Era fato que ele sofria, aliás, eu era sua única filha. Mas eu não esperava que fosse tanto. Charlie estava acabado, suas olheiras eram profundas e o brilho fugira de seus olhos parecia que a muito tempo, estava mais magro do que seu normal e suas roupas indicavam que nem banho tomava por pelo menos os últimos sete dias.

– Bella? – perguntou com a voz rouca de choro, as lágrimas já vindo aos olhos de ambos.

– Oi pai! – foi só o que consegui dizer, depois disso ele se aproximou de mim como se eu fosse um alien, passou a mão nos meus cabelos enrolando um cacho em seus dedos como fazia quando eu era menina e me abraçou.

Ficamos ali pelo que pareceram minutos abraçados na porta de casa, ambos chorando. Palavras não eram necessárias para descrever o que estávamos sentindo.

– Agora me conte como... Quer dizer, quando...

– Vou explicar tudo o que o senhor precisa saber mas antes, porque não entramos e nos sentamos? – sugeri. – É uma história longa!

– Ah claro, vamos minha filha. – disse Charlie nos dando passagem. – Olá Edward!

– Oi Charlie! – devolveu ele.

A casa estava do jeito que me lembrava, literalmente. Nada estava fora do lugar e a poeira tomava conta de tudo, não sei como ele havia suportado tudo isso com um nariz tão aguçado.

Nos sentamos no sofá e comecei a narrar toda a história, do dia em que acordei naquele hospital até o dia em que minha memória voltou. Deixei para contar a parte da Helena por ultimo, por fim ficamos boas duas horas conversando sobre e mais umas três falando sobre Helena, ele queria saber tudo sobre ela, como era, como a encontrei, se cuidavam bem dela e por fim a parte mais difícil, onde ela estava.

– Bem Charlie, isso já é um pouco mais complicado! – iniciou Edward acariciando minha mão direita.

– Mas como assim mais complicado? Cadê a menina? – perguntou meu velho.

– Não podemos tirá-la do orfanato ainda pois Reneé está vigiando e mantendo-a lá com dinheiro e assim impedindo que Suzana permita que adotem-na.

– Então a partir disso suponho que sua mãe não faz ideia que você está e muito menos que você já tenho encontrado sua memória e sua filha! – afirmou.

– Exato! Mas ela logo descobrirá! – disse a ele.

– Bells, o que você tem em mente? – perguntou ele ficando ereto em sua poltrona.

– É o seguinte pai...

As duas horas seguintes passei explicando a ele o que aconteceria daqui a três dias quando Renée finalmente chegasse em casa. Mostrei a ele as provas e inclusive fotos do tal de Phil, expliquei o que ele faria e como influenciaria para que tudo saísse bem no dia.

– Eu vou precisar muito de sua ajuda pai! – pedi.

– Bells eu conheço esse seu olhar, é o mesmo de quando nos sentamos aqui nessa sala numa noite por ai e você me dizia que iria se casar. Determinação é o que vejo... E apesar de amar a sua mãe, o que ela fez foi imperdoável e ela deve pagar por seus erros. – disse Charlie por fim. – Contem sempre comigo minha filha!

– Obrigada papai!

– E onde vocês estão dormindo? – perguntou ele.

– Não fique chateado ok? Mas vamos ficar na casa de Esme, para não correr o risco de Renée chegar antes do previsto. – disse a ele.

– Entendo. Só mais uma pergunta antes de darmos isso tudo por “encerrado”. Rose veio com você? – perguntou.

– Na verdade, ela disse que viria conosco mas acho que não resistiu e ficou la com os outros. – disse a ele.

– Outros?

– Sim papai, Alice e seu novo namorado Jasper e Emmet, o namorado da Rose! – disse rindo de sua cara.

– Estou vendo que terei muitas dores de cabeça essa semana! – resmungou. – Podemos ir até lá então?

– Claro! – disse Edward pela primeira vez em horas.

– Vamos lá pai!

Fomos para a casa dos Cullens e ali meu pai pareceu realmente reviver, o brilho nos olhos se tornou outro e ele estava muito mais sorridente.

– Obrigada Bells! – cochichou Rose ao pé do meu ouvido.

– De nada... Mas pelo que exatamente? – perguntei.

– Por trazer essa felicidade de volta ao tio Charlie... Não sabe como foi difícil vê-lo assim sabendo de toda a verdade que sua mãe escondia esse tempo todo.

– Se eu soubesse de tudo isso Rose, se em todo esse tempo eu tivesse percebido a louca que é minha mãe...

– Não teria adiantado de muita coisa prima, mas nada acontece por acaso lembra? – disse sorrindo. – Veja, agora você tem seu pai, seu noivo, pessoa que você ama a sua volta...

– Menos minha filha! – rebati. – E por conta de uma loucura causada pela minha mãe. Como ela pode fazer isso?

– Pra tudo á explicação prima e você terá a sua no momento certo, e muito em breve! – disse Rose.

– Assim espero.

