Crônicas Do Olimpo - A Ladra De Raios escrita por Laís Bohrer


Capítulo 20
Coragem ou Estupidez? O Último Verso é Desvendado!


Notas iniciais do capítulo

Capítulo grandinho... mas vale a pena!



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Cérbero parecia tão perplexo quanto nós. As três cabeças se inclinaram de lado. Seis narinas se dilataram. Minhas pernas tremiam de medo e eu achava que a qualquer momento eu fosse vomitar, mas consegui me manter de pé, limpei a garganta e fiz força para não gaguejar.

Parecer como se não estivesse prestes a morrer.

– Ei, garotão – gritei. – Aposto que eles não brincam muito com você aqui.

O Cérbero Latiu para mim, mas algo esquisito aconteceu, Cérbero latiu mais três vezes e sentou, as três cabeças atentas a bola na minha mão, eu me sentia mais segura.

- Esta vendo a bola? Você quer a bola? Cérbero? Senta! – falei. – Oh... Você já esta sentado então... Hum...

Hesitei.

- Finge de morto? – perguntei e ele latiu em resposta. – É Verdade, você tecnicamente já esta morto. Sem ofensa.

Eu estou mesmo conversando com um cão de três cabeças?

- Ah... Pega! – joguei a bola.

E ele fez isso, Ele a agarrou com a boca do meio. A bola mal tinha tamanho suficiente para ele morder, e as outras cabeças começaram a avançar na do meio, tentando pegar o novo brinquedo.

- Solta! – ordenei, as cabeças se viraram para mim, então eu não soube o que fazer... Mas as cabeças de Cérbero pararam de brigar e olharam para ela.

A bola estava presa entre dois dos seus dentes como um pedacinho de chiclete. Ele soltou um lamento alto e assustador, depois largou a bola, gosmenta e quase rasgada no meio, aos meus pés.

Fiz careta para a bola ensopada, mas ignorei a baba e agarrei a bola de borracha de novo.

Observei com o canto do olho enquanto Jake, Silena e Hansel atravessavam por baixo de Cérbero em direção na fila Morte expressa, Hansel me lançou um olhar de se-você-morrer-eu-mato-você e Jake fez sinal para eu me juntar a eles. Cheguei a conclusão que se desse a bola para Cérbero, não teria nada mais para fazer mais um truque.

- Bom cachorro... – falei lentamente. – Você quer a bola?

Os três latiram ao mesmo tempo em resposta.

- Pega! – joguei a bola de novo.

Assim que Cérbero estava distraído com seu novo brinquedo, aproveitei o tempo e passei por baixo dele, assim que consegui atravessar ouvi o barulho de um “Clak!” e me virei, Cérbero choramingava para mim. Sabem? Até que cachorrões de três cabeças não são tão maus, Eu tenho certeza que Cérbero me parecia familiar, mas ignorei esse fato.

- Você quer que eu traga uma bola nova para você? – perguntei.

 Cérbero gemeu, acho que ele ainda esperava a nova bola.

- Eu vou trazer uma bola novinha para você, E-eu prometo. – falei me virando e indo em direção aos meus amigos.

- Pelo visto arranjou um novo amigo... – disse Jake.

- Ciúmes? – perguntei.

- Há! Imagine. Megan você é tão... – começou ele.

Mas não terminou, pois assim que passamos pelo detector de metais, uma sirene começou a berrar, disparando e piscando luzes vermelhas:

"Pertences não autorizados! Mágica detectada!"

Cérbero começou a latir, Nós nos lançamos pelo portão “MORTE EXPRESSA”, o que disparou ainda mais alarmes, e corremos para dentro do Mundo Inferior. Alguns minutos depois, estávamos nos escondendo, sem fôlego, no tronco apodrecido de uma imensa árvore negra, enquanto os espíritos da segurança passavam correndo, berrando pela ajuda das Fúrias.

- Deuses...- resmungou Hansel. – Acho que hoje que eu morro.

