Mudaram o cenário e colocaram a sala outra vez, Sophi foi pra lá junto com a Lucy (ela tinha uma marca de arranhão no braço, é a Annie fez o seu trabalho muito bem) e a Camila, e me escondi esperando a minha deixa e a cortina voltou a se abrir.

– Você vai mesmo mandá-la embora? – Lucy perguntou a Sophi parecendo animada.

– Sim.

– Já vai tarde – Camila garantiu.

– Também acho – Lucy concordou. – Por que a senhora demorou tanto mamãe?

– Eu estava resolvendo a nossa vida, mas agora que falta tão pouco eu posso me livrar da Minhoca contorcida e colocar a mão no dinheiro dela ao mesmo tempo! Falando nisso, cadê ela? Cindy dessa já aqui! Eu não tenho o dia todo!

Não respondi, apenas fui até lá e parei de frente pra elas.

– Onde estão suas malas? – Sophi perguntou impaciente.

– Eu não vou – disse simplesmente.

– Como é? Ficou louca de vez?

– Não, apenas descobri que você não tem o mínimo de poder para mandar em mim.

– É mamãe, ela ficou louca – Lucy se intrometeu.

– De onde você tirou essa baboseira? Você sabe muito bem que posso te mandar para a o fim do mundo se eu quiser!

– Não, não pode – garanti – E você sabe disso, meu pai me emancipou aos quinze anos e eu não lhe devo satisfações da minha vida, na verdade eu posso expulsa-las dessa casa afinal ela é minha.

– Mamãe do que ela está falando? – Lucy perguntou apreensiva, mas Sophi não respondeu, ela estava muito ocupada me encarando com os olhos arregalados.

– De onde você tirou toda essa baboseira? – ela perguntou quando se recuperou do choque.

– Do testamento do meu pai e o Dr. Jenkins, o advogado da família, vai vir aqui para ver se você vai ou não para a cadeia por omitir algo como isso.

– O que!? – Lucy e Camila perguntaram juntas – Cadeia!?

– Fiquem calmas meninas, isso é loucura e... – o som da campainha a interrompeu.

– Olha – disse sorrindo – Ele chegou.

Abri a porta e um garoto cujo nome eu não me lembrava agora entrou, vestindo um terno preto e carregando uma pasta.

– É bom vê-la outra vez Srta. Collins – ele sorriu.

– Digo o mesmo Dr. Jenkins. Então como vamos fazer isso? Eu preciso acusá-la? – perguntei e Sophi engoliu em seco.

– Só se a senhorita quiser, afinal a Sra. Belmont tinha total conhecimento de tudo, então se você não passou seus últimos anos nessa casa por livre e espontânea vontade você pode sim acusá-la.

– Espera Cindy – Sophi pediu – Você não vai mesmo fazer isso, vai? Eu cuidei de você! Eu estava brincando! Você não pode!

Eu bem que queria dizer que podia sim e tudo mais, mas eu não sou um ser humano horrível e também isso não está no roteiro.

– Não, não vou – garanti – Mas você vai sair da minha casa com suas monstrinhas e me deixar em paz! E...

– CINDY! – Annie apareceu do nada gritando – Cindy! – Quando me viu parou de gritar – Graças a Deus você não foi, você não pode! Nós vamos dar um jeito e...

– Eu não vou – garanti – Mas elas vão – disse apontando para Sophi, Lucy e Camila.

– Como é que é? – ela quis saber.

– Longa história – disse – Mas depois te conto.

– Ótimo, por que tem alguém que quer te ver.

– Alguém que quer me ver? Quem?

– Ele – Annie disse sorrindo e Nick surgiu de trás da cortina fazendo meu coração errar uma batida.

– Vamos – o garoto cujo nome eu não lembrava nem me importava chamou Sophi e a dupla de vacas – Temos algumas coisas para discutir.

– Eu vou perder tudo? – Sophi quis saber o acompanhando.

– Nós vamos ficar pobres? – Camila perguntou e ela e Lucy os seguiram. – Tipo, pobres mesmo?

– Aparentemente sim, todo o dinheiro que vocês usavam era do Sr. Collins e consequentemente pertence à Cindy agora, então é, vocês estão pobres. Agora vamos.

E eles entraram para trás da cortina, Lucy não parecia muito feliz em fazer isso, mas foi assim mesmo.

Nick ainda estava parado do outro lado do palco me encarando.

– Vou deixar vocês dois a sós – Annie disse e sumiu tão rápido quanto apareceu.

