Um beijo calmo e profundo apesar das circunstancias, nossas línguas travaram uma batalha e eu podia sentir o gosto de menta da sua boca. Tudo está perfeito.

Mas ai tivemos que nos separar por falta de ar.

E a primeira coisa que fiz depois de recuperar a sanidade foi desferir um tapa na cara dele.

– O que você pensa que está fazendo!? – gritei.

– Eu bem, só... – ele se embaralhou com as palavras enquanto a massageava a bochecha esquerda.

– Idiota! – gritei e sai correndo da sala e quase tropeçando nas escadas que davam para os quartos.

Entrei no quarto fechei a porta e me apoiei nas costas da mesma ainda ofegante, mas não sei se é por causa da corrida ou do beijo. Só de lembrar do gosto daqueles lábios meu coração já disparou, o que está acontecendo comigo?

– Cadê o seu celular? – Kate perguntou, só agora me dei conta de que ela ainda está acordada (Annie e Sophi já estão dormindo).

– O que? – perguntei ainda tentando organizar meus pensamentos.

– O seu celular, você não foi lá à sala procurar por ele?

– Há, eu bem, não o achei – menti. Nem se quer me lembrava dele.

– Tudo bem, amanhã te ajudo a procurar. Mas você está bem?

– Sim. Por que não estaria? – a pergunta soou tão irônica que eu quase sorri.

– Sei lá, você chegou ofegante e com os olhos arregalados, parece até que viu fantasma.

Quem dera tivesse sido um fantasma, pensei, mas não disse nada.

– Em todo caso, vou tomar um banho, talvez ajude – murmurei essa ultima parte.

– Tudo bem – disse por fim e se jogou outra vez na cama e eu segui para o banheiro ainda sentido a batida do meu coração nos ouvidos.

Tomei um banho quente ainda tentando acalmar os nervos, não que eu nunca tenha beijado um garoto, é só que por algum motivo nenhum deles nunca me deixou assim a beira de um colapso nervoso.

Respirei fundo uma ultima vez voltando ao “normal”, vesti o meu pijama e me joguei na cama tentando esquecer Nick e o tal beijo. Mas, por algum motivo eu tenho certeza que vou sonhar com certos olhos azuis. Suspirei. Nem dormir em paz eu posso mais?

Acordei ainda morta de preguiça, me sentei na cama e percebi que Sophi e Annie já estavam acordadas e conversando.

– Eu achei fofo – disse Annie.

– Foi fofo – Sophi concordou.

– O que foi fofo? – perguntei e elas se viraram pra min.

– A Kate cantando ontem – Annie disse sorrindo.

– Foi mesmo - concordei - Mas ela não foi à única que foi bem, vocês também estavam lindas.

– Obrigada, mas nem pense que vai escapar, você também estava ótima.

– Mas e as indiretas? – Kate perguntou sentada em sua cama coçando o olho direito.

– Me diga você – Sophi provocou.

– Do que está falando? – Kate se fez de desentendida, mas estava ficando vermelha.

– Acha que nós não vimos? – Annie perguntou travessa – Você cantou aquela música para o Jason não foi?

– Claro que não, de onde vocês tiraram isso?

– Sei... – Sophi riu.

– Mas e você Sophi? – Kate jogou a bomba para o lado dela.

– O-O Q-Que que tem eu? – ela gaguejou e estava corada, é realmente tem alguma coisa ai.

– Nos diga você – sorri – Afinal para você e Damon terem demorado tanto tempo para buscar o karaokê algo deve ter acontecido... Em?

– Não sei de nada – se defendeu.

– Serio mesmo? Não aconteceu nada? – Kate perguntou decepcionada.

– Nósnosbeijamos – Sophi disse tudo de uma vez.

– O que? – perguntamos as três sem entender nada.

– Eu disse que nós nos beijamos.

– Como assim se beijaram? – perguntei.

– Com a boca sabe? – perguntou irônica e eu taquei um dos meus travesseiros nela.

– Eu sei que foi com a boca – disse revirando os olhos – Mas quero saber como aconteceu.

– Eu também! – disseram Annie e Kate ao mesmo tempo.

