Cap. XXV – Esconde-esconde

Roy dirigiu para um mercado que não ficava muito longe dali e levava consigo pensamentos estranhos. Afinal, nunca havia se imaginado em uma situação como aquela.

O que o levava a lembrar-se de que ouviria uma grande bronca da Madame. Já fazia algum tempo que não ia visitá-la e também tinha Amy, ela iria querer conhecê-la.

Mas isso podia esperar, seria melhor ir quando já estivesse com Riza. Ele riu desse pensamento. Ele com uma família... Parecia tão surreal.

O Mustang parou o carro no estacionamento entrou no estabelecimento. O lugar não era muito grande, na verdade, tinha cara de um lugar para conseguir encontros.

Era um supermercado para solteiros. Certo, não tinha tempo de ir até o outro lado da cidade. Respirou fundo e passou a passar pelos corredores. Não seria nada bom se encontrasse alguma conhecida. Nada bom mesmo.

Essa conhecida poderia entender erroneamente sua presença ali. Seu medo não tinha nada a ver com querer estar com outra, era estranho, mas sua cabeça tinha aderido ao coração e somente uma loirinha de olhos âmbar lhe interessava.

Quando chegou a sessão de hortaliças, avistou uma moça de jeans, sapatilha preta, blusa de gola alta branca  e um cachecol  vinho no pescoço. Era esguia e de cabelos loiros. Estava pegando alguma frutas ...

- Riza?

O moreno viu a mulher virar o pescoço e arquear uma das sobrancelhas em sinal de surpresa.  Era mesmo Riza.

- Roy?

Ele olhou para os lados a procura de um chato que não largava do pé dela, mas não achou ninguém. Finalmente o encosto tinha dado uma bola dentro.

- Hum... Oi. – Roy levou uma das mãos a nuca – Fazendo compras de emergência?

- Mais ou menos... Eu comi besteiras demais...

O general notou que ela corria os olhos a sua volta a procura de alguma coisa, mas sem sucesso, visto que o cenho se franziu levemente.

- Onde está a Amy?

- Em casa, vim comprar algumas coisas para fazer um chá... É uma história meio engraçada.

- Você deixou a minha filha sozinha, Roy Mustang? – a cara dela não era nada boa –

- Claro que não, Riza! Não me olhe com essa cara! – ele gesticulava com as mãos tentando dar mais ênfase ao que dizia –

- E ela ficou com quem? – uma sobrancelha loura ergueu-se –

- Com o nanico e o irmão dele, não se preocupe!

- Como o Edward parou na sua casa, Roy??

O general dá um longo suspiro, iria contar logo a história antes que a lourinha resolvesse atirar primeiro e perguntar depois.

X-X-X

Riza ria no carro enquanto terminava de ouvir a história, Roy era realmente uma peça rara.

- Eu não acredito... Você se desesperou por causa disso?  - a mulher não continha a risada cristalina –

- Não é engraçado! Como é que eu iria saber que aquela baixinha resolveu dormir na minha cama?

- Roy, a Amy adora uma casa de casal, se deixar ela te derruba para poder dormir bem no meio! Você tem que manter o controle...

- Eu nunca, nunca estive com uma criança em casa! Como é que eu iria adivinhar que ela não resolveu brincar de escalada em uma das minhas estantes?

- A Amy não gosta de altura e quanto a estar passando mal, garanto que é manha. Se o Edward e o Alphonse derem trela ela vai colocá-los para brincar de pique-pega com ela!

- De qualquer jeito ela vai dormir melhor, caramba, como ela se mexe de noite! Tem horas que eu jurava que ela estava andando em cima da cama!

- E provavelmente estava... Sua casa ainda não é um lugar familiar para ela. É tudo muito novo, por isso ela não fica a noite toda no quartinho dela e quando deita com você acorda e fica andando até sentir sono de novo.

- Ela não tem medo do escuro?

- Só quando já está assustada por algum motivo.

- Ainda tenho tanta coisa para aprender... – Roy estacionou o carro a porta de casa –

- Tempo, deixe o tempo se ocupar disso.

O casal desceu do carro e foi para dentro da casa, encontrando Ed e Al engatinhando pelo chão como se procurassem alguma coisa. Era uma cena, no mínimo, bizarra.

- O que significa isso? – Roy franziu o cenho – Ficaram loucos?

