O Lado Cinzento escrita por Karinchan


Capítulo 6
Sou humano




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5. Sou humano…

“E o que o ser humano mais aspira é tornar-se ser humano”

Clarice Lispector

Os meus pais biológicos e os Black ainda ficaram mais um pouco fazendo companhia a mim e à Rose, mostrando um bom humor que não imaginava que eles tivessem. Ainda prometeram apresentar-me Hogwarts, caso eu ficasse tempo suficiente para os alunos saírem de Hogwarts para as férias do Natal porque, aparentemente, eu estava de castigo. Não era de castigo, no sentido literal da palavra mas castigo, no sentido de que a minha existência era um segredo para a imprensa bruxa para eu puder ter um pouco de paz. E isto tudo porque eu era uma celebridade com direito a livros sobre mim, onde eu derrotava dragões e, inclusive, em como voltaria na altura que o mundo bruxo precisasse mais. Havia mesmo um rumor sobre isso que só me dava vontade de rir mas a verdade era que esta era a altura que o mundo bruxo mais precisava de um herói e eu estava vivo, coisa que eles amariam. No entanto, pelo que percebi, os meus pais, o Black e o Dumbledore tinham poder neste mundo e conseguiam esconder a história por ainda mais algum tempo mas para isso eu precisava de colaborar, ou seja, não sair da enfermaria e caso algum aluno fosse lá, fingir que estava a dormir para não olharem bem para mim. Eles pareciam tão entretidos a conversar entre si e comigo e a Rose (que felizmente não ignoraram) que esqueceram-se das horas e teve que ser a Madame Pomfrey a expulsá-los, com um sorriso de orelha a orelha. Eles ainda prometeram que no dia seguinte iriam trazer o Charles, o meu irmão, para me conhecer porque ele tinha ido para casa como castigo por me ter ido espreitar. Eu senti remorsos ao ouvir isso, sabendo que o menino tinha ficado longe dos pais devido a eu ter reagido mal quando o conheci mas eles asseguraram-me que o James ia passar a noite em casa, com ele enquanto a Lily ficava em Hogwarts. Eu achei estranho ela ficar mas o olhar que ela me mandou quando perguntei o porquê, com tanta emoção fez-me pensar que ela realmente iria ficar só por minha causa. Se era encenação ou verdade, não sabia mas tinha sido esse o motivo dado. No fim, eles lá acabaram por ir quando me deram o lanche e eu fiquei sozinho, com a Rose naquela enfermaria, tendo o Sirius e a Natalie também saindo.

— Harry, o pai.. ele, não vai ser mesmo culpado? – Ela perguntou-me e eu insultei-me mentalmente por não lhe ter dito a história toda. Como é que a Serena iria responder sabendo que o marido iria ficar preso? Será que o meu plano não iria ser assim tão bom?

— Ele vai. Desculpa, - eu apressei-me a dizer – mas não há nada que possa fazer. A violência que eles viram não consegue ser ignorada. Não há nada que se possa fazer para isso mudar mas eles prometeram-me que vão ajudar a Serena a adaptar-se a isso.

Ela ficou em silêncio por uns segundos até que finalmente falou, parecendo cautelosa:

— Então, a mãe… eu vou ficar com a mãe e tu com os teus pais?

Eu sorri, tentando tirar algum resto de dúvida dela.

— Sim, a tua mãe vai tratar bem de ti e como viste, eles vão tratar bem de mim.

Ela ficou mais uns segundos em silêncio mas finalmente sorriu, mesmo sendo um sorriso triste.

— Pelo menos o pai vai pagar pelo te fez. – Eu olhei para ela, incrédulo e ela continuou. – O que o pai te fez é imperdoável. Quando eu te vi a falar com os teus pais, eu soube que ele tinha que pagar por isso. Se não fosse eu, ele matava-te. Ele estava a dar-te pontapés estando tu no chão, indefeso! Quem é que faz isso? – Ela perguntou e ao ver o melhor o olhar chocado desviou o olhar. – Eu amo o meu pai, é triste mas é verdade, no entanto, até eu não o consigo desculpar. Ele precisa de pagar e se ele fez isto durante anos – eu vi-a fechar a mão com força, cheia de raiva – ele não merece outra coisa. – Ela ficou em silêncio mais uns segundos até que olhou para mim, fazendo esforço para não chorar. – Por isso, não te culpes Harry como eu sei que te estás a culpar. Eu vou ter a mãe e ela vai tratar bem de mim. – Ela parou e olhou chocada para mim parecendo lembrar-se de alguma coisa. – Eles disseram que ela foi cúmplice. Ela também te maltratou? Que se sim, eu….

— Não! – Eu apressei-me a dizer, ao ver a cara aflita dela. – Ela nem presenciou. – Eu disse preferindo dar-lhe uma verdade um pouco mentirosa para ela não ficar com uma relação estranha com a mãe. – Ela vai ser uma mãe óptima para ti, não te preocupes. – Eu disse abraçando-a, tentando acalmá-la.

— Eu sei mas e tu? Vais ficar mesmo bem com eles?

Eu ri-me, descontraído.

—Claro que vou. Tu viste como eles são, não fazem mal a ninguém.

No entanto, ela não se enganou pela minha atuação porque disse logo:

— O pai também era assim!

Eu suspirei ao ver a preocupação dela. Se não a conseguia convencer por teatro então ia ser franco.

