O Lado Cinzento escrita por Karinchan


Capítulo 11
Medo




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10. Medo

O medo de perder tira a vontade de ganhar”

Wanderley Luxemburgo



– Harry, perdoa-me. – A face pequena e redonda do homem encolheu-se enquanto caía uma lágrima. – Mas é a única forma. Espero que tenhas paz na grande aventura. – Senti um beijo contra a minha testa e ele pousou-me no chão.

Eu pisquei os olhos e tive uma estranha vontade de chorar. Eu não gostava do ar que aquele homem, antes divertido, mostrava e, por isso, chorei.

– Hey, pequeno rapaz. – O homem voltou e ajoelhou-se à minha frente. – Não chores. Está tudo bem. Vai para o sofá que o tio Peter tem umas coisas para tratar.

Eu olhei para o sorriso falso que o homem me mandou mas assenti e dirigi-me ao sofá, grande e fofinho que estava à frente de uma lareira.

– Certo, agora só é necessário desligar o Flu que o Mestre está a chegar. – Ouvi o homem dizer apressado e começar a falar numa língua estranha mas para meu espanto, ele deu um grito esganiçado. – Marlene!


– Snape, se tu fizeres algum mal ao meu filho, eu juro por Merlim que te enfeitiço até não saberes soletrar o teu nome.

Eu engoli em seco, acordando daquele estranho sonho e ouvindo, outra vez, a voz zangada do James.

– Lily, acho que precisas de levar o teu marido para dar um passeio. Assim, não consigo trabalhar.

– Severus…

– Se eu fizer algum erro, vocês vão ser os responsáveis. – Ouvi a voz dura do homem que nunca tinha ouvido antes falar. – O Dumbledore confia em mim, agora ou vocês vão sair porque sabem que é o melhor para o vosso filho ou eu faço-vos sair. O que preferem?

Ouvi o som de uns passos e alguns resmungos que foram calados com um “Chega” da Lily.

– Aqueles irresponsáveis… - Ouvi o outro homem, o tal de Snape, murmurar entre os dentes. – Nem sabem pôr uma criança em segurança e fazem-na passar por isto.

Senti algo bater contra mim e eu abri os olhos assustado, mesmo sabendo que esse simples gesto iria fazer o meu corpo todo doer.

Vi um homem com cabelos pretos pelos ombros e uns olhos da mesma cor, arregalá-los em espanto, vendo os meus abertos e murmurar um “Impossível” enquanto fazia um gesto com a varinha e eu voltava para o meu mundo sem cor.


–--OLC---


Acordei com a dor de algum líquido a entrar na minha boca contra a minha vontade, ao mesmo tempo em que alguém massajava a minha garganta. Abri os olhos assustados e vi a cara arregalada da enfermeira. Engoli, o tal líquido, acreditando naquela senhora e senti a minha garganta toda a arder.

– O-o que se passou? – Perguntei, sentido o meu corpo doer, sendo a dor principal no meu peito. Será que tinha tido um ataque cardíaco?

Ela suspirou e pousou o frasco que tinha na mão, na mesa ao meu lado.

– Não te lembras de nada?

Eu tentei concentrar-me para ver se me lembrava mas a minha cabeça doía-me tanto que era quase impossível pensar.

– Não. – Eu murmurei e fechei os olhos por causa da dor.

– Estás com muitas dores? – Ela perguntou, relutante.

– Sim. – Eu disse sincero, ainda com os olhos fechados, por causa, da iluminação.

Ouvi o som de frascos e senti ela pôr algo contra os meus lábios.

– Bebe, vai fazer passar-te as dores. Nem devias de estar acordado. – Ela murmurou como se estivesse chateada por eu estar.

Eu recusei a bebida, sentindo que algo estava muito errado.

– Isso vai-me fazer dormir?

– Não, tem calma. – Ela murmurou. – Mas devias de estar a dormir. Nem sei como é possível. – Ele murmurou mais para si do que para mim. – Isto vai fazer-te só ficares com menos dores e talvez, um pouco mais mole.

Eu assenti mais uma vez, acreditando-me nela e bebendo a poção. Como ela disse, as dores começaram a passar e eu, pela primeira vez, consegui pensar. Contudo, isso não foi muito agradável porque me lembrei do que tinha acontecido.

