer –- explicou se aconchegando em seu peito, sua voz parecendo tristonha demais até para si mesma.

Sentindo lágrimas de seu amado pingar sob seus braçinhos, a escova o fitou muito comovida.

– Você é única para mim, eu nunca amei alguém como eu te amo –- ele murmurou, encostando sua língua em suas cerdas.

A escova se arrepiou, ficando excitada. – Ui... Vamos com calma.

De repente, um vulto surgiu no corredor do hall da casa velha e o apressou, quebrando o clima:

– Hitler, estamos te esperando para a reunião do partido – era um homem fardado, cujos olhos azuis eram tão divinos quanto seu cabelo dourado.

Celebremente, seu amado a guardou com delicadeza no bolso da frente do paletó e seguiu para a reunião numa sala grandiosa.

– Você vai adorar esse lugar. Essas pessoas me amam –- garantiu-a contentemente.

Analisando através de um buraco do bolso, a escova ficou atônita com a quantidade de homens fardados em seus gabinetes e o púlpito para onde Hitler se locomovia de cabeça erguida. Ele era tão perfeito e cheiroso que ela se deleitava apenas pelo fato de estar dentro de sua roupa. De uma maneira provável e estranha, tinha certeza de que esse era o dia mais feliz de sua vida, porém, como os humanos sabem a felicidade não é duradoura e ela pode se dissipar tão depressa quanto a velocidade da luz. Ao subir ao púlpito, Hitler botou as duas mãos na bancada e antes de ler seu discurso, a escova pôde ver exatamente o segundo em que um infiltrado levantou-se da cadeira na plateia, empunhou seu revolver, apontou para o palco e deu um único disparo. Por sorte ou por azar, o tiro acertou o bolso da frente do paletó e consequentemente, a escova. Sem se importar com a segurança da própria vida, Hitler jogou-se no chão e enfiou a mão no bolso para checar se sua amada estava ferida. Seguranças da sala retiraram o criminoso, porém tudo isso seria em vão se a escova estivesse morta. Com espasmos, a pequena escova revirou os olhos, sangrando, contudo, ainda respirando.

Não sou nada sem ti, toda a fama e prestígio não importam sem você – ele confessou antes que seus companheiros e assessores viessem ajudá-lo a se levantar.

Ela notou o quanto ele sentia-se desconfortável por tê-la por perto, como se estivesse envergonhado. Hitler decidiu escondê-la o mais rápido possível conforme os murmúrios e a parede humana o rodearam. Rasgando o pano de seu bolso, estancou a ferida da escova e guardou-a no bolso interno do paletó para mantê-la próxima de seu coração que pulsava em prol de sua paixão. Adormecendo aquecida, a escova teve seu momento de descanso. Após a reunião do comitê houve uma pequeno intervalo numa sala repleta de mesas cobertas por pratos de bolos e alimentos gordurosos. Dando uma desculpa esfarrapada de que precisava fazer telefonemas, Adolf simplesmente deu apertos de mãos e no instante seguinte subiu as escadas para os dormitórios. Entrou no banheiro vigiando por cima dos ombros, se trancou e acordou a escova.

– Fiquei muito preocupado com você, não posso te perder – sussurrou acariciando-a no topo da cabeça de plástico.

Empurrando-o, ela se exaltou. – Mentiroso!

Inclinando-se para trás, ele assumiu uma postura chateada. – Ah, é?! Por que acha que estou mentindo? Eu jamais mentiria para você.

– Eu vi que você tem vergonha do nosso amor.

Encarando-a pressionado contra a parede, Hitler engoliu à seco, sem saber como dá-la uma explicação plausível ou convincente. Não queria perder seu amor e existiam muitos segredos que precisava guardar para protegê-la e não fazê-la sofrer.


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Notas finais do capítulo

Quais segredos serão? O que será que o futuro promete?