- Esta vendo...

Hansel apontou para a grande casa onde haviam três pessoas, um homem em uma cadeira de rodas com uma barba desalinhada que vestia Tweed, e outro gorducho com uma camisa havaiana com estampa de tigre, ele tinha cara de rabugento, os cabelos negros quase roxos o fazia parecer um... O nome daquelas figuras de bebês alados?, Querubim! É, ele parecia isso ai.

Eu estava nervosa e com as pernas tremendo, eu tropecei algumas vezes, Hansel perguntou umas cinco vezes se eu estava mesmo bem e cinco vezes eu menti dizendo que estava.

- Aquele ali na cadeira de rodas é Quiron, e o outro é o Sr. D. - disse ele.

Então meu olhar caiu sobre a terceira pessoa naquela varanda do outro lado do casarão, um garoto de cabelos loiros e olhos cinzentos tempestuosos, ele parecia ter uns quatorze anos e tinha uma expressão séria no rosto, seu olhar encontrou o meu, era intimidador, mas ele deu um fraco sorriso confiante para mim como se dissesse que estava tudo bem, como se soubesse o que eu sentia naquele instante.

"Vontade de gritar?" pensei.

- E o Garoto é Benjamin Chase, mas ele não gosta do nome então chamamos ele apenas de Ben, ninguém pode escolher o nome que tem não é? - perguntou Hansel.

- Não é tão ruim. - me forcei a falar, só que minha voz tinha dado um passeio.

Deveríamos estar na Costa de Long Island, a paisagem era pontilhada com arquiteturas que me lembravam a antiga Grécia, eu não sabia nada sobre isso, mas eu lembro de algumas imagens nos livros do orfanato, de longe eu podia ver pontinhos laranjas e quando uma garota de cabelos longos e negros passou por mim com a mesma camiseta laranja eu soube o que eram tais pontinhos.

- Bem-vindo de volta Hansel. - disse o homem da cadeira de rodas, eu estava hesitando, quando Hansel continuou andando mais para perto da casa eu fiquei paralisada, Hansel teve voltar e me puxar pelo braço, e por causa disso eu tropecei novamente, tive vontade de xinga-lo ali mesmo.

- E você... - ele apontou para mim. 

- Diga seu nome. - cochichou Hansel.

- Megan... Senhor. - falei e vi que minha voz tinha voltado de vez. - Apenas Megan.

- Suponho que eu deva dizer isso... - bufou o homenzinho gorducho, eu tive vontade de correr para o outro lado da varanda para ficar longe dele. - Bem-vinda, você esta no acampamento meio-sangue, acampamento de treinamento para pivetes como você. Pronto, já disse.

Nessa hora eu tive vontade de dizer "Sério? Pensei que estava em Nárnia." mas eu me contive ao olhar para meus próprios pés. (Epa! Livro errado...)

- Bom... - o homem da cadeira de rodas que segundo Hansel se chamava Quiron se virou para o loiro. - Benjamin, poderia verificar o beliche no chalé 11 por gentileza?

- Claro, Quiron. - ele lançou um último olhar para mim. - Eu acho que isso é seu.

Ele ergueu para mim um objeto que só agora notei que estava segurando, uma coisa pontuda e desalinhada, O Chifre.

No instante em que toquei o chifre novamente, mais flashes da noite do Minotauro me vieram na mente, pensei em devolver, mas fala sério! Isso não é coisa que se compra em qualquer loja de presentes, deveria ser valioso, mas não me importava o que importava de verdade é que aquilo quase custou a minha vida.

- Sente-se Megan, você também Hansel. - disse Quiron.

Parecíamos dois robôs no instante que pegamos o mesmo passo, porém Hansel deveria ser um robô com defeito (A Amizade é linda...) no caminho até as cadeiras ao redor da mesa seu pé caiu... Quer dizer, o tênis All Star revelando um casco de bode como diz ele, mas para mim ainda parece um jegue...

E ao sentar ele meio que deu um pisão de bode no meu pé, acreditem em mim, achei que nunca mais iria andar de novo, Hansel gemeu por mim e murmurou um "Desculpe" e eu vi seu rosto vermelho como um pimentão. Oh pobre bode destrambelhado... (Hansel, sabe que eu te amo não é?).

- Bom, creio que deva estar se perguntando... - começou Quiron.

- O que ele quis dizer com "Treinamento"? - perguntei.

Hansel parecia que queria me dar outro pisão no pé. (Nunca mais... Nunca mais...).

