–– Dany, levante! –– gritou alguém. –– Tenho uma surpresa para você!

Daenerys, ou Dany, como gosta de ser chamada, quase imediatamente se levantou. Logo seu cachorro guia, cujo nome era Pichi, se colocou em frente a ela. Dany era cega desde que nascera, e Pichi vem a acompanhando e a levando para diversos lugares que ela não conseguia ir sozinha. Pichi era totalmente preto, ou era essa a descrição que ela ouvia de seus parentes quando ela perguntava como ele era.

–– O que é? –– ela perguntou logo que desceu.

–– Veja o que chegou! –– respondeu Jane, sua mãe e incrivelmente parecida com Dany. Logo ao ver o que havia dito, se arrependera. –– Sua carta de Hogwarts chegou!

–– Sério?! –– Dany se surpreendeu. –– Deixe-me pegá-la, me dê aqui!

Dany passou a mão sobre a carta. Sentia o quanto ela parecia velha, e era feita de uma folhagem que ela desconhecia. Ela queria tanto poder enxergar, com os próprios olhos, e poder confirmar que sim, aquela era sua carta e logo ela estaria em um lugar de seus sonhos. Queria poder enxergar como deveria ser Hogwarts, o Campo de Quadribol, o enorme Lago Negro onde sua mãe sempre lhe contara que vivia cheios de sereianos que cantavam antes do inverno ir embora.

–– Agora é só esperar até o dia chegar. –– disse Jane. –– Está ansiosa?

–– Muito, muito. –– respondeu Dany, sorrindo. –– Acho que mesmo que eu não possa enxergar nada, será divertido.

[...]

–– Não se esqueça. –– repetia Jane, arrumando o casaco de Dany pela terceira vez. –– Nada de bagunças, nada de brigas e nada de...

–– Fazer bruxarias fora da escola. –– completou Dany, sorrindo em seguida. Estava tremendo, não de frio, e sim de ansiedade. –– Tem certeza que Pichi vai poder ir junto?

–– Sim, tenho. Já falamos e ele vai poder ir, não se desgrude dele. –– Jane se abaixou para passar a mão sobre a cabeça de Pichi.

–– Como se eu pudesse. –– riu Dany, e ouvindo algum barulho, começou a tremer mais ainda. –– Tenho que ir?

–– Tem. –– respondeu Jane, dando um leve beijo em sua testa e ajudando-a para subir as escadas. Todos olharam aquela cena totalmente congelados, “Como pode uma bruxa, ser cega?” era o que se perguntavam quando olhavam para Dany. –– Até o natal.

–– Até o natal. –– repetiu Dany, bem baixinho, embora Jane pudesse ouvir.

O caminho foi tranqüilo, porém Dany sentiu falta de um companheiro além de Pichi em sua cabine. Quando enfiavam a cabeça sobre a cabine e perguntavam se estava ocupada, Dany respondia que não, as pessoas ficavam caladas, porquê olhavam o cachorro ao seu lado e em sua coleira, estava escrito “Cachorro Guia” e logo saíam. Ela não sabia o porquê de fazerem isso, já que era normal encontrar uma pessoa que fosse cega, só tirando o fato dela ser uma bruxa.

–– Que casa você acha que eu vou cair? –– ela perguntou para Pichi, que choramingou, tentando dizer que não havia entendido. –– Se eu cair na Sonserina, bem, não será muito ruim assim, contanto que eu não vire para o lado de Você-Sabe-Quem e...

–– Com licença. –– disse uma voz, abrindo a porta da cabine. –– Está acompanhada? É que o resto do trem está cheio.

–– Claro que não estou acompanhada. –– ela respondeu rapidamente sorrindo em seguida. –– Pode se sentar, qual seu nome?

–– Como assim? –– perguntou outra voz, que logo se aproximou bastante dela. –– Somos três, não é somente o Harry.

–– Como? –– ela perguntou, rindo para tentar não mostrar o tão confusa estava. –– Bem, meu nome é Daenerys Hall, mas podem me chamar de Dany, porquê eu sei que meu nome é difícil de falar, e vocês?

–– Rony Weasley. –– respondeu quem estava ao seu lado. –– E aquele ali é o Harry.

–– Potter?! –– ela se surpreendeu, indo um pouco para frente. Quem estava á sua frente, confirmou baixinho. –– Uau, nunca pensei encontrar você por aqui, Potter.

–– Também estou aqui, sabiam? –– perguntou uma garota. –– Hermione Granger, e o prazer é meu, Dany.

Com o tempo, os quatro perderam totalmente o assunto, assim como Dany. Ela não tinha nem noção do que deveria continuar a falar, e sentia os olhares sobre si todo o tempo. Decidiu então, virar-se para a janela, fingindo estar olhando para o lado de fora. Quando foram chamados para trocarem de roupa, Dany segurou firme a mão de Hermione, esperando que ela á ajudasse.

–– O que foi, Dany? –– perguntou Hermione, se espantando com o ato dela.

–– Pode me ajudar á trocar de roupa, Hermione? –– ela perguntou de volta. –– Não sei se percebeu, mas eu sou cega.

–– Percebi sim, exatamente quando entramos na cabine. –– respondeu Hermione, segurando a mão de Dany. –– Venha, eu vou te ajudar.

–– Muito obrigado, Hermione. –– agradeceu, seguindo em frente.

