Entre o amor e a morte escrita por Anne Lestrange, K Martins


Capítulo 3
Capítulo 3 - A colheita


Notas iniciais do capítulo

Quanto mais você se importa, mais você tem a perder. (JK Rowling)



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– Johana Mason!

Ouvi meu nome ecooar pelo microfone. Isso não podia estar acontecendo. Deixei sem querer uma lágrima escorrer pelo meu rosto. O medo pairava sobre meu corpo, mas eu o mandei para longe. Não era hora de sentir medo. Se eu estava no jogo, tinha que jogar e principalmente tinha que ganhar.

Todos os olhos estavam em mim. Sentia aqueles olhares tenebrosos e misericordiosos percorrendo todo o meu corpo, a cada passo que eu dava, a cada virada de cabeça, eles mo olhavam como uma pessoa já morta. Não olhei para trás, não queria ver meu irmão ou minha mãe nesse momento, muito menos ter encontrar o olhar do Liam no meio dos garotos. Tudo que eu queria era pensar de alguma forma em algo bom, em algo que era melhor para mim. Me dirigi lentamente até o palco. Era como uma marcha fúnebre. Subi pouco e Kento já estava agarrando minha mão, me cumprimentando. Era engraçado, ele tinha as mãos lisas como pele de bebê enquanto as minhas com apenas dezesseis anos eram ásperas devido aos calos que os machados faziam. Eu fiquei de pé, do lado dele enquanto ele sorteava o próximo tributo.

– E o nosso tributo do Distrito 7 é...- Kento falava, mas só queria me manter no jogo e não pensar no que aquilo significava. Apenas ficar viva. Não tinha porque esconder as lágrimas, todos já achavam que eu já não tinha chances então iria faze-los acreditar nisso. - Tam tam tam. - Kento cantarolou enquanto tirava um papel, ele o leu. - Liam Rimes.

Essa não! Justo ele. Não, tinha que ser mesmo. O destino já traçara planos terríveis para qualquer tributo, eu sou apenas mais uma com uma estaca já enfiada no peito. Todos olhavam espantados ao redor a procura do jovem. Do meio das filas um jovem saiu, ele era praticamente o dobro de mim. Loiro, alto e forte. Naquele momento eu não sabia se chorava ou se corria para abraça-lo. Não fiz nenhum dos dois, apenas permaneci forte, firme e intacta. Não vou demonstrar nenhuma emoção com essas câmeras aqui, não vou dar o que eles querem. Mas todos já sabiam, mesmo eu e nem ele demonstrando nada. Eles já sabiam da nossa história.

Era sempre assim depois que alguém era selecionado na colheita, esse silêncio era como aquele um minuto de silêncio para alguém que partiu. Soava como a morte. O silêncio doía.

Liam subiu ao palco. Sequer olhou para mim. Kento o cumprimentou, e ele se despediu das pessoas do Distrito 7. Era o fim do show. O hino da Capital começou a tocar e os pacificadores escoltaram os tributos para dentro do prédio.

Respirei fundo e tentei inalar aquele cheiro me perguntando se sentiria mais alguma vez, o cheiro de casa, cheiro da floresta, talvez se a arena tivesse uma floresta eu, nós teriamos uma chance, mesmo que remota, mas era uma chance. Afinal praticamente todos os anos os tributos dos distritos 1 e 2 sempre ganhavam os jogos, eles são chamados de os especialistas, eles meio que tem um tratamento especial da Capital, os jovens já são treinados para os jogos desde de pequeno, são treinados para matar.

Matar.

Uma lágrima escorreu do meu rosto. Respirei fundo e mantive o controle, tinha que manter o controle e fazer o meu próprio jogo.

Fui levada para um sala, tinha um sofá e uns móveis bem luxuosos comparados aos da nossa casa. Eu pensei no meu pai, na minha mãe, no meu irmão. Meu pai havia ensinado tudo que ele sabia para nós dois, ele tinha medo que um dia isso acontecesse, ele queria que estivessemos preparados para o pior. Não que isso me desse muita chance, eu não era realmente boa com facas, ainda confundia muito das plantas comestiveis com as venenosas, e nem era muito forte, meu irmão sim era bom, ele nunca errava o alvo, sabia o que comer e o que não poderia de jeito nenhum tocar nossas bocas. Mas eu era rápida e sabia como usar um machado, mas acho que saber a maneira certa de se derrubar uma arvore não faz você ganhar os jogos.