- Já estamos aqui não é? – falei. – Vamos!

Falei dando tempo de ver Jake revirando os olhos.

- Agora ela fica mais animada, ela percebeu que esta nos domínios de Hades? – disse ele.

- Adrenalina na veia. – dei de ombros.

Agora Imagine a maior aglomeração de gente que você já viu em um show, um campo de futebol lotado com um milhão de fãs.  Conseguiu?

Agora imagine um campo um milhão de vezes maior do que esse, lotado, e imagine que a energia elétrica falhou e não há barulho, não há luz, nem aquelas bolas gigantes quicando por cima da multidão.
Algo de trágico aconteceu nos bastidores. Uma massa sussurrante de gente fica simplesmente vagueando nas sombras sem direção, esperando um show que nunca vai começar. Se for capaz de imaginar isso, tem uma boa ideia de como são os Campos de Asfódelos.

A grama preta tinha sido pisoteada por eras de pés mortos. Um vento morno e úmido soprava como o hálito de um pântano.

- Choupos. – disse Hansel apontando para as Árvores Negras que cresciam em grupos aqui e ali.

O teto da caverna era tão alto acima de nós que poderia passar por uma massa de nuvens de tempestade, a não ser pelas estalactites, que brilhavam em um cinza pálido e pareciam malvadamente pontudas.

Tentei não imaginar que poderiam cair sobre nós a qualquer momento, mas havia várias delas salpicadas ao redor, que caíram e empalaram a si mesmas na grama preta. Então imaginei que os mortos não precisavam se preocupar em ser mortos...

Eu, Jake, Hansel e Silena tentamos nos misturar na multidão, ficando de olho nos fantasmas-seguranças, era difícil olhar para os mortos, seus rostos tremulam, Todos parecem ligeiramente zangados ou confusos. Eles até nos veem e falam, mas a voz soa como trepidações, como o chiado de morcegos. Depois que eles percebem que você não consegue entendê-los, fecham a cara e se afastam.

Os mortos não são assustadores. São apenas tristes.

- É assustador... – murmurou Silena.

- Eu não tenho medo dos mortos, Silena, tenho medo dos vivos... E um pouco dos imortais. – falei.

Mas ela não respondeu.

Arrastamo-nos, seguindo a fila de recém-chegados que serpenteava desde os portões principais em direção a uma grande tenda, negra com uma faixa que dizia:

JULGAMENTOS PARA O ELÍSIO E PARA A DANAÇÃO ETERNA Bem-vindos, Recém-Falecidos!

Do fundo da tenda saíam duas filas muito menores. Espíritos flanqueados por espíritos maligno de segurança marchavam por um caminho pedregoso rumo aos Campos de Punição, uma vastidão desértica e rachada com rios de lava e campos minados, e quilômetros de arame farpado separando as diferentes áreas de tortura.

Podia ver pessoas sendo perseguidas por cães gigantes e monstruosos – Jake disse que estes eram chamados de Cães Infernais - queimadas na fogueira, forçadas a correr nuas por plantações de cactos ou ouvir música de ópera. Pude apenas distinguir uma colina minúscula com o vulto do tamanho de uma formiga de Sísifo lutando para empurrar sua pedra até o topo.

E vi também torturas piores – coisas que nem quero descrever.

A fila que vinha do lado direito do pavilhão dos julgamentos era muito melhor. Dava num pequeno vale cercado de muros – uma comunidade com portões, que parecia ser a única parte feliz do Mundo Inferior. Além do portão de segurança havia belas casas de todos os períodos da história, vilas romanas, castelos medievais e mansões vitorianas

 Flores de prata e ouro floresciam nos campos. A grama ondulava nas cores do arco-íris. Dava para ouvir os risos e sentir o cheiro de churrasco. Elísio. No meio daquele vale havia um brilhante lago azul, com três pequenas ilhas como um hotel de lazer nas Bahamas.

- A Ilha dos Abençoados. – disse Jake. – Para Pessoas que escolheram nascer três vezes e Três vezes conquistaram o Elísio. Lá! É o lugar para heróis.

