Eu chorava muito. Minhas lagrimas desciam rapidamente, fora do meu controle. Minha visão estava embaçada, eu estava mais do que desesperada, mas mesmo assim, continuava dirigindo em alta velocidade. Eu realmente não sabia o que estava mais rápido: a velocidade do carro ou a queda das minhas lágrimas.

Eu já começava a sentir a costumeira dor de cabeça típica de muito tempo chorando. Mas isso não amenizava a dor que estava no meu coração. Eu não me conformaria viver num mundo onde ele não estivesse mais. A vida ficaria sem graça, sem cor, sem nada. E ao avistar a entrada da casa dele ao longe, pisei mais fundo no acelerador, e em questão de segundos já estava percorrendo seu jardim aos tropeços e gritando seu nome, numa ação de puro reflexo. Estranhei e me desesperei por ainda não ver nenhuma ambulância pelas redondezas.

Me joguei contra a porta, sendo um milagre o fato de não ter caído de cara no chão. Avistei tudo escuro, e ao me preparar para gritá-lo de novo e procura-lo pela casa, a luz foi acesa e pude ouvir um alto e estrondoso “Surpresa!”.

Fiquei mais atordoada do que estava antes. O que todas aquelas pessoas estavam fazendo ali? Por que estavam sorrindo se o Logan estava à beira da morte? Aliás, por que o Logan também estava ali, em pé, sorrindo em minha direção e sem nenhum indício de que havia tomado um tiro ou estava correndo risco de morte?

Depois de um tempo tentando raciocinar e assimilar os fatos e a situação, eu soube por que tudo aquilo estava acontecendo.

Era uma festa de aniversário surpresa. Mas acima de tudo, era uma sacanagem comigo.

Ele liga fingindo desespero, como se estivesse machucado, morrendo... Me faz correr risco de causar um acidente, de morrer também... E tudo por uma festa surpresa?! A intenção foi ótima, mas eu fiquei brava com ele. Porém, além de tudo, eu fiquei aliviada. Porque a razão dos meus melhores sentimentos estava ali, bem, seguro, e vivo.

– Seu otário! Você quer me matar? – avancei sobre ele, o abraçando o mais apertado que pude. – Eu dirigi ultrapassando a velocidade, correndo risco de ser presa ou de morrer num acidente só pra ver se você estava bem, e quando chego aqui era só por uma festa surpresa? Olha aqui, você não tem o direito de brincar desse jeito comigo! – ralhei com ele, ao mesmo tempo em que o enchia de beijos e o molhava com algumas poucas lágrimas que ainda caiam.

Eu era mesmo bipolar.

– Nem você, nem nenhum de vocês, seus cretinos! – me dirigi ao resto dos amigos, rindo e chorando. – Quem tramou isso, hein?

– A ideia da festa foi da Tiff, mas a desculpa pra te fazer vir até aqui foi total e exclusivamente culpa do Logan. – Brian disse.

– Eu não fiz por mal. – ele deu um sorrisinho mínimo e fez uma cara tão fofa, que eu me senti obrigada a abraça-lo novamente.

– Eu não estou nem aí, seu idiota. – sussurrei frente a seus lábios, fungando um pouco. – Nunca mais faça isso. Em circunstância nenhuma, ouviu?! Você não sabe o quanto eu me desesperei ao ouvir sua voz no telefone, me dizendo que havia tomado um tiro. Eu pensei nas piores coisas que podia ter pensado. Eu pensei na sua morte. E isso me destruiu. Mesmo que por minutos. – meus olhos voltaram a marejar. – Eu estou puta com você por ter feito isso, mas também estou muito agradecida, porque foi diante da possibilidade de nunca mais te ter que eu percebi: eu te amo, babaca. – duas lágrimas escaparam dos meus olhos, mas eu sorri.

Sorri por estar finalmente verbalizando o que eu vinha sentindo há muito tempo, porém não percebia. Sorri por estar dizendo isso a ele, mesmo que na frente de muitas pessoas. Sorri, por estar verdadeiramente feliz ao me declarar, e não insegura, como pensei que estaria.

– Eu também te amo, sua louca. Você não sabe o quanto eu estou querendo gritar e pular de felicidade por ouvir isso saindo da sua boca.

E eu não encontrei palavras para mostrar o que eu estava sentindo. Por isso o beijei, do jeito mais apaixonado que consegui.

– Esse é o melhor presente de aniversário que você poderia me dar! – falei assim que partimos o beijo.

– Eu guardei o melhor para o final. – ele sussurrou ao pé do meu ouvido, e sem me dar oportunidade de retrucar, me puxou de encontro ao nosso grupo de amigos.

Eu recebi mais abraços e mais felicitações de todos. Ficamos conversando – rindo do meu desespero e da minha cara de espanto quando eu cheguei – e após alguns minutos, a festa já estava do jeito que eu gosto: animada.

