Hitler E Sua Escova escrita por Harpia


Capítulo 14
Vierzehn


Notas iniciais do capítulo

Se você é uma pessoa sensível recomendo que não leia esse capítulo.



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Anos passaram. Convencida de que tudo na vida acaba, a escova já não era mais uma jovem perdida e o escova maconheiro estava mais responsável, porém um responsável chapado. Eles resolveram se casar quando havia três anos que se conheciam. Continuaram morando no beco até a virada da década de 30 quando o lugar foi reformado e se tornou uma rua apertada que ligava duas avenidas. O quarto ano sem ver Hitler foi a fase mais difícil em que a escova teve que se convencer de que era a hora de crescer e deixar seu primeiro amor enterrado no passado, principalmente quando descobriu que o filho de Hitler o dava muito orgulho e havia preenchido sua ausência na vida dele.

No entanto, Hitler não havia a esquecido. Não havia esquecido a sensação de dormência que ela deixava depois de fodê-lo freneticamente, esfregando suas cerdas em seu ânus. Não havia esquecido de quando eles eram crianças. Não havia esquecido de uma vez tê-la levado para passear no bosque perto da casa de seus pais. Há quilômetros afastado, ele ainda sentia seu cheiro em seu travesseiro quando ia dormir soluçando e ás vezes nos intervalos antes de alguma reunião se isolava na biblioteca, se pegando lendo contos que o fazia se lembrar da tão amada escovinha. Ela o fez se sentir patético e sem valor; não gostava da ideia de tê-la dado tanto poder sob ele.

Ás vezes, Eva se sentava com ele e tentava bancar sua psicóloga.

– O que está te incomodando? Eu vejo que você não está feliz.

– Ainda sinto falta dela – ele lamentava, sentado na bancada da estante da biblioteca como um adolescente emo.

No quinto ano, o casal de escovas se mudou para um banheiro de funcionários num nobre salão de festa da burguesia (e por coincidência, próximo a casa do partido onde Adolf vivia com sua esposa e seu filho). No sexto ano, a escova sentiu as cicatrizes em seu coração se abrirem novamente quando leu um pedaço de jornal no balcão do bar do salão que anunciava alegremente na última página: "Eva Braun está esperando um segundo filho do Führer da Alemanha!". Arrependida de tê-lo conhecido, a escova não sabia que Hitler ficara furioso por saber que Eva estava esperando outro filho do maldito Ianque, então mandou seus capangas o perseguirem e cortarem seus pedaços. Os capangas acharam o cara e o cortaram pedaço por pedaço, até que o sangue secasse. Levaram os pedaços à Eva e ela chorou histericamente, se ajoelhando aos pés de Hitler e o implorando por perdão, mas ele não perdoaria por ela fazer com que a escova em alguma lugar de Berlim estivesse sofrendo, então a ordenou que se masturbasse com o pênis pequeno do americano morto em sua frente para provar seu arrependimento.

Enquanto isso, a rotina das escovas não era muito empolgante: As duas escovas ficavam em silêncio durante o dia, pois o banheiro sempre estava sendo usado, principalmente porque a comida que era servida na cozinha para os faxineiros eram restos, então, eles estavam soltando barro o tempo inteiro, consequentemente, a escova e o escova só conversavam entre si à noite ou quando iam transar no jardim; o que acontecia muito, pois escovas não engravidavam, então eles se aproveitavam porque a chapa não podia esfriar. Ás vezes os esfregões tentavam assassiná-las e o cheiro da cândida as asfixiava, era uma vida muito sofrida.

No sexto ano, em 1936, anunciaram uma grande festa no sábado em comemoração ao aniversário de alguém. Quando o sábado chegou, eles se surpreenderam ao passearem pelo salão, pois lá nunca houvera uma festa tão grandiosa e cordial. Haviam inúmeras mesas cobertas com toalhas brancas e prataria de porcelana, enfeites brilhantes rodeavam as colunas e as paredes e havia até uma pequena orquestra montada no palco para prestigiar e animar o jantar de gala. Duas horas antes da festa, eles se esconderam abaixo de uma das mesas para assistir todos os detalhes de camarote.

– De quem será o aniversário, hein, maridão? – a escova cutucou o escova.

– Não sei – ele respondeu desinteressado e de repente, assumiu uma pose desconfiada. – Por quê quer saber?

– Sei lá, nós poderíamos aproveitar essa noite para dançar valsa. Você gosta de valsa, não é?!

Rolando os olhos de impaciência, ele estalou a língua impaciente, deu de ombros e saiu andando de volta ao banheiro, a abandonando no perigoso e amplo salão em que as vozes humanas ecoavam assustadoramente. O escova maconheiro não era um marido atencioso, só era bom de cama, mas para quê isso servia? Ele não dava a mínima para os sentimentos dela e isso a magoava e a fazia o comparar com Hitler que sempre levou em conta suas opiniões. Trocar o certo pelo duvidoso tinha seu preço, mas qual era o certo e o duvidoso nessa história? Por fim, quando os empregados que ajeitavam a decoração retornaram com escadas para remover o pó do lustre de cristal no teto, ela rumou para o banheiro no encalço de seu esposo.

Quando a orquestra começou a tocar uma sinfonia sem harmonia e demasiadamente distorcida, as escovas saíram do banheiro e se depararam com um salão lotado de humanos sentados nas cadeiras das mesas e vestidos em seus trajes elegantes, segurando taças de bebidas ácidas que prejudicavam as células de seus corpos. Um bolo branco de quatro andares estava erguido sob uma mesa no centro do salão e o aniversariante estava sendo fotografado com os convidados. De costas, o marido da escova deduziu quem era.

– Hitler – ele espremeu os olhos, bufando de ciúmes. – Ele está aqui.

– O quê você disse? – a escova virou-se para fitá-lo, sem entender o que o escova havia dito. A música estava muito alta e as batidas dos tambores os faziam tremular.

– Não disse nada, vamos dançar valsa lá no andar de cima? – a puxou pela mão, arrastando-a pelo canto da escada onde não havia ninguém.

– Por que essa presa toda?! – ela sorriu genuinamente ao chegarem nos largos corredores do segundo andar, onde estava localizada a abóboda colonialmente talhada do salão.

– Porque eu te amo – respondeu, escondendo-a a verdade.

Então, de repente, uma voz ecoou no topo da escada onde eles haviam passado a segudos atrás.

– Escova! – Hitler berrou com as mãos no bolso e um olhar que transbordava de felicidade e ternura.

– Hitler! – ela berrou arrebatada.

– Não! – o escova gemeu.

Soltando da mão de seu marido, a escova correu até ele e escalou seu joelho até que chegasse à seu peito e pudesse abraçá-lo.


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Notas finais do capítulo

Oh não