Rubi Vermelho Como Sangue escrita por Lucy Himeno


Capítulo 6
A vista da janela


Notas iniciais do capítulo

Desta vez consegui caprichar mais no capítulo, principalmente porque esse é um dos meus momentos favoritos! ^^

Mas meus problemas ainda não se resolveram... Digamos que meus pais não se dão bem como os pais da Ruby... Tô passando por maus bocados aqui... Mas vamos à leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/369596/chapter/6

 Manhã ensolarada em Vale da Aurora, hora de adolescentes dispostos acordarem cheios de energia! Só que eu não sou uma delas. Apenas esqueci de fechar essas malditas cortinas antes de dormir, e para completar essa janela do meu quarto é enorme! Ok, até vou levantar, mas só pra fechá-las e voltar à dormir! 

  Olhei o meu pequeno relógio de coelhinho azul, que ficava no criado mudo, devia ser a única coisa um pouco colorida naquele quarto. Chequei as horas, mas por incredulidade tive que esfregar os olhos e checar de novo. Cinco e quarenta e cinco da manhã?! Cinco e três quartos?! Cinco mil quatrocentas e cinquenta horas?! Eu não merecia isso! Acordar de madrugada, como deviam fazer os caipiras dessa cidade!

 Sai debaixo das cobertas, com um pouco de relutância, pois mesmo em um dia com um pouco de sol, ainda estava nublado e frio lá fora. Foi quando, pela primeira vez olhei por aquela janela.

 Abaixo da sacada, a vista que eu tinha para o quintal não poderia ser mais tenebrosa. Lá em baixo havia uma pequena área com uma grama baixa e poucas flores ao redor, uma mesa e cadeiras de ferro para jardim no centro. Mais à frente, um pequeno muro que dividia o quintal da casa de um cemitério que ficava logo atrás. Diversos túmulos, a maioria apenas uma construção grosseira de tijolos pintadas com cores apagadas, algumas eram lápides sobre um pequeno monte de terra, e poucas eram construções com estruturas arquitetônicas semelhantes a castelos, cobertas por cerâmica e portas de vidro, provavelmente pertencentes à pessoas importantes, como antigos prefeitos da cidade. Vasos quebrados e flores murchas por todas as partes. Mas que diabos...?!

 Mesmo com uma camisola que chegava à altura de minhas canelas, fiz como nos filmes e peguei o robe que estava em cima da minha cama e o vesti, e sem me preocupar em olhar minha aparência no espelho, e meus cabelos que com certeza estavam muito assanhados como em toda manhã, saí pronta para arrumar uma briga com meus pais. 

 Pensei em ir até o quarto, mas não queria me deparar com alguma cena "inapropriada para minha idade" logo tão cedo de manhã, mas não precisei pensar muito pois ouvi vozes vindas lá de baixo. 

Desci as escadas às pressas e segui as vozes, as portas da sala que davam acesso à sala de jantar estavam abertas, então não foi difícil deduzir onde eles estariam. Atravessei as duas salas e abri a porta que dava acesso à cozinha. Dito e feito! Lá estavam os pombinhos, minha mãe colocando uma uva na boca do meu pai e dizendo "diga Ah!". Isso embrulhou mais ainda meu estômago.

 -Por que vocês não me avisaram?! - Perguntei, furiosa, sem fazer arrodeios.

-Bom dia pra você também! - Respondeu meu pai, já fechando a cara pra mim.

-O que aconteceu filha? - perguntou minha mãe, com uma expressão preocupada, provavelmente tentando descobrir uma solução antes que uma briga surgisse em nossa "família margarina perfeita".

-Eu acabei de olhar pela janela do meu quarto e adivinha só?! Um cemitério! Logo atrás da casa, logo em frente à minha janela, um cemitério decadente como vista!

-Ah, é só isso? - Perguntou meu pai, indiferente - Esta casa é grande e boa, mas ninguém queria comprá-la só por causa desse bendito cemitério, povo preconceituoso esse daqui. Por isso, conseguimos comprá-la barato. Sua mãe disse que você gostava de coisas antigas, e não achei que algo assim te incomodaria, afinal esse povo da sua laia de roqueiros vivem em lugares desse tipo, não?