– Mas agora o que você acha de voltarmos para a piscina? Tem um gatão lá que ta procurando por você já faz um bom tempo! – disse apontando com a cabeça para Edward que estava sentado em uma das espreguiçadeiras olhando para os lados.

Como ele estava de costas para mim fui andando lentamente, passei pela mesa onde todos estavam conversando animadamente e nem pareciam ter notado minha presença e fui em direção ao meu alvo. Passei ao seu lado deixando minha saída cair aos pés da espreguiçadeira e continuei andando sentindo-me observada, parei na borda da piscina e ali fiquei.

Segundos se passaram até que ele veio até mim me abraçando por trás e fungando no meu pescoço.

– Sabia que desta maneira você me deixa louco? – perguntou ainda de costas.

– E o que fiz desta vez? – perguntei desentendida.

– Isso! – disse apertando-me mais contra sua evidente animação.

– E o que pretende fazer a respeito?

– Primeiro vou te tirar daqui, me despedir de todos e te trancar em meu quarto como fiz uma certa vez... E só te deixarei sair de lá depois de matar a saudade que estou de você e do seu corpo!

– Então terá que me pegar primeiro! – brinquei impulsionando-o para trás e mergulhando na piscina que estava a nossa frente.

Fiquei alguns segundos ali no fundo tentando amenizar um pouco daquele fogo que estava queimando em meu ventre. Segundos foram o suficiente para que ele se jogasse na água atrás de mim e eu mergulhasse para longe... E o jogo de gato e rato recomeçar.

Ficamos ali por um bom tempo, eu era uma das melhores nadadoras ali da família e ninguém se atrevia a competir comigo, mas o meu noivo bem que tentava. Nadou atrás de mim até que cansei, e foi esse o meu maior erro. Edward me puxou pela cintura e me encheu de cócegas enquanto me debatia na água. Logo nossa família e amigos se juntaram a nós na beira da piscina e alguns dentro e ali ficamos vendo o por do sol e conversando.

Como prometido, naquela noite matamos a saudade que tínhamos um do outro e novos desejos foram realizados, já era quase manhã novamente quando realmente fomos dormir e sendo assim acordei em seu quarto já de tarde com os lençóis vazios, olhei a minha volta e escutei de longe o barulho do chuveiro ligado e a água caindo. Imediatamente lembranças da noite passada se passaram como num flash em minha mente fazendo com que eu me levantasse deixando o lençol cair sob os pés da cama e caminhasse sem fazer muito barulho até a porta do banheiro que estava entreaberta e entrar no Box com ele. Mais fizemos amor do que realmente tomamos banho e quando finalmente o fizemos sai do banheiro logo antes que mudasse de ideia, estava faminta.

Coloquei um vestido bem fresco pois por incrível que pareça, fazia calor em Forks. Sai do quarto e deixei que ele colocasse uma roupa enquanto procurava o que comer na cozinha.

– Porra Bellinha, vocês podiam pelo menos ter avisado sobre o barulho... Teria comprado protetor auricular. – disse Emmet assim que me viu sentada na sala comendo um pedaço de bolo que Esme havia feito.

– Cala boa ai Emmet, não tenho culpa que você quis ficar no quarto ao lado do quarto do “seu mano”. – disse fazendo todos rirem.

Uma coisa bacana sobre minha “nova personalidade” depois que perdi minha memória, é que consegui ficar um pouco mais desinibida quando o assunto é minhas intimidades, não que eu saísse por ai gritando ao sete ventos o que acontece entre quatro paredes entre mim e Edward, mas fiquei um pouco mais digamos que, divertida.

Naquela noite pedimos pizza e repassamos o que aconteceria quando Renée chegasse, tudo teria que sair corretamente, senão colocaria tudo a perder, inclusive minha filha... Espero que Suzana esteja com ela em mãos e bem segura.

– Tem certeza disso pai? – perguntei mais uma vez pelo telefone.

– Sim filha, ela chega em 15min! - confirmou Charlie para mim.

Finalmente chegara o tão esperado dia, Charlie estava no aeroporto mas não com o intuito de buscar Renée, ele nunca fizera isso desde que... Bem, desde o meu acidente. Estava na casa dos meus pais novamente, no dia anterior havia limpado a casa toda com ajuda das meninas e deixamos o lugar mais limpo e aconchegante.

– Tem certeza que não quer que eu fique? – perguntou pela milésima vez meu noivo.

– Tenho,você tem uma missão juntamente com os meninos. Pode deixar que aqui eu e as meninas junto com meu pai cuidamos. – disse a ele novamente. – Vai ficar tudo bem! – alisei sua face.

– Assim espero minha pequena. Mas se eu desconfiar que ela encostou em um fio se quer de cabelo seu...

– Ela não vai. – afirmei. – Pode ficar tranquilo.

– Como quer que eu fique tranquilo sabendo que você estará com aquela louca no mesmo recinto?

– Vai ter que confiar na sua noiva! – disse simplesmente.

– E eu confio, é nela que não! – disse ele pouco antes de Rose entrar com uma Alice a tira colo na sala.

