Ele gosta de mim.

Ele disse que gosta de mim.

O Logan acabou de assumir na minha frente que gosta de mim.

Vocês entenderam a dimensão dessa frase? Provavelmente não, porque não eram vocês que estavam loucos pra ouvir algo desse tipo vindo dele. Eu poderia dizer que estava irradiando felicidade, mas aí seria pouco demais. Na verdade, eu estava praticamente soltando fogos de artifícios.

– Você... Você gosta de mim?

O nervosismo/felicidade foi tanto que até minha voz falhou. Meu coração estava martelando dentro do peito. Parecia até que estavam fazendo uma festa lá.

– Olha, não é como se eu estivesse apaixonado por você... – ok, vamos fingir que isso não me afetou nem um pouco. – Mas é que... Antes eu não suportava a ideia de passar muito tempo perto de você e agora eu até gosto da sua presença. Tipo, pra quem se odiava, nós estamos muito amiguinhos. E sinceramente, eu preferia mil vezes a situação de antes!

Tá. Eu realmente não entendo esse garoto. A minutos atrás estava dizendo que gostava de mim, e agora fala que preferia nossa situação de antes. Que preferia mil vezes me ter implicando e infernizando a vida dele, do que como uma amiga. Prefere que a gente esteja longe se odiando, do que perto se gostando.

Cara, eu não posso ser tão ruim assim.

– Nossa Logan! Eu sou tão ruim assim? Pra você preferir que a gente se odeie e fique longe um do outro? – repeti meus pensamentos.

– Não é isso. Você não é ruim, nem de longe! – ele me deixou ainda mais confusa.

Acabou de dizer que eu não sou ruim, porem, as atitudes dele me mostram totalmente o contrario: me disse que a Cindy era melhor do que eu, já cansou de jogar na minha cara que eu sou um poço de defeitos – não que eu concorde com nada disso – me rejeitou duas vezes, e sem falar no “Você não vale nada!” de ontem. Além do mais, acabou de dizer que prefere me odiar do que gostar de mim. Sério, ele é a pessoa mais confusa que eu conheço. Além de mim é claro.

– Então por que me quer longe, se acha que eu não sou ruim? – tudo o que eu queria era tirar essa história a limpo.

– Por isso mesmo! Porque você é boa demais. E se a gente já partiu do ódio para a amizade, eu posso muito bem passar a gostar de você pra valer. E isso é o que eu menos quero!

Eu ate diria que ouvir isso foi um tanto ruim, mais aí seria eufemismo. Na verdade, ouvir isso foi devastador. E eu posso até estar sendo exagerada, mas isso me soou como alguém arrastando as unhas pontudas e afiadas num quadro negro.

– E por que não? – eu não sabia o que era maior: minha revolta ou minha confusão. – Você acabou de dizer que eu não sou uma pessoa ruim, mas depois vem e fala que o que menos quer é gostar de mim de verdade. Qual o problema comigo?

– Por incrível que pareça, problema nenhum. Eu te critico, te rejeito, ponho mil defeitos em você, mas isso não muda o fato de que você é muita areia pro meu caminhãozinho. E não pense que isso é baixa autoestima, porque eu confio em mim mesmo, mas é só que garotos como eu não devem se envolver como garotas como você.

– E por que não? – repeti a pergunta.

– Mellany, olha só pra você! Eu odeio a vida que você leva, porque detesto toda essa coisa de popularidade. Eu odeio esse mundo em que você vive! E isso é o suficiente pra saber que eu e você, juntos, jamais daríamos certo.

– Você é muito idiota Logan! Quer se afastar de mim só por isso? – perguntei incrédula. – Olha, não é como se estivéssemos prestes a dar inicio a uma relação amorosa. Seriamos só amigos, e não namorados! – por mais que a segunda opção me agrade um pouco.

– E é isso que me preocupa! Se de repente já passamos do ódio para a amizade, eu posso muito bem me apaixonar por você! Porque eu sei, e você também sabe, que isso não seria impossível, e nem difícil de acontecer! E quanto mais cedo eu evitar, melhor vai ser pra mim!

