A Intercambista escrita por Gabriela Alves


Capítulo 10
Quereres


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEEEI GALERA BONITA! Como vocês estão? Eu tava com saudades *u*
Como esse capítulo tá cheio dos paranauê, vou deixar todo o falatório pras notas finais. Espero que gostem desse tanto quanto eu :3
Música: Quereres - Caetano Veloso *-----------* (ouçam, OUÇAM)
Boa leitura :D



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“Onde queres o ato, eu sou o espírito. Onde queres ternura, sou tesão. Onde queres o livre, decassílabo. E onde buscas o anjo, sou mulher.”

            Segunda feira, definitivamente, é o pior dia da semana, mas isso é um fato consumado para todo mundo. O problema é que uma segunda feira tem o dom de ficar pior quando o dia amanhece frio e você não pode ficar em casa, debaixo das cobertas e assistindo a um bom filme – e, de preferência, com um bom homem por perto (ou mulher, dependendo do seu gosto). E, para deixar tudo ainda mais imperfeito, tanto Neji como Tenten teriam que passar o dia na Universidade. É isso aí. Não bastava ser uma segunda feira chuvosa e eles não poderem ficar em casa, nãããão. Para completar o pacote, Neji daria aulas de manhã e uma palestra à tarde, enquanto Tenten teria duas provas durante a manhã e passaria o resto do dia na faculdade para fazer pesquisas para um trabalho manuscrito que uma professora da era Mesozoica passara. Sinceramente, a velha não sabe o que é computador, não?

            Enquanto dirigia para a Universidade de Tóquio, Neji não pôde deixar de reparar no mau-humor notável da morena ao seu lado. Toda vez que parava em um semáforo, olhava-a de esguelha e examinava a possibilidade de perguntar o que estava acontecendo, mas sempre optava por ficar quieto. Ao estacionar em uma das vagas reservadas aos professores, no entanto, Neji não se conteu e venceu de uma vez uma parte da sua consciência que o mandava ficar quieto.

            - Algum problema? – Ele perguntou, segurando o braço de Tenten antes que ela saísse do veículo. – Você parece que vai matar alguém a qualquer momento.

            - Está tudo bem. – Ela puxou o braço com um pouco de brusquidão, fato que não passou despercebido às habilidades daquele maravilhoso professor de Direito Constitucional. – Só não estou nem um pouco animada com o que o dia me reserva.

            Neji deu um sorriso de canto. Pelo que ele conhecia de Tenten, ela raramente se deixava intimidar por algum obstáculo; fosse qual fosse o problema, ela encarava de frente e não se deixava abater. Mas Neji, após conviver durante dez anos com uma mulher, sabia exatamente o problema da Mitsashi.

            - Tem certeza de que não foi treinada para matar? Porque você está com um brilho assassino nos olhos.

            Neji sabia que Tenten, embora desatenta com algumas coisas, não deixaria passar a coincidência entre as iniciais do período em que ela estava vivendo e aquelas usadas nas três últimas palavras que ele acabara de pronunciar. Exatamente como Neji supunha, Tenten pareceu entender a mensagem subentendida na pergunta brincalhona do Hyuuga, porque o brilho assassino nos olhos castanhos só aumentou.

            - Faça uma pergunta como essa novamente e eu dançarei em cima do seu caixão ao som de Ai se eu te pego.

            Claro que Neji, como uma pessoa não tão globalizada em relação à música, não entendeu muito bem a pretensão da morena. Por isso, apenas riu e falou:

            - Relaxe um pouco. – Ele deslizou a mão pelos cabelos dela, fazendo-a suavizar a expressão. – Se quiser, te pago um chocolate quente antes da aula começar.

            Então, o olhar de máquina mortífera voltou.

            - Chocolate engorda.

            Neji se inclinou um pouco na direção de Tenten e, com um ar divertido lhe rondando, sorriu. Ainda mantinha uma mão nos cabelos castanhos e levou a outra ao queixo redondinho e bem desenhado. Próximo o suficiente de Tenten para que seu hálito quente colidisse com o rosto dela, sussurrou:

            - Você não deveria se preocupar com essas coisas, Tenten. É uma mulher muito bonita. Até mesmo ontem, descabelada e com o rosto borrado de maquiagem, você estava bonita.

            Então, ele se aproximou mais e deu um beijo “na trave” de Tenten – ou, como diz a língua culta, poética e romântica, no canto dos lábios doces e macios. “Filho da mãe”, pensou Tenten, remoendo-se de vontade de ganhar um beijo.

            - Vai ou não querer o chocolate quente? – Neji perguntou mais uma vez, voltando ao seu lugar.

