Hitler E Sua Escova escrita por Harpia


Capítulo 16
Sechzehn




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Hitler ergueu os braços, rendido. – Não me mate, por favor!

– Agora que você matou o pai dos meus filhos terá que assumi-los ou eu explodirei seus miolos e todos os seus planos para a Alemanha vão para o inferno contigo! – Eva estava vermelha de tão furiosa, suas veias da face saltaram.

Durante essa intriga, a escova vagava pela casa do partido quando enxergou pela visão periférica uma sombra atravessar a janela da cozinha. Ao virar-se para checar outra vez, a janela estava aberta e as cortinas sacudiam graças à brisa noturna. A simetria de um homem afrodescendente foi contornada pelas lamparinas do corredor e ele pôs um dedo sob os beiços carnudos, pedindo que ela ficasse quieta, no momento seguinte, a pegou nos braços e correu com ela para o auditório, segurando-a tão forte entre seus braços morenos esculpidos que se tornara basicamente impossível de ela respirar. Lá no escuro na divisa entre o palco e as cadeiras do auditório, a estuprou e arrombou seu orifício anal numa forma de punição pelos nazistas odiarem os negros e apesar disso manterem aberrações como uma escova falante na casa do partido. No instante seguinte, o negro roubou as joias do cofre principal camuflado na parede do escritório subterrâneo do chanceler e pulou a janela, fugindo e deixando a pobre escova ferida e fraca no tapete. De volta ao corredor dos dormitórios, Eva empurrava Hitler contra a parede, apontando a arma para sua boca.

– Posso fazer qualquer coisa que você quiser – ele ofertou, tremulando e ainda de braços erguidos.

– É só isso que eu quero, Hitler – Eva abaixou a arma, suas lágrimas gotejavam no piso. O vazio em seu peito era tão vasto que abrangeu todas as outras emoções, ela sequer mudava sua expressão ao chorar. Estava anestesiada. – Eu quero um futuro.

Sem se comover, lhe estendeu amigavelmente a mão. – Seu futuro é uma promessa.

Ela acariciou a barriga de três meses de gravidez. – Você é o meu herói.

Dando as costas, Eva entrou em seu quarto. Guardando a arma na última gaveta da cômoda, pegou o porta-retrato cuja foto enquadrada era de seu falecido amor norte-americano e o abraçou, como se esse gesto o representasse e pudesse fazer com que sua alma descansasse em paz, mesmo que seus pedaços estivesse sendo devorados por ratos de esgoto em alguma lixeira da cidade. Assim, Hitler também foi dormir, mas dormiu no tapete; não queria se deitar ao lado de ninguém que não fosse a escova. Então, numa lúcida revelação à madrugada, lembrou-se de que a escova devia ter subido para o quarto. Levantando-se num sopro, correu até a escadaria e esbarrou numa das empregadas uniformizada em um vestido azul-marinho.

– Por favor, pode me ajudar à encontrar minha escova de dentes?

Meio cabisbaixa, para dar reforçar sua imagem submissa, a empregada respondeu de prontidão. – Meu Führer, se me permite opinar, há escovas disponíveis na enfermaria, posso te levar até lá e conseguir uma nova.

O ditador pirou, bagunçando o cabelo e agindo como uma criança mimada. – Não! Não quero! Ela não é uma escova qualquer! Eu quero a minha escova sua serviçal estúpida! Me ajude a encontrá-la!

Obedecendo, vagaram ambos no escuro pela grandiosa casa, procurando sala por sala enquanto os outros membros do partido estavam adormecidos. Hitler se desesperava mais a cada passo, como se estivesse sendo dilacerado. Atingindo o auditório, sua empregada gritou ao encontrar a escova entre a primeira fileira da plateia.

Contente, andou até Hitler com a escova numa mão. – Führer, encontrei sua escova!

– Segure-a direito, sua incompetente – ele tomou a escova de suas mãos e soltou um urrar de espanto ao perceber de que ela estava inconsciente e com as cerdas soltas. – Você está bem, meu amor?

De olhos semicerrados, a escova replicou. – Sim, sim, meu adolfinho.

A verdade era de que ela estava morrendo, não iria resistir aos ferimentos causados pelo negro. O amor que sentia por ele era sua última faísca de vida, mas a faísca que brilhava mais do que qualquer outra. A empregada desmaiou de choque.

– O quê fizeram com você? – seus olhos transbordaram e seu bigode ficou úmido por conta de seu nariz que escorria. – Eu o mato.

– Foi um negro, ele me violou.

Mole, a escova faleceu. Hitler berrou como um urso que havia sido acertado por um tiro dum caçador, rendido à loucura e a inconformidade. Ele seria capaz de qualquer coisa para trazê-la de volta à vida.

– Você viverá de novo, minha querida – ele prometeu aos prantos para a escova que repousava em paz na palma de sua mão.

No minuto seguinte, Hitler estava incendiado pelo ódio e assim nasceu seu racismo por pensar que qualquer negro poderia machucar a escova outra vez. Ele se esforçaria pelo resto de seus dias para cumprir a promessa para a escova: A transformaria em uma humana; era algo que estava prestes a se tornar realidade.


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Notas finais do capítulo

Sei que disse que eu iria postar anteontem, mas eu estava tão empolgada com o especial de DW que não deu kdlsjdls