Masked Archer escrita por Jessie Wisets


Capítulo 16
Nunca corra com uma flor nas mãos.


Notas iniciais do capítulo

Demorei, eu sei, mas ta aqui o novo cap. Lavem as mãos antes de ler e se cuidem.



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Bati na porta, meu coração acelerado de antecipação, e a abri devagar, botando o rosto para dentro antes de todo o corpo. Seu rosto voltou-se para mim e ela abriu um sorriso cansado e fez sinal para que eu me aproximasse. A luz que entrava da janela fazia seus olhos brilharem como dois diamantes. Não sei como não tinha reparado nisso antes, mas seus olhos não pareciam em nada com os dos filhos de Atena. Eram cinzas como os deles, mas os filhos da deusa tinham olhos cinzas tempestuosos, como nuvens de chuva prestes a iniciar uma tempestade. Os dela eram um cinza diferente, mais claros, pareciam mais as cinzas de uma fogueira recém apagada. Seu cansaço era visível, sua pele estava pálida e os cabelos desgrenhados e amassados, em algumas mechas ainda era possível ver sangue seco agarrado nos fios. Ela estava usando um robe de hospital, já que suas roupas ou estavam muito sujas ou completamente destruídas.  Ela ergueu sua mão esquerda, a que estava ligada ao soro, e a esticou para mim. Puxei uma cadeira próxima e, ao sentar-me próximo ao leito, segurei sua mão delicadamente. Ficamos nos olhando por um tempo, até que começou a ficar um pouco constrangedor, senti meu rosto queimando.

               – Eu trouxe isso para você – disse entregando a flor que eu surrupiei de um vaso alheio. Duas pétalas haviam caído enquanto eu corria a todo vapor para a enfermaria. Fiquei mais vermelho que antes, mas Wisets começou a rir. – Bem, deixa para lá.

—  Espera... – Antes que eu pudesse jogar a flor fora, Wisets a pegou de minhas mãos e colocou atrás de sua orelha. A flor branca, ou as três pétalas que restaram, destacando em meio aos cabelos castanhos. – Obrigada.

               – Você tem ideia de como fiquei preocupado quando acordei aqui e ninguém nem sabia quem era você? – eu perguntei antes que pudesse perder a coragem. – Você não precisava ter enfrentado o Rick sozinha, somos uma equipe

Wisets olhava para baixo, claramente evitando contato visual comigo, e parecia envergonhada. Ela retirou sua mão da minha e eu me xinguei mentalmente. Tenha um pouco de tato Marshall! Estava indo tudo bem até você abrir essa boca imensa. Você sinceramente precisa aprender a ficar calado. Ou no mínimo a filtrar um pouco o que você fala.

— Eu não queria te trazer mais problemas... – respondeu com a voz fraca – O ataque no metrô te deixou todo machucado. A sorte foi que aquele homem de olhos em todos os lugares estava na saída do metrô e trouxe você para cá. Eu não podia arriscar te meter em mais confusão ou a qualquer outra pessoa. Por minha culpa você foi atacado por monstros, atacado pelo meu irmão, sua casa explodiu colocando sua irmã em risco também. Eu não podia simplesmente deixar isso tudo continuar. Sua missão era encontrar quem estava matando tantos monstros, não necessariamente interferir. – Eu arregalei meus olhos nessa parte e ela apenas levantou a mão pedindo para esperar ela terminar – Vasculhei sua mente na primeira noite depois que você me encontrou, para garantir que você era confiável. Você já tinha sua resposta, sua missão estava completa, não precisava me trazer aqui.

— Mas eu não podia simplesmente não trazer uma semideusa grega para o único lugar seguro para nós! – disse tentando fazer contato visual com ela, sem sucesso.

— Eu sei e eu me permiti ter esperanças de que esse lugar seria a solução para tudo isso. – disse Wisets ainda olhando para baixo e apertando o cobertor em suas pernas – Eu pensei que chegando aqui não só eu, mas o Rick também estaria seguro. Que vocês poderiam ajudá-lo a se livrar daquela maldita espada. Mas quando eu vi tudo de ruim que eu trouxe não só para você, mas como sua família e possivelmente seus amigos... eu não podia permitir, e você já tinha feito tanto por mim. Então fui enfrentá-lo sozinha e tentar tirar a espada dele.