— Era mas eles são os meus pais biológicos e eu sou uma celebridade. Pelo sim ou pelo não eles não vão conseguir fazer mal a uma pessoa assim mesmo que queiram, por isso, eu estou protegido e além do mais eu vou saber fazer magia. Eu vou conseguir defender-me o suficiente para eles não me poderem fazer mal.

Eu vi-a abrir a boca, processando o que eu tinha dito.

— Mas caso aconteça alguma coisa, tu vais-me dizer, não vais?

Eu não sei o que ela queria fazer caso acontecesse alguma coisa mas sei que ela só descansaria com uma resposta.

— Sim, não te preocupes.

—--OLC---

Pettigrew! – Chamei.

— Sim, meu Lord. – Disse um homem pequeno, redondo e com cara contraída numa careta de medo, que se tinha ajoelhado há frente da cadeira onde estava sentado.

— Ele está vivo! – Como é que ele podia estar vivo? Ele não devia de ter morrido comigo? Aquele rato miserável tinha-me dito que não havia possibilidades de o rapaz estar vivo…

O homem estremeceu com o tom.

— Quem?

— O rapaz! O menino Potter!

— M-mas meu Senhor, ele conseguiu fugir devido aos aurores e…

— Não é esse! – Eu só queria ter os meus poderes de volta para poder torturar aquele rato vezes e vezes, sem conta, por ser um imbecil! No entanto, a minha força tinha que ser guardada até ficar completamente reestabelecido. Até lá, só podia recrutar cada vez mais pessoas… se pelo menos os Potter e o Black tivessem morrido, não haveria tanta oposição. – O Harry Potter!

Vi-o esbugalhar os olhos e começar a tremer, temendo pelo sua vida. Pelo menos ele sabia pôr-se no seu lugar!

— É-é impossível… e-ele…

— Ele está vivo!- Exclamei e levantei-me, brincando com a varinha e olhando para aquela sala velha e cheia de pó que eu sabia que só me faziam parecer mais assustador. – Eu sinto-o.

— Mas os registos de Hogwarts, ele…

Eu agarrei-o pela gola num gesto rápido e levantei-o, para me encarar nos olhos. Se ainda não podia fazer magia como queria, podia pelo menos assustá-lo!

— Eu sinto-o vivo. – E sentia… uma ligação que tinha sido o motivo da minha fraqueza atual e eu sabia que era o Potter! Aquele garoto insuportável!

— E-eu…

— E quero-o morto! – Eu disse, largando-o, e vi-o cair e colocar-se outra vez de joelhos com uma velocidade fenomenal. – Ele já me está a causar problemas. A própria existência dele é um problema. Combina com os outros um plano para o matarem e, desta vez, não me desiludas, Pettigrew. – Eu disse estreitando os olhos, vendo com prazer que ele tinha percebido a ameaça. – Eu estou a ser muito caridoso contigo porque me trouxeste à vida mas se falhares…

Eu acordei com falta de ar e levantei o meu tronco, num ato sem pensar. Senti a minha testa arder, contudo, eu só conseguia lembrar-me daquele sentimento de raiva tão forte que estava tremendamente assustado. Eu não queria sentir aquilo! Ter vontade de torturar pessoas, QUERER pessoas mortas…

— Harry. – Ouvi uma voz fina e surpreendi-me, ao ver a minha mão gelada ser agarrada, num gesto carinhoso. Era a Lily Potter, a minha mãe biológica, que sabe-se lá porquê estava sentada na cadeira ao lado da minha cama.

Eu pisquei, tentando arranjar forças para dizer que estava bem mas a lembrança daqueles sentimentos e a dor na minha testa eram demasiado fortes para conseguir dizer alguma coisa… Eu senti tanto mas tanto ódio… e eu queria tanto torturar aquela pessoa que eu estava assustado comigo mesmo por esse sentimento.

Dobrei-me em dor, ao sentir mais uma picada forte na testa e senti o meu estômago revirar-se. Aquele sentimento, aquela raiva… Tentei fechar os olhos, para ignorar estes sentimentos e as lembranças mas era impossível. Eu não me conseguia esquecer da vez em que o Louis me tinha batido tanto que eu desmaiei e quando acordei tinha-me sentido tão impotente, tão fraco que eu só quis ser uma pessoa poderosa e conseguir fazer-lhe o que ele me tinha feito…

— Harry!- Ouvi a voz aflita mas eu não aguentei mais e vomitei. – Pomfrey, ele está a sentir-se mal. – Não sei bem o que aconteceu enquanto vomitei só sei que vi um flash vermelho e não me lembro de mais nada.

Quando voltei a acordar, senti a moleza que uma pessoa medicada sente e isso fez-me irritar. No entanto, eu tinha uma ligeira impressão que algo tinha acontecido na noite anterior e, por isso, abri os olhos para ver duas caras demasiado perto de mim, a observarem-me como se eu fosse desaparecer a qualquer momento.

Eu assustei-me e acho que isso foi demonstrado na minha cara porque eles afastaram-se como se tivessem medo de que eu começasse a gritar.

— Calma Harry. – Ouvi o James dizer. – Está tudo bem.

Eu pisquei os olhos tentando perceber tudo o que estava a acontecer.

— O que aconteceu?

Eu vi a Lily abrir a boca espantada.

