Ao chegar ao castelo, montada em seu cavalo Alice foi logo gritando para os soldados ajudarem-na a tirar Caspian de sobre o animal e levá-lo para o interior do castelo. Os homens se aproximaram e apanharam o rei que estava gravemente ferido, e começava a delirar enquanto falava com Alice. A moça acompanhou os solados e assim que adentrou ao castelo ela pediu a Eustáquio que fosse chamar um doutor para atender aos ferimentos do rei, e assim o jovem o fez. Caspian foi levado para um dos quartos do andar de baixo para ser atendido mais rápido. Já no leito as amas trataram de retirar as proteções ao redor dos ombros e da caixa torácica do corpo do rei que infelizmente foram inúteis para protegê-lo do ataque de um dos soldados da feiticeira que lhe atingiu sem piedade. Havia muito sangue debaixo daquelas armaduras, e o tecido das roupas de Caspian estavam ensopadas pelo seu sangue, que no momento sujaram os lençóis da cama onde seu quarto se encontrava. O doutor não demorou a chegar e foi imediatamente examinar o ferimento do rei que gemia pela dor intensa enquanto apertava os olhos:

– Está perdendo muito sangue, e muito rápido. –dizia o homem. – O rei deve ter sido atingido por um objeto muito fino que lhe causou uma perfuração profunda... –dizia em tom preocupado.

– O que pode ser feito doutor? –disse Alice em pé ao lado do homem.

– Se o objeto tiver atingido algum órgão vital, não sei se poderei fazer muito pelo rei majestade... –disse tentando ser profissional e evitando expressar sentimento.

– O que quer dizer? –disse a loira segurando as lágrimas que já se formavam em seus olhos.

– Eu farei o que estiver ao meu alcance majestade. –disse em tom firme enquanto abria uma maleta com seus remédios. – Me ajudem trazendo mais panos, e uma bacia com água... –ordenou as amas.

O doutor retirou um tipo de lamina de dentro da maleta e a usou para rasgar a camisa do rei deixando-o de peito aberto, e com seu ferimento exposto. Alice apertou os olhos ao ver o ferimento aberto que não parava de jorrar sangue sobre os tecidos da cama, enquanto o rei retorcia a face de dor. O doutor pediu que ajuda de Alice para que ela pressionasse as mãos contra o ferimento na lateral do corpo do rei para estancar o sangue, e assim ela o fez. A rainha estava temerosa e mal conseguia parar de tremer, ela suava e seu coração estava batendo forte e acelerado em seu peito como se fosse parar a qualquer momento, vendo o estado em que seu amado rei se encontrava. Ele por sua vez, delirava e tremia algumas vezes reclamando do frio que começava a sentir. Enquanto isso o doutor preparava as ervas e remédios para tratar do ferimento.

– Pode deixar... –disse o doutor afastando as mãos da rainha e se preparando para cuidar do ferimento de Caspian.

Quando Alice levantou-se de onde estava e se afastou da cama parcialmente olhando suas mãos sujas com o sangue do rei, sentiu o desespero se apossando de si, e de seu controle emocional, então caiu em pranto contido enquanto cobria o queixo com as costas das mãos. As amas usavam os panos molhados para enxugar a testa do rei que estava suando mesmo sentindo um frio intenso se apossando do seu corpo. Alice estava apavorada ao ver o corpo do rei que sempre fora tão forte e viril, naquele estado frágil e completamente enfraquecido. Suas mãos tremiam involuntariamente e a loira sentia como se fosse engolir a própria língua, então saiu correndo do quarto e fechou a porta ficando no corredor com as costas escoradas na porta enquanto chorava olhando para o teto. As pernas da rainha fraquejaram e ela foi escorregando pela porta até estar sentada com os joelhos dobrados e com os cotovelos entre eles, suas mãos tocaram seus cabelos enquanto Alice abaixava o rosto e chorava desesperada sem saber o que faria.

...

Aproximadamente meia hora mais tarde os irmãos Pevensie regressaram ao castelo e encontraram a rainha vagando de um lado para o outro na sala principal já com suas mãos limpas, depois que uma das amas lhe ofereceu uma bacia com água para se limpar.

– Alice? –disse Lucia correndo até a loira. – Como está Caspian?

A rainha não conseguia falar, apenas ergueu o rosto na direção de todos com seus olhos molhados e começou a chorar descontroladamente, o que fez com que Susana se aproximasse e a abraçasse com força.

– Ele está muito mal Susana... –foi tudo que ela conseguiu dizer abraçada a rainha destemida.

– Ele vai ficar bem Alice. –disse a gentil, olhando para os irmãos. – Caspian é forte...

– Vamos vê-lo... –disse Pedro assim seguindo rumo ao corredor.

– Fique calma Alice. –disse Lucia tocando o ombro da loira.

Edmundo logo seguiu o irmão até o quarto onde o doutor fazia o que podia para fechar o ferimento. O rei estava desacordado por conta de um remédio dado pelo doutor para que ele descansasse e não sentisse a dor do tratamento. Este se levantou e se dirigiu aos reis.

– Ele ficará bem doutor? –perguntou Edmundo em tom preocupado.

