Tudo era lindo,intenso.Eu via cada camada de cada elemento presente á minha frente.A madeira polida do chão e das paredes.O tapete azul escuro empoeirado,o vidro recém limpo da janela ao meu lado.O sol fraco que se escondia com o inicio de uma tempestade.

Podia enxergar as letras escritas numa grafia perfeita em um papel amassado,quase se rasgando.Fui até ele,mas quando me aproximei ele voou para longe,como se fosse atingido por uma lufada de vento.

Eu fiz isso?

Acho que eu simplesmente não acordei para vida.Toda aquela dor,e só uma verdade.

Sou uma vampira agora.

Vampira.Porque não parecia tão bom como eu imaginei?

Eu me sentia forte.Mas algo incomodava.Era o fogo novamente.Mas ele subia do estomago para a garganta.Eu estava com sede.Precisava me alimentar.

Olhei direto para a porta.Consegui enxergar a parte interna da maçaneta.Estava trancada.Mas eu era vampira.Poderia abrir a porta.

Me movi até a maçaneta,sem controlar minha velocidade e acabei colidindo com a porta,quebrando-a em pedaços de madeira que voaram longe.A primeira vampira desastrada do mundo.Continuei caída no chão enquanto eu raciocinava.

Mas como eu iria me alimentar? Eu nunca vi isso.Teria que usar minha experiência de filmes...Mas os filmes que eu vi não tinham animais.Eu queria seguir a dieta de Edward e dos Cullen...Mas se eu pelo menos soubesse onde estou,poderia ir para Forks e pedir ajuda antes de fazer qualquer coisa...

-Ei ! O que está fazendo ai? – Uma grossa e conhecida voz gritou á minha direita.Era ele.Me levantei literalmente em um pulo e comecei á correr.As arvores mal pareciam obstáculos para mim.Eu desviava delas antes mesmo de vê-las,era um reflexo.O vento e a chuva atingiam meu rosto,mas eu ainda estava dominada pela necessidade .Eu ainda ouvia passos rápidos atrás de mim,até que algo pulou em minhas costas,me fazendo tropeçar em um galho,caindo em cima de uma poça grande de água,sujando á ambos de terra.Olhei para ele,seus olhos vermelhos encontraram com os meus,enquanto ele apertava meu braço.

-Onde pensa que vai ? –Ele perguntou,me levantando,eu não tentei resistir.-Eu tenho o que você quer.Sangue.

Cerrei meus olhos.James.Eu nunca poderia ficar com ele.Com certeza um vampiro como ele não transformaria alguém sem ter planos.Eu tinha que fugir.Forcei meu braço para longe do domínio dele.Para minha surpresa consegui.

Eu era mais forte do que ele?

Ele me olhou surpreso,e eu voltei á correr.Corri não sei quanto tempo,atravessei um rio,corri até eu perceber que a chuva havia parado.Respirei mesmo não precisando de ar,e reduzi o passo,começando á andar.Fitando o chão.Olho em volta.Várias arvores,não sei de que tipo.Mar ao meu lado,mas uma praia de pedras,assim como La Push.Olho para uma pequena poça,e vejo uma moça linda no reflexo.

Sou eu?

Aceno.

Sim,sou eu.Não que eu estivesse irreconhecível,mas eu estava diferente.

Bonita? Sim...bonita.

Passos.

Me viro na direção de onde vem o som.James.Ele sorri desdenhoso.

-Não vai se livrar de mim tão cedo,Bella.-Ele diz.Dando um passo em minha direção.Eu recuo ao mesmo tempo.Ele aponta para minhas costas.Me viro e me deparo com Laurent.Da água,surge Victória.

-O que vocês querem ? – Consegui dizer.Aquela realmente era minha voz? Não era mais rouca,nem fora de tom.Era tênue ,tinha uma linha de som perfeita.

-No momento somos carteiros.-James falou,andando,formando um circulo a minha volta.Eu acompanhava o movimento dele com os punhos cerrados.

-Precisamos entregar nossa encomenda á salvo.Só que houve um pequeno problema.-Laurent praticamente sussurrou,encarando James,que sorriu de lado.

-Eu não vou me mover.-Sibiliei,firme.

