27. Políticas

“Confusão é o nome que inventámos para uma ordem que não compreendemos”

Henry Miller

Fora o incidente onde eu recebi uma carta da Hermione a desejar-me uma boa Páscoa, com os apontamentos dela para me ajudar a estudar, o resto da semana passou sem mais incidentes. Contudo, devido a essa carta, passei o resto desse dia a receber comentários irónicos do Sirius e da Natalie. Enfim, o importante foi que eu consegui estar em paz, mesmo estando a viver no mesmo teto que ela e, por isso, fiquei desprevenido quando um dia ao acordar, deparei-me com muitas visitas em casa. Eu reconheci os gémeos Weasley, mais dois Weasley — cujos nomes não me lembrava, apesar das faces deles serem familiares — o Neville Longbottom e o Cedric Diggory, na minha sala de estar a conversar animadamente entre si.

Paralisei e fiquei a olhar para eles do alto das escadas, ainda de pijama porque era cedo e não tinha nada de especial para fazer visto que o Remus não me iria dar aulas naquela sexta-feira. Além de que como todos os outros adultos mágicos tinham que ir trabalhar, inclusive o Sirius — o que foi uma gigante surpresa para mim —, eu não tinha mesmo nada de especial para fazer.

— Finalmente vem de encontro a nós, Vossa Alteza.

Revirei os olhos ao ver que os gémeos foram os primeiros a ver-me, fazendo todos os presentes fixarem a sua atenção em mim. Estava a sentir-me ligeiramente desconfortável, tendo consciência que estava com um pijama com vassouras a moverem-se, extremamente infantil, e que ninguém me tinha avisado que tínhamos visitas. Por isso, olhei para a Natalie que estava sentada numa poltrona, perto do Cedric e dos gémeos e mandei-lhe um olhar zangado que ela só respondeu com o gesto de levantar uma sobrancelha.

— Natalie, por que é que não me avisaste que tínhamos visitas? — perguntei sentindo o meu choque começar a desaparecer e tentando fazer a minha voz amigável para não assustar aquelas pessoas desconhecidas, mas ao mesmo tempo obrigando a Natalie a responder-me à maldita pergunta. Porém, não foi ela que me respondeu.

— Porque ela também não sabia. Só hoje é que decidimos que as crianças em vez de ficarem sozinhas em cada casa, podiam ficar todas aqui — disse uma voz atrás de mim e não me surpreendi quando o Sirius ficou ao meu lado. No entanto, surpreendi-me por o ver tão bem vestido, usando inclusive a sua capa, que ele dizia que não servia para nada além de prejudicar a agilidade de um bruxo.

Pisquei mais uma vez os olhos, tentando certificar-me que não estava a dormir e que tinha mesmo a sala cheia de pessoas e ele estava vestido como se fosse parte da nobreza, que provavelmente fazia, visto que ele pertencia às famílias Muito Nobres e Antigas.

— Vocês vão todos para o campo de Quidditch se não me engano - ouvi-o dizer enquanto descia as escadas, passando por mim, distraidamente. – Eu mandei os elfos domésticos vigiarem-vos e fazerem-me relatórios, por isso, não façam nenhuma festa que se não a vossa mãe aparece aqui – ouvi o tom de aviso dele para os gémeos, o que era estranho por eu nunca o ouvir. – Alguém tem perguntas?

Nós tínhamos elfos domésticos? Como é que eu nunca tinha visto nenhum vestígio deles no meu tempo ali? Era a pergunta que eu queria fazer, mas sabia que não era apropriada para o momento com tantos presentes a observarem-me.

— Bem, eu já estou atrasado, por isso, vou-me embora. Harry, — despertei ao ouvir o tom sério dele. — a Rose e o Charles já foram para a escola, por isso, não te precisas de preocupar com eles — ele fez uma pausa, olhando de mim para os outros presentes. — Conheces todas as pessoas?

Senti as minhas feições enrijecerem para esconder o meu nervosismo ao ver todos fixarem a sua atenção em mim. Eu sabia que não conhecia o nome de alguns, mas mesmo assim assenti e vi o Sirius sorrir, o primeiro sorriso daquela manhã.

— Ainda bem. Divirtam-se — murmurou, mandando mais um olhar para a Natalie que continuava em silêncio e foi em direção à porta, provavelmente, indo Aparecer fora do terreno da casa.

Eu acho que eles estavam em sincronia, porque mal ele saiu várias pessoas começaram a falar ao mesmo tempo. Devido a isso, eu não percebi nada e só acordei do meu estado paralisado quando os Gémeos subiram as escadas e ficaram à minha frente, com sorrisos marotos, idênticos.

— Ouvi dizer que aprendeste a voar — murmurou um.

— E que foste espetacular.

— Tens que nos mostrar!

Abanei a cabeça, tentando ficar realmente acordado e agir de acordo com aquela maluquice toda.

— Agora?

Eles assentiram, parecendo duas crianças.

— Eu preciso de ir comer primeiro — disse, finalmente, agindo e usando todo o meu orgulho para descer as escadas, murmurar um “olá” para os presentes e ir para a cozinha, sem corar, por estar de pijama, despenteado e sem saber como agir.

