Caspian passou o restante do dia trancado em seu quarto. Não quis comer, nem falar com ninguém. Enquanto o rei evitava falar com Alice, a jovem aproveitava para conhecer mais o castelo e as pessoas que moravam lá, tentando lembrar-se de alguma coisa relevante que ela pudesse dividir com Caspian e deixá-lo pelo menos um pouco mais feliz. Saber que o rei estava chateado por causa dela deixava Alice profundamente preocupada e triste também. Mesmo que ela não se lembrasse de ter estado com ele antes, sentia que tinha um carinho sincero pelo rei, e não desejava vê-lo magoado. Assim, a tarde passou e a noite se aproximou, e nada do rei sair daquele quarto. Então já mais preocupada do que antes, Alice decide subir as escadas antes do horário do jantar e conversar com o rei. Alice se dirige pelo corredor rumo a porta do quarto de Caspian e então bate a mesma:

– Caspian? –ela chama.

– Está aberta... –responde ele em tom de desanimo e mau humor.

A moça abre a porta e o vê sentado na beira da cama com os braços ao lado do corpo, e segurando a beira do colchão, mantendo a cabeça abaixada como se olhasse para o chão. Ela dá alguns passos e diz:

– Edmundo irá comunicar os outros reis... –Caspian respira fundo bufando.

POVs Alice

Ao ver Caspian sentado na beira daquela cama com os ombros e os olhos baixos, mantendo aquela expressão triste e inconformada na face, me fez sentir um aperto no peito, e uma sensação de vazio, que me deixou um pouco abatida. Então dou alguns passos até ele, paro ao seu lado e toco seu ombro com uma das mãos, dizendo:

– Eu sinto muito. –ele ergue os olhos e me encara.

Caspian toca minha mão, e lança sobre mim um olhar profundo e extremamente melancólico o que me corroeu por dentro, por uma razão que eu desconhecia.

– Sei que eles dizem que você não estava aqui, mas eles mentem. –segue ele. – Mentem porque sabem que você não pertence à Nárnia, mentem porque acham que assim é mais fácil pra eu aceitar que vou perdê-la. Mas estão enganados.

– Como posso ter estado aqui todo esse tempo, se sequer me lembro disso? –digo me sentando ao seu lado e tentando entender.

– Parte de você estava e isso é o suficiente. –ele vira parcialmente o corpo. – Como eles podem me dizer o contrário se eu vivi dois anos ao seu lado?

– Foi uma ilusão...

– Não se pode tocar uma ilusão, não se divide a mesma cama com uma ilusão Alice. –seu tom estava sério. – Eu beijei seus lábios, toquei seu corpo, nós nos amamos nesse quarto, nessa cama. –ele pressiona seus dedos contra o colchão. – Ninguém me dirá que isso não aconteceu. –ele segura meu rosto. – Eu senti você, ouvi e vi seus lábios dizerem que me amava com sinceridade e paixão... Isso foi real, isso é real.

– Eu queria me lembrar, queria ter a certeza que você tem, mas a única coisa que me lembro, é de um sonho... Você estava lá, mas... É só. E agora tudo que sei, é que preciso fazer alguma coisa pra ajudar este lugar. É por isso que estou aqui.

– E pode continuar. –diz em tom firme. – Agora que realmente está aqui, por inteira pode continuar comigo, pra sempre! –diz com um brilho desesperado nos olhos.

– Não! –me levanto. – Como pode ser tão egoísta? Sabe que não posso. Nárnia precisa ser salva, e eu tenho minha vida, tenho meus deveres do outro lado.

– Como se casar com ele? –Caspian altera o tom e se levanta. – Leopold? –diz torcendo os lábios e mostrando-se indignado. – Nunca irá amá-lo, porque você me ama. –ele se aproxima, segura meu rosto com ambas as mãos e me encosta contra o longo marco* dos pés da cama. – Seus lábios me disseram isso por dois anos... Você pode não se lembrar, Alice, mas me ama exatamente como eu te amo. –podia sentir seu halito quente me deixando embriagada. – Loucamente... –ele sussurra aproximando seus lábios dos meus. –Loucamente.