Deixamos o pavilhão dos julgamentos e nos aprofundamos mais nos Campos de Asfódelos. Ficou mais escuro. As cores se esvaíram das nossas roupas. E eu mal podia esperar para aquele tour infernal acabar, mas eu sabia que isso não seria tão cedo. Agigantando-se longe estava um palácio de obsidiana negra, brilhante. Acima dos baluartes rodopiavam três criaturas escuras semelhantes a morcegos.

- As Fúrias... – murmurei.

- É meio tarde para voltar, não é? – perguntou Hansel.

- Escuta, você quer outro tapa? – perguntei.

- Não. – disse ele.

- Então fica quieto, vai dar tudo certo... Acho. – falei.

Hansel gruniu, Seus tênis criaram asas e as pernas saltaram para frente, puxando-o para longe de nos. Ele aterrissou de costas na grama.

- Hansel! Para de Brincar!- ralhei.

- Mas eu não... – começou o garoto bode.

Os tênis estavam agora batendo as asas como loucos. Levitaram do chão e começaram a arrastá-lo para longe de nós.

- Hansel! Volta aqui! – gritei.

- Ah claro! Mas eu vou dar uma voltiAAAAAAAAAH – gritou o menino-jegue.

- Hansel! – gritamos eu e Silena.

Corremos atrás do menino-bode voador, mas não era fácil, a cada segundo ele ficava mais veloz.

- Desamarre o tênis! – gritou Jake.

Foi uma ideia esperta, mas acho que isso não é tão fácil quando os seus sapatos o estão arrastando para frente a toda velocidade. Hansel tentou se sentar, mas caiu de novo, seus dedos sangravam enquanto ele tentava se segurar em nada. Eu tinha certeza de que ele iria passar direto dos portões do palácio de Hades, mas de repente os tênis desviaram para a direita e o arrastaram na direção oposta.

Eu, Jake e Silena corremos a toda para tentar acompanhar Hansel, mas ele era arrastado na mesma velocidade de um carro de corrida. Já não estávamos no mesmo lugar, as paredes se estreitavam dos dois lados a cada passo nosso, estávamos entrando em algum tipo de túnel lateral Não havia mais grama preta nem árvores, apenas pedras sob os pés, e a luz pálida das estalactites acima.

- Hansel! Segure em alguma coisa! - gritei.

- Não tem nadaAAAAAAAAAH! - gritava ele preciso dizer que ele estava gritando feito uma garotinha de novo? Bom, melhor não, Hansel já esta prometendo me meter a flauta de bambu.

O túnel ficou mais escuro e frio. Os pelos dos meus braços se arrepiaram. O Cheiro ali me dava vontade de vomitar, Por fim eu vi algo que me deixou mais estática e paralisada no meio do caminho, a escuridão sem fundo de frente para mim, eu parei de correr e olhei.

O túnel se alargava para uma enorme caverna escura, e no meio havia um abismo do tamanho de um quarteirão da cidade. 

O Abismo dos meus piores pesadelos estava ali diante de mim.

Me belisquei, é claro que só podia ser mais um pesadelo... Mas não era...

- Megan! Vamos! - Jake me puxava.

- Mas... Aquilo... - apontei.

- Eu sei! Mas se não fizermos nada Hansel vai cair lá! - disse ele.

Isso me fez acordar, ignorei Jake e corri na direção de Hansel, eu não tinha muito amigos eu não ia perde-los assim... E na real... Quem se esquece de um garoto metade bode sendo arrastado por um par de tênis All Star alados suicidas?

Agarrei a mão de Hansel a tempo, mas o que o salvou na verdade foram seus cascos de bode, os tênis sempre ficaram folgados nele, lembram das vezes em que o tênis saia voando? Enfim... Um dos tênis se soltou do casco esquerdo de Hansel, fazendo diminuir a velocidade, mesmo assim ele ainda era puxado, o tênis suicida ainda ia na direção do abismo, então o outro tênis do casco direito se soltou indo em direção ao poço, se juntando ao seu companheiro.