Suspirei de alívio quando retirei a minha torrada e o meu café. Eu realmente era burro por não ter concluído mais cedo que haviam elfos domésticos, afinal a comida aparecia muitas vezes feita e eles sempre me disseram para deixar os pratos na mesa porque eles ficavam limpos por magia. Não percebia era por que é que eles não me tinham dito mais cedo que tínhamos elfos domésticos…

Fiquei alerta quando ouvi passos e fiquei espantado quando vi a Natalie à porta, com a sua expressão habitual, isto é, sem expressão.

— Eles vão jogar Quidditch — murmurou e eu fiquei ainda mais espantado quando a vi sentar-se numa cadeira à minha frente. — Presumo que tenhas perguntas?

Alguma coisa estava realmente errada. Pessoas na sala-de-estar daquela casa que devia de estar muito protegida. O Sirius sério. Ela disposta a ajudar? Eu estava realmente a enlouquecer ou ainda não tinha acordado.

— Por que é que estão tantas pessoas aqui?

Ela suspirou e endireitou-se ainda mais na cadeira enquanto passava uma mão, distraidamente, pelo seu cabelo longo.

— Acho que te lembras de quando o meu pai disse que não tínhamos visitas à muito tempo. Então acredito que eles marcaram este dia para ficares à vontade com estas pessoas porque elas são visitas usais nesta casa.

Eu cocei a cabeça.

— Todas?

Eu espantei-me quando a vi lutar consigo própria para não sorrir.

— Sim. As nossas famílias como são influentes tem muitas outras famílias amigas ou aliadas. Antes de vir para aqui, a casa tinha sempre alguma visita.

Eu fiquei intrigado com aquela informação.

— Por que é que isso mudou?

Eu vi-a molhar os lábios antes de responder, parecendo ligeiramente indecisa.

— Acredito que foi pela tua posição com o mundo mágico. Eles tinham medo de te assustar além de que é muito complicado chegar aqui com as novas defesas que eles puseram.

Eu ainda tinha mais uma pergunta e tinha que aproveitar enquanto ela parecia sociável para mim.

— E por que é que não me disseram nada sobre os elfos domésticos?

Vi os olhos delas brilharem espantados, a única denúncia das suas emoções.

— Acredito que pelo mesmo motivo, no início. Além de que existem alguns bruxos contra elfos domésticos, principalmente, quando não sabem que a magia deles está diretamente ligada a eles estarem a servir a uma família. E antes que critiques, como só sabes fazer isso, — ah, o doce insulto. Já estava a faltar… — eles são pagos e têm muito tempo para descansar. Se falares com eles, eles vão ser uníssemos na sua vontade de ficar aqui e continuar a trabalhar.

Eu cruzei os braços, irritado com a falta de conhecimento dela sobre mim.

— Eu não ia dizer nada. Mas já agora, onde é que eu posso falar com eles?

Ela revirou os olhos, fazendo-me sentir uma pessoa muito inculta.

— Chama-os pelo nome deles, mas se perguntas onde é que eles estão, eles estão no andar de baixo que provavelmente te proibiram de ir porque está em renovações.

Era verdade, uma das poucas restrições que eles me tinham posto era a não ir para lá por estarem a fazer modificações. Agora que pensava nisso, deviam de ser os elfos domésticos a fazerem isso também.

— E como é que queres eu os chame se não sei o nome deles? — perguntei-lhe revirando os olhos e tendo prazer ao vê-la ficar surpreendida.

— Winny! — Foi a única resposta dela e eu surpreendi-me ao ouvir um “POP” e uma figura pequena aparecer à minha frente.

Ela era uma humanoide, afinal tinha dois braços, duas pernas, dois olhos e tudo o que caraterizava um humanoide, no entanto, ela era sem dúvidas, uma não humana. Primeiro, os seus olhos azuis eram demasiado grandes para a sua estatura pequena, que era do tamanho da mesa, depois tinha umas orelhas pontiagudas e grandes, como as de um morcego e além disso tinha a pele enrugada e um nariz comprido.

— Miss Black chamou Winny?

Acho que paralisei quando vi aquela pequena criatura parecer tão submissa. Até as suas orelhas estavam para trás, fazendo-me ter uma imagem mental de um cão que estava a ser reprimido pelo dono.

— Se quiseres alguma coisa podes chamá-la — ouvi a Natalie dizer com uma voz estranhamente simpática. — Winny este é o Harry Potter. A partir de agora se ele precisar de alguma coisa, ele pede-te. — Ela parou e eu tive quase a certeza que a vi olhar para a Winny com carinho. — Trata-o como me tratas a mim e Potter, — ela virou-se para mim e eu vi alarmado que já tinha voltado à sua voz fria — trata-a bem, também.

Eu só consegui assentir, espantado pela proteção que ela lhe estava a dar.

— Onde Winny pode ajudar o grande Harry Potter? — perguntou excitada, quase pulando de alegria.

— Era só para o conheceres. – A Natalie voltou a falar com aquela voz suave que eu achava que ela só tinha para o Charles. — Obrigada, Winny.

O elfo doméstico assentiu e desapareceu com outro “POP”. Eu continuava demasiado paralisado para conseguir dizer alguma coisa, mas a Natalie já estava no seu normal.

— Tens mais alguma dúvida?

