Andamos em silêncio durantes uns cincos minutos. Peeta disse que era para eu apenas olhar e não falar nada.

O lugar de longe parecia ser meio sem graça, porém por dentro era lindo. Realmente lindo. Primeiro passamos pelo jardim de trás, o pequeno lago e a capela. Em seguida pela clínica, o consultório de Peeta e um lugar onde as crianças passam os finais de semana.

 – Então – para em minha frente – o que esta achando?

– É muito bonito – digo – é tudo de seus pais?

– Quem criou a clínica da verdade foram meus avos, mas como já faleceram ela passou para meus pais

– Ah sim. Sabe estou gostando daqui

– A maioria gosta, mas desiste na primeira semana

– É as coisas não são fáceis

– Mas sabe o que é o mais legal daqui?

– O que?

– O mar corta a clinica por trás. É maravilhoso – Peeta me encara – quer ir ver?

– Pode ser – digo

Ele pega novamente em minha mão, algo que me deixa meia sem jeito. Porque eu não faço idéia, só não estou acostumada com uma pessoa pegando em minha mão praticamente toda hora.

[...]

Andamos mais ou menos uma hora e eu já estava podre de cansada. Era primavera, mas eu estava encharcada e suava como uma porca. Estava quase desistindo quando finalmente consegui enxergar o mar a minha frente.

– Chegamos – Peeta diz com a voz um pouco falha – costumo vir aqui às vezes

– É cansativo – digo com a voz também falha – mas vale à pena

– Eu te disse – ele se senta. Faço o mesmo

– Vem aqui pra que?

– Para pensar, me aliviar

– Se aliviar? Do que?

– Da dor – ele me olha nos olhos

Dor? Peeta parece ser uma pessoa forte e sem problemas, mas do jeito que olhou para mim deu para entender tudo.

– Você não precisa falar se não quiser

– E você não precisa ouvir se não quiser

– Eu ouço Peeta - sussurro

– Esta bem – começa – só para deixar bem claro, sobre isso nunca falei com ninguém. Okay? – assento com a cabeça – Minha mãe morreu quando eu tinha uns dez anos de idade, mas antes de partir ela era uma das psicólogas mais famosas daqui. Ela era muito talentosa sabe? Ela teve a capacidade de curar pessoas em questão de meses, ela fazia tudo isso com vontade, porém se foi. Não é justo isso. – Peeta faz uma pausa e começa a chorar – Os primeiros dias foram infernais. Tinha que agüentar ouvir aqueles “eu sinto muito” o velório todo, mas o pior é que a maioria era falso. A maioria das pessoas que estavam lá não ligava, eram falsas. E eu só queria sair dali e ir para longe, longe de toda aquela gente, longe de toda aquela droga, porém a cada dia eu ia ficando mais preso naquilo e a única coisa boa que fiz foi me tornar uma pessoa como ela. Decidi fazer as mesmas coisas que ela fazia pensando que por causa disso a dor ia diminuir ou sumir, mas não diminui e muito menos sumiu. Por isso venho aqui sempre, porque aqui é o único lugar que posso ficar comigo mesmo. Entende?

– Nossa eu nem sei o que falar – gaguejo – mas eu te entendo, sei como é perder alguém, entretanto diferente de você a culpa foi minha

– Não, não foi Katniss – ele encara o nada – Eu também achava que a culpa era minha no inicio, mas entendi que é o destino e se era para acontecer aconteceu

– Talvez, só que eu não queria que acontecesse. Eu só queria achar uma forma de parar aquilo e poder fazer que não ocorresse

– Eu também, mas como você não foi possível

– Eu sou inútil, inútil em nível extremo

– Não Katniss, você é mais do que isso. Muito mais