— Harry, não te lembras?- Ela perguntou preocupada agarrando a minha mão e eu de repente lembrei-me… do sonho… da dor… do sentimento

Eu fiquei uns segundos em silêncio, vendo-a olhar preocupada para mim mas não me importando. Aquele sentimento… eu tinha sentido tanto ódio como há anos atrás… pelo Louis, pelos meus pais biológicos, pelo mundo! Eu odiava-os e só queria ser forte e poderoso para os pôr no seu lugar. Eu cheguei até a desejar a morte do Louis porque eu sabia que sem ele, eu voltaria a ser reconhecido como parte da família e não teria mais problemas. Foi esse o motivo principal para me ter inscrito em quase todos os desportos que haviam na altura, tentando estar na minha melhor capacidade física para ele nunca MAS nunca mais fazer nada comigo, temendo-me. Na altura, eu lutei pelo poder, eu ansiei pelo poder e o meu dia-a-dia foi fazer planos e mais planos onde eu humilhava o Louis, derrotava-o, fazia-o sofrer como ele me fazia todos os dias. Eu só queria isso… mas não tive devido à minha irmã ter-se distanciado de mim porque já não percebia o irmão que antes carinhoso se estava cada vez mais a tornar numa pessoa com o seu lado negro mais à amostra. Eu consegui controlar esse lado na altura por ela, mentalizando-me que eu merecia aquilo e merecia ter sido abandonado. Eu simplesmente não tinha vivido para ter uma família e devia de me dar por feliz por ter uma pessoa que gostasse de mim… a Rose. Aquela garotinha era literalmente o motivo de eu viver como uma pessoa minimamente sã mas ter este sonho logo quando me iria separar da minha irmã… seria um prenúncio do que aconteceria agora que eu tinha poder? Será que me ia transformar naquilo?

Senti a minha magia soltar-se ao ver o meu medo e mexer-se dentro de mim. Sempre que a sentia tinha uma impressão muito estranha, sentido uma coisa passear pelo meu corpo como uma carícia, dando-me aconchego e parecendo só querer me acalmar contudo, apesar destes sentimentos bons eu sabia que isso não quereria dizer nada. Se havia alguma coisa que tinha aprendido com os filmes e livros era que os vilões nunca sabiam que era vilões, por isso, mesmo parecendo amigável podia ser perigosa. Não para mim mas para os outros como os meus pais biológicos. Imaginei-me usando o meu ódio para os machucar, humilhar e fazer tudo o que queria fazer há uns anos atrás mas ao ver a cara preocupada deles e do meu irmão, que se encontrava num canto só a observar-me, não consegui sentir. Porque eles eram humanos, estavam ao meu alcance e, principalmente, pareciam tão amáveis que eu não tinha forças para os odiar com essa intensidade.

Sentir-me ressentido? Magoado? Querer mostrar-lhes estes sentimentos para eles se sentirem culpados?

Sem dúvida! Mas magoá-los seriamente para ter prazer nesse ato, como no meu sonho? Não!

— Harry, o que aconteceu ontem? – Ouvi a voz do James, cautelosa, como se estivesse a falar com um animal selvagem.

Eu fechei os olhos, tentando relembrar o sonho na sua totalidade mas ignorar os sentimentos dele.

— E-eu tive um sonho. – Disse e abri os olhos para ver a cara expectativa deles. – Ou melhor, um pesadelo…

Vi a Lily fazer uma careta mas não dizer nada. Só quando eles trocaram um olhar é que ela falou.

— Podes contar-nos esse sonho?

Eu arregalei os olhos, não conseguindo esconder o meu medo de ser descoberto. Será que ela sabia como é que eu era? Será que ela pensava que lhe ia fazer mal? Será que tinha sido por eu ter este lado que eles não me tinham procurado?

— E-eu… estava a discutir. E estava com o tal Pettigrew…

Vi-os trocarem outro olhar e a Lily interrompeu-me, perguntado:

— Com quem? Lembraste de mais pormenores sobre a tua companhia?

Eu mordi o lábio, tentando acalmar-me e esconder o meu medo mas não fui bem sucedido porque o James, viu-se na obrigação de acrescentar:

— Se não estiveres preparado não digas nada.

— E-eu digo. Era uma pessoa inventada… um tal de Pettigrew.

Vi com espanto, a Lily arregalar os olhos e tapar a boca com a mão enquanto o James só fechou a mão com força. O que isto quereria dizer? Seria algum código?

— E.. – A voz do James saiu roca, pela raiva incontida mas mesmo assim continuou, clareando a garganta- E tens alguma pista do lugar onde foi?

Lugar? Isto foi um sonho! O que eles pensavam que seria? Algum tipo de magia nova?

— Esperem. Vocês acham que este sonho pode ser real? - Será que tinha alguma personalidade dupla?

Vi a Lily fechar os olhos com dor enquanto o James só desviou o olhar, como se estivesse envergonhado.

— Sim. – Disse o James. – A tua cicatriz estava a deitar sangue e desconfiamos que seja porque o teu sonho foi realmente verdade.

— Mas era eu! Eu estava a pensar, no meu próprio corpo!

— Viste o teu corpo?

Eu enruguei a testa, pensativo e realmente não tinha visto. Só tinha visto o homem.

— Não e… - E eu tinha dito que me queria morto! O que é que isso queria dizer?? – Eu acho que me mandei matar?

Mais perguntei do que disse, no entanto, eles pareceram perceber porque num segundo estavam alerta.

— Harry, tu tens que nos contar o teu sonho… Com todos os pormenores! – Ouvi o James dizer, com uma voz tão profissional que parecia que ele dizia aquilo todos os dias.