– O que aconteceu? – Eu perguntei e tentei-me levantar mas os meus braços estavam demasiados fracos e todo o meu corpo caiu.

Ela suspirou e passou uma mão pela minha testa, num gesto carinhoso que me deixou completamente sem acção.

– O que aconteceu é que parece que não podes ter paz. – Ela disse e tirou a sua mão da minha testa para se virar e agarrar os frascos que tinha pousado. – Os Devoradores da Morte foram quase todos capturados pelos Aurores que chegaram, no entanto, não foi rápido o suficiente para salvarem a vida do Creevey. – Ela disse e eu ouvi a dor na voz dela. – Mas está descansado que isto não se repetirá. A escola está com segurança 24 horas e o próprio Director reforçou as proteções. Estamos mais seguros do que alguma vez estivemos.

Eu vi um flash, onde vi o corpo da criança a cair sem vida. Que escola era aquela que causava a morte de um aluno e só diziam que a segurança estava mais apertada?

– Uma pessoa morreu. – Eu disse, desgostoso.

E enfermeira fechou os olhos com dor e eu vi uma lágrima cair pela sua face.

– Eu sei e muitos mais poderiam ter morrido se não fosse pela tua ação e a dos Aurores, que agiram mal puseste os alunos em segurança. – Ela disse limpando a lágrima. – Por isso, estamos-te eternamente gratos.

Eu lembrei-me do motivo da morte da criança - eu estar vivo - e tive que olhar para o lado, não aguentando o olhar da enfermeira.

– Mas não lhe salvei a vida. Do que vale o meu esforço se nem consegui fazer isso?

– Harry, tu salvaste a vida de muitas pessoas. – Ela disse cheia de emoção.

– Mas não salvei a vida dos outros. E eles só morreram por minha causa. – Eu disse sentindo-me estranhamente cansado e sem energia.

– Tu não podes pensar assim! - Ela disse exaltada.

Eu olhei para ela e vi-a abrir mais uma vez a boca, no entanto, eu deixei levar-me pelo cansaço e ignorei-a, voltando ao meu mundo particular e, por isso, não ouvindo outra voz mais nova, que eu não conhecia chamar-me.


–--OLC---


– Vocês não podem estar aqui. – Ouvi a voz exasperada da Madame Pomfrey e eu decidi ficar com os olhos fechados para não continuar a discussão anterior.

– Mas eu preciso de ver… - Ouvi a voz da Lily dizer.

– Ele está a dormir e se eu deixasse cada pai ficar aqui por causa do filho, não havia espaço disponível nesta enfermaria.

– Mas o James e o Severus disseram-me que ele acordou. Eu só preciso de ver como ele está.

– Ele está a dormir e ele nem devia de estar acordado, estando a sofrer de exaustão mágica.

– Por favor…

– Lily, tu sabes o quanto eu simpatizo contigo. – Ela disse com um suspiro. – Mas eu não te posso deixar fazer isto. Ele está a descansar e se descobrem que te deixei passar aqui a noite, todos vão querer passar a noite com os filhos deles. Quando ele acordar, eu mando chamarem-te.

Houve um silêncio, onde eu tentei continuar a fingir que estava a dormir para não ter que falar com ninguém mas as dores que tinha pelo corpo todo estavam a dificultar esse fingimento.

– Está bem. – Ela disse depois de uma pausa. No entanto, não evitou acrescentar, com um tom preocupado. - Mas ele vai recuperar mesmo, não vai?

– Eu já disse que sim. A nível físico pelo menos que a psicológico…

– O que queres dizer com isso? – Ouvi a voz alarmada da minha mãe.

– Nada. Vai-te embora Lily, amanhã falas com ele.

Houve outro silêncio e eu ouvi passos, que calculei que fossem da Lily. Passado uns segundos, ouvi outra vez passos e presumi que fosse a Madame Pomfrey a ir para o seu quarto.

Suspirei de alívio quando vi que era mesmo isso e olhei à minha volta. Estava na enfermaria, a observar o teto branco que já era conhecido para mim e iria continuar a olhar para ele se não ouvisse uma voz ao meu lado.

– Estás acordado?

Eu olhei para o lado, assustado e espantei-me ao ver um rapaz de cabelos castanhos e olhos cinzas a observar-me. Pela escuridão da enfermaria, onde a única iluminação, eram as velas a arder, eu calculei que já fosse de noite.