            - Não. – Tenten recusou, sabendo que era a resposta mais sábia. Passar mais tempo com Neji só iria fazê-la desejá-lo mais.

            - Tudo bem, então. – Ele deu de ombros. – Acho que nos veremos no final da tarde. Se acabar as pesquisas antes de eu sair da palestra, pode ir para lá me esperar. Será na sala de projeção número 3 do bloco de Direito.

            Tenten assentiu e saiu do carro.

            Neji, uma vez sozinho, suspirou e deixou sua cabeça pender de encontro ao encosto do banco. Quase perdera o controle com Tenten. Daquele jeito, nem parecia que era ela quem estava com os hormônios a todo vapor.

            Eram quatro horas da tarde e Tenten não aguentava mais aqueles livros velhos e empoeirados. Como tinha rinite alérgica, espirrava o tempo inteiro e, de quebra, ainda tinha que aguentar os chiliques da bibliotecária idosa, que não suportava nem um tipo de barulho – até mesmo suspiros a incomodavam. Então, vendo que a internet poderia lhe ser muito mais útil do que os livros que a professora Dinossaura lhe recomendara, Tenten guardou todos os exemplares que tinha em mãos e foi em direção ao bloco de Direito. Após se informar várias vezes com os bedéis dos corredores, encontrou a bendita sala de projeção. Pensando que uma palestra sobre a Constituição Japonesa poderia ser bem mais interessante do que passar horas mergulhada em livros que sequer a ajudavam, Tenten abriu a porta e entrou na sala. O modelo da sala de projeção era diferente: as pessoas entravam por uma espécie de porta dos fundos – a única do local – e estar na sala era como estar em um cinema – haviam vários degraus com fileiras de cadeiras. Tenten tomou assento no fundo, para que não desviasse a atenção de ninguém. Entretanto, ao olhar para Neji e receber um discreto aceno de cabeça enquanto ele falava, soube que ganhara sua atenção. Assim que se ajeitou, Tenten ouviu burburinhos, que vinham de duas garotas sentadas à sua esquerda. No início, a morena nem se deu ao trabalho de ouvir, mas ao captar as palavras “professor” e “Hyuuga”, logo pôs seus ouvidos para trabalhar.

            - Por Kami-sama! – Disse a que estava mais perto de Tenten. – Como ele é gostoso!

            - Olha só para os braços dele. Olha os ombros, as costas. – A outra suspirou. – E o olhar dele, a voz dele... Ah, quem me dera que essa voz me dissesse algumas coisas na cama.

            Aquela última parte fez Tenten se incomodar. Ela queria mandar as garotas calarem a boca, mas se segurou por mais algum tempo, só para saber o que mais elas diriam.

            - Ele seduz as alunas e nem sabe... Esse homem na cama deve ser um verdadeiro furacão!

            Tenten mordeu a língua e cerrou os punhos. Que diabos era aquilo?!

            - Você tem razão, amiga. Imagina os cabelos perfeitos que ele tem se misturando aos seus. Imagina como o queixo dele deve ficar travado quando ele está... – E a garota simbolizou com as mãos o que queria dizer.

            “Quando ele está transando”, Tenten completou mentalmente. “Safadas, vagabundas... Vêm para a faculdade só para apreciar o professor”, a morena esbravejou para si mesma.

            - O beijo dele deve ser tão bom.

            - Deve ser sensual e misterioso, que nem ele.

            - Deve deixar aquele gostinho de quero mais.

            - E ele deve usar bastante as mãos enquanto beija.

            - Dá para calar a boca? – Tenten se virou bruscamente para as garotas. – Vocês vieram aqui para entender melhor a Constituição do Japão ou para entender melhor a constituição do beijo do professor?

            A primeira reação delas foi ficarem atônitas. Depois, fuzilaram Tenten com os olhos e contra-atacaram:

            - Ao menos, nós chegamos no horário certo.

            - Ao menos, eu quero prestar atenção. – Tenten deu um sorriso forçado e cínico. – Façam silêncio, por gentileza.

            Assim que se virou novamente para a frente, Tenten constatou que, embora ainda estivesse falando, Neji mantinha o olhar fixo naquela direção. Atento como era, a probabilidade de ele ter percebido que aquele falatório discreto se tratava de uma discussão.

            Quando a palestra acabou, Tenten desceu rapidamente os degraus e logo se encontrou com Neji. Enquanto ele arrumava o material que utilizara, Tenten disse:

            - Você é um bom palestrante. Tem uma boa dicção e faz bom uso das palavras.

            Neji deu um sorriso discreto em forma de agradecimento.          

            Tenten ia dizer mais alguma coisa, mas uma mulher muito elegante e refinada se aproximou, dando um sorriso discretamente sedutor. Com uma voz bonita, elogiou:

            - Parabéns, Neji. Como sempre, você foi excelente.