-Existem modos de apagar um vampiro,Bella.-Victória disse.Ela já havia saído da água.-Vampiros vão muito além do que os Cullen contaram á você.

-Vai aprender na prática,assim fica mais fácil.-James falou.

Uma poeira saiu das arvores.Era roxa,e vinha sorrateiramente.Ela rodeou meu corpo como uma cobra,e entrou por minhas narinas.Uma pontada de vertigem atingiu minha nuca e eu já não tinha mais o controle de minhas pernas.Meu corpo tombou para trás e atingiu bruscamente o chão.Veio como um véu,e acabou com meu campo de visão.

Fiquei no escuro,por muito tempo.O que me paralisava continuou fazendo.Eu simplesmente não sentia nada.Mas não estava inconsciente.Comecei á ficar meio desesperada.Eu queria ver novamente.Sentir novamente.Mas eu tinha um tempo para pensar...Coisa que está sendo difícil,já que minha garganta está em brasa.

Como eu ia achar Edward..Será que ele estava procurando por mim?

Mão.Consigo sentir uma,é a minha esquerda.Logo após a minha direita.O véu em meus olhos sai e eu finalmente consigo enxergar algo.Um teto.Ele é marrom alaranjado,com uns tons de amarelo envelhecido,compostos por pedras irregulares,como na velha Itália que eu vi em um livro de recortes.Meu pescoço ainda está adormecido.Não consigo mover nada.Ouço ruídos.Passos de salto alto no andar de cima.Bater de taças em uma sala ao lado.

-É bem desconfortável isso,não é? Alec as vezes exagera na dose.-Uma voz calma e solene disse.Estava próximo,á meu lado.Folheando um livro que parecia ser antigo pois eu sentia cheiro de pó.

-Quem está ai ? – Perguntei,baixo.Passos.Ele se aproximava.Colocou seu rosto em meu campo de visão.

Pele clara,olhos cor de Rubi,cabelos negos,lisos e caídos em seus ombros.Ele tinha um sorriso amarelo até para um vampiro,e pequenas covinhas.

-Sou Aro,Aro Volturi.Serei seu tutor.-Respondeu ele,saindo de meu campo de visão.

-Como assim? – Respondi.Ninguém  nunca havia mencionado tutor.

-Todo vampiro precisa de um querida.Não contaram á você?

-Não...

-Pois bem,eu sei que você quer voltar para os Cullen,mas você precisa passar por um treinamento comigo.

Ele estava mentindo.Edward não mencionou isso em nenhuma história dele sobre ele mesmo,Esme ou Carlisle.Ele conhecia os Cullen. Respostas,preciso disso também.

-Isso é para apenas vampiros especiais.Que tem dons.Como você minha cara Isabella.

Como ele sabia meu nome? Porque ele me queria como encomenda ? Eu teria que ficar para saber.

Meu pescoço foi liberto e então olhei para ele.Comecei á ver as coisas em vermelho.Sede..eu precisava de sangue.Podia sentir um coração pulsante não muito longe de mim.Mas eu ainda estava paralisada.

-Está com sede.Não se preocupe,aqui tem todos os humanos que precisar.

-Não..posso...humanos..-Tentei dizer.

-Não deixe que essas profecias malucas entrem em sua cabeça minha cara.

Uma pessoa entrou pela porta.O coração dela batia saudável.Seus pulsos,suas veias ricas em O-,tinha o cheiro da essência mais cobiçada.Do alimento mais proibido.

Aro pegou-a em seus braços,e com sua unha abriu seu pescoço.Ela não deu uma palavra.Era como se ela quisesse aquilo.

Sangue.Doce e belo.Uma gota pingou no chão me fazendo salivar.

-Toda sua.-Aro disse,sorrindo maldosamente.Ele aproximou a fonte de sangue quente e fresco para mim.Senti meus braços ao mesmo tempo que minhas pernas.Eu não podia.Mas eu estava livre.Agora eu era um monstro,e ninguém mais me controlava.

Nem eu.

Joguei meu alimento contra parede,olhando em seus olhos fundos,sua expressão vazia.O gosto do sangue quente desceu queimando minha garganta,mas esse queimando era bom,prazeroso,como beber água depois de uma caminhada no sol.Eu queria mais.

Eu sempre ia querer mais.