– Tudo bem – ela suspirou – Nós saímos para pegar o karaokê e como eu meio que tinha o arrastado comigo fiquei sem saber o que fazer depois disso, então seguimos pelo corredor em um silencio muito constrangedor, só que eu não tinha nem idéia do que falar para quebrá-lo.

– Você sem saber o que falar é novidade – Kate riu.

– Fica quieta e deixa ela continuar – Annie disse.

– Então – Sophi continuou – Nós chegamos ao deposito da sala dos professores e entramos, e só pra vocês saberem aquele lugar alem de apertado e bagunçado, é muito sujo e cheio de coisas que eles confiscam de nós, mas enfim voltando a história, nós entramos e nos deparamos com um monte de coisas e levou um tempo até acharmos o bendito karaokê, e essa foi uma das razões para demorarmos a voltar, quando finalmente o achamos vimos que ele estava no alto de uma das prateleiras e então o Damon teve a brilhante idéia de eu subir nos seus ombros para pega-lo, eu subi, peguei e desci rápido e fácil de mais, mas quando estava preste a me virar para sair da sala escorreguei e ele me segurou pelo braço me fazendo ficar perto até de mais dele, ficamos nos encarando por uns 2 minutos até que ele se aproximou e disse “Se não me impedir eu vou te beijar, será que tem problema?” eu sorri e ele me segurou pela cintura e me beijou.

– Ok, por essa eu não esperava – disse Kate.

– Eu sim – me manifestei – Até por que meu irmão não vale nem uma moeda de 10 centavos.

Todas me olharam sem entender.

– O que foi? – perguntei sorrindo divertida – Eu não disse nenhuma mentira, e não foi você quem disse que não se importava de ser minha cunhada, em Sophi?

– Não nesse sentido, queria que você ficasse com Nick e não eu com o Damon. Tudo bem que eu não estou reclamando, até por que ele pode ser seu irmão, mas beija super bem – ela sorriu travessa - Mas e falando nisso e a sua música em Mel?

Droga! Não devia ter dito é nada.

– É claro! – disse Kate do nada – Algo aconteceu ontem à noite quando você voltou para pegar o seu celular né?

Não, não, não, não.

Só a lembrança da noite anterior fez as minhas bochechas corarem e meu coração disparar.

Mas que merda é essa? Calada consciência agora não, por favor.

– Sabia – disse Kate sorrindo da minha possível cara de “Merda, ferrou!”.

– Você é o Nick? – Sophi perguntou sorrindo – Serio mesmo?

– Não aconteceu nada – menti.

– Nunca disse que tinha acontecido – Kate sorriu. Droga!

– E então? – Annie perguntou, até ela?

– Nósconversamoselemebeijouedepoiseubatinele – disse tudo de uma vez como Sophi havia feito há uns minutos atrás.

– Que? – perguntaram as três juntas.

– Eu disse que nós conversamos, ele me beijou e depois eu bati nele.

– Ok, agora eu preciso saber a versão completa – disse Sophi sorrindo.

Suspirei e tentei argumentar, mas no fim tive que contar a coisa toda pra elas.

O resto do domingo passou arrastado e comigo evitando Nick de todas as formas possíveis, chegando ao ponto de não poder ficar a sós com ele uma única vez, e nem passarmos mais de 20 minutos na mesma sala. Sei lá, acho que não sei o que dizer pra ele depois daquilo.

– Se estão aqui é por que eu sei que, de alguma forma vocês tem algum talento e são capazes – disse a Sra. Laurence, nós estávamos sentados nas cadeiras do auditório a encarando enquanto ela fala. A parte boa do dia? Já tive todas as aulas e nenhuma foi com o Nick (sim, ainda não falei com ele e nem sei se pretendo). A parte ruim? Agora vão começar os ensaios para a peça e querendo ou não eu vou ter que encara-lo. Mas, cheguei à conclusão de que de algum jeito ele também está me evitando. E a pior parte disso tudo é ver ele se esfregando com a Lucy a cada minuto e não poder fazer nada sobre isso – Espero que possamos trabalhar bem, e tenho certeza de que nossa peça será mais um sucesso aqui da Martinelly High School.