– Sim. – Murmurei, olhando para ele, espantando-me quando o reconheci. Era o rapaz que tinha sido torturado.

Ele sorriu para mim, no que pareceu um sorriso verdadeiro e eu estremeci ao pensar no que seriam os seus verdadeiros sentimentos para mim. Ele tinha sofrido aquelas dores horríveis só porque eu não tinha aparecido mais cedo. Mordi o lábio e forcei-me a segurar as lágrimas que queria soltar. Estava estupidamente emocional e para controlar isso olhei para trás dele, vendo que as camas estavam cheias. Deviam de ser as outras vítimas.

– Eu queria agradecer-te. Tu salvaste a nossa vida.

Eu olhei para ele com confusão e só passado uns segundos é que percebi porque é que ele estava a agradecer-me, tendo sido eu o culpado. Era porque eu era uma porcaria de uma estrela para eles e, provavelmente, ele fazia parte das pessoas que me veneravam. Estava, estranhamente, com saudades da Natalie e do seu jeito insensível…

– Estou cansado. Vou dormir. – Disse simplesmente, fechando os olhos e decidindo ignorar aquele rapaz. Se ele queria o meu reconhecimento só porque me agradecia por uma coisa onde eu era o culpado, então estava muito enganado.


–--OLC---


– Gin, Gin, sabes que estás no caminho de parecer uma perseguidora…

– Maluca…

– Fanática…

– Assustadora…

Eu abri os olhos, reconhecendo a voz familiar dos Gémeos Weasley. Não me espantei ao ver o sorriso de lado deles, neste caso para uma jovem ruiva, com cabelo ondulado e uns brilhantes olhos castanhos, que estava à frente da minha cama a olhar para mim atentamente. Eu levantei uma sobrancelha, quando a vi abrir a boca espantada para mim e vi-a corar.

– Não sabia que estavam aqui. – Disse para os gémeos que se começaram a rir ao ver a jovem corar.

– Nós tentamos salvá-lo, meu Lord, no entanto, quando chegamos aos seus aposentos reais, já não estava lá. Só a sua mãe e o seu irmão, com um convidado um pouco chato que teve que ser expulso.

Eu fiz uma cara de descrença para eles, ignorando o olhar espantado da jovem para eles. Eles estavam mesmo a brincar com aquilo?

– Certo. – Disse o outro limpando a garganta, percebendo os meus pensamentos. – Nós não fomos apanhados. Tentamos ajudar-te, sabendo da tua situação, mas como o Fred disse, chegamos demasiado tarde.

Eu assenti distraidamente, pensando no quanto eu não sabia sobre aquela noite.

– Pelo menos ficaram em segurança. Fico contente. – Disse sorrindo para eles.

– Vocês conhecem-no? - Ouvi a voz chocada da rapariga e eu voltei a focar o meu olhar nela. Porque é que ela estava ali?

– Claro, ele é o nosso Lord. – Disse o Fred, com o seu habitual sorriso.

– E já agora…

– Esta é a nossa irmãzinha…

– Ginevra.

– Ginny! – Ela disse exaltada para eles.

Eu olhei para ela e realmente eles eram parecidos. Até a forma da face, fina, era a mesma.

– Sou o Harry. – Eu disse para ela e tive que limpar a minha garganta porque a voz estava a sair-me demasiado fraca.

– U-um prazer. – Ouvia dizer, corando ainda mais, o que me pareceu um feito impossível.

Eu olhei espantado para ela e vi-a sair dali e ir para a cama ao lado do outro jovem, que tinha falado comigo e que só observava a nossa conversa.

– Não ligues...

– Ela não é sempre assim…

– Mas tu és o herói dela…

– Renascido, como uma verdadeira fénix…

– E ela não aguenta a pressão…

Eu continuei a olhar descrente para eles e decidi ignorar o que eles diziam e puxar assuntos mais interessantes.

– Vocês sabem o que se passou?

Eles perderam o seu sorriso e assentiram.

– Sim. O que não sabes?

Eu tentei sentar-me e apesar da dor nos braços, felizmente, consegui-o fazer, com alguma dificuldade.

– Quase tudo. – Eu murmurei, fechando os olhos. – Nós fomos atacados pela Lestrange – disse e não consegui esconder o meu desprezo por esse nome – e um Pettergrew. A Natalie fugiu com um mascarado atrás dela. – Eu arregalei os olhos ao pensar nisso, ela não estava nos alunos capturados, será que lhe tinha acontecido alguma coisa de mal? – Ela está bem? – Perguntei rapidamente.