- Megan o que você sabe sobre mitologia Grega? - perguntou Quiron

Me pegou, a unica coisa que conheço sobre mitologia grega é do Minotauro, e dos sátiros agora, e alguns poucos deuses olimpianos.

- Não muita coisa senhor. - falei e pude ver que ele estava meio decepcionado.

- Acredito que o filme de orientação não seja suficiente, entenda Megan vou tentar ser direto quanto a isso, você sabe que seu amigo Hansel é um sátiro, você sabe que você. - ele apontou o dedo para mim, em seguida para o chifre em minha mão. - Matou o minotauro, sabe que você matou uma... Benevolente.

Pensei que ele estivesse se referindo a madame Prince

- Desculpe senhor... Mas... Aonde quer chegar? - perguntei.

- Ainda não percebeu? - perguntou ele.

- Esta me dizendo que... - comecei.

- Vai jogar ou não mocinha? - perguntou o gorducho interrompendo minha lógica.

- O que? - perguntei confusa.

- Sabe jogar Pinochle, mocinha? - perguntou ele.

- Infelizmente não senhor. - falei.

 Ele bufou e me explicou impaciente sobre o jogo de cartas que eu nunca ouvira falar, ele me explicou como fazer um lance no pinochle e eu fiz e me voltei para Quiron.

- Estou dizendo Megan... que tudo o que você enfrentou até aqui não foi um mero pesadelo, tudo aquilo é real por mais difícil que seja aceitar, os deuses são reais. - disse ele.

- Zeus, Atena, Apolo, Afrodite... - comecei a citar e um raio cortou o céu acompanhado de um trovão.

- Deveria tomar cuidado com esses nome, Miley. - disse o Sr. D dando um lance. 

- É... Megan. - corrigi.

- Senhor. - acrescentou ele. - Tanto faz.

- Mas... se tudo isso é real, então... o que eu sou? Quem é você Quiron? Que lugar é esse? - comecei a perguntar.

- O que você é? Bom, essa é a questão principal, você é o que chamamos de meio-sangue, aqui é o lugar onde meio-sangues como você e Benjamin por exemplo, treinam, acho que até agora você pôde notar que monstros vem te perseguindo a tona e é para isso que são treinados, para enfrenta-los. - explicou Quiron. - Agora eu, sou o diretor de atividades do acampamento, quem treinou Jasão, Aquiles e outros heróis.

- E... - me virei para o gorducho. - Sr. D significa algo?

- Esta me desafiando, pirralha? - encara-lo diretamente nos olhos não foi uma boa ideia, eu primeiro vi chamas roxeadas e depois marinheiros bêbados se jogando em auto mar, vinhas estrangulando decrescentes até a morte, se eu ousasse mais de sua paciência ele me mostraria coisas até eu enlouquecer de vez.

- Você... - olhar para ele enquanto tomava folego. - É o cara do vinho.

- Cara do vinho? - ele perguntou, mas Quiron o interrompeu.

- "D" de Dioniso, o deus do vinho. - disse Quiron. 

Eu não aguentei, eu soltei uma curta risada e o gorducho olhou-me daquele jeito assassino.

- Desculpe, mas isso são apenas histórias que surgiram antes de existir a ciência. - falei.

- Ciência? Diga-me o que dirão de sua ciência daqui alguns anos Megan? - perguntou Quiron. - E se você fosse uma deusa olimpiana iria gostar de ser chamada de um mero mito? Se eu disser a você, Megan, que um dia as pessoa chamaram você de mito?

Suspirei.

- Eu não iria gostar, mas não acredito em deuses. - falei. 

O Sr. D riu.

- A Tolice de hoje em dia me surpreende Quiron, é incrível como os mortais acham que chegaram tão longe. - disse o Sr. D.

- P-por favor Sr. D, ela esta em estado de Choque. - disse Hansel gaguejando.

- Choque? Ruim mesmo é ter que ficar aqui cuidando desses pivetes que nem mesmo tem fé.

Então o Sr. D fez uma coisa que me deixou de boca aberta, ele acenou no ar e uma taça de vinho aparecer na mesa. E mais uma trovoada em um dia sem nuvens.

- Sr. D as suas restrições. - disse Quiron.

- Oh vejam isso. - Ele acenou de novo e a taça se transformou em uma lata de Diet Coke. - Velhos hábitos.

Mais uma trovoada.