Franzi a testa, desconfiado com a disponibilidade dela. Ela continuava com o seu tom frio, sem demonstrar emoções mas mesmo assim, ser tão prestável a ajudar-me mostrava que estava alguma coisa errada.

— Por que é que me estás a ajudar?

Vi num segundo a expressão dela destruir-se mostrando espanto, pela forma como os seus lábios se entreabriam e ela moveu-se suavemente para trás, mas isso desapareceu noutro segundo, enrijecendo a sua expressão e endireitando-se ainda mais.

— Porque os Black e os Potter têm fama de bons anfitriões e isso não vai mudar hoje. Então, eu tinha que te mandar vestir alguma coisa decente e ir ter com os convidados. — O olhar dela perdeu-se numa vassoura da minha camisola que estava a voar entre o meu ombro e o meu cotovelo. — Que foi o que eu vim fazer. Estas respostas que eu te dei foi só para te informar e não fazeres figura de parvo — Ela levantou-se. — Ou melhor, não fazeres figura de ainda mais parvo. Assim não me podes culpar pela tua falta de conhecimento. — Ela deu de ombros e eu vi-a deslocar-se para a porta, no entanto, parou antes de chegar lá e virou-se mais uma vez para trás. — Quando acabares vai ter ao campo.

Eu assenti e lembrei-me que afinal tinha ainda mais uma pergunta.

— Espera, tenho mais uma pergunta. — Ela parou quando se estava a virar e eu vi-a dar-me mais um olhar estranho antes de ficar com a sua postura normal. — Sabes por que é que não está aqui ninguém? E o teu pai estava tão bem vestido?

A Natalie olhou por uns segundos para mim, sem sequer pestanejar até que assentiu.

— Sei por alto. É um assunto do Winzegamot por causa da nova lei que eles querem passar.

— Que lei?

Ela inclinou ligeiramente a cabeça, parecendo confusa.

— Não lês o jornal?

Senti-me corar contra a minha vontade. Eu tinha lido uma vez o jornal, no entanto, como vi que aquilo era só a falar de mim, em como eu era poderoso, maluco, o salvador e não sei mais o quê, parei de ler. Se eu quisesse saber mais sobre mim, eu não iria descobrir num jornal!

— Não – admiti a contragosto e eu vi os olhos dela suavizarem-se, parecendo ter ficado divertida com aquela informação.

— Então lê e ficas a saber qual é a lei.

Eu juro que a vi sorrir antes de me virar as costas e sair dali, deixando-me frustrado. De que lei é que ela estava a falar?

–--OLC---

O Winzegamot era uma farsa, uma farsa tão grande que ganhava quem fosse o melhor ator e tivesse a melhor história ou contatos. Era só observar a forma como as pessoas falavam naquela sala oval, com algumas já sentadas enquanto outras se mantinham em pé, conversando e tentando ganhar influência. Ali, era o coração da política do mundo bruxo e encontrava-se, teoricamente, as cinquenta famílias mais importantes desse mundo. Os Black, os Potter, os Longbotoom, Diggory, Malfoy, Goyle eram só algumas dessas famílias. Sem dúvidas das mais influenciáveis, os três primeiro com a fração considerada da Luz, os Diggory, da fração neutra, e os últimos dois da que seguia os métodos mais tradicionais, os das Trevas.

O Sirius suspirou perguntando-se como é que ele tinha ido parar naquela posição, a defender o lado da “Luz” contra o Ministério e o jovem e enigmático Tom Riddle, que ainda era pouco mais do que um fantasma, mas que eventualmente iria retornar.

Ele acordou dos seus pensamentos quando viu o Malfoy acenar. Fez-lhe o mesmo e viu sem espanto que o outro começou a falar rapidamente com outra pessoa.

Respirar…

Sorrir…

Ser simpático…

Espalhar o charme.

Era tudo o que precisava de fazer e com anos de experiência devia de ser fácil, mas não era. Não era quando tudo o que queria era tirar a sua varinha, apontar para os Devoradores da Morte que estavam mesmo à sua frente e prendê-los.

— Preparado?

O Sirius mandou outros dos seus sorrisos encorajadores para o seu companheiro, Amos Diggory. Ele era um homem alto, com um rosto corado, barba, olhos e cabelo castanho. A sua barriga acentuada e o facto de falar alto fazia com que ele por vezes parecesse rude, contudo, ninguém negava que ele era importante. O Diggory trabalhava no Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas e como a Lily, que ainda estava para aparecer, eles tinham sido dispensados para conseguirem estar ali. Só o James é que não tinha tido despensa, visto que precisavam de estar em estado de segurança máxima (palavras do Ministro), porém aquilo era mentira. Ele só não podia porque o Fudge odiava-o e estava a fazer uma campanha para destruir o bom nome dele. Também iria tentar fazer o mesmo com a Lily, se conseguisse… mas ninguém mandava no Departamento dos Mistérios, nem o próprio Ministro e, por muito que a sua amiga não pudesse falar, o Sirius tinha um pressentimento que o atual Diretor gostava do lado deles e apoiava-os como conseguia.

— O Frank já chegou ou a Lily?

— Não — o Sirius ouviu o outro dizer enquanto observava distraidamente as pessoas presentes.

