Rubi Vermelho Como Sangue escrita por Lucy Himeno


Capítulo 2
A chegada


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, muito obrigada à Kawaii NekoChan por seu comentário no capítulo 1! Até agora foi o único, mas pra mim valeu por 20! *^*

Postei a continuação hoje, mas essa não é uma história diária ok? vou postando conforme for escrevendo, mas não devo demorar muito, sou bem impaciente...



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Já haviam se passado cerca de oitenta quilômetros para chegar à cidade Vale da Aurora, onde ficava a tão falada casa que meus pais não cansavam de elogiar durante todo o caminho pela a estrada. Começou à chover fraco, e pensei morbidamente que se a estrada ficasse escorregadia o bastante para o carro capotar eu poderia parar de ouvir tudo aquilo. Pensei, mas logo engoli seco em arrependimento. Quando eu me tornara uma garota tão fria? Eu costumava amar meus pais mais que tudo, o que aconteceu para que eu tivesse tanta raiva deles daquele jeito? Seriam as tão faladas alterações hormonais da adolescência?

Resolvi fazer o que devia ter feito há muito tempo, peguei meu celular e fones para ouvir música bem alto, aquelas eram as músicas de heavy metal que minha amiga Samanta tinha passado para mim. Eu não curtia muito, mas ouvir toda a raiva expressada naquelas músicas, em todos aqueles gritos incompreensíveis era como extravasar a minha própria raiva, sempre chegava o momento em que eu me cansava de ouvi-las, o que significava que minha raiva havia passado. Meus pais estavam tão empolgados que provavelmente nem iriam suspeitar se eu não os respondessem.

Ainda estava ouvindo a terceira quando passamos por uma placa verde com letras brancas que anunciava nossa chegada à aquela cidade que eu não conhecia mas já detestava. Li o "bem vindo à Vale da Aurora", e não mais que quinze minutos depois da entrada da cidade, o carro parou. Será que acabou a gasolina? Tirei o fone de ouvido esquerdo e ouvi as vozes excessivamente alegres de meus pais:

–Chegamos querida! - Disse minha mãe com um sorriso enorme no rosto

–Bem vinda ao seu novo lar, filha. - Disse meu pai, também tentando sorrir, mas não foi muito natural, já que ele era tão sério.

Papai desceu do carro com seu casaco na cabeça, numa tentativa frustrada de se proteger da chuva enquanto tentava descobrir qual das chaves era a que abria o cadeado do enorme portão de ferro da entrada. Forcei meus olhos para tentar ver a casa, mas não conseguia, graças às muitas árvores e ao vidro embaçado do carro, a julgar pela largura do muro, que ocupava um quarteirão inteiro, imaginei quão grande essa casa poderia ser. Como meus pais conseguiram comprar aquilo tudo só com trinta mil?!


–Ruby...Ruby, você está me ouvindo?! - Disse minha mãe, sacudindo meu braço.



–Ah... o que? - respondi, deixando claro que eu não havia ouvido nada do que ela havia falado.


–Você está me escutando?

–Uhum...- não sei porque ela ainda perguntava, eu era assim mesmo, quando começava a pensar ou falar comigo mesma, não ouvia nada nem ninguém.

–Olha filha... Eu sei que você vai sentir falta dos seus amigos, mas aqui nem é tão longe! Poxa, vocês podem se ver nas férias e se falar por telefone... Fora que sua nova escola já começa segunda, tenho certeza que lá você vai conseguir novos amigos e...

–Eu não quero novos amigos! Eu quero meus amigos! Quero passar meu aniversário com eles, ficar com eles, e não presa nessa cidade minúscula e idiota com vocês! - Acabei gritando com minha mãe. Acho que eu nunca tinha feito isso antes, me arrependi muito e achei que ela iria me bater pela primeira vez em muito tempo. Sua boca se abriu para falar alguma coisa, mas fomos interrompidas por papai, que havia voltado pro carro, completamente encharcado.

–Nossa, eram muitas chaves mesmo! - papai entrou falando, interrompendo uma possível briga, e ao ver a minha cara e a de minha mãe, logo desconfiou. - Aconteceu alguma coisa?

–Não, nada querido. E então, vamos entrar?- falou minha mãe. Ela, por algum motivo, resolveu me acobertar. Sabia que se papai soubesse que gritei com ela daquele jeito, ficaria furioso, pois ela é a pessoa que ele mais ama, uma grosseria daquelas vinda de um filho seria imperdoável. Meu pai nunca tinha me batido na vida, mas dizem que para tudo há uma primeira vez.


Aliás, eu não lembro de ter apanhado muito na minha infância. A única lembrança que tenho é de minha mãe me batendo porque eu havia quebrado um vaso de cristal enquanto corria pela casa, eu tinha uns nove anos na época e nós estávamos passando as férias em uma pequena cidade nos Estados Unidos, na casa de uns parentes distantes do papai, que além de tudo também tinham pago nossa viagem, então o vaso quebrado traria sérios problemas para ele. Lembro também que depois de me bater, mamãe me abraçou e pediu desculpas, mas eu a empurrei e jurei que fugiria e nunca mais voltaria para aquela casa. Naquela noite estava nevando, mas mesmo assim, quando todos estavam dormindo, eu peguei uma mochila com umas roupas, comida e doze dólares, e fugi. Passei três dias desaparecida, a polícia não me encontrou e até hoje não me lembro quem me achou, nem quem me levou pra casa. Só me lembro que eu estava em um lugar quente e aconchegante, e que eu não queria voltar nunca mais...