Depois de trocarem de roupa, Dany, Hermione e Pichi seguiram em frente, e já ficando todos de pé, porquê estavam chegando. Harry e Rony estranharam a aproximação de Dany com Hermione, já que as duas estavam de mãos dadas. Dany não podia enxergar nada, mas tinha a certeza que tudo deveria ser lindo, pelas exclamações dos garotos e garotas atrás de si, o qua fazia ela sorrir.

–– Dany, é você mesmo?! –– gritou Hagrid, tentando passar em meio á multidão de alunos novos.

–– Oi, Hagrid, sou eu mesmo. –– ela respondeu, dando uma gargalhada. –– Finalmente o encontrei.

–– Fico feliz em vê-la aqui. –– ele disse, se agaichando para tocar-lhe o rosto. –– Espero que caia na Grifinória também, como sua mãe e pai.

–– É o que eu também espero. –– ela respondeu, e logo sentiu outra mão pegar a sua, o que ela no começo estranhou. –– Sua mão ainda é maior que a minha, Hagrid.

Hagrid soltou uma gargalhada que quase foi capaz de deixá-la surda, e logo depois começou a andar, sendo acompanhado pelos outros alunos. Lá atrás, perguntavam-se quem era aquela garotinha que estava com Hagrid, e porquê ela tinha de ir na frente e ainda por cima, com um cachorro, o que não estava e nunca estaria na lista de materiais.

–– Senhorita Hall, é tão bom vê-la. –– disse Minerva, pegando sua mão.

–– Também é um prazer. –– respondeu sorrindo. Ela sabia que todos queriam ser atenciosos com ela, pelo fato de ser cega, mas ás vezes tinha a impressão que estavam a tratando assim, por pena ou algum sentimento parecido.

Quando Dany entrou no salão, só ouviu mais e mais pessoas se perguntando o porquê dela estar indo na frente, mas também ouvia Hermione lá atrás dizendo que o céu não era de verdade, que era enfeitiçado para parecer o céu lá fora. Dany não ficou para trás quando pararam, e sim na frente. Sabia que 100% dos alunos, quanto novos e velhos, estavam olhando para ela.

Ouviu os nomes sendo chamados e as casas sendo ditas logo em seguida, a maioria estava indo para a Grifinória, e quando um garoto chamado Draco Malfoy foi pra Sonserina, ela pode perceber que as pessoas ficaram um pouco estranhas, isso porquê ela pode ouvir uma garota dizendo “Você viu? Ele nem precisou colocar o Chapéu Seletor inteiro na cabeça, este sim é Sonserino no sangue.”.

–– Daenerys Hall! –– chamou Minerva, fazendo ela a procurar de um lado para o outro. Quando Dany se sentou no pequeno banquinho, que ela quase conseguiu cair deste, deixou a mente aberta, como sua mãe lhe falara para fazer.

–– É bastante corajosa... –– começou o Chapéu Seletor, fazendo ela se assustar um pouco. Ele falou mais algumas coisas, que fez ela sorrir. –– GRIFINÓRIA!

–– Obrigado. –– ela agradeceu, mas logo depois se perguntou porquê agradeceu para um Chapéu. Logo depois, Hermione veio correndo até onde Dany estava, e pegando sua mão, foram para a mesa da Grifinória.

Estava totalmente cheia, e a maioria gritava mais do que conversava. Ela conheceu os gêmeos Weasley, e se deu muito bem com estes, já que Dany adorava fazer “graçinhas” a quase todo o tempo. Ela se sentia muito feliz, pela primeira vez na vida, e não sabia como expressar aquilo além dos vários sorrisos e risadas que dava.

–– Que lindos olhos tens, Dany. –– disse Fred, se referindo aos profundos olhos castanhos que ela tinha, mas que nunca haviam sido usados. –– Vem sempre por aqui?

–– Fred, essa cantada brega não funcionará em mim. –– ela disse, rindo, mas estava olhando para George.

–– Ela é cega. –– cochichou Hermione, mas ela pode ouvir. –– Por isso não percebe a diferença, até porquê não é muita.

–– Sim, Hermione, agora todos sabem que sou cega. –– ela disse, ouvindo um latido. –– Pichi, aqui! –– Dany assoviou, chamando a atenção da maioria dos garotos do salão.

As horas se passaram assim: em risadas. Dany ria mais do que conseguia falar. Fred havia prometido que a levaria qualquer dia na A’Toca para conhecer o resto da família, que ela apelidou de “gnomos”. Ela estava feliz, e felicidade, era uma coisa rara de acontecer na vida de Dany.

Quando Dumbledore mandou todos dormirem, Dany ficou feliz em saber que iria dividi-lo com Hermione, que estava a ajudando bem mais que Pichi, que só corria pela Hogwarts inteira enquanto latia atrás de Madame Nor-r-ra.

–– Como é? –– perguntou Hermione logo quando se deitou. –– Ser cega... A sensação.

–– É quase como sempre ver a escuridão. –– respondeu Dany e quase imediatamente começou a rir com a resposta. –– Acredite Hermione, é uma das piores coisas que pode acontecer com uma pessoa.

–– Imagino que seja. –– disse Hermione, antes de se virar para o outro lado da cama.

Dany ficou deitada, encarando a escuridão que havia citado a alguns segundos atrás, enquanto ouvia o latido de Pichi bem ao longe, que provavelmente estava correndo atrás de outro animal.