— Eles têm que chegar brevemente porque o Fudge não vai esperar por eles – observou.

Ele olhou para o seu companheiro ao ver que este gargalhou.

— Relaxa, Sirius, a lei não vai passar.

Ele estreitou os olhos, parecendo ameaçador, ao ver a descontração do mais velho.

— Não sabes.

— Ninguém vai ter coragem de votar a favor de uma lei muito drástica nas famílias neutras. Iria prejudicar a sua imagem.

Ele só suspirou como resposta, sentando-se com toda a dignidade que podia pôr naquele gesto e viu com espanto que o Dumbledore já estava presente e já se estavam a preparar para o início da sessão, enquanto a Lily e o Frank ainda não tinham chegado.

O Sirius endireitou-se mais, lembrando-se que não podia mostrar o quão preocupado estava com o que iria ser discutido ali. Ultimamente, tinham ocorrido diversos ataques de lobisomens e, devido a isso, foram pedidas novas leis, novas normas de segurança e o Ministro, tinha respondido afirmativamente ao pedido. Era naquele dia que ia ser apresentada a nova lei e o Sirius tinha um muito mau pressentimento, apesar de ter feito o que podia para não deixar passar uma lei muito ofensiva.

— Boa tarde.

Ele enrijeceu, vendo o Dumbledore dirigir-se às pessoas, pronto a dar inicio à sessão. Olhou para o sítio onde deviam de estar a Lily e o Frank e viu com alívio que os dois estavam já sentados, no lado oposto daquele anfiteatro, no lado da “luz”. O anfiteatro era largo, oval e tinha cadeiras confortáveis disponíveis em várias filas. No lado dele, da esquerda, eram onde estavam as famílias consideradas das Trevas e, por isso, é que tinha o Malfoy quase ao seu lado, com o típico sorriso dele, no rosto. No centro, que era onde estava o seu colega, Amos, começava o bloco neutro e do outro lado estava o lado da luz, com a Lily e o Frank.

— Esta sessão foi convocado pelo Ministro Cornelius Fudge para apresentar a mudança de estatutos relativa aos Lobisomens.

O Sirius piscou, despertando e olhando para o centro do anfiteatro onde estava uma mesa comprida com vários presentes. No meio encontrava-se o Ministro que se encontrava igual, com um chapéu colorido e uma arrogância que só ele conseguia ter. Ao lado dele, encontrava-se uma mulher que o fazia ter uma imagem mental de um sapo gigante pálido. Ela era pequena, tinha um rosto e uma boca larga, com muito pouco pescoço. Tinha um cabelo curto encaracolado, castanho e estava completamente vestida de cor-de-rosa, tendo até o seu laço na cabeça dessa cor. Ele sentiu a sua irritação crescer ao vê-la sorrir, sabendo que ela era a pessoa que influenciava mais o Ministro e achava todas as outras espécies mágicas inferiores, inclusive, os lobisomens. O facto de ela sorrir, não era um bom sinal.

Forçou-se a manter a sua postura séria, olhando para o lado dela onde estava uma cara conhecida, Percy Weasley, que tinha sido recentemente promovido a assistente júnior do Ministro e estava ali a servir como escrivão. Ele era alto, ruivo e com olhos azuis, como a maioria dos Weasley mas tinha um ar superior que o distanciava dos outros.

O Sirius forçou-se a sentar-se o mais direito possível, lembrando-se de que o futuro de muitas pessoas iria ser influenciado pelo que seria decidido ali. Podia ser que o Amos tivesse razão quando dizia que a lei iria ser razoável e aquele rumor assustador que o Dumbledore tinha ouvido, não passasse disso, de um rumor. De qualquer das maneiras, ele não se iria render e apesar de não ser um campo de uma batalha ele iria ganhar pelo Remus e todos os outros lobisomens.

–--OLC---

Eu pisquei os olhos, a pensar se não estava a alucinar.

Voltei a piscar e nada tinha mudado.

Tentei mexer-me e continuava preso por dois braços finos.

Fechei e voltei a abrir os olhos mais uma vez e continuei a ver uma face de uma adolescente à minha frente e a sentir alguém abraçar-me. Eu tinha chegado outra vez à sala, tive a ligeira impressão que estavam duas pessoas e sem nem ter tempo de retirar a varinha alguém alto e loiro veio a correr até mim e abraçou-me com força. O meu dia estava realmente normal…

— Hum, - murmurei, tossindo para chamar a atenção - desculpe, mas…

Suspirei de alívio quando ela me soltou, fazendo com que não tivesse que acabar a frase. A mulher que devia de ter cerca de trinta anos afastou-se de mim, pondo-se ao lado da adolescente que era muito parecida com ela e, por isso, devia de ser sua filha. Ambas tinham um cabelo loiro escuro, eram altas, tinham sobrancelhas muito claras e olhos grandes, que as faziam ter um ar de espanto. As faces eram finas, com as bochechas coradas. Os olhos eram ligeiramente diferentes, enquanto a mais velha tinha olhos azuis prata, a mais nova tinha uma cor mais clara, parecendo ser cinzento prateado.