Enquanto eu relembrava este acontecimento doloroso da minha infância, nós atravessamos o imenso jardim e chegamos na frente da casa. Por sorte, a chuva reduziu à pequenos chuviscos, e pudemos descer. Antes de ir pegar minhas malas, olhei para a casa e não pude deixar de me decepcionar um pouco. Ela tinha apenas um primeiro andar e era branca, um daqueles casarões antigos, parecia que eu estava em uma daquelas novelas de época das reprises, mas à julgar pelo tamanho do terreno, era relativamente pequena.




Finalmente fui até o porta-malas pegar minhas coisas, e não pude deixar de reparar que depois das enormes árvores que estavam na entrada e também ao redor da casa, havia um lindo jardim de rosas vermelhas e brancas, muito bem cuidado por sinal. Será que foi um profissional quem cuidou delas?


Eram apenas duas malas, mas só aguentei o peso de uma por vez, mesmo assim arrastando-as no chão, mas por sorte minha mãe não viu isso para reclamar. Subi os cinco degraus com algum esforço e passei pela porta já aberta. Meus pais já tinham trazido as coisas deles para dentro, e agora estavam aos agarros no sofá da sala enorme. Uma escada com dois lados ficava em volta da sala como uma meia lua e dava para o primeiro andar, onde ficavam os quartos, então levei minhas duas malas pra cima o mais rápido que pude para não ver mais nenhuma cena daqueles dois, pois quando estavam juntos era como se tivessem seu próprio mundo, então eu fui simplesmente ignorada enquanto subia a longa escada barulhosamente arrastando minhas malas.

Haviam dois corredores, como eu sabia que o quarto de meus pais ficava no da direita, resolvi ir pelo da esquerda. Passei por um enorme corredor, com um papel de parede bonito, azul com alguns losangos pequenos e brancos estampados nele, e por algumas portas de madeira simples, pintadas de branco. Me senti livre para escolher qualquer um dos quartos, então escolhi o último do corredor, pois a porta desse era diferente, haviam umas rosas talhadas magnificamente, algumas ainda botões, outras floridas, mas a maioria dos detalhes eram espinhos, trazendo um ar um pouco melancólico que muito me atraiu.

Abri a maçaneta e me impressionei com aquele quarto! Parecia ter sido feito à meu gosto pessoal, todos os móveis brancos e à estilo vitoriano, as paredes tinham um papel de parede liso e púrpura, quase no mesmo tom da roupa de cama. E que cama! Sempre sonhei em ter uma daquelas camas com uma espécie de cortina em volta, cujo nome me esqueci. Falando em esquecer, deixei as malas no corredor! Voltei e arrastei a primeira para dentro do quarto, jogando-à em cima da cama, e retornei para pegar a segunda. Ao tentar arrastá-la, acabei derrubando-à contra a parede do fim do corredor.

–Droga, Ruby, sua desastrada!... - queixei-me comigo mesma e tratei de levantar a mala vermelha do chão, e descobri que a queda da mala arrancou parte do papel de parede! - Essa não, vão brigar comigo, esse tipo de papel de parede nem deve existir mais! - foi quando percebi que, atrás do papel de parede havia madeira, não tijolos! Resolvi investigar, bati na parede de leve com a mão fechada, como quem bate em uma porta, e realmente fez o som de uma! - Ah, quer saber? Já estraguei o papel de parede mesmo, é hora de alguma ação!

Descolei um pouco mais do papel de parede próximo ao chão e descobri uma brecha entre a falsa parede e o chão. Fosse o que fosse, alguém fez questão de esconder! Passei os dedos por baixo e puxei, e para minha surpresa, o papel de parede se rasgou em volta de um pequeno quadrado de madeira, era mesmo uma porta!

Levantei-me e espionei primeiro, depois entrei. Era um pequeno quarto, comparado aos outros um cubículo, estava empoeirado e todas as paredes eram cobertas por pequenas páginas de papéis, com poesias escritas à mão, as que estavam em português eram de temas sombrios e mórbidos, algumas estavam em francês, latim, alemão e outros idiomas que não consegui identificar, quem dera traduzir! Além de inglês, eu não sabia muito de línguas estrangeiras. À esquerda, algumas tábuas de madeira apoiadas na parede, então ali deveria ser algum tipo de depósito que alguém cobriu por fora como uma parede por engano.

Havia uma mesa pequena e redonda, sobre ela um pequeno caderno de couro preto. Soprei a poeira, que voou como uma nuvem, assim como fazem nos filmes. Peguei o pequeno caderno e vi em letras douradas "1903". Seria ouro? Tentei abrir, mas nele havia uma espécie estranha de fechadura, tentei força-la mas foi em vão.

De repente, uma das tábuas caiu! Me assustei e me virei procurando o que causou aquilo. - Quem está aí?! - perguntei, mas me assustaria muito mais receber uma resposta.

Muito assustada, comecei a andar para trás, pronta para fugir, me virava para todos os lados, sentia uma presença atrás de mim, quando você sabe que tem alguém lhe olhando, mas não havia nada além de poeira e bagunça, eu corri em direção à porta, mas minha vista escureceu, senti meu corpo caindo pra frente. Desmaiei.


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Notas finais do capítulo

Dessa vez ficou beeem maior não? *^*

Me desculpem qualquer coisa, é a primeira vez que escrevo em primeira pessoa... -_-"

Eu sei que prometi uma imagem por capítulo como fazem nas lightnovels, mas eu não fiz desenho nenhum ainda! '-'
Então esperem um pouquinho que eu posto depois ok? Beijinhos!