Saí por uns minutos para ir ao banheiro, e tentar arrumar a bagunça que eu havia me tornado. Meu reflexo diante do espelho estava de assustar qualquer um: meu cabelo se encontrava todo assanhado; a maquiagem, mesmo que pouca estava borrada; meu rosto e meus olhos estavam mais vermelhos que o normal; e eu praguejei o Logan até sua ultima geração. Me ajeitei o máximo que pude, e assim que me julguei apresentável para voltar, saí dali e fui de encontro a eles.

Mal cheguei e a Tiffany já foi logo me puxando para o bar, e ao sentarmos nos banquinhos que ali se encontravam, começamos a conversar:

– Então quer dizer que toda aquela história de Paris, a cidade do amor, era apenas desculpa para fazer uma festa surpresa para mim?

– Aham. Vai, pode dizer que eu sou genial. – ela se gabou. – Queríamos fazer algo diferente pra você, mas que fosse do seu agrado. E nada melhor do que uma festa pra isso!

– Eu me assusto com a sua capacidade de me conhecer tão bem. – a fiz rir. – Eu amei a festa. – disse, analisando a decoração, notando as pessoas se divertindo, e tendo a presença dos meus amigos.

Estava perfeito. Estava tudo do jeito que deveria estar. Do jeito que eu imaginei. Apesar de não ter nada de muito diferente da festa do ano anterior, eu sentia que estava melhor. Algo estava me fazendo mais do que feliz. E após vê-lo se aproximar, eu soube o porquê.

Era ele. Era o que nós sentíamos um pelo outro. Foi o que acabamos de declarar. E eu sentia que seria isso por muito tempo.

– Tiffany, vou roubar ela um pouquinho. – Logan falou. – Ah, e o meu irmão tá te procurando. – então pegou na minha mão, e me puxou.

Repousei meu copo de bebida, já vazio, novamente no balcão do bar improvisado. Segui-o até o meio da pista. Por pura ironia do destino – ou não – começou a tocar Thinking Out Loud. Rimos.

O quão irônico era começar a tocar uma música romântica no exato momento em que nós dois nos dirigimos à pista de dança? Isso mesmo. Era muito irônico. Mas não estávamos nos importando. Apenas colamos mais os nossos corpos, e passamos a dançar.

A melodia era maravilhosa. A letra também. E o melhor: condizia com a nossa situação.

I'm thinkin' bout how

Estou pensando em como

People fall in love in mysterious ways

As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas

Maybe just the touch of a hand

Talvez apenas o toque de uma mão

Me, I fall in love with you every single day

Eu me apaixono por você a cada dia

Nosso amor surgiu de uma maneira mais do que torta. Misteriosa seria só uma parte de como nós nos apaixonamos. E a cada dia, não importa o que haja, eu continuo me encantando e sentindo mais e mais por ele. Era inevitável. Como se aquilo fosse maior do que eu.

Maybe we found love right where we are

Talvez tenhamos achado o amor bem aqui, onde estamos

E aquela frase era a que mais se encaixava em nós. Veja só onde nos encontrávamos: numa festa. Praticamente igual àquela, onde tudo começou. Onde tivemos uma discussão. Onde ele me deu um fora. Onde eu fiquei com muita raiva. A partir de onde eu comecei com toda a loucura. Loucura que me fez perceber o quanto ele era incrível. E aí os sentimentos surgiram.

Nós encontramos o amor, bem aqui onde estamos agora.

– Que ironia essa música, não é? - falamos em uníssono. Rimos.

Era bom saber que ele pensava o mesmo que eu. Que ele gostava e ainda lembrava de toda nossa história.

– Você é a melhor pessoa que eu poderia ter me apaixonado. - não sei realmente porque estava dizendo aquilo. Só senti vontade e o fiz. - Eu tinha medo que isso um dia viesse a acontecer. Essa é a verdade. Eu morria de medo. Era insegura. Achava que ninguém gostaria de ter algo sério comigo, por mais que não parecesse. – isso era verdade. No fundo, sempre achei que os garotos só estivessem comigo por diversão. O que nunca me incomodou tanto. Mas eu pensava no futuro e me sentia apreensiva, achando que minha situação nunca mudaria. – Mas aí você apareceu, e aconteceu tudo de forma tão natural, que eu não senti nada além de felicidade e tranquilidade. Eu só pude agradecer, pra ser sincera. Porque você fez algo assustador, se tornar algo bom. E é por isso que eu te amo, porque você me transforma no melhor que eu posso ser e me traz o melhor que eu posso ter.