– Tá, mas e eu? Como fico nessa historia? Porque em todo esse tempo, só falamos de você, você e você! Em hora nenhuma você perguntou o que eu achava que seria melhor. Você só se importa com o que você pensa, mas se tem duas pessoas envolvidas, é preciso ouvir e levar em conta a opinião dos dois lados. – e essa foi a minha tentativa de fazê-lo concordar comigo.

A verdade é que eu não queria me afastar dele. Eu não sei como isso foi acontecer, mas o Logan se tornou uma pessoa importante pra mim e eu realmente não quero ter que ficar longe dele. Acho que sentiria falta da implicância recíproca que há entre nós e até das nossas discussões idiotas e desnecessárias. Vamos assumir que o que ele disse não é uma total mentira: nossa aproximação/amizade pode ser perigosa, mas eu tenho total controle sobre meus sentimentos. Eu acho.

– E qual sua opinião sobre isso?

– Que se afastar é uma péssima ideia. – ele me olhou como se não tivesse acreditado no que eu tinha acabado de dizer. – O quê? – perguntei confusa.

– É só isso que tem pra dizer? Depois de todo aquele discurso sobre egoísmo, o quanto eu só estava pensando em mim, ignorando a sua opinião e blá blá blá, é só isso que tem pra dizer? – ele continuou descrente e eu apenas assenti. – Caramba Mellany! Depois de toda aquela tempestade em copo d’água que você fez, uma resposta brilhante, com vários tópicos a serem discutidos e analisados, era o mínimo que eu podia esperar de você!

Revirei os olhos diante da resposta dele. Será que até nessas horas o Logan insiste em ser um nerd? Em exigir uma resposta brilhante? Ele pode ser inteligente pra muita coisa, mas é um lerdo pra tudo que envolve sentimentos.

– Foda-se a resposta brilhante Logan! Tudo o que você precisa saber é que se afastar vai ser a maior besteira que vamos fazer! E se você contestar isso é porque está com medo. – declarei me sentindo a rainha da cocada preta.

– Ah é?! E com medo de quê?

– De assumir a paixão e o desejo que sente por mim.

Então ele riu escandalosamente.

– É brincadeira, não é? Olha, eu posso ter assumido o quanto você é boa, e o meu medo de vir a me apaixonar por você, mas dizer que eu já estou apaixonado e sinto desejo por você já está ultrapassando os limites do absurdo!

– Eu continuo sem acreditar em nada do que você diz! Fala isso agora, mas na hora de aceitar a nossa amizade foge. Quero ver provar! – continuei pondo lenha na fogueira.

Eu sabia que uma hora ou outra ele ia ceder à minha provocação.

– Então é isso que você quer como prova? Tudo bem! Se é assim que você acha que vou poder provar as minhas palavras, eu aceito ser seu amigo! – ele estendeu a mão, como se já tivéssemos acabado de fechar um acordo.

Apertei a mão dele e não me preocupei em esconder o sorriso vitorioso que acabar de tomar meus lábios. Nada melhor do que saber que meu poder de persuasão ainda está intacto!

– Ótimo!

– Ótimo! – ele me copiou.

Ficamos nos encarando por um tempo, e do nada, desatamos a rir. Eu não sei por que, mas foi algo inexplicavelmente bom. O clima ficou muito mais leve e nem parecia que há minutos atrás estávamos brigando. Apesar de que tudo começou com um pedido de desculpas.

– Então, amigos? – perguntei sorrindo verdadeiramente.

– Amigos! – ele devolveu o sorriso e parecia estar sendo tão verdadeiro quanto eu.

Não resisti e acabei o abraçando. Dei graças a Deus que ele retribuiu. O apertei com vontade e fiquei embriagada com o seu perfume. Não vou mentir, fiquei com uma vontade enorme de beijá-lo. Mas acabamos de “oficializar” nossa amizade, e isso não seria nem um pouco legal agora. Talvez mais tarde, quem sabe?!

– Meu Deus! Que tipo de drogas vocês fumaram? – esse tipo de pergunta só poderia vir da boca de uma pessoa.

– O que você quer David? – revirei os olhos e parti o abraço a contragosto.

– Quero saber o que foi que vocês fumaram pra estarem nesse clima de paz e amor! Até ontem, estavam brigando parecendo dois inimigos mortais, e hoje estão aí se abraçando e sorrindo como se fosse eternos amigos.