- O Sr. D foi banido ao se aproximar de uma ninfa dos bosques restritamente proibida. - disse Quiron.

- O Pai adora me castigar. - disse Sr. D.

- Zeus... - murmurei.

- Suas palavras ainda serão a sua morte, Margarida. - disse o Sr. D.

Ele fica falando do meu problema com nomes e ta ai, dessa vez eu nem corrigi, precisei de muita força para não revirar os olhos.

"Margarida" essa passou longe.

- Truco! - exclamou Quiron.

- Que novidade. - resmungou Sr. D se levantando. - Hansel venha comigo, o conselho não esta nada satisfeito com o seu desempenho para lá de desapontador nessa missão. 

- S-Sim senhor. - disse Hansel e olhou para mim de novo. - Até depois, Meg.

Quando eles desapareceram nos bosques, eu olhei novamente para Quiron.

- Hansel vai ficar bem? - perguntei.

- Oh, sim ele vai. Não se preocupe terá seu amigo inteiro de volta. - disse ele.

Inteiro? Então...

- Bom... - ele se ergueu da cadeira de rodas acho que nem preciso falar nada sobre isso, foi uma cena muito estranha mesmo! Quiron se inclinou na cadeira como se fosse levantar, mas é claro que não iria. (Acho melhor eu ficar quietinha no meu canto depois dessa.) Mas então ele o fez revelando um torço de um garanhão branco.

- Já estava ficando dormente nessa cadeira, vamos? - perguntou ele. - Feche a boca, Megan.

Eu devo ter ficado vermelha porque ele riu, eu me levantei e tratei de ficar ao lado de Quiron no nosso tour pelo local, lancei um último olhar para a casa grande e tive a breve impressão de ver a cortina se mexer aonde parecia ser o Sotão, resolvi não comentar sobre isso... (O DIRETOR DE ATIVIDADES TEM UMA BUNDA DE CAVALO O.O) Alguém... pode... Riscar essa frase? 

O local era tipico de um livro de mitologia (Se liga na indireta, Jackson.) Havia uma parede de escala onde tinham mais adolescentes e crianças subindo pedra por pedra, um detalhe, Havia o que segundo Quiron era um desafio extra, lava. (MUITO legal!) passamos pela quadra de vôlei as pessoas, todos jovens com a mesma camiseta "Acampamento Meio-Sangue" se cutucavam e apontavam para o chifre nas minhas mãos.

- É ela...

- Você ouviu?...

Diziam eles, Quiron me puxou para longe, mas eu não pude deixar de ouvir alguém murmurar o título "Ladra de Raios".

A Maioria dos campistas eram mais velhos que eu, a maioria dos Sátiros eram maiores que Hansel, virei o rosto para olhar a grande casa atrás de mim, azul-céu com acabamento em branco, caminhamos pelos campos de morangos aonde haviam sátiros tocando flauta enquanto os insetos se reuniam em uma fila dançante para longe dos morangos, alguns campistas colhiam os morangos, havia uma grande placa dizendo "COLHAM SEUS PRÓPRIOS MORANGOS".

- Pagam as nossas despesas. - disse Quiron.

A Floresta tomava pelo menos um quarto do vale, era enorme, imaginei que tipo de segredos aquela floresta guardava.

- Os Bosques tem provisões, segredos e algumas criaturas imagináveis como os Myrmekos. - disse ele.

- O que? - perguntei.

- São formigas gigantes, não muito agradáveis como deve imaginar. - disse ele.

Vimos a linha de tiro ao alvo, a linha de lançamento de dardo, os estábulos, não sei se era ilusão mas alguns cavalos tinham asas, vimos o anfiteatro, a arena segundo Quiron era lá que eles realizavam a esgrima.

 - Desafios entre campistas e coisas assim, do chalé 11 quem dá essas aulas é Luke, mas não se engane com ele. - disse Quiron.

- O que quer dizer? - perguntei.

- Ainda não reparou nada? Nenhuma semelhança? - perguntou Quiron. - Certa vez, um semideus teve a ideia de escrever sobre nosso mundo para os mortais, talvez já tenha lido algum livro a respeito, aonde ele criou histórias, aventuras contadas por um semideus, Percy Jackson.

- Eu já devo ter visto um desses filmes no orfanato, madame Prince...

- Foi tudo armação, quanto mais sobre nosso mundo você souber, mais fácil serão para eles encontraram pessoas como você. - disse ele.

- Meio-Sangues... Metade mortal e metade...