Eles não conseguiram evitar um sorriso.

– Sim, está. O teu irmão também. Nós incapacitamos o Devorador da Morte que a perseguia e depois fomos ajudar a tua mãe.

Eu deixei escapar a minha respiração, que nem tinha percebido que estava a segurar.

– Ainda bem. – Murmurei. – Depois eu tentei fazer com que a Lestrange me perseguisse, para dar uma chance à Lily de salvar o Charles, no entanto, não sei o que aconteceu mas ela parou de me perseguir e só sei que depois ela estava lá fora com os alunos. – Tive que fechar os olhos ao ver o corpo do rapaz a cair no chão sem vida.

– Pelo que sabemos, que é de muitas boas fontes. – Disse o George. – Este ataque foi cuidadosamente planeado. Tinham como principal objectivo matar-te e capturar os alunos de famílias importantes. Para tal, já que nós temos o hábito de passar o natal em casa, eles modificaram a nossa correspondência para fazer com que os nossos pais pensassem que nós queríamos cá ficar e nós pensarmos que os nossos pais estavam ocupados e, por isso, não nos poderiam ter em casa. Foi um passo perfeitamente executado e, infelizmente, todos fomos vítimas dele. O Dumbledore, já esteve a aumentar a segurança na nossa correspondência para evitar que as cartas sejam interceptadas.

– Eles conseguiram fazer isso?

– Provavelmente, conseguiam até apanhar as cartas nas casas das famílias, que é para onde vai a correspondência. – Ouvi a voz do meu companheiro do lado, o que tinha falado no dia anterior. – E já agora eu sou o Cedric.

– Harry.

Os gémeos pareceram espantando com a falta de simpatia da minha parte mas decidiram não dizer nada sobre esse assunto.

– Bem, depois, é que entra a parte que estamos a ter complicações em perceber. Pelos vistos, só um animagus é que entrou em Hogwarts, enquanto o Dumbledore e mais umas pessoas ficaram presas numa sala do Ministério.

– Está a haver a caça à bruxa, para saber como isso aconteceu lá. – Interrompeu outra voz e eu olhei para a cama ao lado da da Ginevra, onde estava um rapaz alto, com um cabelo preto curto e uns olhos castanhos esverdeados a olhar para mim. – Sou o Neville. O meu pai trabalha com o teu no Ministério. – Ele disse com um pequeno sorriso e eu acenei com a cabeça para ele.

– Mas se só entrou um como é que vieram aqueles todos? – Eu perguntei.

– Segundo o que os teus pais acreditam, Aquele-que-não-deve-de-ser-nomeado, inventou um feitiço, que fez os Devoradores transformarem-se completamente em ratos e, por isso, serem considerados como tal pelas proteções de Hogwarts. No entanto, era preciso um contrafeitiço para voltarem ao normal, que foi feito pelo Animagus e os fez começar a sua missão, que consistiu em chegarem ao pé de ti e acontecer o que sabes.

Eu tentei pensar no que eles disseram e fazia lógica. Dividiram-se a partir daquela sala e depois cada grupo ia capturar os seus alvos.

– Como é que vocês sabem isto tudo?

Eles deram outro sorriso enigmático e estavam para responder quando outra voz falou. Já estava a ficar farto de bruxos que se metiam em conversas alheias.

– Eles são os gémeos. Eles simplesmente sabem. – Ouvi a voz de gozo e observei o jovem que tinha falado. Ele estava de pé, a andar em direção ao Neville e à Ginevra e também devia de ser da família dos gémeos. Tinha olhos azuis, brilhantes, era ruivo com um cabelo curto, tinha as suas bochechas coradas, um queixo firme e sardas pelo rosto todo. – Sou o Ron. Irmão destes idiotas.

Eu assenti para ele e voltei a olhar para os gémeos outra vez.

– O-o – limpei mais uma vez a garganta ao ver a minha fala falhar. – Mais alguém ficou magoado?

– Bem, os professores foram envenenados pela comida dada por um elfo doméstico, que se infiltrou aqui. No entanto, não era para matar e conseguiram todos recuperar com o antidoto. Era só para não poderem ajudar. Fora eles, os únicos que foram afetados são os que estão aqui e tu salvaste.