Ela provavelmente disse alguma coisa para “animar o pessoal” a qual eu não tenho nem idéia do que seja.

– Certo! – disse a professora novamente com uma animação saída sabe se lá de onde – Vamos começar com isso! Os atores aqui no palco e os que ficaram responsáveis por luz, som e figurino vão com o Mark – ela disse apontando para um garoto moreno de olhos castanho e meio magricela, mas com um sorriso no rosto – Eu como todos sabem vou ser a diretora da peça e ele será o nosso contra-regra, qualquer duvida podem tratar tanto comigo quanto com ele.

O pessoal que não ia atuar foi com o Mark para trás das cortinas provavelmente para combinarem quem ia fazer o que.

– Como já deixei bem claro – a professora começou – A peça será um musical, consequentemente terá músicas e muitas delas serão cantadas pelo casal principal - ela disse olhando para o loiro viadinho e para a puta oxigenada também conhecidos como Nicolas Mackenzie e Lucy Mecfly – Vamos começar por ai, tentar para ver como as músicas vão sair e depois ensaiar as falas propriamente ditas. Agora peguem seus scripts aqui – ela disse começando a distribuí-los.

Eu e as meninas (Annie e Sophi) e Bê nos sentamos no palco mesmo só que nas beiradas para dar espaço para o casalzinho.

– Vamos tentar o dueto do baile, como eu sei que ambos cantam bem separadamente, temos que ter certeza que conseguem fazer isso como um casal.

– Vai ser moleza – Lucy se vangloriou e eu apenas revirei os olhos.

– Espero que sim Srta. Mecfly – a professora sorriu.

– Certo? – ela perguntou e ambos acenaram positivamente com a cabeça – Podem começar.

A melodia começou e Lucy foi a primeira a cantar e tenho que admitir a vaca canta bem, a segunda parte começou e Nick entrou, eles até estão indo bem, mas por algum motivo a coisa não está funcionado como devia eles já estavam quase chegando ao refrão quando a voz da Lucy começou a ficar mais fina do que já era e muito mais desafinada, ela parou de cantar subitamente e começou a tossir.

– Parem a música! – gritou a professora para quem quer que esteja cuidando da música – Lucy você está bem?

Ela tossiu mais um pouco antes de falar.

– Sim professora – ela disse e sua voz saiu entrecortada não passando de um sussurro.

– Não, não está! – a professora disse severamente olhando feio pra ela.

Ela tentou gritar mais nada saiu e eu e as meninas tivemos que nos segurar muito para não cair na gargalhada. Já Bê parecia um pouco mais serio, só parecia também.

– Não, não, não isso não pode estar acontecendo – a professora não parecia nada bem – Lucy vá para a enfermaria agora! – Lucy tentou protestar, mas nem voz ela tinha quem dirá argumentos.

Lucy saiu desfilando emburrada sendo seguida por sua amiguinha, em minutos já estavam fora do auditório.

– Ótimo! Como vamos ensaiar agora sem a atriz principal? – a professora perguntou para ninguém em especial andando de um lado para o outro no palco. Do nada ela se virou pra min com um sorriso no rosto – Mellyssa! Vem aqui você vai substituir a Lucy.

– O que? – perguntei chocada, eu nunca quis participar da peça e agora ela quer me colocar como atriz principal? Isso só pode ser brincadeira.

– Isso mesmo que você ouviu, no centro do palco agora!

– Mas... – tentei argumentar enquanto a professora me puxava para o centro do palco.

– Nada de, mas, apenas cante – ela disse me entregando uma folha de papel com a letra da música.

Encarei Nick de frente pela primeira vez desde sábado e tinha quar ser logo aqui? Encima de um palco e cercados de gente?

– Vamos Mel – a professora me encorajou. Só que esse “encorajamento” não serviu de muita coisa – Música, por favor - ela pediu ao ser invisível que cuidava da música.

A melodia começou e eu congelei só que dessa vez não foi por medo ou vergonha, foi pelo simples fato de ter que encarar Nick e ainda por cima cantar com ele.

É me dei bem.

Afinal era só o que me faltava.