– Você já é a melhor, em todos os bons aspectos. Eu também sentia medo, sabe?! Eu fui traído por uma garota que sempre jurou me amar. Mas com você... mesmo sem dizer nada, eu sentia que podia confiar em você. Não sabia como, mas sentia. – ele riu de leve. – E o mais incrível é que aconteceu do nada. Eu não sei quando passei a confiar em você e me sentir seguro em relação ao que estava nutrindo por ti. Só aconteceu. Quando parei pra perceber, estava completamente apaixonado. Mas não me pareceu algo ruim. Muito pelo contrário: me pareceu algo extremamente bom, porque eu pensei: “Se tem de acontecer novamente, que seja por ela.”. Você é meu porto-seguro. E é por isso que eu também te amo. Porque você me passa segurança, me traz confiança, me faz enfrentar os meus medos, porque sei que independente de qualquer coisa, você sempre vai estar ao meu lado.

Sorri. E o beijei. Com todo o amor que consegui. Para mim, apenas falar não bastava, eu tinha que provar, o tanto que conseguisse, que realmente o amava. Eu sentia necessidade disso. Porque eu adorava ver o seu sorriso. Adorava saber que ele estava feliz por minha causa. Adorava saber que eu era a razão do brilho nos seus olhos. Isso me fazia mais do que bem. E eu passei a entender de verdade o que era o amor.

Amor é quando você põe a felicidade dos outros acima da sua. Quando você se importa mais com ela, do que com si mesmo. Quando você se sente bem apenas por estar perto. Quando você vê um lado bom até nos defeitos dessa pessoa. Porque amar é isso: é quando se enxerga o melhor e o pior que alguém pode ter, e mesmo assim, é como se esse alguém fosse a melhor pessoa do mundo. E realmente é. Para quem ama.

A festa foi um sucesso. Nos divertimos a noite toda. Estava tudo tão bom, que eu já estava sentindo saudades do momento antes mesmo de acabar.

Estávamos dançando ao som de Soundwave, quando eu me afastei para ir ao bar, pegar mais um Martini pra mim. Antes que pudesse por as mãos no copo, senti brações rodeando minha cintura, e pelo cheiro do perfume que eu pude sentir, não precisei fazer muito esforço pra saber que era o Logan.

– O que acha de irmos lá em cima? – ele sussurrou em meu ouvido e não pude evitar me arrepiar.

– Opa! O que tem em mente? – o tom malicioso tomou conta da minha voz.

– Seria clichê se eu dissesse “surpresa”? – acabei rindo.

Virei pra ele, e após depositar um selinho demorado em seus lábios, disse:

– Vamos.

Deixei meu copo, intocado, no balcão do bar e o segui até o andar de cima. Entramos no seu quarto, e antes que eu pudesse pensar em fazer qualquer coisa, ele me prensou contra a porta já fechada, e atacou meus lábios, num beijo cheio de paixão e desejo.

Eu não me cansava disso. Poderia passar o resto da vida apenas sentindo o gosto dos seus lábios. Mas para não perder o costume, e parecendo ler meus pensamentos, ele partiu o beijo e me guiou até a cama. Me pôs sentada e disse para eu não sair dali, pois tinha algo pra falar comigo. Nem fiquei nervosa.

Ele caminhou até o guarda-roupa, e após remexer por um tempo lá, voltou até a mim e com as mãos pra trás, como se estivesse escondendo alguma coisa. Bem, ele estava. E muitas coisas se passaram pela minha cabeça, inclusive que fosse o meu presente. Achei que deveria ser realmente algo especial, para que ele estivesse querendo me fazer uma surpresa.

– Então... Eu meio que não tenho muito o que falar, pois o que eu realmente queria dizer, eu disse lá em baixo, mais cedo. – ele começou. – Eu não queria ser previsível. Até pensei em fazer isso de outros modos, mas acabei percebendo que não iria importar como, onde ou quando acontecesse. O que realmente ia importar era que estivesse sendo feito de coração e com amor. E é por isso que eu não vou dizer mais coisas, porque você sabe o que eu sinto, e isso é o mais importante agora. – ele sorriu, e mostrou as mãos. Nelas estava uma caixinha típica daquelas que guardam anéis. E ao abri-la, eu confirmei minhas suspeitas: eram mesmo dois anéis. – Acho que você já percebeu o que eu quero fazer, não é? – ele riu, e eu assenti, porque fiquei sem saber o que dizer. – Então? Aceita namorar comigo?

Meu sorriso foi maior que o rosto. E eu achando que não tinha como a noite melhorar.

– Você ainda pergunta, idiota? – falei sorrindo, e o abracei com o máximo de força que consegui. – Eu te amo. É claro que aceito!

Então ele pegou minha mão, e encaixou o anel no meu dedo. Fiz o mesmo com ele.

– Eu também te amo. Mais do que pensei que um dia poderia. – falou, me beijando rapidamente.

– Obrigado. – soltei depois de um tempo.

– Pelo quê?

– Por ter aparecido em minha vida.