Mesmo sem ter a menor ideia de quem era aquele garoto, senti sentimentos estranhos dentro de mim. Sentimentos muito fortes, por ele. Só não conseguia entender se eram sentimentos bons ou ruins.

–Percy! Como é que vai, cara? –Jake disse fazendo um ‘toca aqui’ no garoto. E em seguida, ele saiu andando de muletas.

Eu não entendi muito bem o motivo de Jacob ter saído dali e ter simplesmente me deixado em frente ao garoto de olhos bonitos.

Estava em frente à ele, sem olhá-lo nos olhos e então percebi que ele estava se aproximando de mim. Fiquei parada. Ele abriu a boca e começou a falar comigo.

–Você é nova? –Ele perguntou olhando diretamente em meus olhos.

–Sim, por que? Alguma coisa contra? –Não queria parecer bobinha ou coisa do tipo, eu queria era passar uma imagem de garota forte e madura.

–Nada. Qual o seu nome?

–Acho que não devo satisfações à você. Minha mãe me ensinou a não falar com estranhos, querido.

E assim segui meu caminho, deixando para trás o tal ‘Percy’. Minha saída foi simplesmente triunfal. E eu havia conseguido passar o exemplo de garota forte e madura que eu tanto almejava.

Parei em frente à uma casa grande e azul que estava no centro do Acampamento. Vi Jake jogando vôlei com uns meninos... Bem, na verdade não eram meninos. Eles tinham o corpo de um adolescente de 16 anos normal, até a cintura. Da cintura para baixo, eles tinham o corpo de um tipo de bode. As pernas eram iguais as de um bode e eles tinham cascos no lugar dos pés. E então, foi aí que eu percebi... Jacob também era assim. Igual à eles. Era como se fosse metade menino e metade bode. E ele não estava mais usando as muletas. Esquisito.

Ouvi uma voz pronunciar meu nome. Eu conhecia aquela voz. Me virei e arregalei os olhos a ponto de nem senti-los mais dentro das órbitas. Era o Sr.Bolder. Mas... Estava diferente. Parecido com o Jacob, só que com uma pequena diferença. De frente, ele tinha o corpo de um homem comum de 30 anos, mas olhando de costas podia ver seu verdadeiro corpo. Seu ‘traseiro’ era como o de um cavalo. E ele tinha duas pernas de cavalo. Somente da cintura para cima era o Sr.Bolder de sempre. E da cintura para trás era um cavalo branco.

–Bella, quanto tempo! –Ele sorriu pra mim.

–É... Sr.Bolder? O que aconteceu com as suas pernas? Onde está sua cadeira de rodas? –Eu ia continuar fazendo-lhe perguntas, mas ele me interrompeu começando a respondê-las.

–Pode me chamar de Quíron, Bella. Eu sou um centauro. Metade homem, metade cavalo. E também sou o Diretor de Atividades do Acampamento Meio-Sangue. Eu fingi ser seu professor para ensiná-la sobre Mitologia Grega e ajudá-la com seus problemas, sendo uma semideusa.

–Ah... –Eu me dei conta- Então o senhor não é um professor de verdade? Que loucura... E é Diretor de Atividades daqui? –Eu disse observando os lugares.

–Sim. Ah vamos Bella, o Sr.D está a sua espera. –Ele disse se virando e cavalgando para dentro da grande casa azul.

Entrei logo atrás do Sr.Bolder... Quer dizer, Quíron e pude ver o que tinha dentro da casa. Era linda.
Nós chegamos em uma sala onde estava um homem com uma aparência problemática e entediada. Ele estava sentado em uma cadeira giratória que estava posicionada em frente à uma mesa de escritório. Estava com os pés em cima da mesa e não parecia feliz. Quando ele me viu entrando com Quíron, tirou os pés da mesa e se sentou normalmente.

–Bella, este é o Dionisio, mas chame-o de Sr.D se não quiser levar uma bronca. Ele, como você já deve saber, é filho de Zeus, o maior deus do Olimpo. Ele é o deus da loucura, das festas e do vinho. E também é o Diretor do Acampamento Meio-Sangue. –Quíron disse ajeitando a cadeira em frente à mesa para eu me sentar. Assim o fiz.

–Então você é a tal Bella? –Dionisio disse me encarando como se eu fosse uma estátua de museu.

–Sim. Muito prazer, Senhor. –Eu disse estendendo uma das mãos para ele me cumprimentar, mas fui ignorada.

–Ta, ta que seja. –Abaixei a mão- Quíron, ela já foi reclamada? –Ele disse olhando para Sr.Bolder com cara de tédio total.

–Ainda não Senhor.

–Então mande-a para o chalé de Hermes, logo. Tenho coisas melhores para fazer do que ficar cuidando de uma garotinha sem pai. Vamos, andem logo.

Aquelas palavras haviam me ferido. “Tenho coisas melhores para fazer do que ficar cuidando de uma garotinha sem pai”

Quíron pegou minhas malas que estavam em frente a casa grande e levou-as para um ‘Chalé’ todo decorado. Era um Chalé normal de Acampamento. Com uma aparência velha, pintura descascando e um caduceu acima da porta.

Ele abriu a porta e eu pude ver várias crianças, e adolescentes correndo pelo Chalé. Algumas gritavam, outras pulavam nas camas, outras faziam cócegas umas nas outras... Sr.Bolder deixou minhas malas na porta do chalé e saiu. Eu fiquei parada na porta, sem ter a mínima ideia do que fazer, já que eu não conhecia ninguém dali. E então, dois meninos idênticos se aproximaram de mim.

–Oi menina –Um deles disse- Eu sou o Connor, e esse aqui é o Travis, meu irmão. Somos filhos de Hermes, e líderes do Chalé de nosso pai. Você é recém-chegada? –Connor disse me olhando de cima a baixo.

–Ah, sim. Eu cheguei hoje. Sr.D disse que como não fui reclamada eu devia vir pra cá. Mas parece que o lugar já está cheio... –Eu observei o chalé todo. Ele estava lotado de gente.

–Isso é normal. É que todos os semideuses que chegam no Acampamento sem estarem reclamados vem para cá. Assim como você. –Travis disse sorrindo para mim- Vem, eu te ajudo com essas malas.

Ele pegou minhas malas e colocou-as no chão, perto de um saco de dormir que ali estava. Eu dei um fraco sorriso e agradeci. Em seguida eles subiram em cima da cama de cima de um dos beliches e gritaram e assoviaram pedindo silêncio.