Salvaste. Que engraçado, essa palavra fazia-me ser digno de um herói de contos de fadas, no entanto, não podiam estar mais errados. Eu era o monstro, que destruiu a paz naquela escola e que todos tratavam como se fosse herói. Aquilo era realmente o oposto da minha vida antiga, onde eu era o vilão pelo que não fazia. Aqui era o herói por lhes destruir a paz e fazer com que uma pessoa morresse.

Dennis Creevey. A criança que morreu.

– Eu não salvei ninguém. Se isto aconteceu foi por minha culpa!

Eu vi os gémeos trocaram um olhar preocupado e abrirem a boca para me responder mas eu decidi pará-los.

– Eu não quero saber! – Eles abriram a boca outra vez e eu voltei a impedi-los. – Eu não quero mesmo saber e tudo o que disserem agora só me vai irritar mais. – Disse, completamente honesto, não tendo energias para mentir.

Eles fecharam finalmente a boca com cara de contrariados, no entanto, alguém falou.

– Mas é verdade. És um herói. Afinal estavas vivo e salvaste a situação.

Eu olhei para o ruivo que falou, o tal de Ron e tentei ser o mais ameaçador possível.

– A situação que só ocorreu porque me queriam matar. Isto tudo – eu disse apontando para eles – só aconteceu porque o Voldemort soube que eu estava vivo. – Eu disse, ignorando, o arrepio que eles tiveram. – Ele, - apontei para o Cedric – só foi torturado porque eu não cheguei a tempo. O-o Creveey só morreu porque eu não cheguei a tempo. Eu não sou um herói como vocês todos pensam mas sim o causador disto tudo, por isso, parem de me venerar como se eu fosse um maldito deus.

Vi as faces perplexas deles para mim e a repreensão clara, pelo que eu disse. Sabia perfeitamente que se lhes desse oportunidade iriam tentar mudar a minha opinião e, por isso, decidi não dar essa oportunidade.

– O Creevey era vosso amigo? – Perguntei, desviando o meu olhar outra vez para os gémeos.

– Era da nossa casa. – Murmurou o Fred.

– Gryffindor.

– Vai ser feita uma cerimónia em sua honra em Janeiro mal os alunos voltem. O Dumbledore anunciou isso ontem.

Eu olhei para o chão, não aguentando ver a dor nos olhos dele e decidi-me que tinha que ir aquela cerimónia. Eu tinha sido o culpado, por isso, era o mínimo que podia fazer.

– Quanto tempo passou desde o incidente?

– 3 dias. Daqui a mais três dias é Natal. Alguns alunos, vão ter a oportunidade especial de ir para casa no meio das férias por causa do que aconteceu. Nós vamos mal a Ginny tenha alta. Se calhar também vais poder ir para casa.

Eu não consegui evitar rir-me sem humor.

– Como se isso fosse possível. Já nem me devem deixar sair daqui, quanto mais ir para casa.

Casa, o que seria para mim a minha casa? A minha antiga casa? O orfanato? A minha futura casa?

A tua casa é onde está a tua família.

Lembrei-me da frase que uma senhora que nos entrega às nossas famílias adotivas nos dizia. O problema, que ela se esquecia aparentemente, era que nós não tínhamos família, dai sermos órfãos e não era por assinarem uns papéis em como nos queriam, que essas pessoas se tornavam a nossa família.

Até aquele momento eu só considerava a Rose a minha família e era muito difícil achar mais alguém. Rose… Será que ela estava bem? Será que a tinham atacado? Mordi o lábio ao pensar no que o tal de Voldemort poderia fazer agora. Eu tinha que pôr todos em segurança, mesmo os que não fossem a minha família, para não acontecerem mais Creeveys e, por isso, naquele momento decidi-me de uma coisa: teria que desaparecer do mundo mágico.


–--OLC---


– O Harry não. – Sussurrou, baixando a varinha e uma bela mulher, de longos cabelos pretos, caiu no chão.

– D-dennis Creevey.- E o corpo da criança caiu no chão.

– Crucio. – Ouvi-a murmurar e quando olhei para a rua vi um aluno que parecia ter cerca de 17 anos contorcer-se no chão.

