"As pessoas dividem-se entre aquelas que poupam como se vivessem para sempre e aquelas que gastam como se fossem morrer amanhã."

Aristóteles

A butique tinha de todos os tipos de vestidos para jovens e senhoras, dando uma grande gama de modelos e estampas. A tia logo apontou para alguns e fez com que as garotas os provassem, Clarisse os achou pomposos e bufantes, com decotes maiores do que ela concordaria em usar, e estampas esquisitas.

"Está maravilhosa" disse a tia ao vê-la em um vestido que ela considerava ridículo, de longe Rose separava alguns modelitos e olhou com terror para o vestido que ela usava. "Deveria tirar esta velharia" apontou Lady Burghersh, e quando a criada tentou desfazer o laço, Clarisse a impediu, de forma alguma deixaria que jogassem fora seu camafeu. A tia pareceu avançar para fazer ela mesma o serviço, mas foi chamada a outro ponto da sala para inspecionar o vestido de Alice que acabava de sair do quarto de vestir, Rose entregou um masso de tecido azul para Clarisse e falou para que ela prová-se e a chamasse.

Seguindo as instruções, ela olhou no espelho após todos os botões terem sido fechados, era um vestido de brocado tom de um anil muito claro e com a gola e fitas em tons bem mais escuros, na saia, que não precisava de qualquer estruturação diferente das outras que tinham camadas de tecido para das volumes, havia alguns detalhes nela que davam o caminhar uma leveza e elegância. No espelho ela não via a mesma Clarisse que vira quando se vestiu de manhã, a pele desta parecia mais alva e os lábios mais rosados, os olhos e cabelos castanhos contrastavam com o tom do vestido e tornavam a imagem do espelho irreconhecível para ela e irresistível.

Enquanto a criada chamava Rose, ela esperava ansiosa, e quando uma fresta da porta abriu, ela sorriu quando viu a surpresa da irmã de como o vestido havia ficado maravilhoso nela. Rose trouxe outro, e prometera que Lady Burghersh não saberia de quão perigosa a caçada de Tânia estava em perigo e eles se puseram a rir baixo.

O segundo vestido era branco e suas mangas não chegavam aos punhos, era o mais perfeito vestido de verão que qualquer um poderia ter visto, suas mangas curtas eram em camadas e pembravam uma enorme rosa branca. A clavícula ficava perigosamente exposta, mas o decote raso amenizava o efeito, tornava elegante o que teria sido vulgar.

Claire se virou para o espelho e com um gracioso movimento e as pregas finas da saia faziam um movimento impressionante, e ela se imaginou girando em um salão de bale. Quando mirou o espelho ficou paralisada, ela devia ser a mulher mais bonita de Londres, não poderia haver outra, o corpete lhe caia com perfeição, nada do vestido era imperfeito para ela, cada parte parecia feita para ser costurada no próprio corpo e de lá jamais ser retirada.

A própria criada a encarava com inveja,e ela enteu porque, a própria Clarisse tinha inveja daquele belo reflexo que a aprisionava como a Narcisso. Ela se escondeu dele para clarear a mente e esperar que Rose viesse, essa quando entrou deixou cair uma pilha de vestido que tinha separado para ela mesma e a irmã.

"Meu Deus! Você parece a perfeição em pessoa, uma deusa, estou hipnotizada, está deslumbrante, não ainda seria pouco. Por favor gire para que a veja por inteiro."

"Obrigada" respondeu ela baixinho enquanto obedecia e graciosamente se movia entrono de um eixo imaginário no meio de seus pés.

Com o tempo se esgotando Clarisse provou mais de uma duzia de vestidos em um tempo mínimo, um verde musgo, pérola, rosa, azul, coral e tantos outros que nem ela saberia dizer se o tinha vestido ou não. Rose insistiu que Digory iria pagar pelos vestidos já que a irmã não tinha recebido do pai dinheiro para um quarto dos conjuntos.

"Estas caixas" apontou Lady Burghersh para as de Tânia "devem ser postas nas carruagens e as outras serão buscadas mais tarde por algum de meus criados."

"Na verdade tia" interrompeu Digory "gostaria que essas caixas" mostrou ele as de Clarisse e Rose "devem ser postas na segunda carugem, não gosto da ideia de deixá-las aqui até que alguém venha." A tia o encarou com certo despreço e metade as caixas de Tânia foram deixadas para a fúria desta.

A pilha de Alice que era menor poderia ser transportada toda na carruagem da tia, mas esta continuou preferindo levar as de Tânia, nem mesmo que pela metade, essa pouca quantidade mostrava que Alice tinha total controle de si e não fora consumida pela personalidade extravagante da tia, ainda, se Clarisse se unisse a ela, poderia salvá-la de um casamento ruim com algum rico que sua tia a apresentasse.

A viagem de volta sempre parecia mais desconfortável, e essa com certeza foi, com a troca dos grupos que estavam na carruagem, Digory, Rose e Clarisse que seguiam ainda na segunda carruagem vinham dividindo parte do espaço com as caixas de chapéus e todo o resto. A única expectativa deles, que estavam exaustos sendo ainda duas horas da tarde, era uma boa refeição quando chegassem a Coumbville.

Antes que a comida fosse servida, Lady Burghersh se encarregava de ler as cartas entregues pelo carteiro ainda nessa manhã, parecia que muitos amigos confirmaram a presença no baile que ela daria em uma semana e meia. Todos conversavam sobre ninharias até que ela se levantou para pronunciar.

"Gostaria de informar que minha bondosa amiga, Lady Galway, nos convidou para um formoso jantar dançante em sua propriedade , verão que é uma bonita construção, a família a mantem a mais de seis gerações."

"Será adorável, Lady Burghersh!" Comentou Clarisse como sempre fazia para se prevenir de perguntas sobre seus pensamentos que a deixavam silenciosa.

"Como poderá ir conosco se não vi comprar qualquer vestido hoje? Não espere que eu permita que vá mal arrumada." fuzilou Lady Burghersh.

"Na verdade, adquiri vários vestidos esplêndidos que foram aprovados. De forma alguma penso que irei desmerecer o grupo indo com um vestido que costumo usar para passar os dias no campo." Respondeu Clarisse sentindo que vencia.

"Tenho então que escrever a Lady Galway para reservar nosso sexto lugar e pedir para que as duas carruagens estejam a nossa disposição no sábado."

"Não haveria motivo para não estarem, Lady Burghersh" respondeu Alice com delicadeza para encerar o assunto. Justamente quando a refeição foi servida.