- deuses, metade deuses. - disse Quiron. - Oh, e ali é o refeitório.

Ele apontou para um pavilhão branco ao ar livre sustentado por colunas brancas que davam de frente para o mar, Sem parede e nem teto, haviam duzias de mesas de piquenique de pedra.

- O que fazem quando chove? - perguntei.

- Ainda sim, temos que comer não é? - perguntou ele e resolvi não discutir.

Finalmente chegamos aos chalés, tinha pelo menos uma dúzia deles dispostos em um "U", Dois na frente e cinco enfileirados de cada lado, cada qual tinha um grande numero de um latão acima da porta, (Impares no esquerdo e Pares no direito), Cada um com sua personalidade própria.

O Chalé 1 era basicamente uma grande caixa de mármore branco com portas de bronze polido e pesadas colunas brancas na frente, com certeza o mais majestoso dos doze, dava a impressão de ser atravessada por raios dependendo de onde se vê, ao lado desse era o chalé 2 feito de mármore branco e possuindo delicadas colunas, as paredes condecoradas com desenhos de pavões, nas colunas estavam encimadas com romãs e rosas. Ambos chalés vazios.

- Zeus e Hera? - perguntei ao homem-cavalo.

- Correto.

O Chalé 4 possuía tomateiros nas paredes e uma cobertura feita de gramado, O Chalé 5 tinha uma cabeça de javali empalhada em cima (Tipo assim... Era um javali de verdade? O.O) e era de um vermelho-vivo mal pintado, enquanto eu olhava  chalé meus olhos encontraram o olhar escuro e cruel, um garoto de cabelos castanho escuro e olhos negros, desviei do olhar.

- Deméter e Ares, e aqui temos Atena. 

Quiron Apontou o chalé com o numero "6" acima da porta, o chalé era de mármore pálido, vários galhos de oliveira, e ornado com grossas colunas torcidas em tranças, o próximo que chamou minha atenção era um  Baixo, comprido e sólido, com as paredes externas de pedras cinzentas e rústicas, notei também as paredes salpicadas com conchas e corais.

- O Chalé 3, Poseidon. - disse Quiron.

Ele colocou a mão no meu ombro, e deixei o chalé 3 de lado.

Havia um negro que lembrava a uma pequenina fábrica, outro rosa pastel, com canteiros de rosas sem espinhos, havia um perfume suave e adocicado transmitido por este, com cristais pendendo nas janelas.

- Megan! - fui esmagada por um abraço.

- Silena... - ela se afastou e eu pude ver os seus olhos azuis. - Afrodite... 

Não sei porque não estou surpresa... Mas resolvi não comentar isso.

- Você vai gostar daqui, oi Quiron. - cumprimentou ela.

- Olá criança, vejo que já se conhecem, Silena seria pedir muito que levasse Megan até o chalé 11? - perguntou o homem-cavalo.

- Nem um pouco! - disse ela animada me segurando pelo braço um pouco forte demais. - Vamos Megan.

- Mas... - comecei.

- Nos vemos no Jantar, as sete. - disse Quiron, então saiu cavalgando até desaparecer na distância.

Passamos por um chalé que imaginei ser de apolo, eu preciso dizer porque pensei isso? Acho que não... Do outro lado estava o chalé 8 que era decorado com imagens de animais, o chalé de Dioniso que era o 12 e por fim...

O Chalé 11, o mais básico dos doze, ele parecia um chalé de acampamento normal, velho e com a pintura descascando, e um caduceu circulado por duas cobras.

Na varanda estava Benjamin Chase folheando um livro cujo título eu não conseguia ler, assim que chegamos na frente dele ele fechou o livro e deu um fraco sorriso.

- Você é a Megan, certo? - perguntou ele.

- Bom Meg eu te deixo aqui, nos vemos mais tarde? - perguntou a ruiva com um sorriso.

- Ah... Acho que sim. - respondi e ela sorriu dei um "Tchau" para Benjamin e nos deixou ali.

Ele olhou-me de cima abaixo e sem expressão adentrou o chalé, eu fui atrás hesitante, no momento que atravessei a porta tropecei exclamando um alto "Ai" que chamou atenção dos ocupantes do local. 

A Maioria dos campistas tinha feições de elfo, outros nem tanto, era de fato o chalé mais cheio dos doze, eu me sentia meio desconfortável com todos aqueles olhos olhando para mim, até que Benjamin quebrou o silêncio.

- Seja Bem-vinda ao chalé de Hermes.