— Mas foi só um sonho. A cicatriz não quer dizer nada. – Disse passando a minha mão pela cicatriz que parecia estranhamente inflamada.

— Ai é que te enganas. – Ouvi uma voz mais velha e não me espantei, ao ver o Dumbledore entrar pela porta, cansado mas com o seu sorriso habitual no rosto. – A tua cicatriz não é uma simples cicatriz. Se eu não estou enganado, não te lembras de como a fizeste porque está na tua testa desde que te lembras.

Eu lembro-me que em pequeno eu tinha perguntado às pessoas que tomavam conta de mim se sabiam como eu tinha feito esta cicatriz e pelos vistos eu tinha-a desde que tinha ido parar ao orfanato. Não sabiam nada sobre ela mas como ela também não me tinha dado problemas e como os médicos diziam que ela era somente uma cicatriz, não me preocupei com ela. Era claro que todas as pessoas reparavam logo nisso, mal me viam mas eu conseguia viver com isso.

— Sim mas os médicos disseram sempre que não havia problemas e ela nunca me causou nenhum incómodo. – Até aquele momento. – Por isso, isto foi só um pesadelo.

— A magia funciona de forma impressionante e essa cicatriz é, sem dúvidas nenhumas, uma cicatriz mágica.

Cicatriz mágica? O que isso queria dizer?

— O que é uma cicatriz mágica?

— Esse nome não é o mais correcto. O que eu queria dizer era que essa cicatriz foi feita por causa de um feitiço e isso aconteceu, claramente, na fatídica noite do teu desaparecimento e suposta morte. Todas as fotos e, inclusive, as lembranças dos teus pais provam que não tinhas essa cicatriz antes dessa noite.

Fotos? Os meus pais biológicos tinham fotos minhas? Não sei porquê senti um peso sair de cima de mim quando olhei para eles e vi-os a ouvir atentamente o Dumbledore, não negando as palavras dele. Só o meu irmão biológico é que ainda continuava encostado à parede, sem dizer nada, apenas observando-me, como se eu fosse uma espécie rara para ser estudada.

— Por isso, nós ainda estamos a apurar como sobreviveste mas tudo indica que sobreviveste ao único feitiço que nenhuma outra pessoa sobreviveu até agora. O Avada Kedavra. O facto de teres sobrevivido tem que ter consequências e eu penso que seja essa cicatriz.

— Mas ela nunca me deu problemas antes. Era só uma cicatriz.

Para meu espanto o Dumbledore riu-se.

— Claro que sim! Tinhas bloqueado a magia a um nível interno, tão grande, que eras dado como um Muggle. Esse feito foi das coisas mais impressionantes que já vi no mundo mágico, só passado pela forma como o teu coro mágico está a ser formado. – Disse fazendo-me corar. - Mas indo ao que interessa… Tu voltaste a ter magia, voltaste a aceitar o mundo mágico e com ele veio a tua cicatriz que muito provavelmente tem uma ligação com a pessoa que lançou o feitiço, o Voldemort.

Eu tinha uma ligação com o bruxo das trevas? Eu? Que tipo de ligação? Senti-me aos poucos e poucos entrar em pânico e isso deve ter influenciado a minha magia porque o Dumbledore estava outra vez a olhar para a aura branca que me rodeava com um grande sorriso.

— Eu peço que te acalmes. Por muito que goste de ver a tua magia, não podes descontrolar-te. – Ele disse olhando-me nos olhos com uma expressão mais séria. – Não tens nada com que te preocupar relativamente a essa ligação. A tua ligação deve de ser mínima, onde o consegues ver apenas nos teus sonhos que é quando estás mais desprotegido mas vão ser tomadas medidas para conseguires parar de sonhar com ele. Contudo, o mal já está feito e de forma a parar o Voldemort gostávamos muito que nos pudesses disponibilizar a memória.

Eu olhei para ele confuso? Disponibilizar a memória, como assim?

— Eu não consigo dar uma memória. – Eu murmurei.

— Ah, isso é bastante fácil, não tens motivo para preocupações. – Ele disse e com um gesto fluido, tirou a sua varinha e apontou-ma. – Como ainda não tens varinha, podes usar a minha. É só apontá-la para a cabeça e pensar com muita força na memória. James, se puderes exemplificar. – Ele disse, tirando um frasquinho do bolso e entregou-lhe de seguida.

Ele sorriu para mim, como se para dizer que aquilo era fácil e tirou a sua varinha, encostando-a à sua cabeça e para meu espanto, saiu algo prateado, que ele pôs no frasco.

— É só pensar com força?

— Sim.

Eu aceitei a varinha e o outro frasco que o Dumbledore me tinha oferecido. Senti uma sensação estranha ao agarrar a varinha dele, como se uma corrente elétrica tivesse passado por mim e a minha magia não gostasse muito dela, no entanto, por tudo o que eu sabia, esta poderia ser uma resposta normal. Por isso, fechei os olhos com força, relembrando com o máximo dos pormenores, a lembrança onde eu tinha sentido aquele ódio e queria a minha morte… Eu abri os olhos assustado, ao concluir que ele sabia que eu estava vivo, no entanto, pus a névoa prateada no frasco.

— Brilhante! – Ouvi o Dumbledore dizer esticando a mão para eu lhe dar a varinha e o frasco que foi a coisa que fiz logo, sentindo a minha magia ficar mais livre, longe daquela varinha.

