Hitler E Sua Escova escrita por Harpia


Capítulo 1
Eins


Notas iniciais do capítulo

Baseada num sonho que eu tive...



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Tristemente, esse não é mais um daqueles romances que terminam com um final feliz, mas assim como todas as histórias, essa começou bem…

Era uma vez uma escovinha de dente verde. Ela não havia sido adotada num supermercado, haviam a encontrado num latão de lixo em Braunau Am Inn na Áustria enquanto ela ainda era um bebê. Desde o primeiro dia em que foi levada ao banheiro de seus novos donos, ela sabia que sua vida jamais seria a mesma. Viu muito, escutou o suficiente e sofreu por demais, principalmente bullying dos dez humanos que vivam naquela casa barulhenta.

Desde criança, a escova sabia que estava destinada à uma grande tragédia. As outras escovas adultas e cheias de bactérias não se importavam com ela, a largavam no canto e a excluíam mesmo que ela ainda fosse apenas uma criança indefesa. Apesar de ter tido uma infância sofrida, o mundo deu voltas e ela encontrou sua alma gêmea.

Depois de algumas semanas em que o banheiro parou de ser visitado, todas as manhãs ensolaradas ela começou a entrar na boquinha de um tal de Adolf. Adorava limpá-lo, ele era cheiroso. Ele era um menininho solitário e introvertido que sempre conversava com a escovinha sorridente após tomar seu café da manhã:

– Você está com fome, queridinha? – ele perguntava à ela.

A escova respondia num tom fininho. – Sim, sim, Adolfinho.

Então ele despejava creme dental em sua boquinha cheia de dentinhos lilás e depois ela ia passear por seu túnel humano imundo. A cada dia que passava sua relação foi ficando mais intensa e numa noite enluarada, a escovinha verde estava se sentindo muito solitária. Aproveitou que as escovas adultas estavam dormindo dentro de um copo e desceu da pia, seguindo do banheiro até o quarto de Adolf. O quarto de Adolf era pequeno, com roupas espalhadas pelo chão e estantes de livros grossos. Rastejando-se com dificuldade e escalando os cobertores da cama estreita de Adolf, ela subiu em seu peito, deitou-se e suspirou. Acordando ao sentir uma presença diferente, ele adorou a companhia da escova e a fez carinho.

– Eu nunca vou te deixar – a prometeu enquanto brincava com suas cerdas lilases ásperas.

– Você promete que vai ficar comigo para sempre? – ela quis uma confirmação. Seus olhos brilhavam quando olhavam para aquele rostinho fino e sua espessura se esfregava em seu corpinho gostosinho.

– Claro que sim – ele sorriu, e a abraçou carinhosamente, a esfregando em suas bochechas gordinhas.

Ficaram dormindo juntos até que o sol nasceu e penetrou a janela do quarto de Adolf. Eles tiveram que se separar, pois Adolf tinha uma vida muito atarefada: Tinha que ir para a escola, tinha que praticar esportes e fazer aulas de Artes. Ele era um menininho muito criativo que adorava pintar quadros. Ciente disso e sem querer atrapalhá-lo, a escova foi obrigada a retornar ao banheiro, porém antes que fosse guardada armário naquela manhã, ela limpou novamente a boca de seu amado; mal sabia que seria a última vez…


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