Lucinda Price

A cada tentativa frustrada de pensar no que me havia acabado de ser dirigido estava me deixando com dores de cabeça. Não vi outra alternativa de fuga além do meu minúsculo mas aconchegante quarto no reformatório.

Um anjo.

Como alguém em sã consciência poderia se intitular como um anjo caído?! Que merda estava acontecendo nessa escola?!

Lágrimas teimosas rolavam pelo meu rosto e eu não me preocupei nem um pouco em secá-las, eu só queria ficar deitada, sozinha e sem pretensão alguma de sair para ver a luz do dia.

—Lucinda? – Ariane bateu na porta. – Eu sei que você está ai, abra por favor.

Eu tinha plena ciência de que a baixinha não sairia dali enquanto eu não fosse até lá e abrisse a porta. Contra minha vontade, assim eu o fiz.

—Oh céus, o que houve com você? – Perguntou assim que focalizou meu rosto inchado devido as lágrimas.

—Não aconteceu nada, Ariane, fique tranquila. – Tentei passar firmeza em minha voz.

A garota em minha frente parecia me analisar com atenção, parecia querer ter certeza de que eu estava falando a verdade e aquilo me incomodou.

—Daniel abriu o bico não é mesmo? – Riu irônica. – Eu disse que você deveria ter ficado longe dele, Lucinda.

Paralisei.

O que a tampinha sabia sobre minha situação delicada com o Grigori? O que todos sabem e eu não?

—Espere um pouco, deixe eu ver se entendi bem o que você está insinuando. – Fechei os olhos com força os abrindo em seguida. – Você sabe sobre a maluquice que Daniel inventou de nos conhecermos de outras vidas?

Percebi que Ariane encolheu um pouco os ombros em sinal de vergonha o que aumentou minhas suspeitas em torno dela.

—Olha Luce, eu sei que isso soa ridículo e pura insanidade, mas acredite, Daniel estava sendo sincero com você, ele não mentiu. – Deu uma pausa respirando fundo. – Como uma prova de que isso é real eu preciso te confessar uma coisa...eu também sou um anjo caído.

Por um segundo senti minhas pernas falharem. O que estava acontecendo com as pessoas daquele lugar?! Estavam oferecendo drogas para os alunos, era isso?!

—Olha, vou ser bem sincera, eu preciso de um tempo. – Passei por ela a passos firmes.

—Droga! – Ela disse baixinho. – Aonde você vai?

Decidi não responder, não dessa vez.

Apenas sai daquele quarto e cruzei o corredor indo para a ala dos quartos dos meninos. Andei a passos rápidos em busca de encontrar algum tipo de porto seguro no meio do caminho.

Parei em frente a uma porta um tanto quanto conhecida e bati na mesma na esperança de que meu “salvador” estivesse ali. E para minha sorte, estava.

—Luce? – Um par de olhos verdes esmeralda me encararam um pouco surpresos. – O que houve com você?

Suspirei pesadamente cruzando os braços.

—Acho que você tinha razão em querer me deixar longe do Daniel, ele é um idiota mentiroso.

Um misto de confusão e divertimento passou pelos olhos dele.

—O que aquele desgraçado do Grigori te fez? Te machucou? Está ferida? Precisa de algo? – Segurou meus ombros buscando qualquer tipo de dano físico.

—Antes tivesse feito isso. – Bufei cruzando os braços. – Ele mentiu, Cam. Ele inventou umas coisas absurdas para justificar os erros dele.

—O que exatamente ele disse a você? – Questionou segurando minhas mãos de forma delicada.

—Cam, ele teve a cara de pau de dizer para mim que era um tipo de anjo caído e que nós nos conhecíamos de outras vidas. – Suspirei pesadamente. – Ele é completamente maluco.

Cam me olhou atentamente e deixou com que seu corpo enrijecesse.

—Sem sombra de dúvidas ele é maluco, Luce. – Concordou desviando um pouco o olhar.

Estranho...

—Você está bem? Você está meio estranho... – Toquei nos ombros dele.

—Se eu estou bem? Luce você está comigo, não preciso de mais nada para me sentir bem, a propósito, me perdoe ter te deixado ontem a noite, eu estava confuso e um pouco puto e acabei fazendo besteira. – Coçou a cabeça com um sorriso no rosto.

Automaticamente senti meu rosto aquecer e tenho certeza que estava ruborizada. Eu seria totalmente uma idiota se dissesse que não me sentia nem um pouquinho atraída pelo senhor olhos verdes.

Alguma coisa naquele olhar fazia com que as minhas pernas perdessem totalmente o equilíbrio. Não era nada comparado ao que eu sentia o lado de Daniel, mas era um misto de adrenalina e aventura que eu não sabia explicar.

Com Cam as coisas poderiam ser definidas como mais fáceis, mais possíveis.

E foi com esse pensamento que senti nossos corpos se aproximarem e consequentemente suas mãos repousarem em minha cintura me puxando para si.

Tinha consciência do que iria acontecer naquele momento e eu simplesmente não tinha pretensão nenhuma de recuar ou fugir alegando que estava doente ou que precisava fazer alguma coisa. Só deixei que sua boca fosse de encontro a minha e que ambos desfrutássemos daquilo sem medo.

Sem pensar que talvez, só talvez, Daniel não estivesse de fato, mentindo.

Daniel Grigori.

Eu estaria sendo um tanto quanto hipócrita em dizer que esperava ver Luce digerindo aquilo tudo numa boa. A reação dela foi até um pouco mais amena visto a gravidade da situação.

O fato é que as coisas não estavam menos complicadas por isso. Eu tinha que encontrar algum jeito, alguma forma de provar para ela que eu não sou um maluco e que sim, eu estava sendo sincero.

—Daniel! Finalmente encontrei você! – Ariane veio ao meu encontro correndo.

—O que houve? Esteve com ela? – Perguntei assim que ela estacionou ao meu lado.

—Sim, e ela estava arrasada, não acreditou em nenhuma palavra do que eu disse, e nem que você disse. - Ela falou desanimada.

—É...não vou dizer que não esperava por isso, mas foi um baque e tanto para ela. – Fitei as lápides ao meu redor.

—Acho que você tem razão, foi um tremendo baque para a coitadinha, no lugar dela eu também ficaria assim. – Suspirou pesadamente.

—Cuidarei para reverter essa situação, sei exatamente o que devo fazer. – Voltei meu olhar para o céu.

—E o que você pretende fazer? – Questionou a baixinha.

—Segredo... – Dei de ombros andando sem rumo aparente.