*(N/A são como os pés da cama voltados para cima quase tocando o teto do quarto, deixando a cama com a aparência de uma caixa sem lados).

Caspian me beija ferozmente com toda sua paixão, abrindo passagem pelos meus lábios confusos, enquanto sinto minhas costas na madeira dos pés da cama. Sinto a maciez da sua boca quente tentando dominar a minha, enquanto permaneço imóvel. Eu não conseguia lembrar-me dos momentos dos quais ele falava tão apaixonadamente, mas algo dentro de mim desejava estar com ele. Caspian estava certo sobre uma coisa, eu jamais poderia amar Leopold, e não sentia nada por ele. Por outro lado, em tão pouco tempo que passei ali com Caspian, senti coisas que jamais senti estando na companhia de Leopold. Pensando nisso, acabo concluindo que talvez Caspian estivesse certo, e eu realmente deva ter estado com ele, mesmo que não me lembre disso. Senti algo forte me queimando por dentro, com toda potência, algo que não sabia explicar de onde vinha, mas que pareceu estar ali desde sempre.

Acabo por parar de tentar resistir ao beijo dele, e me entrego aos seus lábios quentes e envolventes de uma maneira louca. Caspian desliza seus dedos pelas laterais do meu pescoço seguindo com elas para rumos diferentes. Sua mão esquerda avança pelas minhas costas, e me aperta contra seu corpo, enquanto sua mão direita desce até meu quadril e o aperta levantando parte do meu vestido. Sinto algo em chamas por baixo daquelas saias, então Caspian me puxa bruscamente nos lançando juntos sobre a cama, e deixando o peso de seu corpo sobre o meu. Ele ergue meus braços ao topo de minha cabeça, e desvia seus lábios rumo ao meu pescoço beijando-o enquanto uma de suas mãos desce pela lateral do meu corpo e ergue o tecido de minhas saias. Fecho os olhos e sinto sua barba arranhando minha pele, me causando uma dor prazerosa que me faz gemer baixinho. Sinto seus lábios quentes avançarem rumo ao meu decote, e depois tocarem meus seios me levando a um delírio fora do comum. Meu corpo estava em chamas e eu o desejava fervorosamente e desesperadamente.

Eu fazia um esforço desumano para me lembrar de alguma coisa, lembrar-me dos meus momentos ali, mas nada vinha a minha mente, a não ser nossa despedida, e eu ainda era uma menina me lançando em seus braços com medo de nunca mais vê-lo, mas com um sentimento inocente, nada forte como o amor. Eu queria lembrar, e assim poder me entregar a Caspian como parecia querer um desejo intimo dentro de mim, mas sequer um pequeno flash vinha a minha mente, então...

– Caspian... –tento dizer ao puxar o fôlego.

Ele ignora e continua me tocando com toda sua paixão, o que torna tudo mais difícil pra mim. Mesmo não me lembrando de ter estado antes com ele naquela cama, eu sentia como se aquilo fosse familiar pra mim, mas era estranho e confuso, então seguro o rosto dele com ambas as minhas mãos e o faço parar e me olhar.

– Não posso... –digo vendo seus olhos fixos em mim.

– Alice eu te amo... –diz colocando seus braços nas laterais do meu corpo e tocando meu rosto com sua mão esquerda. – Não é possível que não consiga se lembrar de nada... –seus olhos pareciam implorar para que eu me lembrasse.

– Sinto muito, eu queria me lembrar, mas... Não consigo.

Eu o afasto de mim aproveitando a pequena lacuna entre nós dois, e desço da cama, tentando me recompor. Depois me viro pra ele, e o vejo deitado de lado com o olhar fixo onde antes eu estava e digo:

– Não posso me entregar a você sem ter certeza de que também te amo. –ele me olha. – Não posso.

Dito isso, simplesmente me viro e saio do quarto, logo batendo a porta atrás de mim e me recostando nela. Fecho meus olhos e respiro fundo, pensando no quanto eu gostaria de ficar com ele, mas não podia. Eu precisava me lembrar pelo menos de um pequeno momento, um pequeno detalhe que fosse, mas antes disso, teria de ficar longe dos seus carinhos, e dos seus beijos. Por mais difícil que isso fosse.