Então morreram juntos e felizes para sempre!

Chorem pelo tênis...

Todos desabamos exaustos sobre os pedregulhos de obsidiana. Meus membros pareciam feitos de chumbo. Até minha mochila parecia mais pesada, como se alguém tivesse enchido de pedras, um elefante bebê com uma mochila daquela nas costas... Hansel estava muito arranhado, com as mãos sangrando Todos desabamos exaustos sobre os pedregulhos de obsidiana. Meus membros pareciam feitos de chumbo. Até minha mochila parecia mais pesada. Pobre garoto...Jegue. (Hansel desista, eu não vou parar... Você disse CupCake Azul? *-*)

Hansel desabou:

- O que... Eu... O que aconteceu aqui ago... - começou ele.

- Psiu! - me levantei com um pulo. - Esperem... Escutaram isso?

- O que? - perguntou Silena.

Eu tinha ouvido algo. Um sussurro profundo na escuridão.

- Megan... - chamou a ruiva. - Sabe que este lugar...

- Ei! - chamei sua atenção. 

O som estava ficando mais alto, uma voz murmurante, malévola, vinda de longe, muito longe abaixo de nós.

- O... O que é isso? - perguntou Hansel gaguejando.

- Curioso... - murmurou Jake.

A Voz ficou mais alta, e mais alta...

- Do Abismo... - falei.- Mas o que...

Jake havia tirado seu sabre do bolso, a luz do Bronze Celestial dava um ar mais sinistro ao seu rosto, a voz pareceu vacilar por um momento... Só por um momento. Eu agora quase conseguia distinguir palavras, palavras muito, muito antigas, ainda mais antigas que o grego. Como se...

- Magica... - murmurei.

- Temos que sair daqui! - exclamou Jake.

Hansel se ergueu, começamos a andar na direção do túnel, mas minhas pernas pareciam que queriam despencar como se não aguentasse o peso do meu corpo, havia também a mochila que ainda pesava umas 12938742947 Toneladas... Por ai.

Bem na hora. Uma rajada fria de vento nos aspirou pelas costas, como se o abismo inteiro estivesse inalando. Desandamos a correr, meu coração estava batendo tão alto que eu acho que talvez ele saísse  correndo pelo túnel antes que eu. (Risquem... Nojento...) Por um momento aterrorizante eu perdi o controle, e meus pés começaram a escorregar nos pedregulhos. Parecia que estávamos sendo sugados na direção do abismo.

Continuamos fazendo força para a frente e finalmente chegamos ao topo do túnel, onde a caverna se abria para os Campos de Asfódelos. O vento parou. Um lamento de indignação ecoou no fundo. Alguma coisa não estava feliz por ainda estarmos salvos... Tirando o fato de que estamos no Mundo Inferior... Estamos salvos.

Sem folego, Hansel se apoiava nos próprios joelhos... Esperem... BODES TEM JOELHOS?

- O que Hades foi aquilo?! - exclamou ele. 

(Hades: Não sei de nada...) (Megan: Shiu! Você ainda não apareceu na história!) 

- Tenho um bom palpite mal. - disse Jake guardando o sabre. - Espero estar errado... 

- Vamos andando. - olhei para Hansel. - Consegue Andar? Trotar? Ou Sei lá!

- Não sou um cavalo. - disse ele. - Consigo... Mesmo assim, não curtia aqueles tênis mesmo.

Continuamos nosso percurso, o que quer que estivesse naquele abismo era visivelmente antigo e poderoso. De modo fiquei quase aliviada de dar as costas para aquele túnel e me dirigir para o palácio de Hades.

Quase.

•••

As muralhas externas da fortaleza brilhavam em negro e os portões de bronze com dois andares de altura estavam escancarados.Fúrias rodeavam os baluartes no alto das trevas do lugar.