-Jorge! - Minha mãe tentou intervir, mas era tarde demais. 

Subi de volta ao meu quarto, furiosa. O que ele quis dizer com povo da minha laia? Eu nem escutava tantas músicas assim, a maioria das vezes só quando minha amiga Samanta ia me mostrar alguma banda nova que tinha descoberto, mas eu pessoalmente preferia música clássica. Eu não usava só roupas pretas, apesar da maioria das minhas roupas serem de cores mais sóbrias. Só por que eu ocasionalmente ouvia algum rock significava que eu tinha que gostar de cemitérios, ambientes fúnebres e assustadores que eu realmente odiava? Ah, mas agora eles teriam a filha que queriam!

 Tranquei a porta do meu quarto de chave, e coloquei meu celular no volume máximo, e selecionei em tocar e repetir todas as músicas da pasta "metal". Ok, meu celular era velhinho e não devia ter um som tão alto assim, mas era o melhor que eu podia fazer no momento. Em seguida fui até o guarda roupa, e juntei as poucas roupas coloridas que eu tinha, salvando apenas as  jeans, pretas, roxas, vermelhas ou azul-escuras... coloquei todas dentro de um saco plástico e deixei separado num canto, as daria para a primeira pessoa que eu visse pedindo esmola na rua. Ficou pouca coisa, mas eu tinha os misteriosos vestidos góticos, então tudo bem!

  A segunda transformação: meu cabelo! Castanho escuro, naturalmente ondulado, mas quase liso por efeito de alisamentos artificiais e chapinha, afinal nascer com cabelo liso no Brasil só sendo descendente de índios ou japoneses, e reto até a altura do quadril, mas não por muito tempo. Sentei-me na cadeira da penteadeira e peguei uma tesoura grande e prateada, separei a primeira mecha em uma parte da frente e "tchack"! Cortei meu cabelo à altura do queixo, e estava disposta a cortar o resto ainda mais curto, deixando apenas uma franja comprida na frente, mas logo fui interrompida.

 Usando as roupas antigas e pretas de sempre, parecidas mas não as mesmas, ele entrou no meu quarto pela janela sem fazer cerimônia.

-Você aqui?! Como você entrou?! Você é real?! Quem é você afinal?! - Joguei uma enxurrada de perguntas na cara dele, mas ele merecia, afinal agora eu tinha certeza que estava acordada de verdade e... Ele também não trocou, provavelmente, minha roupa duas vezes ontem?! 

-Acalme-se... Primeiramente, o que é todo esse barulho?

-Ah, desculpa... - peguei o celular e pausei a música - mas espera aí, que jeito de falar é esse? Sem tantas frescurinhas e tal? 

-O que são "frescurinhas? - me perguntou, confuso - eu estive à explorar um pouco lá fora e dei-me conta que atualmente o vocabulário é outro, por isso estou tentando adaptar-me...

-Hm. - foi só o que respondi. Que cara estranho, melhorou um pouco, mas seu jeito de falar ainda não era normal. E como assim só agora ele se deu conta que ninguém mais usa o português formal na fala? Por acaso os pais dele o criaram trancado sob uma educação rígida por uns... sei lá, dezessete anos? Finalmente lembrei de fazer outra pergunta- E então, como você chegou aqui?

-As grades com trepadeiras ao lado de sua janela não são muito difíceis de se escalar sabia?

-Ah, nada mais sobre este quarto ou esta casa me surpreende. Mas o que veio fazer aqui dessa vez? - como assim, eu estava super calma e aceitando tudo numa boa?!

- Bem, primeiro eu ouvi muito barulho vindo daqui, então fiquei preocupado e subi, depois vi a besteira que tu estavas prestes à cometer... - Disse, aproximando-se de mim até chegar ao meu lado- Teus cabelos são muito belos, não posso deixar que os estrague assim. - Disse, pegando meus cabelos e acariciando sua face e pálida com eles.