Acordei sobressaltado e eu vi assustado que já estava escuro outra vez. Levantei o meu tronco e tentei respirar, no entanto, o meu coração agitado não me deixava descansar. Puxei as pernas contra o meu peito e abracei-as, pousando o meu queixo nos meus joelhos. Eu não sabia quem era aquela mulher que tinha visto por relance mas todos os outros, eu sabia perfeitamente. Tinham sido mortos e torturados por aquela mulher maluca, que não mostrava amor nenhum às pessoas. Fechei os olhos com força, no entanto, abri-os logo de seguida porque veio-me a imagem do Creevey a cair no chão.

Aquilo não era normal.

Aquele mundo não era normal! Ter aquele tipo de poder tinha feito os bruxos pararem de respeitar a raça humana e, por isso, deviam de ser temidos. Eu não queria fazer parte daquilo e esperava, sinceramente, que a Rose também. Mas a Rose também não estava segura comigo, eu precisava de sair dali urgentemente!

Não sei bem o que estava a pensar mas levantei-me, sentido as minhas pernas fraquejarem e eu tive que me agarrar à cama para não cair.

– Onde é que vais?

Eu olhei para a voz que falou, o Cedric, que estava sentado na cama e a olhar para mim como se eu fosse maluco. Na cama ao lado, as pessoas também pareciam acordadas, estando a Ginny e o Neville a olhar para mim, com a mesma expressão.

– Eu tenho que sair daqui! Vocês não estão seguros comigo aqui. – Eu disse em pânico e vi a troca de olhares entre eles, como se eles achassem que eu estivesse mesmo doido.

– Nós estamos seguros. O Dumbledore está aqui e temos aurores a patrulhar os corredores. – Ouvi-o murmurar. – Não existe sítio mais seguro para estar.

Eu dei uma gargalhada sem humor e agarrei com mais força a minha cama, ao sentir os meus pés começarem a escorregar.

– Vocês todos dizem isso mas a verdade é que não estamos seguros. Tu foste torturado por minha causa, como é que podes estar tão calmo? Como é que não queres que eu me vá embora? Vocês viram uma criança ser assassinada por minha causa e tratam-me como herói, como é que vocês podem fazer isto? Este mundo é de malucos e vocês também são!

Como desculpa pelo meu comportamento, eu digo que não estava a pensar, só a sentir e era verdade. Estava meio acordado, com pânico e só via pessoas que não me compreendiam.

– Tens que te acalmar. – Ouviu-o dizer enquanto se levantava da cama. – Nós não vamos ignorar isto e isto não é normal. – Ele disse caminhando para o meu lado. – No entanto, a Bellatrix é maluca e sem ti ou contigo, ela iria fazer isto. Tu conseguiste-nos salvar dela e sem ti, provavelmente, eu tinha sido mais torturado ou mais alguém morto. Tu ajudaste-nos.

Eu desencostei-me, completamente estupefato com a estupidez destas pessoas.

– Mas ela só fez isso porque eu estava vivo! Ela só me queria! E quando eu fugi, a pensar que ela vinha atrás de mim, eu deveria era ter-me entregue ou então lutado, sozinho. Isto tudo aconteceu por causa da minha cobardia! Eu sou o culpado não o herói! – Eu gritei a última parte e devo ter posto tanta força nele que as minhas pernas enfraqueceram mais uma vez e eu cai no chão, com lágrimas nos olhos, a querer voltar simplesmente para o Louis, onde ele só fazia mal a mim. Eu queria a minha vida de volta!

– Harry! – Ouvi o grito chocado da Lily, ao mesmo tempo em que o Cedric aparecia no meu campo de visão, conjuntamente com os outros 2 que pareciam acordados.

Eu só deitei a minha cabeça no chão, sentindo as lágrimas molharem a minha face e todo o resto de energia que eu parecia ter, se evaporar. Eu estava cansado, tão cansado que só voltei a fechar os olhos, adormecendo mais uma vez.


–--OLC---



– Como é que isto foi possível? – Ouvi-me perguntar num sussurro, no entanto, os homens que estavam à minha frente, de joelhos, transpirados ouviram porque tremeram ao ouvir a repreensão na minha voz. – Primeiro, deixaram-se ser capturados e ainda por cima não trataram do Harry Potter?