Vi que as gravações nos portões eram cenas de morte. Algumas de tempos modernos mas todas pareciam ter sido gravadas no bronze havia milhares e milhares de anos. Fiquei pensando se estava olhando para profecias que se tornaram realidade. 

Dentro do pátio havia o jardim mais estranho que já vi. Cogumelos multicoloridos, arbustos venenosos e plantas luminosas fantasmagóricas cresciam sem a luz do sol. Gemas preciosas supriam a falta de flores, pilhas de rubis grandes como meu punho, aglomerados de diamantes brutos.

Aqui e ali, como convidados de uma festa que foram congelados, havia estátuas de jardim da Medusa, sorrindo de modo grotesco, quase macabra, principalmente naquele lugar. 

No centro do jardim havia um pomar de romãzeiras, suas flores alaranjadas brilhando como néon no escuro. Para onde Hansel distraído ia na direção, quase saindo da trilha.

- É o Jardim de Perséfone.- disse Jake. - Continuem Andando. Uma mordida de um alimento do Mundo Inferior e nunca mais poderíamos sair.

Naquele momento puxei Hansel para a trila novamente.

- Um de nos vai ficar mesmo! - disse o garoto-bode.

- Você pensa no que diz?! - exclamei.

Subimos os degraus do palácio, entre colunas negras, passando por um pórtico de mármore negro. Indo para o interior do local, O vestíbulo tinha um piso de bronze polido que parecia ferver à luz refletida das tochas. Não havia teto, apenas o teto da caverna muito acima. 

- Acho que eles nunca precisam se preocupar com a chuva aqui. - disse Hansel.

- Sabem o que eu notei agora? - perguntei e todos eles pararam e me olharam curiosos. - Hades...

Jake ergueu a sobrancelha. 

- O que tem?

- A Pronuncia desse nome, não parece com aquele suco de caixinha? Ades... Hades... - falei.

Jake revirou os olhos e continuou andando.

- Se não te conhecesse Megan, diria que esta tentando descontrair e acabar com a tensão. - disse Silena sabiamente.

- Mas é verdade, é igual a pronuncia. - falei.

Então uma coisa mais macabra ainda me tirou a atenção.

Todas as portas laterais eram guardadas por um esqueleto com trajes militares. Alguns usavam armaduras gregas, outros, uniformes ingleses de casacas vermelhas, e havia ainda os que vestiam roupas camufladas com bandeiras americanas esfarrapadas nos ombros. Carregavam lanças, mosquetes ou fuzis.

Nenhum deles nos incomodou, mas suas órbitas ocas nos seguiram enquanto andávamos pelo vestíbulo em direção ao grande conjunto de portas no extremo oposto.

Dois esqueletos de fuzileiros navais americanos guardavam as portas. Eles sorriram para nós, com lançadores de granadas atravessadas no peito.

Minha mochila agora pesava mais e mais. Eu não conseguia imaginar por quê... Quis parar e verificar se havia colhido uma bola de boliche perdida ou duas... Mas realmente não era a hora...

Tem certeza disso? Acha que é a hora? Bom... Você deve estar pirado, não tenho tempo para procurar bolas de boliche na minha mochila!

Um vento quente soprou pelo corredor e as portas se abriram. Os guardas deram um passo para o lado.

Lá dentro a sala era exatamente como em meu sonho, só que dessa vez o trono de Hades estava ocupado.

Era o terceiro deus que eu conhecia, mas o primeiro que realmente me impressionara.

Este tinha pelo menos três metros de altura, e usava mantos de seda preta e uma coroa de ouro trançado. Sua pele era branca como a de um albino, o cabelo comprido até os ombros era preto-azeviche. Irradiando força e poder, senti que deveria esperar ordens.

Parecia uma pantera. Reclinava-se em seu trono de ossos humanos fundidos parecendo flexível, elegante e perigoso.

Hades tinha um olhar intenso, malévolo e maligno. Um entorpecimento se insinuou nas minhas juntas, tentando-me a deitar e tirar uma pequena soneca aos pés de Hades. Queria me enroscar ali e dormir para sempre.

