Sapiências de Jelina H. escrita por Cecília Sochiarelli


Capítulo 2
2.




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Quando a lombada o acordou, pôde avistar subitamente a esplêndida visão que Plincio oferecia. Ele tinha certeza que não era o único da sua geração a ser impelido por um responsável para ir ao interior num domingo. A população completa de Rochas sabia que não havia lugar melhor que Plincio para localizarem em seus GPS’s nos finais de semana, e assim relaxarem e esquecerem das malditas cidades que haviam tido o desprezo de nascer, exceto a rebelde companhia de Jorge.

- Acho que se você não parar de resmungar vamos ter que voltar.

- Isso seria ótimo! – Responde Ryan com mais aversão, por saber que aquilo tinha sido uma ironia.

- E então, você ajudaria Christine na horta. O que acha? – Ryan virou o olhar em direção a Jorge lentamente. A sua pele já estava começando a ruborizar quando Jorge para o carro e desliga o motor. – Acho que é aqui.  – Ele tira a chave do contato e olha Ryan pelo retrovisor, que se reclinava no banco de trás resmungando baixinho. – Oh Garoto, você não tem mesmo nenhum jeito. – Jorge se vira e observa Ryan por alguns segundos, até que pega o garoto de surpresa ao lhe puxar a cueca até a cabeça. Ryan dá um pulo e acerta Jorge com um soco na mandíbula. Imediatamente os dois saem do carro gemendo de dor e soltando palavrões inadequados para o lugar em que estavam. Uma mulher de idade que os observava a distância começou a queixar-se para outra moça que estava em sua companhia, e Jorge corou ao perceber a presença das duas. Agarrou Ryan que ainda exprimia sua revolta pelos cabelos e o jogou atrás do carro, longe da visão das duas senhoras. – Cara, vamos nos comportar. Essa gente não é como você, e vão acabar se tocando que você é de Rochas.

- Eu não estou nem aí para isso, Jorge. Não vou esconder minha identidade.

- Vamos logo, ela já deve estar esperando. – Jorge e Ryan pegaram suas malas e se dirigiram para o centro da cidade de Plincio.

Quando ela avistou um moço alto acompanhado de um garoto não tão mais baixo, teve a certeza de que eram eles. Conseguiu fingir que não os tinha visto e se virou para olhar no espelhinho do blush. Pegou seu batom e retocou sua maquiagem numa rapidez considerável. Quando Jorge a viu, mesmo depois de tudo o que tinham passado, corou, e seu coração começou a acelerar. Ryan ao notar isso sentiu seu estômago embrulhar, e cortou o momento romântico ao gritar o nome dela, que se virou atuando estar surpresa, nada convincente, mas que a Jorge não deixou suspeitas.

- Oi! – Disse ela o abraçando. Quando Jorge ia responder, ela o beijou brevemente, o que fez Ryan resmungar. – Tudo bem Ryan, um dia você arranja uma namoradinha. – Ela nunca deixava de gozar com seu irmão caçula quando tinha oportunidade. Ele também a xingava e os dois voltavam a 9 anos atrás, quando eram crianças – Rezo todos os dias para não ter o azar de Jorge. – Ao ouvir seu nome, Jorge dá uma bofetada na nuca de Ryan, que o faz chiar. Ela pega uma das malas de Ryan e pede para que Jorge mostre o destino do lugar para onde iam.

Enquanto andavam, Ryan quebrava o silêncio com um barulho azucrinante de bola de mascar, sua irmã irritada tentou arranjar assunto para não gritar com o garoto.

- E então garotos, como foi a noitada. – Ela na verdade não queria saber.

- Amor, você não quer saber. – E Jorge sabia.

- Bom... o show foi um fiasco, então descemos a rua e encontramos uns caras que ofereceram bebidas e drogas, e mesmo eu dizendo a Jorge que talvez você não gostasse, ele me obrigou a tomar as drogas, que por acaso tinham cor rosa. - Jorge olha para Ryan com um olhar sinistro. – Isso foi tão verdadeiro quanto a sua “droga rosa bebível”, seu maldito. – Ele olha para a namorada confiante de que ela não acreditaria na resposta do menino. – Ryan, quando chegarmos, vamos ter uma conversa sobre drogas e essas coisas, você realmente não sabe nada disso. – Ele já estava ficando árduo, quando volta o olhar para ela que já tinha colocado sua atenção em uma barraquinha de sorvetes que passara por lá segundos antes de Ryan começar a falar. Ela era uma garota admirável, tinha ideais ortodoxos e prezava muito sua autenticidade. Digamos que ela era o oposto de Ryan, que tinha sido posto ao mundo com objetivo algum. Muitas vezes viam-na acompanhada de pessoas usando jaquetas de couros e grandes moicanos coloridos. Era notável as suas olheiras nas manhãs em sala de aula, e subjulgavam que ela não dormia por ficar na rua até tarde com suas gangues fazendo manifestações e violações, mas Jorge acreditava que ela não era “desse tipo”. Apesar de a sociedade vê-la dessa forma, ela era uma garota muito doce, e suas notas eram as melhores. Era acostumada a vestir sempre pertences fofos de animais, e era conhecida como “A princesa subversiva”. Apesar disso tudo, o que mais a identificava era seu cachecol. Ela ganhara um cachecol avermelhado com listras pretas aos 11 anos, e nunca mais deixara de usá-lo. Calor ou frio, ela sempre estava com ele enrolado ao pescoço. Falava aos outros que ele era muito especial, e Ryan corava ao ouvi-la dizendo aquilo. Todos que a namorassem teriam orgulho de todas essas características, mas Jorge não tinha. As opiniões dele eram opoentes as delas, ele não acreditava na mudança social, e achava ridículas as tentativas daqueles que acreditavam. Ela e Jorge eram totalmente opostos, mas se amavam como nenhum casal. Eles namoravam a 6 anos, e o casamento já começara a surgir em seus objetivos futuros. Seus pais diziam que era cedo, tomando em conta que ela estaria completando a faculdade de biblioteconomia no ano que vem e ele acabando em dois meses a sua de medicina, mas eles não davam ouvidos ao questionamento das pessoas ao seu redor.

Ryan pegara um sorvete de flocos, mas se arrependera e jogara fora. Sua irmã viu aquilo e logo o repreendeu – Moço, você poderia ter feito algo mais útil com o seu dinheiro do que comprar algo para logo depois jogar fora. – Ryan ficava abismado com a beleza do falar de sua irmã, ela era incrivelmente sábia e muito linda.  – Ai, eu já entendi! Desculpa pow! – Mesmo a amando e a admirando como ninguém, Ryan a tratava com muita inferioridade, devia aquela atitude à inveja. Quando encontraram a praça Liston Marcus, Jorge pediu para que entrassem na casinha verde que estava ao lado deles, Ryan deduziu que seria a casa do avô de Jorge, do qual o motivo de toda a viajem era visitar o velinho, que estava morrendo.

 Fizeram uma visita rápida com o homem e logo saíram em silêncio. – Vocês não precisam ficar quietos, é o meu avô que vai morrer – Disse Jorge logo depois soltando um risinho. Ryan notou que sua irmã estava muito angustiada, e em tentativa fracassada de cortar aquele clima pesado pediu para que ela fosse pegar uma bebida para eles. Ela sem dizer nada se dirige a barraquinha mais perto dali. Ryan e Jorge ficam parados observando o cachecol pairar sobre o vento junto ao seus belos cabelos escuros. – Sua irmã é linda. – Diz Jorge. Ela vê que eles a observavam e dá um sorrisinho a Ryan como resposta. Ele olha para o chão e responde– Eu sei. 


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