Cap. o2 – Amy

Naquele dia, Riza não levou Roy para casa, não se sentia em condições de dirigir. Tanto que foi para casa a pé. Precisava espairecer, em menos de dois dias sua vida sofreria uma grande reviravolta.

Caminhou a passos lentos os vinte quarteirões que separavam o quartel do prédio onde morava. Era um edifício fechado que ficava em uma área residencial nobre da cidade.

- Boa noite, Riza-sama.

- Boa noite, James. – respondeu a loira educadamente ao porteiro.

Já se passava das nove da noite, não podia ter feito hora-extra, mas não houve como fugir. Teria que pedir desculpas...

Abriu a porta cuidadosamente, mas mesmo assim não deixou de chamar atenção de Black que dormia aos pés do sofá.

- Boa noite, amiguinho... – Riza falava em sussurros enquanto afagava o cachorrinho –

A loura levantou-se, tirou a jaqueta e caminhou até a sala onde a televisão estava ligada.

- Boa noite, Kirsten!

Uma mocinha que não deveria ter mais que vinte anos e tinha lisos cabelos negros, pele clara e lindos olhos verdes, estava sentada no sofá vendo um filme que Riza não identificou.

- Boa noite, Riza-san... – a garota abriu um belo sorriso – Você demorou...

- Desculpe, não deu para evitar... Estraguei sua noite?

- Não... Eu não ia sair mesmo.

- Bem, agora é melhor você ir, não quero que seus pais fiquem preocupados.

- Eu trabalho para você desde os quinze anos, meus sabem onde estou, e eu moro no andar debaixo.

- E eu não quero que seus pais impeçam isso.

-Sim senhora... – a garota brincou –

- ria – Eu te levo até a porta... Nossa, hoje é dia treze. Desculpe, vou fazer o seu cheque.

- Que isso! Pode fazer isso amanhã...

- Kirsten, por favor...

Riza pega a carteira na bolsa e faz o cheque de Kirsten.

- Ah... Não a coloquei na cama porque ela não quis ficar lá de maneira nenhuma, queria que você fizesse isso.

- Teimosa... – sussurrou Riza –

- Amanhã no mesmo horário?

- Eu a deixo lá.

- Okay.

A garota sai e Riza tranca a porta. Imediatamente se dirigindo para a sala, onde no sofá menor, uma garotinha de cinco anos dormia profundamente de bruços.

A pequena de pijamas rosa e meias listradas na vertical estava abraçada ao seu pequeno travesseiro. Os fios loiros do cabelo liso estavam bagunçados...

- Amy... – sussurrou enquanto passava as mãos no rostinho redondo –

- Eu só vou para cama quando a mamãe chegar... – a pequena rolou se encolhendo –

- Sou eu, bebê.

- Mamãe...? – a pequena abre os olhos negros –

- Mamãe. – Riza passa os braços em volta do corpo da filha –

- Por que você não veio jantar comigo? – a voz da pequena estava por um fio –

- Desculpe, não consegui sair na hora.

Riza pega a pequena no colo. Essa que fica com a cabeça no ombro da mãe.

- Mas você prometeu... – Amy estava mais dormindo do que acordada, mas isso não queria dizer que ela deixaria de querer uma explicação –

- No fim de semana a mamãe te recompensa, agora dorme, já está tarde.

- Eu vou cobrar!

- sorri – Eu sei que vai...

A loura abre a porta do quarto da pequena. Um quartinho rosa bebê e branco, repleto de brinquedos e uma caminha desarrumada.

- põe a pequena na cama e a cobre – Boa noite.

- Boa noite...

Não foram nem cinco minutos até Amy cair em sono profundo. Mas nem mesmo assim soltou a mão da mãe.

- Minha princesa... – Riza deposita um beijo na testa dela antes de sair do quarto silenciosamente –

Amy era seu segredo. Era sua filha com Roy, e valia salientar que Roy não tinha a menor idéia da existência da pequena.

Há cinco anos, quando fora promovido a coronel, Roy e todos foram comemorar em um pub no leste. Um acontecimento agradável, que no fim resultou nela sozinha com ele quando todos foram embora.

Alguns drinks a mais do que deviam, acabaram por trocar beijos que evoluíram para uma noite de amor.

Era verão, nenhum dos dois lembravam-se se quer do próprio nome, apesar de não estarem completamente embriagados, fora uma excelente noite.

E Riza tinha que admitir que ele era um bom amante, mas não passou disso. Na manhã seguinte, ainda de ressaca, decidiram por esquecer o acontecido.

Mas dois meses depois, Riza descobriu que aquela noite de verão teve conseqüências. E quando ia contar a Roy isso, o viu com outra, provavelmente, cantando-a.

Não era esse o tipo de pai que queria para seus filhos e sabia que se essa história vazasse, Roy poderia perder muita coisa. Um filho era tudo o que os inimigos do moreno precisavam.

Optou por ficar em silêncio.

Contou ao avô sobre a gravidez sem revelar quem era pai, mesmo sem a resposta de quem era o pai da bisneta, Grumman arrumou tudo para que a neta tivesse a filha no interior, sem grande estardalhaço, visto que a neta era solteira.

No entanto, algumas complicações ao final da gravidez fizeram Riza, com medo de morrer, contar quem era o pai da filha que teria. Mas para seu alivio, apesar de ter ficado dois dias em coma, sobreviveu sem seqüelas e podendo ter outros filhos.

O avô bem que queria contar a Roy, mas Riza ameaçou fugir com a menina fazendo o velho general recuar. A neta era a única família que havia lhe sobrado, não podia ficar sem ela. Calou-se...

Até dois meses atrás, quando decidiu que já era hora de acabar com a omissão. Amy tinha o direito de saber quem era o pai e Roy tinha o direito de saber que tinha uma filha.

Podia ter fugido, mas deixar o avô para trás não era uma opção. Gostava demais dele para fazer algo assim, sabia que se sumisse no mundo, ele morreria de tristeza.

Teria de enfrentar as conseqüências de seus atos.

Amy Monteclaire Hawkeye teria adicionado ao nome Mustang...

Pois duvidava que Roy deixaria as coisas como estavam.

Um medo lhe assombrava, nunca fora uma pessoa de grandes gestos de amor, só teve isso aflorado depois da filha. Tinha medo de perder seu único laço de amor, Amy havia tirado-a de um estado de frieza.

Antes da pequena, encarava a vida dura e friamente. Conseqüências do jeito que o pai a criara, ou melhor, deixou-a se criar.

- Kami não pode tirar meu anjo de mim... Por favor.

A loura entra na banheira de água quente, estava tão absorta em seus pensamentos que não notou que um temporal caia do lado de fora. Trovões e relâmpagos assombravam a noite...

Continua...