Minha cabeça doía mais do que tudo enquanto eu tentava assimilar o ambiente em que estava . Podia sentir novamente o perfume das flores misturadas aos pinheiros vindo do fundo da casa ... mas não escutava nada . Tudo estava em completo silêncio ... como se eu estivesse sozinha .

Senti um leve toque em meu tornozelo e fora o bastante para fazer com que uma corrente elétrica de calor percorresse o meu corpo fazendo-me olhar na direção do toque . Era Nathan ... assim que meus olhos encontraram os dele o seu sorriso era simplesmente enorme . Sua mão deslizou de meu tornozelo até o início de minha coxa enquanto eu o acompanhava com os olhos .

Eu estava um tanto confusa de acordo com a situação . Eu não sabia ao certo aonde ele queria chegar com seu toque mas senti que ele apenas queria ter certeza de algo ... assim como eu .

E então suas palavras cruzaram novamente a minha cabeça ... Câncer ...câncer ... câncer . Senti as lágrimas começarem a brotar e então Nathan correu para o meu lado colocando minha cabeça em seu peito enquanto acariciava meus cabelos .

– Nathan ... - eu disse sentindo uma forte dor no peito o que apenas me abalara ainda mais - E-eu ... vou morrer - eu disse o abraçando ainda mais .

– Não diga isso ! Será que passa por sua cabeça a ideia estúpida de que a deixarei morrer ?

– Esse poder não pertence a você .

– Mas farei tudo ao meu alcance .

– Eu sei ... eu sinto que vou morrer ...

– Pare com isso ! Você não vai !

– Câncer ... eu tenho câncer ...- eu disse chorando ainda mais .

– Faremos a cirurgia e tudo se resolverá ...

– Não sei se estou em condições para uma cirurgia ...

– Sim está ! Para de tentar acabar com suas chances Sophie ! Pare por favor ! Não sabe o quanto me machuca saber que até mesmo você está desistindo de sua vida ... será que não entende que não posso perde-la ? - Sua raiva ao dizer essas palavras me abalaram por completo . Ele se importava comigo ... como eu não havia percebido ?

– Minha intenção não era ...

– Passei as ultimas duas semanas aqui ao seu lado e você nem sequer movia um músculo . Sabe a dor que senti ao olhar em seus olhos e não ver nada ? simplesmente pedra . Você tinha virado pedra . Não acha que acabar com as minhas esperanças é um pouco de egoísmo da sua parte ? Se não quer viver deixe que eu viva por nós dois ... mas preciso de você . Aqui . - Suas palavras poderiam ser mal interpretadas mas ... foram as mais belas que eu já poderia ter escutado .

– Eu sinto ...

– Levante-se dessa cama para que possamos fazer os exames e você seja operada o mais rápido o possível . Para que possa se ver livre disso e possa voltar para mim linda e saudável . - Caminhei em direção a porta mas parei com a mão na maçaneta ao me dar conta do que ele havia dito .

– Voltar pra você ? - eu disse arqueando as sobrancelhas ...Mas ele não me respondeu . Apenas corou e piscou para mim .

Desci as escadas com dificuldade pois a cada degrau meu peito doía ainda mais . E foi apoiando em cada móvel que eu pude em fim chegar ao escritório de meu pai . A porta estava entreaberta e dentro eu pude ver Amanda e meu pai . Completamente sem expressões ou sentido . Agindo como se tudo houvesse acabado .

Abri a porta e entrei com cuidado . Me arrastei até uma das poltronas em frente a mesa de meu pai e assim que ele me vira seu rosto simplesmente brilhara . Ela correu em minha direção me abraçando fortemente ... não acredito que causei tanto sofrimento .

– Abelhinha ... - disse ele com os olhos cheios de lágrimas acompanhando Amanda em um belo sorriso .- Você ... reagiu .

– Bem ... não exatamente . Quando irei fazer a cirurgia ?

– Ah... Breve eu espero .

– Ótimo ... bem ... não me sinto bem . Me sinto fraca e meu peito doí ... e alguém poderia me explicar aonde foi parar toda a carne do meu corpo ?