Lutei contra a sensação e dei um passo à frente. Sabia o que tinha de dizer. Mas o deus da morte abriu a boca.

- Coragem sua de vir até aqui, Filha de Poseidon. - disse Hades, sua voz era grossa mas ao mesmo tempo clara como água e lisa como seda. - Ou talvez... Pura estupidez heroica.

- Tio Suqui... Hades! Senhor e Tio Hades... Trago-lhe um pedido.

Hades dá uma risada seca. Quase arrogante.

- Um pedido? Quem acha que sou, filhote de deus? Eu sei muito bem o que lhe trouxe até aqui... - disse ele. - Mas diga. Acho divertido esperar um pouco para fulminar você.

Engoli seco, senti uma vontade imensa de recuar e sair correndo, mas meu orgulho não deixou. Relanceei para o trono menor, vazio, ao lado do de Hades. Tinha a forma de uma flor negra, decorada em ouro. O Trono de Perséfone... 

Voltei-me para Hades... Aquilo estava indo menos mal do que eu havia pensado.

- Senhor... - falei. - Não pode haver uma guerra entre os deuses. Isso seria... Ruim.

- Péssimo. - disse Hansel querendo ajudar.

– Devolva o raio-mestre de Zeus para mim – disse eu. – Por favor, senhor, deixe-me levá-lo para o Olimpo... O Raio-mestre e não o senhor...

Os olhos de Hades brilharam perigosamente. Me olhando e examinando de cima abaixo, como uma serpente analisando sua presa antes de engoli-la viva.

- Ainda com a mesma história? Não se cansa dessa farsa? Depois de tudo o que fez!? - exclamou ele, com sua voz aterrorizadora ecoando nas paredes do local.

Dei uma olhada para os meus amigos atrás de mim. Pareciam tão confusos quanto eu.

- Não entendo... - comecei.

A sala do trono tremeu com tanta força que me calei na mesma hora que abri a boca. Fragmentos de rocha caíram do teto da caverna.

Portas se abriram violentamente em todas as paredes, e guerreiros esqueléticos marcharam para dentro, centenas deles, de todas as épocas e nações da civilização ocidental. Enfileiraram-se nos quatro cantos da sala, bloqueando as saídas.

É... Isso realmente não é bom.

- Acha mesmo que eu quero uma guerra? Filha de Poseidon? - perguntou Hades meio irritadinho.

- Eu acho que... - comecei com caute-la.

– Você tem ideia de quanto meu reino inchou só neste último século, quantas subdivisões tive de criar? - berrou ele me interrompendo de novo.

- Bom...

 – Mais espíritos de segurança – queixou-se. – Problemas de trânsito no pavilhão de julgamentos. Horas extras em dobro para o pessoal. Eu era um deus rico. Controlo todos os metais preciosos embaixo da terra. Mas as minhas despesas!

- Falando em despesas... - falei segurando minhas mãos atrás de mim. - Caronte quer um aumento de salário.

- – Não me fale de Caronte! – gritou Hades. – Ele está impossível desde que descobriu os ternos italianos! Problemas em toda parte, e eu tenho de lidar com todos eles pessoalmente. E os mortos continuam chegando. Não, filhote de deus. Não pedi essa guerra.

- Mas... - comecei, já me preparando para mais um de seus berros, mas ele não disse nada. - Por que roubou o raio de Zeus?

- Farsas! - ele se ergueu ficando do tamanho de uma trava de futebol. - Mentiras! Zeus foi facilmente enganado, menina, mas eu não! Você é igualzinha a seu pai... Dois mentirosos da mesma laia... Enxergo os planos dele!

Agora eu tinha ficado com raiva.

- Megan... - Silena murmurou meu "nome". Ela sabia o que acontecia quando eu ficava com raiva.

Quando me provocavam, eu realmente não me importava se era meio deus, ou deus, ou monstro. Eu perdia o controle de tudo.