Existia alguma coisa definitivamente distinta sobre elas, não sei se pela expressão curiosa da mais pequena ou se pelo ar de extrema felicidade da mais velha, mas elas pareciam diferentes das outras pessoas. Como se houvesse algo que as fizesse estar num nível superior e estivessem a ver algo que eu não conseguia. Eu perguntei-me se elas seriam algum tipo de génio.

— Finalmente voltaste — acordei quando a mais velha pôs as mãos na minha face, apertando-me as bochechas. — Demoraste a encontrar a tua casa.

Acho que só não abri a boca e não me fiz passar por atrasado mental, dizendo, “hã?” porque ela continuava a apertar-me as bochechas. Penso que também só não reagi mais violentamente porque estava a achar que estava a sonhar. Primeiro aquelas pessoas, depois a Natalie e depois… aquilo.

— Mãe, eu acho que ele está com muitos Wrackpurts perto dele que o estão a deixar confuso.

Para meu alívio, quando a mais jovem falou, com um tom sonhador, a outra largou as minhas bochechas.

— Quem são vocês? — perguntei logo, antes que a mulher fizesse mais alguma coisa desagradável.

Elas piscaram os olhos, em sintonia e eu vi duas idênticas expressões de espanto.

— Não te lembras de mim? — questionou a mais velha e eu neguei, dando um passo receoso para trás, ao ver que ela ficou devastada, pondo uma mão sobre o coração. — Eu sou a Elizabeth Lovegood. Tratei muitas vezes de ti quando eras pequeno.

Eu perguntei-me naquele instante se ela não estaria a confundir-me com o Charles.

— Ah, eu… não me está a confundir com o meu irmão?

Ela deu uma gargalhada cristalina e uma faixa do seu cabelo brilhou, fazendo-me ter uma ideia de um anjo.

— Claro que não Harry. O teu irmão é muito diferente de ti.

Então ela esperava que eu me lembrasse dela? Quando tinha menos de um ano?

— Bem, hum… — eu fiquei sem palavras. Ia perguntar o que ela queria mas isso devia de ser rude, por isso, limitei-me ao silêncio.

— Eu sou a Luna.

Espantei-me quando ouvi a voz sonhadora outra vez e vi a mais nova, a Luna, sorrir para mim.

— Harry — respondi, forçando-me a dar-lhe um sorriso, enquanto pensava em qual era a melhor maneira de sair dali. Eu, por norma, não era do tipo falador e não precisava de fazer aquilo, que nem sabia bem definir o que era. No entanto, até eu tinha que admitir que sair dali, sem dizer mais nada, era demasiado bruto, mesmo elas sendo muito estranhas.

— Eu sei que te chamas Harry — ela retrucou. — Quem não sabe?

O meu sorriso ainda ficou mais forçado, ao ver a resposta lógica dela.

— Ele está com um severo caso de Wrackpurts. — Observou a adolescente, inclinando a cabeça depois de ter ocorrido um silêncio de três segundos.

Já era a segunda vez que ela tinha mencionado aquilo e, por isso, não resisti a perguntar, acabando com aquele silêncio constrangedor:

— O que são Wrackpurts?

A mais nova abriu um sorriso, parecendo contente por eu ter perguntado.

— São criaturas invisíveis. Eles voam através do ouvido e fazem-te ficar confuso.

Acho que fiz uma careta, pensando em pequenos seres a entrarem-me pelo ouvido. Não era a visão que eu queria ter…

— Se tiveres pensamentos positivos, eles fogem — acrescentou, parecendo alheia à minha reação.

Eu assenti, mais porque ainda não sabia o que fazer do que porque estava a acreditar-me no que ouvia.

— Olá Sra. Lovegood, Luna – uma voz muito conhecida disse, fazendo-me suspirar de alívio ao ver a Natalie entrar pela sala.

— Natalie — senti vontade de rir quando vi a mais velha abraçar a Natalie com uma rapidez fenomenal, no entanto, fiquei sério quando a Natalie me mandou um olhar severo ao ver a minha expressão. — Como é que estás? Já não te via à tanto tempo. Já ouvi dizer que finalmente te livraste daquele traste de bruxo que…

— Olá, Sra. Lovegood. — a Natalie cortou-a, mandando-lhe um sorriso educado. — Os adultos Já foram para o Ministério, por isso, não os vai encontrar, porém se houver alguma coisa que possa fazer, diga.

— Oh, não — ela murmurou rapidamente, afastando-se, não parecendo minimamente perturbada por a Natalie a ter interrompido. — Eu só vim deixar a Luna porque a Lily pediu-me. No entanto, eu adormeci e cheguei atrasada.

A Natalie deu-lhe outro sorriso simpático e tive inveja dela. Ela era horrorosa para mim mas, pelos vistos, para as outras pessoas conseguia ser simpática, educada e carismática.

— E a falar de atraso, tenho que me ir embora – murmurou, dando outro abraço à Natalie que retribuiu. A Sra. Loveggod virou-se para mim e eu, inconscientemente, dei dois passos para trás mas parei quando vi que tinha ficado ao lado da Luna, que me observava com a cabeça ligeiramente inclinada, como se eu fosse uma espécie a ser investigada. — Foi um prazer voltar a ver-te Harry. — Ela deu-me outro abraço rápido. — À noite falo melhor contigo. — Disse dando-me um sorriso brilhante. — Luna, venho buscar-te mais tarde. Porta-te bem. — Ela murmurou, dando um beijo na testa da filha. — Até logo.

