– E depois, o que aconteceu?

Glimmer está sentada a minha frente, do outro lado da mesa. Quando cheguei em casa ela já estava me esperando, sentada nas escadas.

– Nada de mais.

– Ele ao menos te trouxe até a porta de casa?

– Sim.

– Você o chamou para entrar?

– Ele tinha que levar as crianças de volta.

– Ah... – suspira Glimmer – Você deu um beijo de boa-noite?

– Mas é claro que não.

– Por que não?

– Você não ouviu o que eu disse? Foi um passeio normal na praia e ele me convidou. Não foi um encontro.

Glimmer levantou sua xícara – Para mim, parece um encontro romântico.

– Foi um dia normal.

– Parece também que vocês passaram um tempo conversando.

– Acho que você queria que fosse um encontro. Mas não foi.

– E por que eu iria querer isso?

– Não sei. Mas desde que nos conhecemos, a cada vez que nos falamos, você faz questão de mencioná-lo. E como se fosse estivesse tentando... ah, eu não sei. E como se você quisesse que eu o notasse ou sei lá.

– E você o notou?

– Você viu o que eu quero dizer? – falo jogando as mãos para o alto.

Glimmer riu antes de balançar a cabeça – Tudo bem. Que tal pensar desta maneira? – hesitou ela antes de continuar – Já conheci milhares de pessoas e, com o tempo, aprendi algumas coisas. Como nós duas sabemos, Peeta é uma ótima pessoa. E quando conheci você, Katniss, tive a mesma opinião. Eu não a arrastei para ele ou muito menos interferi quanto ao convite para ir à praia, um convite que sem via de duvidas você aceitaria.

– Kristen me pediu para ir junto...

– Eu sei – disse Glimmer, levantando as sobrancelhas – E eu tenho certeza que esse foi o único argumento que a convenceu a aceitar.

Faço uma careta nada agradável para Glimmer – Você tem essa mania de distorcer as coisas.

Ela riu outra vez – Já lhe passou pela sua cabeça que estou fazendo isso por que estou com inveja? Ah, não por você ter saído com Peeta, mas por você ter ido pra praia com um dia perfeito como esse, enquanto eu estava enfurnada dentro de casa pintando minhas paredes por dois dias sem sequer parar. Nunca mais quero encostar meus dedos em um rolo de tinta pelo resto de minha vida. Tudo em mim está dolorido. Mas sabe? Acho que vou ligar para o restaurante japonês e pedir que me tragam algo. Você quer um pouco?

– Não estou com muita fome – digo – Comi muito hoje.

– Não que isso seja possível, hein? Embora você tenha tomado bastante sol. A cor ficou perfeita em você, mesmo que daqui alguns anos isso lhe traga várias rugas.

Faço outra careta para ela – Muito obrigada por me lembrar.

– Amigos são para essas coisas – disse ela, levantando-se e espreguiçando-se – A noite passada foi muito boa, ainda que eu tenha que admitir que paguei o preço por ela hoje de manha.

– Foi realmente bom – digo.

Glimmer deu alguns passos antes de se virar – Ah, me esqueci de te perguntar. Você vai ficar com a bicicleta?

– Vou sim – respondo.

Glimmer coloca os dedos no queixo – É uma boa ideia.

– O que você quer disser com isso?

– Simplesmente acho que você não precisa devolvê-la. Você com certeza precisa de algo para sair, não é? Ele também queria que você ficasse com ela. Por que você iria querer devolvê-la? – ela deu de ombros – Seu problema é que você fica procurando demais por significados e segundas intenções nas ações e palavras dos outros.

– Assim como faço com minha amiga manipuladora?

– Você realmente acha que sou manipuladora?

Dou de ombros – Talvez você seja um pouquinho, sim.

Glimmer sorriu – Okay dona Katniss... acho que preciso dormir, até lá.

– Até lá.