Durante a manhã seguinte, enquanto o rei fazia seu desjejum à mesa, Alice ainda dormia em seu quarto separado e tinha alguns sonhos estranhos, e confusos. Ela sonhava com sua vida em Londres, e com a festa na mansão dos Whitebkaider. Todos estavam no jardim, esperando uma resposta que deveria vir de Alice, para uma pergunta feita por Leopold que estava de joelhos diante dela, logo abaixo a uma área cercada por colunas brancas.

- Então Alice! -dizia ele segurando suas mãos e sorrindo. - Aceita se casar comigo?

- O que? - disse confusa.

- Aceita ser minha esposa?-  ele mantinha um sorriso simpático na face, mas não parecia sincero.

- Leopold... - ela olhava para o rapaz ruivo enquanto franzia a testa.

Alice desviou o olhar na direção dos convidados. Todos a questionavam com um ponto de interrogação nas suas testas, esperando que sua resposta fosse dada o mais depressa possível.

- Vamos Alice, todos esperam sua resposta! -disse Leo.

- Mas eu... -dizia já nervosa.

- Vamos Alice, diga sim. -se manifestou sua mãe.

- Precisa dizer sim Alice. -continuou sua irmã mais velha.

- Leopold é o melhor partido que uma garota pode ter. -a condessa se gabou pelo filho. - Vamos, responda logo.

- Não há o que pensar Alice, aceite. -disse o senhor Grant.

- Mas eu... -ela estava perdida e confusa e voltou a olhar Leopold, que agora estava sério.

- Diga logo que aceita se casar comigo Alice... E será uma esposa feliz.

- Não sei se quero ser esposa de alguém... -ela seguiu com expressão tensa.

- Será um belo casamento. -dizia uma das convidadas mais velhas.

- Ah será sim. Com toda certeza. outra.

- Um belo casal. e mais outra.

De repente todos cochichavam sobre como seria o casamento, e como Alice seria feliz ao lado do melhor partido da cidade.

Mas eu não quero me casar... ela dizia em voz alta, mas todos sorriam e falavam sem parar como se ela não estivesse ali.

Alice voltou a olhar para Leopold, mas o mesmo já estava de pé ao seu lado segurando seu braço. Então Alice se viu em um vestido branco e longo, com babados e renda, e segurando um buque de rosas vermelhas. Sem entender, ela ergueu a face para olhar a sua frente e viu todos os convidados sentados em cadeiras brancas e sorrindo. Voltou a encarar Leopold que parecia uma estatua imponente ao seu lado, com o nariz em riste sentindo-se orgulhoso. Confusa sem saber o que fazer, Alice se afastou e saiu correndo pelo meio dos convidados, e atravessando o jardim até estar diante de uma árvore grande. Ela parou vendo um imenso buraco perto das raízes, então ouviu alguém lhe chamando e olhou para trás:

- Alice? disse Leopold. O que esta fazendo?

- Eu não posso me casar com você Leopold... -ela dizia em tom choramingado.

- Não diga bobagens Alice. Não sabe a sorte que tem... -ele se aproximou.

- Fique longe Leopold... -ela deu um passo atrás.

- Alice... -ele insistiu.

- Alice... -uma nova voz atrás dela a fez se virar.

- Caspian? -ela ficou surpresa ao ver o rei ali a alguns centímetros diante dela.

- Alice... -insistiu novamente seu noivo Leopold.

- Não lhe dê ouvidos Alice. -disse Caspian.

- Case-se comigo Alice... -ela voltou a olhar Leo.

- Venha comigo Alice. -virou e viu Caspian estendendo sua mão.

- Vocês estão me deixando maluca. -ela disse levando as mãos a cabeça e fechando os olhos.

- Alice... -as vozes dos dois repetiam o nome dela juntos.

Alice deu alguns passos para trás, com os olhos apertados, tentando mandá-los embora, enquanto cobria o rosto com as mãos.

- Parem... Por favor, parem... -dizia ela aos prantos.

De repente ela perdeu o equilíbrio e começou a cair, e cair, e cair no vácuo daquela escuridão.

Alice desperta na cama, daquele quarto iluminado pela luz do sol que entrava pela janela. Ela se senta sobre o leito e olha ao redor, sentindo sua respiração ofegante e cansada. Fecha os olhos e respira aliviada de ter acordado daquele sonho terrível. Depois se levanta, se veste e sai do quarto logo encontrando Lecádia que a conduz até seu banho matinal.

(Leopold)

...

Alice desce as escadas e encontra o rei na sala principal do castelo conversando com Edmundo.

- Ela não virá, tenho certeza... -diz Caspian diante de Ed. - Depois de tudo que aconteceu, duvido que ela queira me ver de novo.

- Mas isso não tem nada ver com o que aconteceu entre vocês. -seguia Edmundo sem notar que Alice os ouvia. - Tem a ver com Nárnia, em com a possibilidade de voltarmos pra casa. Talvez ela reconsidere.

- Acha mesmo que Pedro vai conseguir convencê-la?