Eu só tive tempo de piscar os olhos quando a vi desaparecer no meio da sala, enquanto tocava no seu colar.

— É possível Desaparecer aqui? — perguntei para a Natalie, sabendo que por norma os adultos iam para a rua para fazer isso.

— Não. É uma chave de Portal que só os Inomináveis têm. – Quem me respondeu foi a Luna, fazendo-me olhar para ela inquisidor.

— Ela é Inominável?

— Sim.

Eu estava para abrir a boca outra vez para perguntar sobre os Inomináveis quando vi que a Natalie tinha andado até ao meu lado e me bateu na cabeça.

— Despacha-te. Tens todas as pessoas à tua espera lá fora.

Eu olhei chocado para ela. Ela tinha-se atrevido a bater-me? Ela não fazia isso. Ela tinha classe acima de tudo. Acho que os meus sentimentos foram demasiado explícitos porque ela só revirou os olhos.

— Despacha-te. — Insistiu outra vez, desta vez empurrando-me, pondo as suas mãos na minha barriga e puxando-me para trás. — Eu vou levar a Luna e as coisas necessárias para um jogo de Quidditch. É bom que não demores mais de um minuto!

Eu ia abrir a boca indignado, mas a Luna falou mais rapidamente.

— Vocês, os dois, têm um grave caso de Wrackpurts.

Eu olhei para ela, tentando decifrar aquilo, porque apesar de eu não ter muito conhecimento sobre o mundo mágico ainda me fazia impressão acreditar em pequenos seres, invisíveis, que entravam no meu ouvido.

— Harry!

Eu quase saltei quando ouvi o tom irritado da Natalie e comecei a andar para as escadas ao ver que ela se estava a aproximar outra vez de mim.

— Certo, certo. — Eu murmurei, saindo dali o mais rapidamente possível, indo para o meu quarto.

— Anda Luna. — Ouvi a Natalie dizer quando eu já tinha subido as escadas todas. Não olhei para trás com medo de que ela começasse a discutir comigo outra vez e, por isso, não vi o olhar divertido das duas bruxas para mim.

–--OLC---

A Lily mexeu, distraidamente, no cabelo pensando no que tinha ouvido. O Ministro queria pôr uma lei que obrigava os Lobisomens a registar-se no Ministério. Teoricamente, isso servia para eles poderem disponibilizar a poção mata-cão a todos os lobisomens existentes para não acontecerem mais destes casos. Até ali não havia problema, — apesar de ela desconfiar que esta atitude aparentemente inofensiva poderia ser usada contra eles — no entanto, o verdadeiro problema começou quando alguém perguntou o que acontecia aos que não eram registados. Se tivessem sido transformados durante mais de 2 meses e não estivessem registados, eles eram mortos à vista, no pior caso, ou ficavam 5 anos em Azkaban, no melhor caso. A distinção estava se eles estavam transformados ou não na altura de captura.

— O que achas?

— Que esta não é a lei toda. Este intervalo dá a possibilidade das pessoas saírem e de falarem para combinar a votação. Acho que o pior vem aí, ainda.

A Lily olhou para o Frank Longbottom e viu os olhos castanhos claro dele, brilharem, sérios. Ele, como o filho, tinha cabelo preto e tinha uma face ligeiramente arredondada, com umas orelhas um pouco grandes para a sua face. O seu cabelo era preto e curto, com um risco, fazendo-o ter um ar mais profissional. Estava vestido como auror, no entanto, como tinha a capa fechada só se via a gola e a parte debaixo das calças.

— O James devia de estar aqui. — A Lily murmurou, empurrando-se ainda mais contra a cadeira. — Eu não tenho jeito para isto e as pessoas não me respeitam como respeitam a ele.

— O Fudge nunca ia deixar.

A Lily sentou-se mais direita ao ver o olhar do Fudge para ela, sentando na sua posição de poder. Ele tinha feito de propósito, não deixar outra família os representar para esta votação — devido à extrema importância — e não deixar o James vir. Todos sabiam que devido a ser uma nascida Muggle os bruxos do Winzegatom não a respeitavam como respeitavam o seu marido e isso fazia com que ela não fosse falar em público.

— Verdade, mas o James representava muito melhor a nossa posição. Assim, só podem falar tu e o Sirius.

Ele deu de ombros, despreocupado

— Como vão as coisas em casa? Já estão melhores?

Ela suspirou olhando outra vez para o Ministro que desta vez se tinha levantado e estava a falar com alguns chefes de família. Aquele intervalo, teoricamente para comer, estava só a servir para as pessoas discutirem políticas.

— Sim, o Harry já se está a adaptar a nós.

— Então por que é que estás tão séria? É devido à lei?

A Lily fez uma careta, repreendendo-se mentalmente por ele a conhecer tão bem.

— Não… é a Natalie.

— O que se passou?

— Hogwarts — respondeu simplesmente, não querendo explicar toda a situação. — Eu só me tinha esquecido que nós quando somos jovens achamos que conseguimos resolver tudo sozinhos.

Ele olhou para ela, com simpatia.