— Eu… ele sabia que eu estava vivo. – Eu disse, forçando-me a ser o mais impessoal que poderia para não me desconcentrar. – E ele quer-me morto.

Senti todos os presentes fazerem expressões chocadas mas a pior foi sem dúvida a do meu irmão, que disse um “não!” e se encolheu mais contra a parede. Ele parecia tão aterrorizado que eu não consegui parar de pensar que mal eu tinha feito.

— Charles! – Ouvi o James dizer e abraçou-o.

Vi com espanto o Charles, o meu irmão biológico, abraçá-lo com força, como se tivesse demasiado medo para falar. O que tinha acontecido com ele? Olhei para a Lily, à espera de uma explicação mas ela estava demasiado triste, a olhar para o seu filho mais novo, para reparar em mim.

O Dumbledore limpou a garganta, para chamar a atenção para si e só continuou ao ver que tinha a atenção de todos.

— Não tens nada com o que te preocupar. Estás seguro. Estão ambos seguros. – Ele disse perdendo o seu olhar no Charles, com o que parecia pena. – Contudo, continuamos a pedir que não digas nada sobre quem realmente és, Harry.

Eu assenti até que me lembrei de mais um detalhe daquela noite. A Lily! Ela estava ao meu lado, durante a noite, porquê?

— Porque é que estava aqui, ontem à noite? – Eu perguntei e ela corou, fazendo-me ficar ainda mais desconfiado. No entanto, o riso cristalino do Dumbledore fez-me olhar para ele.

— A tua mãe pelos vistos desenvolveu um gosto por te ver dormir Harry. A não ser quando a Madame Pomfrey a expulsou porque a tua magia estava demasiado explosiva, ela passou todas as noites a velar-te o sono.

Apesar de eu ter achado aquilo um bocado estranho não consegui conter o sentimento de alegria por saber que alguém, finalmente, se importava comigo e inclusive, tentava proteger-me quando eu não sabia. Dei-lhe um pequeno sorriso, tentando acreditar-me nela e vi com espanto a face dela iluminar-se e sorrir abertamente para mim.

— Harry, eu queria entregar-te isto ontem. – Ela disse, pegando num livro que estava na mesa-de-cabeceira, ao meu lado, entregando-me. – Como não podes sair daqui, nem praticar magia, devido ao coro instável, nós decidimos comprar-te esse livro, para te adaptares ao mundo da magia. Quando leres esse diz que já te comprámos mais. Eles estão no teu futuro quarto. Esse livro fala dos básicos do mundo mágico para os nascidos Muggles se adaptarem. Depois podes emprestar à Rose que acho que ela também vai gostar de ler. – Disse dando um sorriso para ela.

Eu olhei para o Dumbledore não percebendo. Futuro quarto?

— Eu sempre vou para o quarto? – Eu perguntei, pensado que ia viver com os meus pais biológicos.

— Ah, eu esqueci-me de te avisar. – Ele disse, abrindo outra vez o seu sorriso, parecendo esquecer o James e o Charles, que apesar de mais calmos, ainda se encontravam perto um do outro. – Mal a Madame Pomfrey ache que não precisas de estar aqui, 24 horas por dia, temos um quarto preparado para ti, onde podes ficar mais descansado e tens o teu próprio espaço. Devido a esta noite, isto pode demorar mais tempo mas acredito que dentro de dias possas ir para lá. Nessa altura, como a maioria dos estudantes já se foi embora, também podes passear pelo castelo como combinado anteriormente. Acho que vais gostar de conhecer Hogwarts. – Ele disse piscando-me o olho, fazendo-me sorrir. Eu não sei porquê mas eu realmente gostava daquele senhor com o seu jeito de avô.

— A Rose? – Eu perguntei assustado, vendo que ela não estava perto. Eu tinha pensado que ela estava com a Madame Pomfrey mas esta tinha acabado de entrar, parecendo estranhamente cansada.

— Ela está a falar com a mãe. – Ouvi o Dumbledore dizer, parecendo ganhar uma dureza na voz e eu vi os meus pais trocarem um olhar, enquanto o Charles só voltava a encostar-se na parede, observando-me. Estava a começar a achar que aquele garoto ou era assustador ou era demasiado tímido para ainda não ter dito nada.

— A-a Serena está aqui? – Perguntei, espantado. Ela ia já viver com a mãe? – Ela vai já com ela?

Houve um silêncio onde vi que ninguém respondeu, até que o James respondeu, parecendo desconfortável.

— Não sei bem o que vão decidir mas a Rose já está completamente curada, por isso, já se pode ir embora. No entanto, não acredito que vão já, afinal a Sra. Smith necessita de planear a sua nova vida.

— Nova vida? – O que raio é que ele quereria dizer com aquilo.

— Sim, Harry. – Surpreendentemente, quem respondeu foi a minha mãe. – Nós ouvimos o teu pedido e vimos o choque que ela tinha em voltar para aquela casa, por isso, arranjamos-lhe um emprego como recepcionista numa loja, com um bom salário, noutra vila. Arranjamos também outra casa e assim ela pode, literalmente, viver uma nova vida e começar do zero.

Eu abri a boca espantado. Eles tinham-me ouvido e tinham, inclusive, ajudado a começar sem dificuldades. Tudo porque eu tinha pedido! Senti um sorriso nascer na minha cara pelo gesto deles e vi a cara surpreendida deles.

— Obrigada. –Eu sussurrei e eles pareceram ouvir porque sorriram mais uma vez e a Lily inclusive pegou na minha mãe e apertou.