            - Muito obrigado, Yume.

            Ah! Yume! Tenten logo buscou na memória o porquê daquele nome lhe ser familiar: a mulher com quem Neji saíra certa vez. Nada confortável com aquela presença, Tenten se afastou um pouco e se sentou em uma das cadeiras vazias da primeira fileira. Ficou observando a conversa dos dois professores com os olhos cerrados. A cada sorriso radiante que a mulher dava, Tenten parecia fuzilá-la. A cada aproximação sorrateira de Yume em direção ao corpo – escultural – de Neji, Tenten quase arrancava os cabelos pretos e lisos que estavam presos àquela cabeça. Então, para a felicidade de Tenten, Neji se desvencilhou de Yume com a desculpa de que precisava de pegar a filha na escola. Tenten agradeceu silenciosamente a Deus e se levantou, dirigindo-se à porta. Mesmo sem olhar para trás, sabia que Neji estava ali, seguindo-a. Fizeram o caminho até o estacionamento em silêncio e só voltaram a se falar quando entraram no carro. O primeiro a se pronunciar foi Neji.

            - É impressão minha ou você teve uma discussão com duas das minhas alunas?

            - Impressão sua. – Tenten, com o olhar fixo à frente, respondeu.

            Mesmo sabendo que era mentira, Neji não insistiu. Passaram todo o percurso sem trocar uma palavra sequer. Só quando já haviam entrado no apartamento de jogado suas coisas no sofá, foi que Neji puxou Tenten pelo braço e voltou no assunto.

            - Diga-me logo o que aconteceu, Mitsashi.

            - Não foi nada de importante, Hyuuga. – Ela se soltou e foi em direção ao corredor.

            O corredor... Pensando que não havia lugar mais apropriado para prender Tenten e obrigá-la a lhe dizer a verdade, Neji a prendeu contra uma parede em uma fração de segundo, o corpo colado ao dela, as respirações batendo de encontro uma com a outra.

            - Se não foi nada de importante, então por que não pode me dizer?

            Tenten piscou várias vezes enquanto olhava para baixo, para os lábios finos e convidativos de Neji. As mãos de Tenten prenderam-se à barra da camisa branca que Neji usava, e ali ficaram por algum tempo.

            - Elas estavam me desconcentrando. – Tenten disse, por fim.

            - Só isso? – Neji franziu suavemente as sobrancelhas enquanto se aproximava um pouco. – Como elas te desconcentraram?

            - Estavam conversando.

            - Sobre o quê?

            Tenten tentou respirar fundo, mas parou no meio do caminho e soltou um suspiro desajeitado.

            - Sobre você. – Ela confessou, arfante.

            Neji sorriu de canto e inclinou-se para o pescoço de Tenten. Deu um beijo úmido e suave na região e, dengoso, sussurrou no ouvido da morena:

            - O que elas disseram?

            As mãos de Tenten subiram pelas costas de Neji, passando pelos cabelos macios. Imagina os cabelos perfeitos que ele tem se misturando aos seus. As palavras de uma das garotas vieram à sua mente.

            - Falaram sobre... – Tenten mordeu a língua, mas logo abriu a boca de novo quando Neji lhe deu outro beijo. – Disseram que você é... – Ela travou.

            Neji estava se divertindo com a situação. Apertou a cintura de Tenten com um braço enquanto mantinha o outro apoiado na parede, acima da cabeça da morena. Uma vez apertando-a, deu-lhe uma boa mordida no pescoço e pressionou:

            - Disseram que eu sou o quê?

            - Gostoso. – Tenten disse de uma vez.

            Neji riu – e aquele riso soou extremamente sedutor aos ouvidos de Tenten. Cansada dos joguinhos do Hyuuga, Tenten passou ambos os braços ao redor do pescoço dele e o puxou para um beijão. Assim que a língua de Tenten lhe acarinhou vorazmente os lábios, Neji os abriu e se permitiu ser explorado. Era exatamente aquilo que o Hyuuga queria: que ela iniciasse o beijo, assim como fizera no show – porque Neji gostava do quanto Tenten era destemida. E Tenten, lembrando-se das palavras das duas estudantes, constatou que Neji realmente fazia bastante uso das mãos enquanto beijava. O melhor trabalho que aquele par de mãos grandes e fortes fez foi erguer Tenten e obrigá-la a entrelaçar as pernas na cintura dele. Neji, uma vez segurando Tenten, encostou-a novamente na parede e usou a estrutura de tijolos como auxilio para aproximar ainda mais os dois corpos, que pareciam pegar fogo. Com os pulmões implorando por ar, separaram suas bocas e respiraram fundo.