- Er... – Al se levantou – Sabe... A Amy... Capitã?!

- O que tem a Amy, Alphonse?  - Disse Riza séria –

- A culpa é dele!! – Al apontou para o irmão –

- O que??!! Como assim??? A culpa é sua?!!

- Minha?? Você é que tinha que procurar a gente!!

- Eu tinha que procurar e você tinha que se esconder com ela!!

- Hey! Dá para parar de gritar e falar cadê a minha filha?? – Roy tinha uma veia saltada no centro da testa –

- Escondida. – disseram os dois juntos –

Os três olharam para Riza que soltou uma risadinha enquanto olhava para as caras de desespero dos três presentes.

- Eu disse que era só manha, Roy... Ela subiu as escadas, Alphonse?

- Não! Eu subi e quando olhei para trás ela já tinha sumido... Achei que estava debaixo ou atrás do sofá.

- Certo! – Riza começou a caminhar pela casa – Amy... A mamãe está aqui, onde está?

Nada. Nenhum barulho. Os três olhavam para Riza como se ela fosse maluca. Como não ficar histérica? A menina tinha tomado chá de sumiço e ela naquela calma?

Seguiram-na com o olhar conforme andava, por fim, a mulher entrou na cozinha e depois de uma volta parou, suspirou e olhou para os armários rasteiros. Abaixou e abriu uma das portas.

- Amy!? – ela sorriu para a pequena que saiu logo depois –

- Oi, mami! Você me achou!

- Hum... O que a mamãe disse sobre se esconder em armários, mocinha? – Riza pegou a filha no colo –

- Que pode ser perigoso e que eu não devia me esconder neles! – disse a loirinha um pouco sem graça –

- Então o que estava fazendo ali dentro?

- Er... Sabe... Eu não vou fazer de novo!? – ela abriu um grande sorriso –

- Okay, okay... Dessa vez vai passar, mas só dessa vem em! – a capitã de um longo beijo na bochechinha da filha –

- O que está fazendo aqui, mami? Como sabia que eu estava com saudades?

- A mamãe sabe!

Roy, Ed e Al ficavam olhando as duas com cara de bobos. Como ela tinha achado a filha tão rápido?

- Bem, eu e o Al já vamos! Tchauzinho para vocês!

Os dois loiros saem correndo antes que Roy voltasse a seu estado normal e resolvesse fazer churrasquinho deles. No entanto, o Mustang estava encantado demais com a cena que via. Quando ele estava com Amy parecia meio forçado... Mas Riza fazia daquilo uma coisa tão natural.

As duas conversavam animadamente.

- E o chá, Loy? – a filha olhou para o moreno com cara de bobo –

- Hum... Claro! Já vou fazer! – o moreno caminhou para cozinha e no caminho deu um beijo na testa da pequena –

- Ele às vezes tem umas loucuras, mami... Até parece você quando vai dar faxina lá em casa e liga o som! – o som da risada de Amy faz Riza sorrir –

- Como foi seu dia, amorzinho? Conta para mamãe...

A Hawkeye caminhou até o sofá e sentou-se para ouvir os relatos infantis da filha que parecia extremamente animada em contá-los.

- Primeiro eu pulei em cima do Loy porque ele não acordava de jeito nenhum, ai ele caiu da cama e fez uma cara engraçada! – a risada da criança ecoou pela casa – Depois a gente almoçou uma coisa que o Loy chamou de pastel assado... Pra mim era massa recheada e toda esfarofada, mas eu não contei isso para ele!

- Mas estava gostoso?

- É... Não tava ruim não... – ela abriu um grande sorriso – Depois eu fui brincar e ele ler, quando eu vi ele mimindo resolvi mimir também, mas no quarto... Ai tudo virou zona, eu acordei com ele gritando feito um maluco e quando me viu pulou, pulou comigo, rodou e fez tudo junto e me deixou tonta e eu não sei onde estava... Ain... Foi muito doido, mami!!

A filha do Mustang afundou o rosto no pescoço da mãe para sentir o cheiro que tanto gostava, no entanto, foi surpreendida por um perfume diferente. E ela não gostava disso, aquele não era o cheirinho de sua mãe.

- Por que a mami está com esse cheiro esquisito? – os grandes olhos vermelhos mostravam a duvida da menina –

- È um perfume novo, amor... Não gostou?

