Masked Archer escrita por Jessie Wisets


Capítulo 4
Sombra na Arvore


Notas iniciais do capítulo

Novamente... culpem a física.



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A manhã chegou e um feixe de luz me cegou. Permaneci de olhos fechados até que me acostumasse. Meu ombro não estava pesado, Wisets havia se levantado. Abri os olhos para procura-la quando me deparei com uma ponta de uma espada em frente ao meu nariz. Por trás da espada, estava um garoto de mais ou menos 15 anos. Seus cabelos eram loiros e seus olhos castanho caramelo. Empunhava a espada com a mão direita, sua mão esquerda possuía um ornamento de ferro com uma pequena lamina na ponta. Ele não possuía a mão esquerda.

Levantei-me devagar e o garoto me acompanhou com os olhos. Elevei as mãos para mostrar que estava “desarmado”. Cadê a Wisets? Questão não respondida. O garoto me encarava como se esperasse uma resposta.

– Onde ela está? – perguntou com a voz seca.

– Quem? – perguntei cinicamente. Não muito seguro com uma espada em meu pescoço.

– A garota. Sei que ela esta com você. – respondeu.

Olhei por cima do ombro do garoto e vi olhos cinza em um tronco de árvore. A cabeça de Wisets se projetou para fora do tronco. Meus olhos se arregalaram, essa garota é louca. Ela sorriu brincalhona e elevou os dedos ao lábio, pedindo silencio, e voltou para dentro da árvore.

– E então? – o menino perguntou.

Ainda estava em êxtase com a visão da arvore-Wisets, então não respondi. O garoto apertou ainda mais a lâmina em meu pescoço. Não acho que ele queira me matar. Ele quer a garota... Como eu sou idiota! Ele quer a Wisets!

– Garota? Não cara, eu estou sozinho. Hey! Bela espada. – disse tentando desviar a atenção de Wisets que se movimentava sorrateiramente.

– Sinto o cheiro dela impregnado em você. Diga onde ela está ou eu... – ele começa e para subitamente.

O garoto vira-se de costas, e com a parte plana da espada tenta acertar a cabeça de Wisets que rola para o lado. Dou-lhe uma rasteira e ele cai no chão. Ele se vira e agarra meu tornozelo. Tento me libertar sacudindo os pés. Wisets chega correndo e acerta a mão do garoto, com um gemido de dor ele me solta. Sua mão esquerda, a com a lâmina em uma estrutura de ferro, crava no tênis de Wisets. Ela prepara o arco e mira no garoto.

– Não o mate! – eu grito exasperado.

Wisets dispara flechas sequenciais, porém nenhuma o acerta. As flechas cravam suas roupas no chão, o impossibilitando de levantar. Ele se debate como louco tentando se erguer. Wisets segura a mão esquerda do garoto e tira a adaga de seu tênis. Ando por alguns metros e pego a espada dele. A lâmina é estranha, é dividida em duas partes, uma feita de bronze celestial, a outra eu não conheço o material escuro.

Wisets olha para o garoto, com uma expressão triste. O garoto a olha com ódio ardendo em seus olhos, os dentes trincados. Fico olhando aquela cena, um pouco irritado por dentro, mas não creio que seja raiva. Wisets se levanta devagar e anda em minha direção. Em minha mente escuto sua voz. “Vamos embora.” Ela diz.

–Devolvemos a espada? – Pergunto. Ela olha para mim e sacode a cabeça negativamente.

“Ele desonra essa espada, mais do que ela já é desonrada” ela diz em minha mente. Olho de relance para o garoto novamente e sigo Wisets. Ela anda com a cabeça baixa e parece distraída. Ela não pensou em nenhum momento em matar o garoto. Não a conheço há muito tempo, mas sei que ela não mataria alguém desarmado, sei por experiência própria.

Caminho ao seu lado analisando o seu rosto. Os cabelos castanhos encaracolados estão presos em um rabo de cavalo. Seus olhos pareciam quase brancos com a luz da manhã. Ela definitivamente não parece uma assassina de monstros que pode ameaçar um império de Deuses superpoderosos. Parece apenas uma garota, uma adolescente qualquer que faz compras ou fofoca com as amigas.

Imagino há quanto tempo ela esta nas ruas. Meu pensamento recai sobre o garoto de hoje de manhã, em como ela o olhou triste, como se o conhecesse e estivesse desapontada. Ela devia o conhecer. Não sei o nome do menino, nem de qual Deus ou Deusa ele era filho. Wisets com certeza sabe, mas não quero pergunta-la, se ele foi de seu passado... A pergunta a irritaria. Não vou perguntar. Wisets olha para mim. Nossos olhos se encontram por alguns instantes, até que ela feche os olhos. Ela coloca as mãos nos bolsos do casaco e solta um suspiro.