– Eles estão chegando Bella. – disse minha prima.

– Tudo bem! – me virei para Edward. – Agora vá, se alguma coisa der errado quero que me avise e venha imediatamente para cá.

– Tudo bem! – disse beijando-me e saindo do meu campo de vista.

– Tudo certo meninas? – perguntei.

– Tudo certo prima! – disse Rose e Alice confirmou com a cabeça.

– Não se preocupe Lice, Jasper sabe se cuidar! – afirmei. – Pode parecer um machonheiro, mas aposto que na hora do apuro ele bem que sabe se virar. – sorri. – Aliás, Emmet está com ele então...

– Tudo bem Bells, mas agora vá para a sala que nós vamos nos esconder, Renée chega em menos de 10 minutos. – disse Alice.

– Ok! – disse indo para a sala.

Comecei a andar de uma lado para o outro nervosa, mas isso passou em segundos ao ouvir o barulho do carro parando na garagem e eu me lembrar o motivo pelo qual estava ali. Sentei-me na poltrona de papai e fiquei observando enquanto ela entrava com uma maleta em mãos e o celular no ouvido, como se voltasse de algum Resort  ou fosse a pessoa mais famosa do mundo. Somente quando estava com os pés na escada que pareceu notar algo de diferente na casa.

Naquele momento nada mais existia, estávamos sós, coloquei uma máscara de frieza que nem eu entendia como consegui sendo que minha vontade era de voar em seu pescoço e lhe perguntar o porque fizera tudo o que fez, mas a única coisa que saio – e a necessária no momento – foi:

– Olá mamãe! – disse finalmente e sua face foi do rosado ao branco como se perguntasse a si mesma como fui parar ali. – Surpresa?

POV. Narrador.

Do lado de fora da casa o clima também estava extremamente tenso, mas vamos recapitular o que aconteceu.

Quando a mãe de Bella entrou em sua casa, quem estava atrás com suas malas era ninguém mais ninguém menos que seu novo capacho Phill, que carregava suas malas como se carregasse as malas da rainha da Inglaterra. No momento em que estava entrando na casa logo atrás de sua “amada” amante – que ironia não? – Emmet e Edward o pegaram por trás e antes mesmo que ele pudesse gritar por socorro apagou com o produto que se encontrava em um pano para que ele aspirasse e desmaiasse.

Por outro lado Charlie estava impaciente sem noticias de sua filha e seus pés batucavam insistentemente no piso branco do aeroporto. Mas todas as suas preocupações se esvaíram quando foi anunciado que os passageiros do voo indicado a ele no papel estava no desembarque fazendo check-out. Mais alguns minutos e aos poucos a multidão foi se dispersando, pais abraçavam filhos que chegavam de viajem e ao longe pode reconhecer até os Newtons abraçando seu filho que acabara de chegar de Nova York. Mais longe pode avistar uma moça de estatura mediana que aparentava não mais que seus poucos 35 anos com cabelos cacheados num tom caramelo até um pouco a baixo de seus ombros, carregava uma bolsa rosa e marrom pequena juntamente com uma mala de rodinhas. Charlie esperou que ela se virasse mais um pouco de perfil, olhou novamente na foto em suas mãos e com um sorriso e um brilho estranho nos olhos seguiu em direção a moça.

– Senhorita Suzana? – perguntou fazendo ela se virar em sua direção.

Ela o analisou de cima a baixo e ficou satisfeita com o que viu. Charlie estava com sua roupa de policial paro o caso de alguém interferir em sua missão e com sua foto em mãos.

– Quem é você? – perguntou só para sua segurança.

– Charlie Swan, responsável pela sua segurança e a da menina! – disse o velho Charlie se apresentando. – É você certo? – perguntou apontando para a foto que tinha em mãos.

– Sim senhor, sou eu mesma. Você é pai de Isabella? – perguntou.

– Sou eu mesmo! – confirmou. – E suspeito que essa seja minha... – engasgou ao tentar completar a frase.

– Sua neta! – completou Suzana.

– Ela... Ela é linda! – disse com lágrima nos olhos analisando aquele pacotinho cor de rosa nos braços da moça estranha.

– Não queria ser desagradável mais... Podemos deixar as preliminares de lado, penso que estamos em uma missão importante hoje e a segurança de Helena é primordial agora! – disse Suzana cortando o momento do avô.

– A certo! Vamos eu te ajudo com as coisas e você carrega Helena certo? – perguntou Charlie a ela que acenou com a cabeça seguindo-o em direção a saída do aeroporto.

– Chefe a equipe já está em volta da casa em alerta e Phill está em mãos de Edward, Emmet e Jasper como combinado. – disse seu ajudante e braço direito Ben.

– Muito obrigado por avisar Ben, está é Suzana e a pequena Helena. – indagou apresentando ambos. – Agora vamos, quero acabar logo com isso.

Dito isso seguiram todos na viatura em direção a casa Swan para colocarem os pingos nos “is”.