Pensamentos podem ser terrivelmente nebulosos e cruéis . Por isso eu não deixara nenhuma brecha para que eles em fim viessem a tona . Fiquei por um bom tempo , estirada ao chão , apenas olhando para o teto ... eu de fato não pensara em nada . Eu sabia que se pensasse de algum modo , cedo ou mais tarde seria envolvida por uma pesada onda de culpa ... dor ... e dúvida . Seria provavelmente sufocada pela confusão de um talvez ou aniquilada pela certeza do erro cometido . No momento eu apenas não queria me focar na possibilidade do ato cometido ser de fato um erro ... apenas queria continuar imersa ... no prazer da realidade morta .

O que seria a realidade morta ? Para mim é de fato o ato de estar vivo mas nem sequer existir . Eu sinto ... ouço ... falo ... e vejo . Mas não faço questão de me recordar , lembrar ou pensar em nada . Apenas fico viva superficialmente ... pois no breve instante meu interior expressa apenas um branco e gelado vazio . Como se de fato o ser humano possuísse um botão onde pudesse se desligar da realidade , das pessoas , das sensações e de tudo aquilo que o cerca .

Apenas percebi que estava imersa em mim mesma , quando me colocara em frente a janela e não conseguia assimilar nada daquilo que estava em meu campo de visão . Não sabia distinguir os formatos ou cores ... para mim tudo aquilo tanto faz quanto fazia . Suspirei profundamente e com relutância em acordar das profundidades de meu ser , caminhei morbidamente em direção ao banheiro ... talvez o calor da água pudesse me reconfortar ... de certa forma .

Me coloquei sob a água e me surpreendi ao perceber que estava gelada . Mas não fizera nenhum esforço para regular sua temperatura ... apenas me encostei na parede quadriculada de azulejos e deixei que cada gota em baixa temperatura , tocasse minha pele e aliviasse ou suprimisse aos poucos os pensamentos enfurecidos que queriam com toda força tomar minha cabeça e domar minhas possíveis reações . Brinquei com as gotas prezas ao vidro do box a minha frente e percebi que uma fina camada de vapor havia se formado sobre a parede transparente ... e foi quando eu percebera que a água não estava de fato gelada ... mas eu não a conseguia sentir realmente ... talvez fosse hora de acordar .

Ignorar tudo aquilo que nos irrita ou nos chateia é apenas mais um dos mecanismos de proteção do nosso organismo . Indo de fones de ouvido no volume máximo , ao simples ato de dormir com olhos abertos , temos fortes manias de simplesmente nos colocar fora de órbita . Uma conversa extremamente longa ... uma pessoa ignorante ... arrogância ... barulho ... tudo simplesmente some quando estamos no nosso mundo . Mas será que isso de fato nos fará bem ? Por que sabemos que em alguma parte da vida , tudo aquilo que sentimos e que suprimimos virá a tona ... e pode vir com mais força do que o desejado , causando estragos ainda piores . Será que guardar esta pancada de sensações faz bem pro ser humano ? acho que todos já sabemos ao certa a resposta .

Pensando nisso resolvi me render . Eu sabia muito bem o que havia feito e no momento em que escolhi e aceitei eu havia escolhido e aceitado também as consequências que viriam em conjunto . Estava na hora de assumir o meu ato e encarar cara a cara a minha própria burrada . Assim que me permiti sentir , fora um choque tão grande que eu pensei que fosse cair . A tonelada de pensamentos que me invadiram foram tão impactantes que conseguiram tirar meu folego . Chocada , encostei as costas na parede e deixei que meu corpo caísse aos poucos até tocar o chão .

Não podia , nem se possuísse fôlego ou palavras , explicar o que estava sentindo . Em parte sentia ódio ... ódio por não ter pensado corretamente ou ter sido burra dimais para raciocinar . Sentia angústia , em pensar no que todos fariam se ao menos pensasse na possibilidade de algo como isso ter acontecido , sentia culpa ... uma culpa enorme , por saber que isto pode trazer uma dor imensa a uma das pessoas que mais amo ... Erik ... ah meu DEUS ... Erik . Como pude me entregar a outro homem que não fosse ele ? como pude ser capaz ? Mas ao fundo ... bem ... eu não poderia negar que este sentimento de fato estava presente ... ao fundo eu sentia alegria ... alegria por sentir que meu amor por Nathan está cada vez mais forte e sólido , mas também sentia mágoa ... mágoa por saber que tal coisa jamais aconteceria novamente .

E então tudo parou no instante seguinte . Mas não porque eu encontrara alívio ou sossego ... e sim porque o desespero fora substituído por dor física . Fiquei de pé assustada , com as fortes dores que invadiram meu peito . Juntamente com uma forte ardência , era como se minha garganta estivesse sendo queimada com ferro em brasa . Meu estomago se contraiu fazendo com que eu me dobrasse em uma quase posição fetal , abri o box em busca de me enrolar a uma toalha e partir em busca de um dos meus remédios , mas não pudera aguentar . Assim que me colocara em frente ao espelho , um jato de sangue inundou o vidro a minha frente fazendo-me gritar . Olhei para a enorme quantidade de sangue a minha frente e me senti cada vez mais enjoada . Levei as mãos a garganta e gritei mais uma vez em desespero .

Limpei a boca e procurei me acalmar . Passei a toalha pelo corpo , contive a respiração e um pouco do desespero para que eu pudesse então abrir a porta . Assim que abri a porta me deparei com Nathaniel . Seu rosto estava pálido e sua preocupação era mais do que visível , claro que assim que vira meu estado ele passara de mera preocupação para desespero em completo . Tentei dar um passo em sua direção , mas assim que me senti preza ao chão , apenas lhe lancei um olhar de suplica ... pedindo amarguradamente por ajuda . Ele viera em minha direção mas antes que pudesse me tocar ,eu caí ao chão , sem forças nem mais para permanecer acordada .