            Os olhos castanhos encontraram com os perolados e, então, Neji ficou sem ação. Que mulher era aquela que acabava com todas as expectativas dele? Que o tirava do sério? Que a cada vez que o beijava, o deixava com mais vontade? Olhando para Tenten, Neji facilmente se lembrava do tipo de mulher que o período Barroco usava para suas poesias. Tenten era contraditória: era angelical, de fato, mas tinha um par de olhos e uns lábios que fariam qualquer santo se perder. Se fosse pintor, Neji a retrataria com asas prateadas e um olhar lascivo – seria a obra perfeita para a mulher que Tenten era.

            - Você é paradoxal. – Neji disse, os olhos firmes nela.

            - Por que?

            - Porque tem aura de anjo e beijo de diabo.

            Um sorriso cheio de prazer surgiu no rosto de Tenten. Neji acariciou a curva do queixo dela com o dedo indicador e, com os lábios roçando os dela, falou mais:

            - Você é como uma imagem Barroca. – E, olhando-a atentamente, concluiu: - Mas tem traços da mulher idealizada do Romantismo. Em outro momento, eu teria dito que é inalcançável, mas não é. – Ele deu um sorriso vitorioso.

            Tenten firmou os pés no chão, ato que a deixou pouco mais de uma cabeça mais baixa que Neji. Ela ergueu os olhos para encará-lo e, após processar tudo que acabara de acontecer, a boca seca de nervosismo e timidez, sussurrou:

            - Acho que está exagerando.

            - Não estou. – Ele afirmou, convicto. – Qualquer poeta Ultrarromântico ou Barroco gostaria de ter você como inspiração. Eles teriam inveja de mim.

            Neji capturou mais uma vez os lábios de Tenten, mas fez desse beijo mais suave do que o outro. Quando teve os olhos sobre os dela de novo, informou:

            - Tenho que preparar uma aula para amanhã. Depois, vou ligar para um restaurante e pedir nosso jantar.

            - Vou começar meu trabalho. – Ela se desvencilhou de Neji e foi em direção ao quarto.

            Neji queria puxá-la novamente e beijá-la cada vez mais, mas ambos tinham deveres a cumprir. Com um sorriso adolescente no rosto, Neji pegou a pasta de seu notebook, que largara no sofá, e foi para o quarto trabalhar. Difícil seria se concentrar em artigos da Constituição enquanto era muito mais interessante pensar na morena do quarto ao lado. 

“Eu queria querer-te amar o amor, construir-nos dulcíssima prisão. Encontrar a mais justa adequação. Tudo métrica, rima e nunca dor. Mas a vida é real e é de viés e vê só que cilada o amor me armou.”


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Notas finais do capítulo

AAAAAAAAAAWN *----* Eu amei, gente, não sei vocês kkkk
Então, esse capítulo já tava na minha cabeça há muuuuuuuito tempo, o mais difícil foi definir a música kkkk Eu tinha bem umas 3 ou 4 opções, mas como eu queria comparar a Tenten às mulheres Românticas e Barrocas, TINHA que ser Quereres *--* Pra quem não sabe, os versos da poesia barroca são decassílabos, SEMPRE, e são sonetos, não podendo ser versos livres - é uma regra. E, pra quem ainda não estudou Romantismo, as mulheres românticas são idealizadas e pá. Pros românticos, alcançar fisicamente a mulher desejada é como tirar a perfeição dela, entenderam? É como "poluir", "sujar" ela; porque, pro Romantismo, enquanto a mulher é atraente e idealizada como é, ela é um ser puro e intocável. Deu pra captar? kkkkkk Enfim, Romantismo é maravilhoso *--* Me segurei pra não fazer uma citação de um poema do Casimiro de Abreu, que é TOP NA BALADA, sério u.u Depois procurem pelo poema Segredos e leiam, é muito bom. É comprido, mas é maravilhoso kkkkkk
Aulas de Literatura à parte, quero fazer uma proposta a vocês: uma espécie de jogo de perguntas. A cada review, vocês deixam pra mim uma pergunta que gostariam que eu respondesse. Pode ser sobre qualquer coisa: desde a fanfic até sobre o porquê de o céu ser azul kkkkkkkk Mas seria mais interessante se não fosse sobre a fic ;) Daí, eu vou selecionar as 3 melhores perguntas e respondê-las nas notas iniciais do cap seguinte, ok? Vou evitar escolher duas perguntas do mesmo usuário e tal. Vamos ver se funciona? *u* Mas detalhe: dependendo da pergunta a respeito da fic, eu não vou responder kkkk
Vamos ver o que acontece o////
Beijos sabor Neji Hyuuga :*