– Então você é a minha tão famosa garota mistério? - ele perguntou com um meio sorriso.

– Como você...? Foi a Luna, não foi? Quem te contou?

Seu sorriso aumentou.

– Ela só me ajudou a enxergar o óbvio, aquilo que estava na minha frente o tempo todo – disse e começou a caminhar na minha direção, se minhas pernas ainda se mexessem eu teria recuado.

– Então você sabia que era eu? – perguntei arqueando uma sobrancelha, apesar das minhas pernas terem perdido a função motora eu tinha que continuar a peça.

– Eu sabia que já tinha te visto em algum lugar, e você tinha camarão no cabelo – comentou divertido me fazendo sorrir também.

– Ouvi dizer que fazer bem – dei à mesma resposta que da primeira vez.

– Depois me convidou para dançar.

– E você disse que não sabia – acusei.

– E depois me deixou sozinho naquele banco – disse a menos de um passo de mim.

– Eu tinha que ir – murmurei sentindo o meu coração acelerar.

– Acho que isso é seu Cinderela – ele disse tirando o meu colar do bolso – Não é a primeira vez que a Cinderela perde alguma coisa.

Meu sorriso aumento e eu achei que fosse ter uma parada cardíaca, por que eu sabia do que ele estava falando, afinal essa fala não estava no roteiro, era da noite no beco quando perdi o meu sapato.

Eu não respondi, apenas assenti e ele passou direto e parou bem atrás de mim, passou o colar pelo meu pescoço e eu levantei o cabelo para ajudá-lo.

– Obrigada – agradeci sorrindo e ele terminou de prender o meu colar e me virou para encará-lo.

– Não tem de que, Meu Anjo. – sorriu e se aproximou de mim, nossos lábios estavam a menos de um centímetro e...

– Cindy! – Annie gritou nos interrompendo e eu dei um pulo me afastando de Nick – Eu não acredito que você se livrou da bruxa keka de farmácia!

– Valeu mesmo Luna – murmurei suspirando e ela riu.

– Achei que estaria feliz.

– E eu estou, me livrei da bruxa keka de farmácia e de quebra da Mary e da Mara, e também encontrei meu príncipe encantado.

Ela riu.

– Não falei que valeria a pena seguir seus sonhos? E por falar nisso eu também encontrei meu príncipe – sorriu e foi abraçar o Bê.

– O final perfeito? – Nick perguntou aparecendo ao meu lado.

– Não, o começo perfeito – disse sorrindo e a melodia da nossa ultima música começou.

– (Eu)
Na na na na ... na na na na
É, você é a música em mim...
Você conhece as palavras: "Era uma vez..."
Elas te fazem ouvir, tem uma razão.

Quando você sonha, você tem uma chance pra encontrar
Um pouco de risada ou felicidade para sempre

Eu comecei a cantar e fui andando pelo palco com Nick atrás de mim, quando a minha parte acabou ele segurou a minha mão e me girou para que eu ficasse de frente para ele e começou a cantar comigo.

(Eu e Nick)
Você é a harmonia pra melodia,
Que está ecoando dentro da minha cabeça.

(Eu)
Uma única voz

(Nick)
Única voz

(Eu)
Acima de ruídos

(Eu e Nick)
E como um amigo comum.

(Nick)
Hum, você está me puxando

(Eu)
Quando eu ouço minha música favorita,
Eu sei que nós nos pertencemos,

(Nick)
Ah, você é a música em mim!

É, Ela vive em todos nós,

(Eu)
E nos trouxe aqui, porque

(Nick)
Porque

(Eu e Nick)
Você é a música em mim!

Na na na na

(Nick)
Oooh

Na na na na

É, é, é

Bem nessa hora todo mundo voltou para o palco e quando eu digo todo mundo é todo mundo mesmo, Annie, Lucy, até mesmo Kate, Damon e Jason, o pessoal do som, os coadjuvantes e todos mais, esse era, como a professora gostava de dizer o gran finale e também a parte da peça com a coreografia mais complicada, mas valia a pela ver todo mundo girando e dançando pelo palco.

(Eu e Nick)
Você é a música em mim!

(Eu)
É como se eu te conhecesse

(Nick)
Antes de nos encontrarmos!

(Eu)
Não posso explicar isso, não tem nome

(Nick)
Sem nome pra isso!

(Eu e Nick)
Eu cantei pra você palavras que nunca tinha dito

(Nick)
E isso foi fácil,

(Eu)
Tão fácil.