– Bom, eternos só o tempo pra dizer, mas amigos, acabamos de nos tornar. – Logan me olhou e piscou sorrindo.

Meu sorriso se alargou ainda mais ao ouvir o quão bom soava a palavra “amigos” saindo da boca rosada e convidativa dele.

– E o que aconteceu com o “Você não vale nada!” de ontem? – David continuou falando idiotices.

Juro que se tivesse uma barra de ferro aqui, eu não pensaria duas vezes antes de usá-la.

– David, se não quiser apanhar, é melhor ficar quietinho e parar de se intrometer onde não foi chamado. – diante de minhas palavras e de meu olhar mortal, ele recuou.

– Mas vem cá, quem vocês acham que estão enganando com esse papinho de serem amigos? – Brian perguntou estreitando os olhos.

Olhei confusa para o Logan, e vice-versa.

– Ahn? – perguntamos em uníssono.

– Essa história de “amizade”... – ele fez aspas com as mãos. – É só pra disfarçar o amor reprimido de vocês. Na verdade, vocês deveriam assumir logo um romance!

Franzi o cenho em sua direção e abri a boca pra falar algo, mas nem isso consegui, tamanha era a minha vontade de bater no Brian até ele sangrar. Ao meu lado, Logan balançava a cabeça freneticamente, negando. Comecei a imitar seus movimentos.

– Cara, não fala merda! Não é nada disso que você tá pensando. – ele declarou.

– Essa desculpa já está velha... – Brian debochou.

– Velha vai ficar sua cara, quando eu te encher de tapas! – avancei com o objetivo de bater nele, mas o sinal soou, me impedindo.

– Vocês negam, negam, negam, mas já está mais do que na cara que se gostam. E não é de hoje! – Brian falou antes de se acomodar em seu lugar.

A professora de artes era até legal, mas a aula dela era um porre! E o fato dela estar falando da vida de um cara que já morreu, que não me interessa nem um pouco, e que não fez/fará nenhuma diferença na minha vida, só deixava tudo pior. Passei mais tempo prestando atenção nos ponteiros do relógio se arrastando do que na própria aula, que quando vi já era a hora da saída. Pulei da minha carteira, aproveitando que as minhas coisas já estavam todas arrumadas, e rumei pra fora da sala. O corredor estava totalmente cheio, o que dificultou minha chegada até a porta. E como se não bastasse isso, assim que cheguei lá perto, alguém prendeu meu braço, me impedindo de continuar caminhando. Já estava preparada pra soltar uns bons palavrões, quando vi que eram só as meninas.

– Oi! – cumprimentei.

– Será que a gente pode falar com você? – Brianna perguntou.

– Sejam rápidas, por favor.

– Ok. – ela respirou fundo e prosseguiu. – Olha, como você mesmo disse, você e o Logan estão brigados. E tipo... Queríamos saber como vai ficar o seu plano depois disso?

– Que plano? - assumi uma expressão confusa.

– Você não lembra? – ela me pareceu chocada. – Sua vingança, sabe? Depois dos “foras” que ele te deu. – acho que vi um tom meio debochado na voz dela, mas resolvi ignorar.

Lembrei-me do que ela estava falando na hora. Lembrei também que eu não estava nem um pouco empenhada pra fazer esse plano funcionar. Mas elas não precisavam saber, né?

– Ah, claro! Fiquem despreocupadas com isso. A gente já fez as pazes, e agora somos amigos!

– Sério? – Sharon perguntou.

Apenas assenti.

– Que ótimo! – Brianna exclamou entusiasmada. – Não vejo a hora de você acabar com a vida daquele idiota!

Disfarcei o desconforto que senti ao perceber o tom raivoso e esperançoso dela.

– Acabamos de oficializar nossa amizade, então eu tenho que ir com calma na questão de tentar conquistar ele. Mas pelo menos eu já consegui uma aproximação. Então fiquem tranquilas quanto a isso! – elas assentiram, e eu me despedi, indo até o carro.

Eu realmente não estava nem um pouco a fim de continuar com esse plano. Não estava me empenhando, e pra vocês verem o quão interessada eu estava, cheguei até a esquecer da existência dele. Mas elas não precisavam saber disso.

Não agora.