Eu sei que estava a navegar por águas perigosas, ao deixar-me sorrir para eles e abrir um bocadinho do meu ser para eles mas eles tinham ajudado a Rose e, por isso, eu não me consegui conter. Eu não confiava neles como pais e faria de tudo para não me apegar a eles, no entanto, pelo menos sabia que eles me ouviam e mesmo que tivessem interesses por trás, eles tinham tentando ajudar-me.

— De nada, filho. – Ouvi o James dizer, enquanto punha uma mão no ombro do Charles e puxava-o para a frente. – Eu sei que já conheceste o Charles mas de qualquer das maneiras, quero apresentar-te, oficialmente. Harry, este é o teu irmão Charles.

Eu olhei para a criança que olhou para o chão para não encontrar os meus olhos. Ele não era assim quando me tinha visto da primeira vez, será que eles o tinham maltratado e ele agora estava assim, coagido a não reagir com medo de represálias? Será que apesar das aparências, eles eram como o Louis? Com medo por ele, levantei-me e senti as minhas pernas quererem fraquejar, provavelmente pela medicação, mas a magia socorreu-me, dando-me a força que precisava e fazendo desaparecer o cansaço. Fui até ele, vendo-o levantar os olhos, surpreso e eu sorri.

— É um prazer conhecer-te oficialmente. Peço desculpas pelo meu comportamento anterior. Sou o Harry. – Disse, estendendo a mão e vi com alegria, ele sorrir fracamente e agarrar a minha mão com força, apertando-a.

— Sou o Charles.

Eu ainda estava desconfiado pelo comportamento dele anterior mas a suavidade que os seus olhos ganharam, fez-me pensar que afinal podia ser outra coisa. No entanto, eu não poderia deixar de me assegurar que ele era bem tratado porque se fosse mal tratado por aqueles dois adultos…

— Já estudas aqui em Hogwarts? – Eu perguntei, sentando-me na cama e vendo-o ganhar um sorriso ao ouvir-me.

— Não, mas para o ano venho estudar. Vai ser o meu primeiro ano! Já te apresentaram Hogwarts? A Natalie no outro dia apresentou-me e é tão grande e bonito. Podíamos ir ver juntos e jogar um jogo de Quiddich.

Eu não fazia ideia do que era Quiddich mas como ele tinha falado tudo com tanta energia e parecendo hiperativo, eu acabei por concordar sem pensar muito nisso, só vendo os olhos dele se alegrarem com a minha afirmação.

— Charles, respira. – Disse a Lily, indo para o nosso lado. – Vocês vão estar os dois em casa, por isso, podem passar o tempo que quiserem juntos. E até irmos para casa vamos ficar todos aqui.

— Vocês também vão ficar aqui? – Eu perguntei espantado.

— Espero que não seja incomodativo mas preferíamos passar o máximo de tempo contigo e como pedimos férias, o Dumbledore amavelmente arranjou-nos quartos. São interligados com o teu.

Eu sorri, esperando puder sair dali para poder fazer alguma coisa que não seja observar os estudantes na rua. Felizmente, ainda não tinha aparecido ali ninguém mas ter que estar alerta para caso alguém apareça também não era muito simpático.

— Quando é que eu posso ir para lá? E visitar Hogwarts? – Eu perguntei esquecendo-me de pôr a minha máscara para eles e mostrando o meu excitamento.

Eles riram-se e o ambiente pareceu tão descontraído que eu pensei que estivesse a sonhar. Era tão bom estar num ambiente destes, como se todos fôssemos uma grande família, que senti o meu coração parecer derreter-se. No entanto, fui chamado para a realidade com a entrada da Rose e da Serena.

A Serena parecia cansada, não escondendo as suas olheiras com maquiagem, os seus olhos, sem o brilho habitual, pareciam assombrados e o seu cabelo loiro, por norma, sempre impecável, estava preso num rabo-de-cavalo, sem cuidados. Vi-a assustar-se ao olhar para todos e o seu olhar perder-se no meu, com uma tristeza infinita. Eu assustei-me e fiquei claramente abalado ao vê-la. Ela não era a mesma pessoa que eu via todos os dias, perfeita em todos os aspetos, mas sim uma mulher acabada, parecendo estar a usar as suas últimas forças para se manter acordada. Eu temi realmente o que ela faria com a Rose.

— Harry. – Ela chamou-me, com o que parecia ser um sorriso mas foi mais uma careta. – Eu gostava de falar contigo.

Senti mais do que vi todos os presentes ficarem imóveis, como se houvesse um perigo prestes a explodir. Eu suspirei somente, pensando no quão parvos eles eram por pensar que ela me faria mal ali.

— Claro. – Murmurei e olhei para a Rose que só sorriu para mim e parecia mais descontraída do que da última vez que a tinha visto.

Eu levantei-me, pensando que ela queria falar em particular contudo o meu gesto foi estranhamente interrompido pelo James que se pôs à minha frente.

— O que vão falar? – Ele perguntou, estreitando os olhos, ameaçador.

A Serena suspirou e mudou o peso de pé, indecisa.

— Eu preciso de falar com ele. Ele também foi o meu filho. – Eu não consegui ignorar o uso do passado e aquilo doeu. Para ela eu já tinha passado à história.

— A deixar o Harry ser mal tratado? – Perguntou a Lily irritada, para meu espanto. Nunca a tinha visto com tanta raiva direccionada a uma pessoa. Os seus olhos verdes pareciam faiscar e tinha um ar tão agressivo que até eu temi pela Serena.