-Bem, mas os cabelos são meus! - respondi secamente, tirando meus cabelos de suas mãos - e é uma forma de provocar meus pais!

-Você não se dá bem com eles? - me perguntou, curioso

-Não é bem isso... É só que eles estão tão cegos pelo amor que sentem um pelo outro que às vezes parece que nem se lembram que têm uma filha. Não se importam com minha opinião, apenas decidem e fazem o que querem... Isso me irrita.

-Eu sei como se sentes, mas não deveria flagelar à si mesma por algo que seus pais lhe fizeram... - me disse, com uma expressão que transparecia dor , mesmo o vendo somente pelo reflexo do espelho, já que ele estava atrás de mim, pude perceber que seus olhar parecia vazio.

 Senti pena. Aquele rapaz estranho, que entrava em minha casa sem dizer como, que eu não sabia se me ajudava ou me fazia mal, com sua personalidade esnobe e pervertida, agora parecia um ser frágil e machucado por dentro. Eu queria protegê-lo. Mesmo sem saber o motivo de sua tristeza, eu estava à beira das lágrimas, não pude me conter, me levantei e o abracei pela cintura.

-Eu não sei o que aconteceu, nem sei o motivo pelo qual você sofre, mas pode contar comigo!- falei de súbito, com a voz um pouco trêmula.

Eu não podia ver seu rosto, mas seu corpo petrificado demonstrava surpresa. Eu não tive coragem de soltá-lo, mesmo sabendo que era o certo à fazer, não queria mostrar minha cara, que com certeza estava muito vermelha, à julgar pelo calor que eu sentia nas bochechas. Mas inesperadamente ele me abraçou de volta com força.

-Obrigado! - sua voz saiu com tom de riso ou surpresa. Não pude distinguir muito bem, mas senti que de alguma forma eu o tinha ajudado.

-Ah! antes que eu me esqueça, meu nome é Ruby Albuquerque! - finalmente me afastei de seus braços, e estendi minha mão para um aperto - Bem, na verdade Ruby é apelido, mas é melhor me chamar assim se não quiser ver uma garota terrivelmente irritada!

-Meu nome é Gabriel Tedeschi- disse, pegando minha mão, mas beijando-a ao invés de apertá-la - é um imenso prazer conhecê-la, senhorita. - e sorriu para mim, sem soltar minha mão.

Gabriel, que nome lindo... Que sorriso... Ai, por que eu estava ficando corada de novo?! Esse cara me deixava muito... Aah!

-E então... O que quer fazer? - perguntei, para desconversar.

-Primeiramente, tentar consertar o estrago que você fez no cabelo.

-O que? Como assim estrago?! - me irritei, não estava tão ruim assim!

-Vamos, vamos, sente-se aqui! - Me segurou pelos ombros- forçando-me à sentar novamente na cadeira.

-Você sabe mesmo o que está fazendo?

-Confie em mim. - disse Gabriel, pegando uma escova e começando a pentear meus cabelos. Estavam super assanhados e embaraçados, que vergonha!

-Aí! - exclamei - Você me machucou!

-Perdão, mas parece que vós não penteais os cabelos há séculos, senhorita Ruby... - disse, prendendo o riso, tentando desfazer um nó.

-Mas o que?! Ora seu..!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso ae! Foi difícil pensar num sobrenome pro Gabriel, e tô achando esse nome muito moderninho pra ele também... Mas eu acho esse nome lindo, então... u.u
O nome verdadeiro da Ruby é um mistério capaz de despertar seu monstro interior, hahaha. E seu sobrenome... Espero que não descubra que usei o meu... ops!

Ontem eu escrevi muito! Além desse cap, comecei uma fanfic YAOI, mas por esse ser FANFIC mesmo e não uma história original como essa aqui, é preciso marcar os personagens e o mangá... Eu não consegui fazer isso! ;_;

Afe, eu escrevi demais nas notas hoje não? Desde ontem estou com os dedos coçando pra escrever cada vez mais!

Enfim! Não percam o próximo cap! E você que leu, me dê coments enormes também! o/