(Nick)
Porque você vê o real em mim,

(Eu)
Eu vejo.

(Nick)
Como eu,

(Eu e Nick)
Você entendeu,
E isso é mais do que eu sempre soube.

(Eu)
Escutar sua voz,

(Nick)
Escutar sua voz,

(Eu)
Acima de qualquer ruído,

(Eu e Nick)
E eu sei, eu não estou sozinho!

(Eu)
Ah, você está cantando para mim

(Nick)
Ah, é

(Eu e Nick)
Quando ouço a minha canção favorita
Eu sei que nós pertencemos
Você é a música em mim
Está vivendo em todos nós
E isso nos trouxe

(Nick)
Aqui, porque

(Eu)
Aqui...
Você é a música em mim.

(Eu e Nick)
Juntos vamos cantar
Nós temos o poder

(Nick)
Para cantar o que sentimos

(Eu)
O que sentimos

(Nick)
Conectado e real

(Eu)
Não é possível manter tudo dentro (ooh)

(Todo mundo)
Na na na na (ah, é)
Na na na na (ah, é)
(é, é, é) Na na na na
Você é a música em mim!
Na na na na (ah, é)
Na na na na (ah, é) Na na na na
Você é a música em mim!

(Todo mundo)
Quando eu ouço minha música favorita,

(Nick)
música favorita!

(Todo mundo)
Eu sei que nós nos pertencemos,

(Eu)
nos pertencemos!

(Todo mundo)
Ah, você é a música em mim!

(Nick)
Ela vive em todos nós,
E nos trouxe pra aqui, porque

(Eu)
aqui porque

(Nick)
Você é a música em mim!
Na na na na (ah, é)
Na na na na (ah, é)
Na na na na

(Eu e Nick)
Você é a música em mim!

Assim que a música terminou Nick e paramos a menos de um centímetro do outro, mas dessa vez nada o impediu de fazer o que eu tanto quis a noite toda, me beijar. E foi isso que ele fez, sorriu e acabou com a distancia entre nós me beijando.

E eu pude ouvir os aplausos e alguns assovios, tanto da platéia quanto do pessoal atrás de nós, mas não me importei afinal estou fazendo coisa muito melhor.

Quando nos separamos a contra gosto, diga-se de passagem, por falta de ar eu corei, por que só ai me lembrei que ainda estávamos encima do palco.

O pessoal riu um pouco as nossas custas, mas ainda assim nos formamos aquela “linha” estranha no palco (ficando um ao lado do outro) para podermos agradecer, e assim fizemos.

Os aplausos aumentaram e eu sorri um pouco mais, a peça tinha sido um grande sucesso.

Estávamos prestes a sair do palco quando Nick nos interrompeu.

– Esperem – ele pediu e todos nos viramos para encará-lo - Eu sei que esse não é o melhor lugar para fazer isso e que se eu levar um fora aqui vai ser algo astronômico, mas acho que essa é a melhor forma de dizer isso – ele riu sozinho e eu paralisei, será que ele vai fazer o que eu acho que ele vai fazer? – Pouco antes de a peça começar eu estava conversando com uma garota muito linda. E eu fiquei meio magoado quando ela perguntou se eu gostava dela, por que eu achava que tinha deixado claro o quanto ela era importante pra mim na declaração sem muito nexo que eu fiz pra ela pouco antes disso. - Eu ri e ele se virou na minha direção. - Ela tinha me perguntado se eu também gostava de dela, e a resposta é que eu nunca gostei de ninguém como gosto de dela, ela consegue ser linda, histérica, resmungona, fofa, estranha e muito mais de uma única vez, adoro seu sorriso, o jeito que está sempre disposta a ajudar todo mundo e eu poderia passar o resto da noite listando as coisas que gosto nela, mas quero perguntar aqui, em cima desse palco, já que eu não arrumei lugar mais constrangedor para fazer isso, se ela, Mellyssa Carter aceita ser minha namorada?

O encarei assim que ele parou na minha frente e sorri.

– Primeiro eu não sei se você está me elogiando ou me ofendendo, e segundo achei que nunca fosse perguntar! A resposta é sim, sim e sim! – meio que gritei e me joguei em cima dele para beijá-lo, depois disso tudo eu não podia fazer muito mais que gostar mais desse loiro idiota do que já gostava.

E no fim a noite que começou de forma pior impossível, acabou sendo uma das melhores da minha vida!