Eu senti tanta raiva por essa pessoa que só em apetecia ir até ele e torturá-lo da pior maneira. No entanto, ele tinha uma sorte extraordinária e pelos vistos era poderoso. Como é que ele teria conseguido Aparecer dentro de Hogwarts? E fazer os alunos desaparecer? E a magia sem varinha? Aquela história dita pelos meus seguidores e pelos jornais era demasiado fantasiosa para ser real… ele podia ser o seu rival mas não podia ser tão poderoso!

– Vocês tinham tudo planeado, até caso fossem apanhados pelo Dumbledore! Porque é que não me trouxeram o Potter. – Eu sibilei e agarrei a varinha com tanta força que ela lançou faíscas. – Vocês falharam-me em todos os níveis! – Era um plano perfeito, perfeito! – Acreditem que ainda penso se vos salvar foi uma boa opção. – Olhei para a figura deles, cansados e parecendo doentes e não consegui sentir pena por aqueles inúteis. – Eu nunca pensei que vocês precisassem de usar as chaves de Portal que estavam nos vossos estômagos, nem que vos tivesse que salvar desse estado deprimente que vieram.

Fiz uma pausa dramática onde olhei mais uma vez para a minha mão esquelética que agarrava a varinha, que faiscava como se desejasse lançar o feitiço que sabia que iria ser lançado.

– Eu não perdoo e se vocês falharem mais alguma vez assim, podem ter a certeza que ficam sem um membro no mínimo. Eu só vos vou dar mais uma hipótese de apanharem o Harry Potter e desta vez, tenham a certeza absoluta que os reféns, estejam completamente seguros para ele se entregar.

Vi um suspirar de alívio, pensando que eu me tinha esquecido do castigo deles.

– Crucio. – Murmurei para ele e sorri com prazer, ao vê-lo gritar e contorcer-se.

Rapidamente, mandei outro crucio contra a pessoa que estava ao lado e senti a minha tensão começar a diminuir, ao ouvir os gritos deles em sintonia, como se fossem uma bela canção.

Sorri ainda mais ao olhar-me no espelho e ver uma figura esquelética, sem nariz, branca, com olhos vermelhos e sem cabelo, que transbordava uma aura de poder e assustador. Eles nunca se esqueceriam deste falhanço e da próxima vez o Harry Potter será trazido até mim!


–--OLC---


Acordei, sobressaltado mais uma vez, sentindo o meu coração bater loucamente no meu peito. Olhei rapidamente para todos os lados, tentando ver onde estava a ameaça, no entanto, estava tudo, aparentemente, vazio.

Sentei-me, preparando-me para me levantar, contudo lembrando-me da minha experiência anterior, decidi ficar lá, simplesmente, sentado e pensar no que fazer.

Primeiro de tudo, eu queria fugir dali. Isto era um facto.

Segundo, eu estava demasiado fraco para isso.

Terceiro, eu precisava de me certificar primeiro que a Rose ficasse em segurança apesar que o anonimato, da parte dela, a poderia colocar em segurança.

Quarto, eu estava mais assustado do que alguma vez estive na minha vida e não fazia a mínima ideia de como agir.

– Harry? – Ouvi uma voz hesitante chamar e espantei-me ao ver a Lily entrar na enfermaria, receosa. Contudo, ao ver-me levantar a cabeça para ela, ela sorriu e correu até mim, prendendo-me num abraço que me deixou sem ação. – Harry, que bom que estás finalmente bem. – Senti o aperto aumentar substancialmente e estava a começar a assustar-me com a força desumana dela. –Nunca mais faças o mesmo! Foste completamente maluco em ires para o meio da batalha. Se o teu pai não tivesse agido naquele momento tu tinhas morrido Harry. Morrido!

Para meu completo choque ela começou a chorar, agarrada a mim, sentando-se também na minha cama.

– Por favor, Harry promete-me que não fazes uma coisa destas, outra vez.

Ela queria que eu prometesse, que numa situação semelhante, eu não fosse salvar as pessoas e as deixasse morrer? Tudo bem que ela era a minha mãe, uma das pessoas que teoricamente teria que se importar comigo mas ignorar assim as outras pessoas? Como se elas não fossem importantes? Como se fossem órfãos que não valessem nada e estivessem abandonados ao mundo, podendo morrer porque ninguém sofreria por eles? Isso era errado, estúpido, extremamente insensível e eu fiquei sem palavras para lhe dizer aquilo, simplesmente me afastando do abraço dela, usando toda a minha força para isso e olhando para ela, com toda a dureza que a minha cara pudesse demonstrar.