— O Neville também passou por algumas dificuldades e não nos quis dizer. No entanto, ele teve bons amigos que o ajudaram.

A Lily sorriu, querendo manter a promessa que fez à Natalie de não contar mais que o estritamente necessário às outras pessoas. Ainda continuava preocupada com ela, ainda mais devido às complicações que ela iria ter, mas se ela lhe tinha dito para confiar nela porque ela tinha um plano, ela teria que cumprir a palavra. É claro que isso não iria evitar a conversa que o Sirius ia ter com ela. Existiam batalhas que eram para ser batalhadas pelas pessoas mais velhas e só as mais velhas.

–--OLC---

— Brilhante!

Eu pisquei os olhos ao sentir os gémeos apertarem-me num abraço, gritando de alegria. A minha equipa tinha perdido o jogo de Quidditch, mas eles só murmuravam como eu era brilhante… havia um limite para os elogios a dar a uma pessoa!

— Eu perdi, lembram-se disso? — Eu perguntei-lhes quando eles finalmente me largaram.

Nós tínhamos estado a jogar Quidditch e dividimo-nos em 2 equipas. Os gémeos eram batedores, ficando divididos entre as duas equipas, o Ron e o Neville ficaram como goleiros, a Natalie e a Ginny como artilheiras, eu e o Cedric como apanhadores e a Luna a relatar.

Eu tentei explicar-lhes que só tinha andado uma vez numa vassoura e nunca tinha jogado antes, no entanto, eles decidiram ignorar-me, dizendo que aquilo era pelo divertimento e não era para ganhar. Admito que foi um jogo divertido, nem que seja por ter voltado a voar, mas a minha equipa, o Ron, o Fred e a Natalie perderam porque eu não consegui apanhar o pomo-de-ouro. Eu ainda tentei, tentando acelerar o máximo possível, contudo a minha vassoura era antiga e o Cedric tinha mais experiência, apanhando o pomo com mérito.

— Claro que sim. — Eu senti o Fred passar um braço pelos meus ombros enquanto o George fazia o mesmo do outro lado. — No entanto, tu és um talento nato. Primeira vez a jogar e ainda fizeste o Cedric suar. Tens que ir para os Gryffindor. Nós precisamos de ti!

Eu revirei os olhos para eles.

— Claro, até para vocês conseguirem seguir o vosso plano de eu conquistar o mundo, não é?

Eles deram-me um sorriso igual, que me fez ter uma imagem mental de um gato a sorrir.

— Claro.

— Conquistar o mundo…

— Salvar uma princesa de um dragão enfurecido…

— Pôr os nossos inimigos de Quidditch de joelhos, a venerarem-te…

— São só alguns dos nossos planos para ti.

Eu grunhi, vendo que finalmente tinha chegado a casa e parando na cozinha.

— Vocês são malucos. — Observei.

— O que é a loucura? — Ouvi a voz sonhadora da Luna perguntar fazendo-me ter consciência que estávamos a ser acompanhados por várias pessoas que se encontravam atrás de nós.

— Loucura é alegria. — Disseram os gémeos ao mesmo tempo, fazendo-me revirar os olhos.

— Realmente, falta-te loucura. — Ela observou, olhando para mim com a cabeça, ligeiramente, inclinada.

Eu desta vez olhei chocado para a Luna, tentando perceber se ela me estava a ofender. No entanto, ela continuava com o seu ar sonhador sem qualquer malícia.

— Mas Harry, — ouvi a voz divertida do Cedric — eles têm razão. Tu vais ser um bom jogador de Quidditch.

Eu dei de ombros, não conseguindo acreditar-me no que eles estavam a dizer.

— Se quiseres eu posso ajudar-te a treinar — ele murmurou, parecendo estar a ser sincero.

— Acho que não é necessário — disse e espantei-me quando a Natalie veio para o lado de um dos gémeos e começou a falar.

— O que vocês querem fazer a seguir?

— Duelar! — Disseram os gémeos ao mesmo tempo, não deixando ninguém falar.

— Duelar? — Eu perguntei, incrédulo. — Contra quem?

Eu senti um arrepio quando vi o sorriso deles.

— Contra ti!

— Eu recuso-me. —murmurei, saindo do pé deles e sentando-me numa cadeira na cozinha, ficando de costas para eles.

— Vá lá…

— Assim podemos ajudar-te em algum feitiço…

— Não!

— Por favor…

— Não! Vocês podem duelar entre si que eu vou almoçar — disse, tentando ficar sério e não demonstrar nenhuma emoção, algo digno da Natalie.

Eu não vi a troca de olhares entre todos e, por isso, espantei-me quando a Natalie sentou-se ao meu lado.

— Ele tem razão. É hora de almoçar, por isso, devíamos todos comer e só depois decidir o que fazer.

Eu admito que me assustei quando desta vez eu vi uma troca de olhares entre os gémeos e a Natalie e eles se sentaram logo de seguida.

— Nós concordamos. — Disseram ao mesmo tempo, sentando-se do outro lado da Natalie.

Eu suspirei de alívio quando vi que os outros também se sentaram, o Cedric ao meu lado e os restantes espalhados pela mesa. À minha frente ficou o Neville e lembrei-me que ele ia ser o meu professor de herbologia.