— Eu não queria… mas eu… - A Serena calou-se e passou uma mão pela sua cara cansada. – Tem razão. – Ela disse, suspirando e quando voltou a levantar a cara, tinha o vestígio da força que eu conhecia…aquele brilho no olhar, de uma guerreira que lutava pelo que queria. – Eu mereço ouvir isso, por isso, vou ter esta conversa aqui, com vocês. – Ela deu-me um pequeno sorriso, no entanto, notava-se perfeitamente que era fingido e era por pura força de vontade que estava ali.

— Eu não sei o que me deu Harry – Ela disse, olhando directamente para mim, parecendo genuinamente triste – mas eu não tenho perdão para o que te fiz. Muito menos o Louis. – Ela disse, estreitando os olhos, ao lembrar-se dele. – Ele parecia completamente maluco mas, isto não invalida as minhas atitudes. Eu agi mal, muito mal e se não fossem os teus pais eu prometo-te que faria de tudo para continuar contigo para puder corrigir os meus erros. – Ela disse, dando um passo na minha direcção e, para meu espanto, o James saiu da minha frente, dando-lhe acesso a mim. – Porque tu eras o meu filho mesmo não parecendo. Eu tratei-te mais como um brinquedo do que alguma coisa e agora que eu tenho consciência disso podes ter a certeza que vou fazer todos os possíveis para nunca mais ser essa pessoa. Eu não te defendia e tu só eras uma criança! Como é que eu pude fazer isto? – Ela continuou, falando mais para si do que para mim, no entanto, os seus olhos brilhantes demonstravam que as suas emoções eram reais. – Como é que eu pude deixar, as pessoas tratarem mal, um filho meu? – Ela perguntou e encurtou a distância entre nós, ficando a dois passos de mim, cansada, triste e emocionada. – Como é que eu pude?

Ela fechou os olhos e inspirou, tentando acalmar-se e eu percebi o porquê, quando vi uma lágrima rebelde, cair.

— Eu só te quero pedir desculpas. – Ela confessou, engolindo em seco. – No entanto, eu não posso! – Disse, abrindo os olhos e eu estando tão perto dela não consegui evitar ficar preso na dor do olhar dela. – Eu não posso porque tu és boa pessoa e farias isso nem que fosse pela Rose. – Disse olhando para trás, onde ela estava. – E eu não posso deixar isso acontecer. Eu não posso deixar que me perdoes facilmente. Eu vou ter que lutar para merecer o teu perdão e só depois é que te posso pedir desculpas. Eu vou ter que ser uma mãe fenomenal para a Rose, uma pessoa que estará sempre pronta a ouvir-te caso precises, uma pessoa que não irá deixar que vocês se afastem e só depois disso tudo, de eu sofrer, de eu lutar e de eu saber que mereço pedir-te desculpas é que vou fazer isso. Vou-te pedir e mesmo nessa altura se não aceitares, eu vou ter que aceitar e lutar mais. É o meu castigo. Eles ajudaram-me, dando-me a oportunidade de criar a Rose – Disse olhando para os meus pais biológicos – e eu não vou desperdiçar isso. No entanto, eu nunca mas nunca, me vou esquecer do que te fiz Harry. Isso posso prometer-te.

Ela engoliu em seco e cerrou o maxilar, no entanto, isso não foi o suficiente para controlar as suas emoções porque começaram a cair algumas lágrimas mesmo não fazendo nenhum som.

— Até lá… - Ela não conseguiu controlar a sua voz, saindo roca e sem força. Teve que engolir outra vez mas as lágrimas não estavam a ajudar. – Até lá, posso só te dar um abraço? Como antigamente? Antes de tudo? – Quando éramos felizes? Era a continuação que eu sei que passou pela cabeça dela e eu não me controlei.

Foram maus momentos mas no início, quando fui para a casa dos Smith, os primeiros tempos tinham sido sem dúvida os melhores meses da minha vida. Ela deu-me o meu primeiro abraço dado por um adulto que tinha uma figura parental. Tinha-me dado o meu primeiro beijo na testa depois de dormir. Tinha-me dado o meu primeiro presente só meu. Tinha-me apresentado a Rose. Tinha-se sentado ao meu lado para me ensinar nas minhas dúvidas da escola e, finalmente, eu percebi. Percebi porque tinha acabado feito aquela proposta aos meus pais, percebi porque eu sofria sempre quando via que ela não me defendia e era-me quase indiferente o Louis e percebi porque é que a abracei e também deixei escapar uma lágrima. Eu era humano! Um humano que sentia e que não queria mais nada do que a coisa que nos fazia humanos: amor. Eu queria sentir-me amado e eu queria amar. E mesmo depois de isto tudo, eu ainda a amava, não sei se como mãe mas pelo menos como a uma pessoa adulta de quem eu gostava.

— Eu perdoo-te. – Eu ouvi-me dizer e para meu espanto ouvi o riso rouco dela. Só depois de ela se afastar de mim, o suficiente para olhar para os meus olhos verdes que estavam marejados é que continuou a falar.

