Lucinda Price

Ariane me puxou para longe do refeitório da mesma forma que me levou para o mesmo. Seguíamos agora para a igreja que eles insistiam em chamar de ginásio para esportes.

Chegando ao local pude notar que o mesmo estava cheio, algumas pessoas brincavam umas com as outras, enquanto os demais apenas fumavam um cigarro ou demonstravam melancolia, depressivo não é mesmo?!

Foi observando essas atitudes alheias que percebi a figura alta e pálida de Cam Briel em minha frente.

—Bizarro não acha?! – Ele se prontificou em minha frente.

—Depende do ponto de vista que formos analisar. – Sorri cruzando os braços.

Cameron era o tipo de cara que ganharia qualquer uma somente com um simples piscar de olhos, eu deveria tomar cuidado com aquilo, não poderia suportar outra perda em minha vida, não agora.

—Gostaria de saber mais sobre seu ponto de vista alguma hora dessas. – Cam enfiou suas mãos em seu jeans surrado e me olhou com expectativa.

Me limitei a assentir juntamente com um risinho nervoso desviando meu olhar para o outro lado da piscina, e então o vi novamente.

Ele me encarava cheio de mistério como se estivesse me analisando de forma minuciosa com o intuito de gravar cada pedaço meu em sua memória.

Contudo um flash loiro atravessou meu campo de visão, pensei ser Gabbe mas me enganei completamente quando uma garota mal encarada com os lábios marcados por um batom preto parou em minha frente.

—Não sabia que tinha amigas novas, Cam, porque não me apresenta? – Cruzou os braços com um sorriso maldoso.

Aquilo não vai prestar.

—Fala sério, Molly, essa é a Lucinda Price, como assim você não a conhece?! – Cam se virou para a loira descrente.

A mesma se pôs a girar em torno de mim me avaliando, eu podia sentir a dureza que ela dirigia a mim com o simples barulho de seus coturnos em minha volta, estremeci totalmente.

—Sabe, queridinha, eu não fui com a sua cara. – Sussurrou em meu ouvido.

Congelei.

—Está brincando comigo não é?! Como assim você não foi com a cara dela?! – Ele parecia surpreso.

Estranho.

—Ora Briel, eu simplesmente não gostei, tenho esse direito. – Trincou os dentes. – Mas se ela conseguir fazer uma coisinha, talvez poderemos ser boas amigas.

—O que você quer que eu faça. – Perguntei já temendo a resposta.

Não estava a fim de ser amiga dela, só queria me livrar daquilo o mais rápido que eu pudesse.

—Sabe nadar, Price? - Perguntou Molly desafiadora.

Ela realmente estava fazendo essa pergunta?! Se tem uma coisa que eu faço bem, essa coisa é nadar.

—Sei! - Respondi prontamente.

O rosto pálido e frio de Molly, ao ouvir minha simples resposta, tomou um tom avermelhado de pura raiva.

—Veremos, Lucinda. – Rosnou me empurrando logo em seguida contra a água fria da piscina.

Devido as minhas habilidades como nadadora, eu consegui chegar facilmente até a margem mas algo, ou melhor, um demônio loiro me fez o favor de pressionar minha cabeça para dentro da água me deixando sem oxigênio.

Me debati com toda a força que ainda me restava mas a desgraçada bateu minha cabeça com força nos azulejos da piscina me fazendo perder os sentidos na mesma hora.

(...)

—Vamos Lucinda, respire. – Uma voz quase que no meu subconsciente me pedia.

Cuspi a água com cloro depois da terceira tentativa do meu salvador, e quando recuperei de forma total os sentidos tive uma surpresa um tanto quanto agradável.

O garoto de olhos violetas estava em cima de mim transbordando preocupação, sua camisa branca ensopada me dava uma perfeita visão de seus músculos definidos.

—Você está bem? -  Ele perguntou me fazendo focar no que tinha acontecido a pouco tempo atrás..

—Acho que sim, acho que só estou com um pouco de frio. – Estremeci.

—Sua cabeça dói? – Vasculhou minha testa procurando algum ferimento.

—Não...obrigada. – Fui gentil.