– Como é que quer que eu prometa isso? – Eu perguntei, mostrando todo o meu desprezo pelo que ela tinha dito. – Morreu uma criança. Uma criança! E tudo o que a preocupa é que eu esteja em perigo mesmo que para isso morram outras pessoas? É por causa do apoio público? Porque quer ter o seu filho todo poderoso? – Ela abriu a boca para responder, no entanto, eu não a deixei. – Vocês bruxos são impossíveis. A vida das outras pessoas não valem nada pois não? – Eu perguntei, não reparando que estava a levantar a voz conforme falava. – Vocês não conseguem perceber porque é que se deve ter liberdade, respeitar a outra pessoa e eu agora já sei o porquê. Vocês têm tanto poder que nada é valioso.

– Harry… - Ouvi-a chamar-me com pena e algum sentimento que não consegui reconhecer.

Ela tentou agarrar-me a cara, com as suas mãos finas provavelmente para me dar um discurso mas eu não podia deixar que isso acontecesse. Eu tinha que ser forte e mesmo que a fizesse sofrer, era da maneira que ela e as pessoas que me rodeavam, ficariam em segurança.

– Não, eu não quero saber. A única coisa que eu quero saber é que eu não vou voltar mais para este mundo. Eu quero ir para o orfanato. – Eu disse e vi a cara chocada dela. – Lá eu vou estar longe de vocês e irei lidar com pessoas normais, que respeitam à sua maneira a outra pessoa.

– Tu não…

– É verdade! Vocês são malucos sedentos por poder. Por mim, a Rose nunca viria para este mundo mas eu sei que nada do que fizer vai-a fazer sair daqui, então quem sai sou eu. Não quero que isto aconteça mais, que pessoas inocentes sofram e, por isso, eu vou desaparecer. Acho que o destino nunca quis que eu pertencesse a este mundo… - Mais murmurei do que disse.

– Não podes dizer isso. O que aconteceu não foi – ela iria continuar a falar mas como eu sabia perfeitamente o que ela iria dizer, decidi interrompê-la, antes que os meus sentimentos conflituosos, que ela me estava a fazer ter, ganhassem e o meu desejo de abraçá-la, chorar no seu ombro e pedir proteção ganhasse.

– Eu não quero saber! – Ela abriu a boca mas eu calei-a mais uma vez. – Eu estou cansado, por isso, por favor saia.

– Harry… - Ela chamou o meu nome com tanta dor que eu só me lembrei de quando ela suplicou pela minha vida. Não era justo a fazer sofrer mas era necessário, mesmo que para isso, o resto de sentimentos que eu pudesse ter por figuras paternais morresse.

– Eu não quero saber. Por favor, saia! – Disse mais uma vez e ao ver que ela não iria agir, voltei a deitar-me, no pequeno espaço que ela me deixou disponível quando se sentou e fechei os olhos.

Eu estava verdadeiramente cansado e a minha mente ficou rapidamente ensonada. No entanto, não foi o suficiente para não sentir a lágrima que caiu na minha mão ou o suficiente para evitar espreitar e ver a figura dela sair pela porta, tendo o Charles e a Natalie à espera dela lá fora.


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Notas finais do capítulo

Bem, sobre o capítulo, tenho a dizer que o Harry é um adolescente que já passou por muito mas, no entanto, nunca lidou com uma morte. Por isso, a pressão de se sentir culpado, todo o medo que tem do mundo mágico só pelo que é e esta experiência nada animadora com a Bellatrix fizeram-no ter uma reação destas. Ele está com tanto medo que nem consegue pensar de forma correcta. Lembrem-se que ele tem também só 14 anos e já passou por muito na vida, então é perfeitamente normal que ele algum dia, quebre e entre em pânico.
No próximo capítulo, temos o desenrolar desta história, com o Dumbledore e mais umas quantas personagens. Obrigada por todos os comentários e favoritos que é isso que me faz continuar a fic. Espero que gostem deste capítulo e até o próximo =).

PS: Descobri que se deve de responder aos comentários nos próprios comentários e, por isso, a partir de agora faço isso. No entanto, desde já dou o meu muito obrigado a todos os que comentaram e puseram nos favoritos. Vocês são o coração das fics, nunca duvidem disso ^^.



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