Hitler E Sua Escova escrita por Harpia


Capítulo 10
Zehn


Notas iniciais do capítulo

Mais um para quem pediu por MP



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Stefan e Hitler se encaravam perigosamente, como se a qualquer segundo pudessem agir como animais irracionais e se atacarem aos dentes. Seus músculos estavam tensos e eles estavam prestes a arrancar o couro um do outro se não fosse por Eva que se meteu entre os dois e os apartou estendendo os braços.

– Não briguem por favor, eu estou grávida e não posso passar nervoso! – explicou, agarrando o líder nazista pelo antebraço e tentando arrastá-lo para o terraço onde pudesse acalmá-lo.

Óbvio que não era apenas por esse motivo superficial. Eva não queria que Hitler fosse despedido ou causasse más impressões ao presidente. Seu sucesso seria seu sucesso, pois ela era sua cúmplice.
Erguendo o queixo orgulhosamente, Adolf inflou o peito e bateu os pés. – Não íamos brigar. Ninguém é suicida o suficiente para se meter com o homem mais amado da Alemanha.

Marrento e cruzando os braços numa pose provocativa ao invés de defensiva, Stefan torceu o nariz. – Veremos até quando.

Ele estreitou os olhos. – O quê?! Está duvidando da minha capacidade de guiar o meu povo?!

– Deixe isso pra lá, nenê – Eva o implorou, insistindo em puxá-lo.

– Sai sua porra – de repente Adolf a empurrou e se aproximou do albino, afrontando-o bastante próximo de seu rosto. Admitiu para si mesmo de que o formato de seus lábios finos e rosados o atraiam. – E aí, hein? Ficou com medo de responder?

Gargalhando, o escrivão desafiou. – Estou duvidando da sua capacidade de acabar comigo.

Seduzido pelo hálito de hortelã do rapaz, Hitler murchou e marcou um encontro aos berros para não expor de que na verdade queria estuprá-lo. – Te vejo no meu quarto depois do jantar!

Hitler sempre sonhou com um menage à trois.

A escova pensou "Que briga mais estranha! No quarto!", entretanto, não se manifestou, preferindo reprimir suas opiniões para agradá-lo. Dentro do bolso, sentia os passos de seu amado indo ao salão onde um dos soldados-enfermeiros dava os cuidados necessários ao presidente. O soldado passava um pano úmido na teste de Hindenburg que acordou pouco à pouco e urrava de dor com a mão sob sua enorme pança. Ele estava com gases. Eva se posicionou agachada bem ao seu lado na cadeira e esboçou uma expressão preocupada.

– Você está bem, sr. presidente?!

– O que houve? – Hindenburg revirou os olhos ao peidar.

Lamuriosa, ela encarou Adolf questionando em silêncio qual desculpa deveria dar já que ele não se lembrava da tragédia e o cadáver (o sangue escorria dos olhos que explodiram quando Hitler o estrangulou) ainda estava deitado no corredor. Precisavam mantê-lo ali sentado até que a cena do crime estivesse totalmente limpa. Ligeiramente, os soldados recolheram o corpo e o levaram para a cozinha onde o cozinheiro sugeriu que pudesse aproveitá-lo para fazer a carne moída do almoço do dia seguinte e os entregou um esfregão para removerem o líquido vermelho respingado nas paredes. Quando tudo havia voltado ao normal e o presidente já estava farto de ficar sentado escutando as piadas sem graças de Eva no salão, Hitler se separou do resto do grupo e ficou solitário no terraço curtindo a brisa agradável do anoitecer, o canto das corujas e a paisagem dos pinheiros na floresta. Indeciso e olhando para a lua nova no topo do céu, ele retirou uma pequena flor amarela do bolso externo e a entregou para a escova ao libertá-la de seu bolso interno.

– Para uma verdadeira dama – murmurou, acariciando-a.

Tímida, a escova se encolheu, de pé no parapeito do terraço. – Está uma noite linda, não acha?!

Corando, Hitler confessou. – Sim, meu amor. É o tipo de noite que te faz querer coisas bobas e românticas.

– Podemos ter um monte de ocasiões românticas quando formos livres do preconceito, mas eu estou preocupada com você.

– Por quê?

– Você é perseguido por tantas pessoas e isso é perigoso. E se nada disso que eu queira se torne realidade? E se alguma coisa acontecer a você?!

– Não fique alarmada, muitos já tentaram me matar, mas eu tenho uma grande proteção divina e nada me destrói - ele se garantia sublimemente.

A escova mirou a cadeia de montanhas de picos congelados que se estendia à quilômetros. Sonhava em entrar numa igreja, usando o mais simples e mais branco vestido de noiva de todos que já existiam e Hitler estaria no altar esperando-a com um sorriso no rosto, pensando "Agora você será minha para toda a eternidade". A escova sonhava em ouvir as palavras: "Você é minha" e ser um símbolo de posse e de prestígio, mas não era feita de ouro e muito menos era de uma marca nobre. Eles nem sequer teriam filhos, poderiam adotar um gato ou adotar um fedelho orfão. Adolf se moveu e franziu o cenho.

– Eu tenho que ir – alertou-a e deu um beijo no topo de sua cabeçinha de plástico, transmitindo confiança.

Ela voltou à se frustrar, com medo de ser traída. Havia esquecido das responsabilidades de seu amado. – Para onde?

– Tenho um encontro marcado com Stefan – Adolf a lembrou penteando o bigode com suas cerdas.

A escova adorou esse gesto e pretendia não se desgrudar durante toda a noite sublime. – Posso ir contigo?

– Não – ele destruiu suas expectativas ao dar as costas friamente e seguir do terraço para dentro da cabana.

Abandonada novamente, ela sussurrou implorando aos céus e aos santos. – Por favor, tomem conta dele para ele não machucá-lo.

Quando Hitler atravessou o salão, as luzes estavam apagadas e haviam pratos vazios nas mesas, o que indicava que todos já haviam jantado e ido tomar banho para ir dormir. Cada dormitório tinha seu próprio banheiro e isso o impedia de sentir ciúme de Eva com os soldados (não era o tipo de ciúme que existia numa relação amorosa, mas ciúme que existia entre amigos). Avançando até seu quarto e antes de passar pela porta escancarada, avistou Stefan sentado nos pés da cama vestido com um vestido lolita rosinha e forçando uma pose sensual.

– Adorei sua encenação, agora podemos parar de fingir que não nos conhecemos, não é? – ele murmurou impertinente, arqueando uma sobrancelha.

Hitler mordeu o lábio inferior e chutou a porta atrás de si pronto para se entregar de coração e alma à aquele homem. Do corredor, a escova assistiu desiludida aquela cena absurda e cruzou os braços, pretendendo assassiná-los. Indo até a cozinha, ela escalou o balcão e encontrou o corpo do soldado em pedaços dentro da pia. Caminhando até o faqueiro perto das panelas, pegou ignorantemente uma das facas de manteiga e retornou ao corredor dos dormitórios, batendo três vezes na porta. Antes de abrir, ouviu alguns gemidos que fizeram se sentir entorpecida e humilhada.

– Vai, faz assim... Isso... Cachorro – era a voz de seu amado.

– E assim você gosta? Acha sexy?! – Stefan respondia afinando a voz como uma moçinha.

Farta das mentiras, a escova chutou a porta duma vez e teve uma imensa e inacreditável surpresa.


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Notas finais do capítulo

Será que o Hitler está traindo a escova?