— O que é que eu disse sobre eu pedir desculpas? – Ela disse e deu-me um sorriso, o primeiro completamente genuíno. – É impossível perdoares-me. Eu ainda nem processei bem o que fiz então como é que me podes perdoar? – Ela perguntou e eu vi a dor voltar outra vez aos olhos dela. – Mas eu vou-te pedir um dia, – ela sussurrou – e nesse dia vais-me responder com sinceridade. Se finalmente eu estou ou não desculpada. Isto, eu prometo-te. – Ela disse e deu-me mais um abraço com força. Eu fechei os olhos, só sentido e deixando um peso sair de cima de mim. Ela tinha razão, eu ainda não a tinha perdoado mas eu gostava o suficiente dela para a perdoar. Um pouco confuso mas era verdade…

— Bem, - ela disse afastando-se e limpando as lágrimas com a palma da mão, parecendo também mais calma – eu vinha te perguntar também algumas coisas. Eu posso levar a Rose já mas compreendo se ela quiser ficar aqui ou tu a quiseres contigo, afinal tu também precisas de apoio. – Ela disse olhando pelo canto do olho para os meus pais. – Por isso, só a levo no mínimo amanhã. Preferes ter mais tempo?

Eu mordi o lábio e olhei para a Rose que só sorriu para mim, ainda encostada à parede e para meu espanto, parecendo também emocionada. Quando olhei em volta todos pareciam emocionados, só o meu irmão biológico é que parecia ligeiramente confuso. Eu dei um sorriso à Rose e percebi que ela queria ir com a mãe. Ela gostava de mim, eu sabia, como eu gostava dela mas, provavelmente, ela já estava farta de estar ali, sem fazer nada, com pessoas desconhecidas e, principalmente, sem a mãe, a quem tinha uma ligação muito forte.

— Ela pode ir amanhã. – Eu disse.

— Mas… -A Serena começou a protestar, em conjunto com a Rose.

— Eu já sou crescido. Eu tenho 14 anos e além do mais, pelos vistos, tenho muita coisa a aprender. – Disse olhando de relance para o livro que estava na minha mesa.

— Eu tenho também uma boa notícia. – Disse a Lily, com um tom mais simpático, parecendo ter perdido a agressividade toda. – A vossa casa é muito perta da nossa. É o povoamento Muggle mais perto, por isso, quando formos todos para casa, o Harry e a Rose podem-se ver quase diariamente. – Ela abriu a boca e pareceu querer dizer mais alguma coisa mas voltou a fechá-la.

— Então eu vou conseguir estar sempre com o Harry? – A Rose perguntou, fazendo-me rir.

— Acho que sim. – Respondeu o James, passando um braço pelo ombro da Lily e puxando-a para si. – Teremos todo o gosto em te ter em casa. Ou então ele pode visitar-te. Não se preocupem com isso que não vão ficar afastados.

Eu ri-me, não conseguindo esconder o meu alívio. Pelo menos não iria ficar longe da Rose.

— Por isso, a Rose pode ir amanhã que eu acredito que brevemente também me posso ir embora, afinal eu estou bem. – Eu disse olhando para a Lily, na espera de uma resposta.

— Em princípio… Vamos fazer para que saias daqui o mais rapidamente possível. – Respondeu-me.

Eu assenti e vi com prazer a Rose ir sentar-se ao meu lado e começar a conversar comigo, sobre o que poderíamos fazer no futuro, com magia. Eu ri-me e mostrei-me bem-disposto, vendo a alegria dela por começar uma nova vida, aparentemente esquecendo-se do que tinha feito com que estivéssemos naquela situação. Ao nosso lado, de forma estranhamente espontânea, estavam os meus pais biológicos a falar com a minha mãe adoptiva. A única pessoa que parecia estranhamente deslocada era o Charlie que se tinha sentado e estava a observar-nos a todos. O que nós ainda não sabíamos todos era que a tragédia tinha feito com que nascesse uma das melhores amizades que a Lily alguma vez teve e que teve começou naquele exacto dia. A dela e da minha mãe adoptiva, a Serena…


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Notas finais do capítulo

N.A. Mais um capítulo Aqui vêm a insegurança que eu falei, anteriormente, do Harry ele é seguro em muitos aspectos mas o verdadeiro problema dele é a insegurança que ele tem nele próprio. Mais sobre o capítulo... a Serena era para ser um bocadinho mais mázinha mas esta foi daquelas coisas que a história simplesmente tem. No geral, este capítulo não está ainda completamente do meu gosto mas acho que passa. Por isso, até ao próximo capítulo, onde temos os gémeos Weasley e mais desenvolvimentos familiares. Deixo-vos com um bocadinho dele. Até lá =).
— Eu sei! E é esse o problema! Desde que isto aconteceu vocês estão em todo o lado. De manhã, à tarde, à noite, até nos meus pesadelos! Eu exaltei-me olhando para ela. Eu preciso de espaço! Eu preciso de pensar! E com vocês aqui, em cima de mim, a fazer-me pressão não consigo. Só consigo pensar no que a minha vida seria se vocês me tivessem procurado. Porque é que vocês estão a ser assim, pegajosos, carentes, quando era muito mais fácil admitirem somente que vocês precisam de mim. Sabem que eu nunca tinha adivinhado que vocês eram assim? Que nunca tinha pensado que vocês estavam realmente vivos? Que eu estava sozinho e isso era suficiente? Agora eu tenho uma família. Uma família que não me larga e que não me compreende porque não me conhece.


Rafaela Shade Sky: Obrigada. Esta fic está escrita até o capítulo 17... só demorei mais tempo neste porque tinha alguns erros e é muito grande. Então pode esperar atualizações rápidas entre os capítulos ;).



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