— Sobre herbologia, — murmurei, vendo que a conversa paralela também tinha parado e estavam todos a ouvir-me — é necessário ler mais algum livro auxiliar?

Eu vi-o corar, parecendo constrangido por eu estar a falar com ele, mas mesmo assim, sorriu.

— Não, no entanto, posso recomendar-te uns livros se quiseres ler mais sobre isso.

Assenti e vi que apareceu magicamente comida na mesa, provavelmente por causa dos elfos domésticos. Aumentei mais o meu sorriso ao reparar que ele continuava a falar sobre herbologia, parecendo realmente feliz e esquecendo-se da sua timidez. Eu anuí, enquanto comecei a comer e passei o resto do almoço a ouvi-lo, com um sorriso divertido no rosto, concluindo que as pessoas da minha idade, bruxas, até eram suportáveis. É claro, com a exceção dos gémeos e da Natalie.

–--OLC---

— Isto é um absurdo! — O Sirius disse, quase se levantando, se não fosse pelo braço do Amos que o puxou contra a cadeira.

— Sirius! — avisou.

Ele sentou-se contra a cadeira, mandando olhares maldosos para o Ministro enquanto este finalmente se sentava depois de mais um discurso racista. Ele tinha proposto que fossem feitos campos, ou lugares só para lobisomens, onde eles fossem obrigados a viver lá, assim não havendo risco de contaminar mais ninguém. Aquela lei era barbárica! Completamente irrealista. Os lobisomens também tinha família e amigos sem serem lobisomens!

— Eu sei. — murmurou, vendo o olhar preocupado do companheiro. — Esta lei não vai passar!

O Amos assentiu, sentindo o seu bom humor desvanecer com aquele discurso.

— Presumo que saibas o que tens que dizer? — O Sirius perguntou, rígido, usando todo o seu autocontrolo para não enfeitiçar ninguém.

O Amos assentiu, vendo o Dumbledore dar, finalmente, palavra às outras pessoas. Ele levantou-se e novamente assentiu quando viu que lhe tinham dado permissão para falar.

— Obrigado. Eu gostaria de perguntar ao Excelentíssimo Ministro se na criação da lei, ele pensou que os Lobisomens também têm famílias que iriam ser obrigadas a afastar-se deles, tornando esta lei inumana.

Ele viu com ódio a gargalhada que a Umbridge deu.

— É claro que eles vão achar que nós lhes fizemos um favor, por finalmente se verem livre deles e estarem em segurança.

Ele estreitou os olhos e estava para responder, mas foi cortado pelas palavras frias do Dumbledore.

— Madame Umbridge, peço que só fale quando lhe for dirigida a palavra.

Viu com prazer a mulher ficar branca, porém esse prazer durou pouco porque o Ministro levantou-se outra vez, com um sorriso idiota no rosto.

— A nossa principal prioridade é ajudar os cidadãos. Todos temos que admitir que existe uma elevada ameaça a estes pelos lobisomens como os últimos ataques têm demonstrado. Por isso, por muito que algumas famílias fiquem desconfortáveis e achem a medida demasiado excessiva é a única solução a curto-prazo. Num futuro, nós pretendemos rever a lei, mas agora é a opção mais eficiente de forma a parar esta ameaça!

Ele sentou-se, com a sua aura de autoconfiança que fazia o Sirius ter vontade de lhe bater. Essa vontade só aumentou quando viu a forma cúmplice como ele olhou para o Malfoy que, entretanto, também se tinha levantando, a pedir palavra. O Sirius teve um muito mau pressentimento e seguiu-lhe o exemplo, levantando-se e preparando-se para falar, sabendo que ia discordar do que ele ia dizer.

— Lord Malfoy. — Ouviu o Dumbledore dizer para o Malfoy, que continuava em pé, numa postura ereta.

— Boa-tarde — murmurou cordialmente, olhando para os outros presentes. — Eu acredito que as intenções do Ministro, na elaboração deste decreto, foram as melhores para a população bruxa, devido ao perigo que os lobisomens têm apresentado. — Ele fez uma pausa deliberada lendo com prazer as expressões dos presentes. — No entanto, tenho que discordar dele.

O Malfoy fez outra pausa, olhando diretamente para o Sirius, que ainda continuava em pé.

— Esta lei é demasiado agressiva para os Lobisomens quando eles são quase tão vítimas das circunstâncias quanto nós. Por isso, eu venho propor uma votação para que o Ministro faça modificações na sua proposta e a votação final seja adiada.

O Sirius viu com choque o Malfoy sentar-se. Ele podia ter esperado muitos discursos, mas aquele nem em sonhos.

— Lord Black.

Ele acordou com a voz do Dumbledore e olhou para ele, vendo de relance, a cara chocada do Ministro, mostrando que nem ele estava à espera.

— Eu… — o Sirius tossiu, recompondo a sua postura ao ver que todos os presentes o observavam — concordo com o Lord Malfoy.

Ele sentou-se de seguida, olhando outra vez para o Malfoy que o observava e sorriu, ao ver o seu olhar. O Sirius estava tão chocado que nem conseguiu retribuir, só desviando o olhar para o Dumbledore enquanto ele fazia a votação e via que a proposta dele tinha sido aprovada. Qual era o plano do Malfoy?