Lucinda Price

Era mais um típico sonho esquisito que eu costumava ter todas as noites. Contudo, dessa vez algo estava diferente, eu costumava a ver sempre o mesmo anjo de olhos violetas indo ao meu encontro, me puxando para si em um abraço e abrindo suas asas cheias de esplendor. Mas no momento que senti seus braços me envolvendo carinhosamente, meu corpo começou a esquentar, não de forma agradável, e sim dolorosa, e foi nesse momento que tudo se fundiu em chamas.

—Lucinda Price, levanta logo dessa cama antes que eu te jogue um balde de água fria. – Callie, minha melhor amiga e companheira de quarto ameaçou.

—Ah qual é, Callie, eu ainda estou sonolenta. – Resmunguei virando para o outro lado da cama.

—Nada disso queridinha, pode levantar esse corpinho sarado dai e se levantar, sabe porque? – Ela me obrigou a olhar para ela. – Porque hoje é seu...?

—Não fala essa frase. – Pedi com cara de poucos amigos mesmo sabendo que ela falaria de qualquer jeito.

—Porque hoje é seu aniversário!! – Berrou.

—Fica quieta, não quero que ninguém saiba – Tampei a boca daquela matraca rapidamente.

—Como assim você não quer que ninguém saiba? – Me olhou um pouco apavorada.

— O que você fez Callie? - Perguntei me levantando já desconfiada da ruiva.

—Eu?! Eu não fiz nada, ficou maluca?! – Sorriu amarelo.

Tentei encontrar algo de suspeito em seus olhos mas a danadinha sabia esconder uma mentirinha como ninguém, mas isso seria por pouco tempo, em se tratando de Callie nada fica entrelinhas por muito tempo.

Depois de tentar vestir algo apresentável, segui para o refeitório do nosso colégio interno juntamente com minha amiga. De alguma forma eu queria me senti na necessidade de me comportar o mais normal possível com o intuito de não cair na tentação de dar algum alarde sobre a data tão medonha do universo para mim.

Mas para a minha alegria, tudo estava em perfeita ordem, preocupei-me somente em comer minhas panquecas e tomar meu suco naquela manhã.

Passado esse momento me dirigi para a aula de Literatura que coincidentemente era com Callie também. Porém, a surpresa maior foi notar que Trevor Wilcox também estava naquela sala e não parou de me olhar em nenhum momento, e olha que eu estava sentada na fila do lado e relativamente afastada dele, loucura não?!

Passados os cinquenta minutos (dolorosos) de aula, peguei minhas coisas e segui para o corredor com Callie tagarelando como sempre em meus ouvidos

—Luce você não tem ideia da sorte do caramba que você tem, mulher, nunca na história desta instituição alguém conseguiu prender a atenção do maravilhoso do Wilcox para si. – Ela estava frenética.

Revirei os olhos mas estava me divertindo com aquilo, afinal, desde o meu primeiro dia de aula naquele colégio, quando eu bati os olhos no Trevor, eu me interessei por ele.

—Eu sei, também não acredito que eu tenha mérito nisso. – Ri animada.

—Agora mais do que nunca você precisa estar deslumbrante essa noite. – Ela bateu palminhas. - Vem, você precisa se arrumar - Disse Callie me empurrando em direção ao dormitório.

—Porque eu deveria estar deslumbrante e porque nesta noite? – Novamente tentei decifrar aquele mistério.

—Lucinda, apenas confie em mim e vá vestir algo descente pelo amor dos deuses do olimpo. –A ruiva ria divertida.

Já disse que odeio ser a última a saber das coisas?!

Revirei os olhos e suspirei derrotada. Eu tinha plena consciência de que quando Callie cismava com alguma coisa nada poderia tirar aquilo da mente dela, e hoje sem dúvidas era um dia pela qual ela cismou em me perturbar mais do que de costume.

Enquanto ela escolhia minhas roupas, eu fui para o banheiro com o propósito de tomar uma boa e relaxante ducha. Enquanto eu lavava meu cabelo eu ia pensando na minha trajetória de vida e no momento em que comecei a ter os sonhos com o anjo a me proteger. Se me lembro bem, a primeira vez que o vi no mundo irreal foi em momentos antes de sofrer um acidente de carro com meus dez anos, depois disso ele passou a vir em todos os momentos antecessores a qualquer coisa ruim que pudesse acontecer.

Teria algum risco de algo desse tipo acontecer hoje?! Digo, algum desastre?! Eu pressentiria, certo?!

—Morreu no banho, donzela? – Callie bateu na porta.

—Já estou saindo. – Desliguei o chuveiro e me sequei.

—Sua roupa está na porta, vista-se e venha logo pra cá, preciso te maquiar. – Instruiu.

Peguei o vestido azul rodado e o vesti, calçando os saltos pretos que com certeza não eram meus. Sai do banheiro e minha amiga me arrastou até a cadeira da escrivaninha e começou a mexer com as maquiagens.

(...)

—Meu Deus, como eu fiz um belo trabalho. - Disse Callie me virando para o espelho.

Quando eu encarei minha figura naquele objeto eu quase não acreditei na imagem que obtive.

—Ok, tenho que concordar, eu fiquei até que bonita. – Mexi no cabelo. - Mas pra que isso Callie?

Ela não disse nada e eu praguejei alto por isso, ela simplesmente pegou o telefone e começou a tagarelar baixinho não deixando que eu ouvisse ao certo do que se tratava a conversa.

—Ok, hora de irmos. – Falou depois de ficar uns cinco minutos no aparelho

Fizemos um trajeto um tanto quanto desconhecido por mim, eu sempre fui o tipo de aluna certinha que raramente matava aula. Mas o fato atípico do momento não era o caminho, e sim a falta das pessoas daquele colégio. A medida que íamos andando uns focos de luz surgiam e eu comecei a juntar as peças naquele momento. Callie planejou algo que eu não estava nem um pouco a fim de ter, ela planejou...

—SURPRESA! – Metade da Dover gritou em coro no momento em que pisei na pequena campina que estava enfeitada para a ocasião.

Eu nunca soube reagir a esse tipo de coisa, mesmo porque todos que me conhecem sabe que eu não sou adepta a festas de nenhum tipo. Mas no momento em que Trevor me olhou, eu senti como se nada daquilo me importasse, que somente eu e ele existíamos ali.

—Parabéns Lucinda. - Disse assim que chegou perto o suficiente para me abraçar.

—Luce, por favor. - Eu disse claramente nervosa e tímida.

— Como quiser...Luce. - Trevor olhava nos meus olhos.

Arrisquei a dar um risinho e a caminhar até uma árvore mais afastada. Eu não precisava olhar para trás para me certificar de que ele estaria me seguindo.

Assim que eu me recostei no tronco da árvore, Trevor não hesitou em diminuir a distância entre nós não demorando para tornar meus lábios seus.

O beijo estava calmo, ele queria e eu também, mas a sensação de que algo de ruim estava para acontecer só aumentava.

E de fato aconteceu, em um momento estávamos no beijo mais profundo de todos e no outro eu tentava a todo custo apagar as chamas que consumiam o corpo de Trevor Wilcox.

Foi naquele momento que eu soube que minha vida mudaria, só não saberia dizer se era para melhor ou pior.