– Não tenho certeza. O rei perdeu muito sangue, e está debilitado. Fiz tudo que estava ao meu alcance. Mas receio que não seja o suficiente... Meus recursos foram todos usados, tudo que nos resta é esperar e rezar para que o rei se recupere.

Os olhos dos irmãos voltaram-se para o leito onde o rei estava adormecido, e ambos ficaram tristes. Mas estavam esperançosos, e sabiam que não poderiam deixar que Alice sentisse o seu temor.

– Por favor, doutor... Diga às rainhas que Caspian ficará bem. Não queremos deixá-las apreensivas. –disse Pedro sabiamente.

– Sim majestade.

Algumas amas ainda permaneciam no cômodo tratando dos seus afazeres, limpando ao redor do leito, e cuidando dos lençóis e panos sujos espalhados pelo quarto. Quando as rainhas adentraram ao aposento ficaram ambas aos pés da cama observando com preocupação o rei ali deitado. Alice por sua vez, fez a volta ao redor da cama de dossel e sentou-se ao lado de Caspian segurando sua mão e tocando a testa do mesmo.

– Eu estou aqui meu amor... Você vai ficar bem! –dizia em tom triste. – Não se preocupe, eu não sairei de perto de você sequer um segundo novamente... Eu estou bem aqui... –disse sentindo as lágrimas molhando seu rosto.

Os irmãos se entre olharam apreensivos percebendo que a situação era difícil. Alice por sua vez, sem notar os olhares, inclinou-se e depositou um beijo sobre a testa de seu amado rei, enquanto acariciava seus cabelos e segurava firme sua mão.

– Eu te amo muito Caspian... –dizia ela.

...

Alice passou o restante do dia ao lado do rei, segurando sua mão e dizendo ao mesmo que ele ficaria bem. Saiu do cômodo apenas por um instante quando foi chamada por Pedro e Edmundo a sala principal para uma conversa.

– O que desejam Pedro e Edmundo? –disse Alice ao entrar na sala. – Eu não quero deixar Caspian sozinho por muito tempo.

– Seremos breves Alice. –respondeu Pedro.

– Do que se trata?

– É sobre a feiticeira... –continuou Ed.

– O que tem a feiticeira?

– Ela estabeleceu uma data para confrontá-la... –seguiu Pedro.

– Ela nos deu um dia para nos preparar... –continuou Edmundo.

– Um dia? –disse Alice franzindo a testa. – Mas é muito pouco, Caspian está muito mal...

– Teremos de ir sem ele Alice. –seguiu Pedro.

– Seguir sem ele? –ela prosseguiu. – Mas ele é o rei...

– Assim como nós, e como você.

– Mas...

– Sabemos que está preocupada com Caspian, e todos nós estamos Alice, mas ainda temos um dever para com Nárnia.

– Se não aceitarmos a data estabelecida pela feiticeira, ela nos atacará sem aviso prévio. –disse Edmundo.

– Quando?

– Amanhã assim que o sol se por, nas ruínas de Elvan. –disse Pedro.

– Estarei pronta... –disse mudando sua expressão preocupada e melancólica para uma expressão decidida e firme.

Então ela regressou ao cômodo onde se encontrava o rei adormecido e lá permaneceu até que anoiteceu. Os reis entraram e saíram do quarto, trocaram algumas palavras com Alice, ordenaram que as amas servissem alimento para a rainha que não conseguiu tocar em nada, apenas conseguia ficar ao lado de Caspian esperando que ele acordasse. Algumas vezes ela o ouvia dizendo algumas palavras um tanto quanto sem sentido, mas ele sabia que sua Alice estava ali.

– Alice? –disse Susana em pé aos pés da cama. – Está tarde, não acha que deveria ir descansar um pouco? Está aqui o dia inteiro, nem tocou na comida que as amas trouxeram.

– Eu não consigo comer com Caspian desse jeito Susana. –disse olhando nos olhos da gentil.

– Mas precisa comer... Ou a próxima a ficar de cama será você.

– Não se preocupe eu estou bem.

– O confronto contra a feiticeira será amanhã, precisa repousar ou não estará disposta.

– Eu dormirei aqui. Não vou deixar Caspian sozinho.

– Ele não estará, pediremos que as amas fiquem de olho nele.

– Não. Eu ficarei aqui. Eu sou sua esposa, não deixarei que ninguém faça o que eu tenho de fazer. Quanto à feiticeira, acredite... Eu estarei pronta para enfrentá-la... E mal posso esperar por isso.

– Não é a sua raiva que a vencerá Alice, é sua força e sua estratégia.

– Fique despreocupada Susana. Eu sei o que devo fazer... Agora se puder me deixar sozinha com o rei...

– Tudo bem... Mas não fique acordada a noite inteira Alice... Boa noite.

– Boa noite Susana.

Assim a rainha gentil se retirou deixando Alice o lado do rei. Enquanto pode ficar acordada a loira ficou, mas quando o sono e o cansaço se apossaram de si, ela deitou-se ao lado de Caspian no pequeno espaço que havia na cama e ali adormeceu segurando a mão do rei mostrando que não o abandonaria em nenhum momento.