Acho que nem mesmo meu pai acredita que eu tenho chances de ganhar esse jogo. Eu ouvi alguém chorando e a porta da sala se abriu, minha mãe foi a primeira a entrar, ela me abraçou forte e disse algumas milhares de vezes o quanto me amava, o meu irmão estava do lado dela e ele estava com os olhos vermelhos também, eu nunca havia o visto chorar. Quando minha mãe me soltou ele me abraçou e sussurrou no meu ouvido.

– Vou sentir sua falta monstrenga. - Eu queria sorrir, eu odiava e amava secretamente esse apelido, mas aquilo não era um "até logo", era um "adeus".

– Não conte com isso monstrengo, sou forte e rapida esqueceu? Posso derrubar uma arvore. - Fiz um gesto mostrando os meus musculos com uma cara de mal. Ele riu e me abraçou forte. Despedindo-se.

– O tempo acabou! - Disse um pacificador que tinha uma expressão de tédio, todos eles pareciam tão iguais, meio sem sal. Claro, até imagino por que.

Meu irmão puxou minha mãe para fora da sala e as portas se fecharam. Eu não esperava por mais ninguém, meu pai estava trabalhando na floresta e Liam estava na sala ao lado, eu não esperava que as garotas da escola viessem me ver, não que não fossemos amigas, sempre estávamos rindo e tirando sarro das roupas que o pessoal da Capital usava quando aparecia por aqui. Amizades eram divertidas, então o que nos iriamos dizer numa situação como essa?

A porta se abriu novamente e ali estavam três garotas, todas eram muito parecidas, morenas, olhos castanhos, elas entraram na sala, ficamos em silêncio por alguns segundos que pareceram horas, elas me olhavam com aquele olhar que machucava, o olhar de pena, eu sabia o meu destino, mas não queria que ninguém me olhasse desse jeito.

Então Kath a mais miudinha das três me abraçou e sussurrou no meu ouvido:

– Eles dizem que você não tem chances, mas você é durona, eu sei disso. Eu acredito em você. É isso que as amigas fazem não é? Acreditar uma nas outras.

Sim, é isso que elas fazem. Como eu fui burra por duvidar delas nesse minimo minuto. - Oh, Kath! - Abracei a pequenina com todas as minhas forças, como se aquele fosse meu último abraço.

A mais alta de todas que ficara em silêncio até o momento, de repente entrou no meio do abraço aos escândalos, chorando e gritando.

– NÃO, NÃO SE VÁ. A GENTE DA UM JEITO. PODEMOS ARRUMAR ISSO! Eu posso te esconder. Posso te colocar dentro de uma mala ou alguma caixa, deve ter alguma por aqui. - Disse já procurando desesperadamente por algo. - Eu saio andando normalmente como se nada tivesse acontecido, eles iriam perceber tarde demais, nisso eu já teria te escondido e... – Ela falou tudo muito rapido com um tom de desespero, era tenebroso o modo como ela estava levando a sério tudo aquilo. Penso como ela se comportaria nos Jogos. Seria de certa forma... Engraçado, eu acho. Mas não duraria muito. Ela era o tipo de pessoas com coração de ouro. Eu sorri ao pensar o quanto as pessoas na minha vida eram incríveis, mas logo em seguida meu sorriso vacilou ao perceber que logo isso tudo só seria uma vaga lembrança em minha mente.

– Amy, ô Amy! – Eu puxei Kath e Amy que estava aos prantos para um abraço, logo Tina a mais forte de nós quatro se juntou ao abraço coletivo. Nós quatro juntas uma última vez. Eu capturei aquele momento na minha mente. - Prometam que irão lembrar de mim pelos bons momentos que passamos juntas ok?

– Prometemos!

–O tempo acabou! - O pacificador com cara de tédio entrou na sala novamente. Eu soltei Kath e as meninas saíram da sala. Nesses míseros segundos meus olhos já estavam cheios de lágrimas, mas eu contive a emoção. O pacificador se dirigiu a mim. – Você segue comigo daqui para a frente. – Eu concordei com a cabeça e o segui até o corredor, onde Liam saia da sala ao lado com outro pacificador. Nós trocamos olhares e mantemos o silêncio. Os pacificadores continuaram andando e nos os seguimos.


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Notas finais do capítulo

Então, o que estão achando? Agora as coisas vão começar a ficar emocionantes. *-*



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