- Prefiro a mami do jeito normal!

Nesse instante, Roy entra na sala trazendo a mamadeira com o liquido verde e morno dentro. Estende-o a filha que pega e volta a deitar sobre o tronco da mãe.

- Então, tentou cozinhar pastel assado hoje? – Riza sorriu para o moreno –

- Er... Eu tentei, mas não ficou muito bonito... – Roy coçou a cabeça –

- O importante é ficar gostoso...

- Sobre o aniversário dela, como estão as coisas? – Amy estava alheia os dois tomando o chá e balançando os pezinhos –

- Tudo ótimo, vai ser no jardim da casa do meu avô... Vai ser uma coisa gigantesca, o vovô mima demais essa coisinha! – ela apertou os braços em volta do pequeno corpo –

- Vai ser exatamente quando? – Roy estava meio sem graça de não ter guardado a data -

- Vinte e sete de setembro, daqui duas semanas.

Amy retira a mamadeira da boca e sorri.

- Eu vou fazer cinco anos! Já sou grande, Loy!

- Eu sei... Está gostoso? – ele aponta para o chá –

- Tá sim... – ela sorriu e voltou a se deitar –

- O que fez hoje? – perguntou Roy –

- Nada demais... Li um livro, organizei umas coisas e caminhei um pouco no parque. – mentiu a lourinha -

- Hum...Ela já deve ter contado o que fizemos.

O Mustang se ajeitou no sofá virando-se para o lado da televisão enquanto ligava-a. Aquela situação de estarem os dois ali com Amy parecia uma coisa tão corriqueira, era como se aquilo sempre tivesse sido daquela maneira. Uma pena não ser verdade.

Mas Roy afastou esses pensamentos, não adiantava ficar remoendo o passado, tinha que se concentrar em fazer um bom futuro. Algumas vezes o homem se pegava olhando de soslaio para as duas, mas tentava refrear-se, não queria que ela se sentisse acuada.

Como queria arrumar tudo logo, queria ter as duas sempre consigo, queria amar sua Riza como ela merecia.

- Será que dá para parar num canal só? – Disse Riza –

- Hum? – Roy virou o rosto – Desculpe, eu viajei aqui... O que quer ver?

- Qualquer coisa, contanto que seja um único canal... Isso me irrita.

- Yare, yare... – o moreno parou em um jornal colocando o controle sobre o encosto do sofá – Então... Não viu o Kaio hoje?

O cenho da atiradora se franziu mostrando sua reprovação, sem contar que o olhar dela falava: É sempre você que põe o Kaio na conversa. Ela não queria discutir sua complicada não relação com Kaio naquele instante, sem dizer que não seria com ele que ela conversaria sobre aquilo.

- Não, Roy, mas acho que não se seria da sua conta se tivesse... – Amy levantou o tronco e abriu um sorriso travesso –

- Um ponto para mami!!

Os dois olharam para a pequena assustados, não parecia que ela estava prestando atenção no que falavam.

- O que foi? Vocês dois ficam com esse joguinho na minha frente e acham que eu não entendo?

- Não estávamos discutindo, Amy! – falaram os dois juntos –

- Claro... E eu sou uma samambaia! – a pequena riu – O Loy não gosta do padrinho e o padrinho não gosta do Loy... Eu não sou boba!  Agora eu sei porque... O Loy tem ciúmes da mami!

Os dois ficaram muito sem graça diante da filha, era evidente que tinham que resolver logo suas pendências... Até ela já estava notando aquela situação. A loirinha sentiu seu coração se aquecer, uma parte de si gostou de saber que Roy sentia ciúmes.

O moreno sentiu que já estava passando da hora de sair daquele joguinho passivo para começar a atacar, já que não era um jogo muito justo visto que Kaio atacava pesadamente. O coração de Riza era seu, aquele chato que fosse atrás da própria família.

- Já está passando da hora de certas pessoinhas dormirem! – Riza se levantou trazendo a filha consigo –

- Não tô com sono, Mami! – ela boceja – Não muito!

- Não importa, mocinhas que estão crescendo precisam dormir cedo!

Amy reclamou mais um pouco enquanto Riza adentrava a casa do moreno levando-a para seu quarto. Roy ficou apenas olhando, tinha que começar a agir rápido, sua vida dependia disso.

Continua...