- Duvido muito, mas se tem alguém capaz de fazer aquela cabeça dura entender a importância disso, é Pedro.

- Não sei. - ele se vira então Alice se esconde atrás da parede da escada. - Suzana jurou que nunca mais voltaria a me ver...

- Isso por que estava magoada. -Edmundo dá alguns passos. - Mas ela deseja voltar pra casa tanto quanto qualquer um de nós... Ela pode se negar de inicio, mas acabará mudando de ideia.

- Quanto a Lucia e Pedro? -Caspian se sentou na beirada da mesa.

- Em breve estarão aqui... A viagem deve durar uns dois dias no máximo. Infelizmente os navios e cavalos não viajam tão rápido quanto as noticias. -ele sorriu lembrando que eram as arvores as grandes mensageiras de Nárnia.

Caspian dá um sorriso fraco, e depois de encarar Edmundo por dois segundos, volta o rosto na direção da grande porta da entrada que estava aberta, e se perde por lá. Edmundo se aproxima e encarando o rei resolve perguntar:

- Está tudo bem? -diz franzindo a testa.

- Em parte... -responde voltando a encarar o amigo.

- Alice não conhece recordar não é?

- Não entendo... - Caspian se afasta e faz a volta ao redor da mesa. - Ela deveria ter ao menos uma pequena lembrança...

- Talvez a parte dela que deveria se lembrar, não esteja mais aqui...

- Isso está dentro dela Edmundo... -ele escora as mãos sobre a mesa. - Em algum lugar, e eu vou ajudá-la a se lembrar... Eu tenho pouco tempo.

- Talvez seja mais fácil deixar pra lá...

- Como pode dizer isso? -diz um pouco indignado. - Você melhor do que ninguém deveria entender Edmundo... -Caspian se vira e anda até a janela.

- Vai afastá-la de você se continuar forçando-a a se lembrar.

- O que você faria se estivesse no meu lugar? -diz apertando os lábios. - Se fosse Jadis? -disse fazendo com que Edmundo recordasse de sua amada Jadis, que se tornou a feiticeira Branca, grande inimiga de Nárnia. - Se tivesse uma chance de amá-la de novo, você não faria tudo que estivesse ao seu alcance?

- Sim... -ele teve de concordar.

(Jadis)

- Então como pode me aconselhar a desistir de Alice?

- Por que assim como eu tive de abrir mão do meu amor por Jadis, pelo que era melhor para Nárnia, você deve como rei, colocar Nárnia em primeiro lugar. Além do mais, sabe que Aslam não permitirá que Alice fique. Este não é o seu mundo...

- Talvez eu não seja tão bom rei quanto deveria... -diz sentindo o peso da verdade nas palavras do amigo. - Eu a amo mais do que tudo. -disse escorando as mãos na janela. - Não consigo imaginar minha vida sem ela.

- Vai aprender a conviver com isso... Não há outro jeito. A menos que queria condenar Nárnia pra sempre para poder viver este sentimento.

- Não... -conclui em voz baixa. - Não posso ser tão egoísta...

- Então pense no que está fazendo. Fazer com que Alice se recorde de alguma coisa, só vai piorar tudo. Você já sofre. -Caspian ergue o rosto respirando fundo. - E se ela se lembrar do que vocês viveram aqui, ela também sofrerá tanto quanto você. Sabe que ela deve voltar pra casa. Você não a ama o suficiente para querer vê-la feliz, mesmo não sendo com você?

Caspian se vira com a face triste, e séria encarando Edmundo. Alice se inclina na ponta do degrau atrás da parede e mantém os olhos no rosto do rei enquanto ele responde:

- Sim.

Os olhos de Alice se enchem de lagrimas ao ouvir tal declaração e ao sentir a sinceridade nos olhos de Caspian. Era evidente a profunda tristeza que ele sentia sabendo que em breve teria de deixá-la partir. Mas ele sabia que Edmundo estava certo, e que fazer com que Alice se lembrasse do que ambos viveram ali, apenas faria com que sua partida fosse mais difícil. Se ela não tivesse qualquer recordação dos fatos, poderia seguir com sua vida como era o certo. Naquele momento Caspian decide não importunar mais sua amada Alice com seu desejo egoísta. Ele a amava demais para desejar que ela sofresse como ele já sofria.

- Está certo meu amigo. -diz tocando o ombro de Edmundo. - Não posso querer que Alice volte para seu mundo com essas lembranças. Terei de viver sozinho com elas...

- Não é fácil, mas está tomando a decisão certa. -conclui Ed.

Alice se escora na parede fechando os olhos, sentindo um vazio profundo dentro de si. Alguma coisa em seu intimo, lhe causava profunda melancolia ao saber de todo o amor do rei para com ela. Um amor que ela não sentia, mas que lhe deixava sem chão. Era como se um pedaço dela estivesse faltando. Alice sabia que jamais seria amada por Leopold como era amada por Caspian, e talvez nunca nenhum outro homem fosse capaz de amá-la daquela forma tão profunda e sincera...