– Rick Metzer, filho de Nike. – ela diz - sim eu o conheço.

Às vezes esqueço que ela pode ler mentes. Tenho que começar a me policiar.

– Poderia me avisar quando for ler minha mente? – Digo sorrindo.

– Se eu tivesse avisado, não daria tempo de nós fugirmos. – ela disse baixinho.

– Não gosto de ver você assim. – digo.

– Assim como? – pergunta.

– Meu amigo do chalé 11 diria... #Bolada – digo rindo.

Ela não esboça reação. O encontro com o garoto realmente a abalou. Senti aquele incomodo de novo, desta vez senti a presença da raiva. Realmente não gosto de vê-la assim. Lembro-me de minha promessa, e vou cumpri-la. Olho novamente para Wisets e vejo uma lágrima fujona escorrer de seu olho. Não acredito que farei isso...

Eu paro e olho para o chão. Sinto meu rosto queimar. Wisets para há três passos de distância e se vira para mim olhando com curiosidade. Serro meus punhos. Ainda não acredito que vou fazer isso.

– O que foi Marshall? – ela pergunta. Pela primeira vez a escuto dizer meu nome.

Eu me aproximo dela. Sinto minhas veias pulsando. Eu vou fazer, eu vou fazer. Paro diante dela. Uma de suas sobrancelhas esta arqueada. Mudo meu pensamento para um comercial de hambúrguer que eu vi uma vez, só para evitar que ela leia minha mente. Respiro fundo e a abraço.

Sinto sua respiração em meu ombro. Ela é mais baixa que eu, parece uma criança, mas sei que temos a mesma idade. Ela permanece inerte por um tempo, depois sinto seus soluços. Depois de algum tempo, ela se afasta de mim secando os olhos e sorri. Eu sorrio de volta. Acho que fiz a coisa certa.

– É, abraços melhoram as coisas, não? – Digo rindo

Ela ri e voltamos a caminhar. Definitivamente fiz a coisa certa. Sinto minha pele esfriar, e meu sangue descer da cabeça e voltar a circular pelo meu corpo. Sinto-me gratificado e renovado, nunca me senti tão bem.

.

.

.

Anoitece quando chegamos á Kingston, Utah. Durante todo o caminho eu e Wisets rimos e conversamos. Falei um pouco sobre mim e descobri algumas coisas sobre ela. Contou-me que fugiu aos 8 anos, e vem vivendo assim durante esses 7 anos seguintes. Seu pai era bibliotecário, o que deve ter feito Athena se aproximar dele. Ela disse também de onde conhecia o filho de Nike.

Ele a ajudou uma vez, porém ele ficou bêbado de poder e ela o abandonou. Senti que ela escondia alguma coisa, porém ela já estava me contando mais do que eu arrancaria com perguntas, então deixei passar.

Armamos nosso acampamento e começamos a comer salgadinhos. Wisets estava no galho de uma arvore no parque central, então de tempos em tempos levantava a mão para ela pegar um salgadinho. Estávamos cansados. Wisets começou o seu ritual de olhar para as estrelas, e eu a deixei curtir o momento.

Minha imaginação é meio fértil quando o sono chega. Imaginei Wisets no acampamento, cercada de seus irmãos. Eles discutiam sobre o mapa encefálico. Wisets ria e se divertia. A imaginei no treino com arco e flecha tendo suas habilidades admiradas pelos filhos de Apolo. Sacudi a cabeça tentando afastar esse pensamento. Imaginei, também, nós sentados na fogueira após o jantar. Uma coberta pendia sobre nossos ombros, ela sorria para mim e seus olhos brilhavam por conta do fogo.

– Marshall – Wisets me chama.

Acordei do devaneio e olhei para cima. Ela olhava para mim.

– Posso?... – ela apontava para o chão ao meu lado.

– Cla... Claro – eu respondi.

Ela desceu do galho e esticou o corpo ao lado do meu na grama. Fechou os olhos e dormiu. Abafei um sorriso, e fechei meus olhos também, e esperei o sono me envolver. Porém nada aconteceu. Abri os olhos e encarei a espada cravada na terra ao meu lado. “Ele desonra essa espada, mais do que ela já é desonrada” as palavras de Wisets tamborilavam em minha mente. Essa espada tem uma historia terrível, mas uma historia.

Wisets se virou. Vendo o rosto dela tão calmo, me fez querer ficar assim também. Por fim fechei os olhos e dormi. Os sonhos não tardaram a chegar.


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