-  Você foi a ladra no solstício de inverno – disse ele. – Seu pai pensou em mantê-la como seu pequeno segredo. Ele o mandou para a sala do trono no Olimpo. Você pegou o raio-mestre e meu elmo. Se eu não tivesse enviado minha Fúria para descobri-la no Orfanato Mr. Dixon, Poseidon talvez tivesse conseguido esconder o plano para desencadear uma guerra. Mas agora você será exposta como o ladra de Poseidon, e eu terei meu elmo de volta!

Minhas mãos tremiam de raiva.

- O Elmo também foi roubado...? - questionou Jake atrás de mim.

– Não banque o inocente comigo, garoto. Vocês e o sátiro estiveram ajudando esta miserável filhote de...

- NÃO! - minha voz ecoou no local.

Dentro de mim eu sentia meu sangue ferver, me deixando febril, minhas mãos tremendo... Nada fazia sentido, nada estava encaixando...

- Eu. não. roubei. nada! - falei pausadamente. - Você! - apontei para o deus. - É Tão mau quanto Zeus! Acha mesmo que roubei seu elmo? Acha que estou aqui por que quero? Me diga então! Se eu tivesse o raio e o elmo porque eu iria traze-los direto a você?

- Você tem! Chega de mentiras! Devolva o meu Elmo! - disse ele.

- Não tenho a porcaria do seu elmo! - gritei de volta.

- Megan... Não... - Hansel tentou me deter.

Nada me deixa mais zangada do que ser acusado de algo que não fiz. Já tivera uma porção de experiências com isso. Silena sabe disso...

- Só vim buscar o raio-mestre! - falei.

- Que já o possui! Abra a mochila e veremos... Filhote de deus. - ele apontou para mim.

Um pensamento horrível me assaltou. O peso da minha mochila, como uma bola de boliche e um elefante bebê e bla bla bla... Não podia ser... Tirei a mochila dos ombros e abri o zíper.

Dentro havia um cilindro de metal de sessenta centímetros de comprimento, com uma ponta de cada lado, zumbindo de energia... O Raio-mestre.

- Megan? Como... - gaguejava Jake.

- E-eu... Não faço ideia. - falei.

– Vocês, heróis, são sempre iguais – disse Hades. – Seu orgulho os torna tolos, achando que podem trazer uma arma as sim diante de mim. Eu não pedi o raio de Zeus, mas já que ele está aqui, você o entregará a mim. Tenho certeza de que será um excelente instrumento de barganha. E agora... o meu elmo. Onde está?

Eu estava sem fala, eu havia sido usada, nada fazia sentido, pensara o tempo todo que Hades era o vilão da história. Mas nada se encaixava, não fazia ideia de como o raio de Zeus havia parado na minha mochila e...

Alguém fizera Zeus, Poseidon e Hades quererem a caveira um do outro. O raio-mestre estava na minha mochila, e eu recebera a mochila de... Ares.

- Espere! - exclamei jogando a mochila para Jake. - Senhor Hades, houve um engano!

- Engano?! - rugiu Hades.

Recuamos.

- Não há engano nenhum, sei muito bem porque você veio, Garota! Não brinque comigo! - vociferou ele.

- O Senhor não respondeu minha pergunta... Se eu queria o raio e o já tinha... Por que iria traze-lo até você? Não faz sentido, percebe?

Ele forçou os dentes um contra o outro.

- Para negociar, é claro! Para uma troca! - berrou ele.

- Pelo o que?! - gritei de volta.

Hades soltou uma bola de fogo dourado da palma de sua mão Ela explodiu nos degraus diante de mim. Então senti minhas pernas bambas, eu cai no chão diante da figura flutuando. Viva. Na minha frente.

 Aqueles olhos... Verdes.

Um Garoto de cabelos negros e olhos verdes, ele era igual a mim, usava um tênis da Nike surrado e sujo de lama, seu rosto arranhado, ele gemia, os braços abertos e as pernas juntas formando uma cruz, a cabeça pendia para frente, os cabelos molhados pingavam de suor. Pela aparência, parecia ter a idade de Luke. Ele estava vivo... Ele era... Real. 