– Você passou dias sem comer mas achamos que isso é em prós da doença meu amor . - disse Amanda ...sempre tão doce .

– Eu voltarei a vomitar sangue ?

– Se seu caso se agravar ...

– Poderemos começar logo os testes ? eu não me importaria .

– Sim ... pra amanhã se preferir .

– Por que não para hoje ?

– Bem ... se é o que quer marcarei agora mesmo .

– Então marque ... - eu disse me levantando .

– Aonde vai ? - perguntou Amanda .

– há uma pessoa que preciso ver ... e que consequentemente precisa me ver também - eu disse sorrindo e caminhando em direção a frente da casa .

Meu Deus como eu estava fraca . E o que eu estava vestindo ? um pijama ? Caminhei em direção ao BMW sorrindo ao ver Erik . Em passos lentos cheguei até ele que assim que virara e me vira ... bem não sei explicar o que ele sentiu ... se assustou ? feliz ? minha certeza não era exatamente 100 % .

– Sophie - disse ele me pegando no colo . Eu ficara completamente rubra mas sorri em agradecimento ... eu já não aguentava mais ficar em pé .

– Erik - eu disse com sua mão em meu rosto e então fui docemente beijada ... não ! não fora ele quem me despertara de meu transe ... o beijo não era o mesmo .

– Não acredito que está bem .

– Ainda bem não é ?

– O que tem ?

– Eu tenho a morte presa a garganta ...

– O que ?

– Eu tenho câncer Erik .

– Meu Deus ... Sophie - sua expressão caíra no mesmo momento .

– É bem ... é uma doencinha - eu disse sorrindo .

– Mas pode ser operado certo ?

– Acho que pode .

– Estou ... estou ...- disse ele . Ele estava pálido e extremamente preocupado .

– Não fica assim tá bom ? - eu disse com a mão em seu rosto .

– Como não ficar ? Sophie é ...

– eu sei ! Mas se eu estou bem você também ficará .

Mais um beijo e eu então retornara para casa . Eu sabia que em breve seria operada ... não sabia os riscos que correria mas eu precisava arriscar . Sei que posso parecer calma e equilibrada por fora mas por dentro apenas consigo pensar que eu posso estar a um passo de deixar esta vida .

Tomei um simples banho me vestindo de maneira ... digamos que simples e então seguimos para o hospital . Eu ficava cada vez mais tensa e gelada a cada exame que fazia . Sempre odiei hospitais pelo simples cheiro de álcool que me embrulha o estomago mas nenhuma tensão se compara a que senti enquanto esperava pelos resultados .

Eu não sabia ao certo se poderia fazer a cirurgia mas eu precisava . Pois caso o contrário eu sabia exatamente o que a quimioterapia faria comigo e isso inclui me deixar completamente careca ... o que seria realmente uma lástima .

Meu pai e eu fomos chamados para a sala do meu doutor - Se chama Bruno e é realmente muito bonito para um senhor de 40 anos - nos sentamos frente a ele e por sua expressão eu diria que ele seria um mensageiro de boas notícias .

– Sr Parker . Sua filha está em perfeitas condições . O tumor ainda é bem pequeno e com sorte podemos remove-lo na cirurgia ... claro se for a vontade de sua filha .

– Tem meu total consentimento - eu disse animada com a ideia de logo ser curada .

– Mas a cirurgia é de grande porte e pode trazer alguns riscos .

– Não preciso saber dos riscos apenas faça - eu o interrompi bruscamente .

– Filha também não é assim...- disse meu pai .

– Como não é assim ? A cada dia que passa essa coisa na minha garganta fica cada vez maior e se eu for pensar nos riscos que correrei nessa cirurgia eu vou acabar morrendo de qualquer maneira . Então o que eu tenho a perder ? Não quero saber de nada ! Apenas faça !

Eu exalava confiança mas a verdade era que eu era a quem mais temia pelos riscos que a cirurgia podia me trazer . Mas eu me sentia bem ... Por que se Nathan não desistiu de mim ... por que eu desistiria ?