O Grigori se limitou a dar um fraco sorriso e me ajudar a levantar do chão frio.

Foi somente com esse gesto que eu notei que estávamos completamente sozinhos naquele lugar.

O agradeci mais uma vez e me prontifiquei a andar rumo a saída, porém, braços fortes me puxaram para si e me vi a poucos centímetros do rosto de Daniel.

—Porque não fica com esse casaco?! – Me estendeu e eu peguei. – Vai te aquecer um pouco.

—Obrigada, mais uma vez. – Falei sincera.

Daniel apenas assentiu e eu tive uma pequena certeza de que o assunto havia acabado ali. Sem pestanejar voltei a caminhar até a saída onde peguei o rumo do meu quarto.

Daniel Grigori

As coisas aconteceram de forma muito rápida, e um momento Lucinda estava relativamente bem conversando com Cameron, no outro ela estava sendo jogada na piscina pela Molly.

A princípio não me desesperei, Luce sabia nadar muito bem, mas quando vi a expressão de satisfação no rosto da oxigenada eu não pensei duas vezes em tirar meu casaco e socorrer a pessoa mais importante da minha vida.

A maioria das pessoas ficaram alarmadas e saíram correndo do ginásio pensando que havia acontecido uma catástrofe maior, mas graças a uma força boa, Lucinda estava bem.

A reanimei e na terceira tentativa ela correspondeu ao meu “chamado”, eu pude sentir seu olhar sobre mim, e tentei ser o mais gentil possível com ela, e acho que funcionou, ela saiu da “igreja esportiva” e seguiu para o seu quarto segurando meu casaco.

Depois daquele breve momento, decidi que precisava acertar algumas coisas com duas certas pessoas: Cam e Molly.

—O que você pensou que estava fazendo, quando empurrou Lucinda na piscina? – Esbravejei assim que encontrei a vadia recostada de forma despreocupada na estátua do cemitério.

—Olá Grigori, estou bem, obrigada por perguntar. – Fingiu estar sentida. – Eu não gostei daquela garota, então a lancei para a morte de uma vez.

—Espero que nunca mais você se aproxime dela, está me entendendo bem? – Ameacei.

Cam, que até então eu nem sabia que estava ali entrou na conversa.

—Olha, devo confessar que tinha minhas dúvidas em relação a ela e sua origem, mas esse chilique que você acabou de dar comprovou perfeitamente que ela é a famosa Lucinda...ou eu diria Lulu?! Lauren?! – Ele sorriu com maldade e eu me contive para não quebrar aquela cara.

—Fique longe dela. – Trinquei os dentes.

—Eu não vou me afastar dela só porque você tem medo da concorrência, eu estou apaixonado por ela e vou fazer de tudo para que a escolha dela não seja você, Grigori. – Cuspiu desafiante.

—Não seja hipócrita, Cam, você mais do que ninguém sabe que Lucinda sempre escolheu e sempre irá me escolher, e não é por causa de uma maldição, e sim porque ela me ama, e não há nada que possa mudar isso. – Disse com total e plena confiança nas minhas palavras.

—Ótimo, que vença o melhor. – Deu de ombros.

—Isso não é um jogo! – Me afastei sem olhar para trás.

Lucinda Price

Depois de uma curta caminhada até a ala dos dormitórios, finalmente eu havia chegado ao meu quarto, assim que abri a porta dei de cara com Ariane.

—Luce, o que aconteceu? Porque você está molhada e com esse casaco? – Ela estava alarmada.

—Você não viu? – Perguntei tendo certa de que tinha a visto no momento da confusão com Molly.

Ariane, contudo, negou com a cabeça e eu me limitei a suspirar.

—Depois eu te explico, pode me deixar sozinha por favor? – Pedi

—Tudo bem. – Ariane respeitou meu pedido e saiu do quarto.

Quando me certifiquei que estava sozinha, optei por tomar um banho a fim de organizar minhas ideias.

Primeiro eu havia conquistado uma inimiga e tanto, e segundo, eu estava estudando no mesmo lugar que o anjo de olhos violetas dos meus sonhos.

Acho que já posso pirar né?!