Então um pensamento realmente me deixou estática. Não eram simples flashes, ou visões irrealistas. Eram lembranças de um passado. Algo que nunca aconteceu... Não... Algo que eu simplesmente não me lembro. Não me lembro porque perdi a memória.  E Esqueci tudo... Nome, família... 

Haviam fios dourados brilhantes flutuando há centimetros de sua pele. Em seus pulsos e tornozelos, prendendo-o no ar. Parecia inofensivo, mas pelo poder irradiado pelo deus da morte, aqueles fios pareciam-me mortais.

Era como se o meu coração estivesse sendo rasgado ao meio.

O Garoto reclinou a cabeça par ame encarar, meus olhos estavam molhados de lagrimas... Mas eu ainda não sabia... Quem era ele? Ele deu um meio sorriso forçado e disse alguma coisa que depois de um tempo só pude distinguir como:

"Cabeça de Alga..."

Eu queria chorar, ainda no chão me arrastei um pouco para frente.

Minha cabeça estava quase explodindo de dor, me forçando a me lembrar dele... Mas simplesmente não conseguia.

Seria doloroso, mas eu me forcei a levantar.

Sabendo o que tinha que fazer.

 Me virei para os meus amigos, a mochila agora estava nas costas de Jake. Procurei algo no meu bolso, e estendi a eles. Três pérolas de Perséfone.

- Quando eu disser... Façam. - falei.

- O que?! - exclamou Hansel. - Megan... Não pretende.

- O que pertence ao mar, volta ao mar... Vocês entendem? - perguntei. 

Jake olhou para a perola em sua mão.

 - Sim. - disse ele.

- Não do jeito que eu entendi. Você vão... Eu fico. - falei.

- Mas... - Silena começou.

- Confie em mim... - falei. dando um meio sorriso. - Sei o que estou fazendo.

- Você esta louca, Megan... - disse Jake.

- Só dessa vez... Apenas Confie. - falei.

Ele acenou com a cabeça.

Me virei para o garoto.

- Eu vou voltar para te buscar. - falei. - Eu prometo.

Pensei na profecia feita na Colina Meio-Sangue, que parecia ter sido um milhão de anos atrás.

E na Salvação daquilo que há de mais valor, no final, Irá fracassar.

É... Eu fracassei... Mas tinha que descobrir porque havia tanto valor... E eu iria, mas agora...

– Vou encontrar o seu elmo, tio – disse a Hades – Vou devolvê-lo. Lembre-se do aumento de salário de Caronte.

– Não me desafie... 

– E não faria mal brincar com Cérbero de vez em quando. Ah! Ele gosta de bolas de borracha vermelhas. - lembrei.

 - Você não..

- VÃO! - gritei.

O exército de esqueletos avançou, espadas desembainhadas fuzis engatilhados no modo totalmente automático. As Fúrias mergulharam, os chicotes explodindo em chamas. Exatamente quando os esqueletos abriram fogo, os fragmentos; de pérola explodiram em luz verde e uma rajada de ar fresco do mar.

Meus amigos foram encapsulados, em uma esfera branca leitosa que começava a flutuar para fora do chão.

"Concentre-se" fechei os olhos e disse a mim mesma.

As Fúrias vinham em minha direção.

- Concentre-se... Concentre-se... - murmurava para mim mesma.

Levei minha mão até o colar no meu pescoço, segurei o pingente de concha com força.

Ouvi Silena gritar, mas seu grito foi abafado.. E eu soube que eu tinha sobrado.

Naqueles únicos segundos eu me repetia a mesma coisa...

Agora só restava rezar para os deuses que meu plano desce certo.


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Notas finais do capítulo

Acho que vou surpreender vocês com os últimos capítulos desta história.... Acho.... Enfim.... Comentem o que acharam... como eu fui? Me sai bem?



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