— E por que você deixou aquela carta e aquele pacote de dinheiro? – perguntei meio que já sabendo a resposta, mas precisava ouvir ela admitindo.

— Eu não podia ir embora sem te contar a verdade. Era uma mentira que começou a me machucar conforme fomos nos aproximando. O dinheiro foi minha forma de pedir desculpa por ter te enganado por tanto tempo, como disse na carta. – Ela admitiu e pude perceber lágrimas escorrendo em seu rosto. Precisei me conter para não as limpar.

— Você estava disposta a ir até o fim, mesmo que isso a matasse. – disse e ela assentiu devagar.

— Eu faria de tudo para proteger meu irmão, mesmo que isso custasse minha vida. Mas por favor, Marshall – disse finalmente olhando em meus olhos, seu rosto molhado pelo choro. – Acredite quando eu digo que nunca quis te usar. Eu realmente te considero meu amigo. Eu nunca quis te machucar.

— Ei, calma. – disse pegando sua mão novamente. Com a outra limpei as lágrimas que escorriam em seu rosto. – Eu sei disso. O importante é que você está bem. Você e o Rick.

— Ele está aqui?! – ela perguntou com os olhos arregalados. Expliquei o que aconteceu depois que eu a trouxe para o acampamento. Seus olhos se iluminaram – Você conseguiu! Pelos deuses, Marshall!

Ela desencostou da cama e chegou mais próximo. Lançando seus braços ao redor do meu pescoço ela me puxou para um abraço apertado. Naquele abraço pude sentir todo o alívio e a gratidão que ela sentia por eu ter levado Rick ao acampamento e o livrado das amarras da espada. Meu rosto devia estar um pimentão de tão vermelho, sentia minhas bochechas quentes. Assim que ela se afastou abriu o maior sorriso que eu já havia visto desde que começamos nossa jornada. Eu fiquei olhando enquanto ela secava as lágrimas e ficava sorrindo aliviada para o nada.

— Agora que vocês então aqui – disse tentando controlar a minha voz tremula – vai ficar tudo bem. O acampamento oferece muita coisa legal e vocês vão adorar. Temos canoagem, uma parede de escalada que expele lava, um estábulo cheio de Pegasus! Você vai adorar o campo de arco e flecha! Temos muitos alvos diferentes.

— Vejo que meus filhos fizeram um excelente trabalho. – disse uma voz na porta.

Wisets ao ver quem era enrubesceu e abriu um sorriso tímido. Apolo estava novamente presente, mas dessa vez não usava suas roupas da moda, mas sim um jaleco de médico. Eu não queria desrespeitar o deus, ainda mais um que nos ajudou tanto, mas com a imposição de Quíron eu não tinha muito tempo para ficar com ela, então a visita do deus não poderia ser em pior hora. Apolo sorriu para mim como quem dissesse: relaxa, isso não vai contar como sendo seu tempo com ela. O deus se aproximou e fez perguntas típicas que qualquer médico faria. Aferiu a pressão e a temperatura de Wisets. Checou também sua respiração. Pediu então para ver os ferimentos e eu fiquei particularmente incomodado com isso. Sabia que seus machucados estavam no ombro direito e no abdômen, o que significava que Wisets teria que tirar o tecido de cima da região afetada. Fiquei novamente vermelho e Wisets olhou estranho para mim, mas fez o que o deus pediu e mostrou seus ferimentos. Virei meu rosto para dar mais privacidade a menina. Apolo, apesar de ser conhecido pela sua grande quantidade de filhos, estava sendo extremamente profissional. Fiquei me sentindo mal por ter pensado que ele se aproveitaria.

— Seu organismo reagiu bem ao ouro – disse o deus – isso é bom. Mas você consumiu muito néctar, então está com a temperatura um pouco acima do normal. Nada que um soro para diluir não resolva. Acho melhor ficar na enfermaria por mais uns dois dias no mínimo, para termos certeza que está tudo bem. Dieta pode manter normal, mas sem esforços até que um de meus filhos a libere. Fora isso está tudo bem e você não corre nenhum risco.

— Obrigada, padrinho. – disse Wisets com um sorriso cansado. Apolo retribuiu o sorriu e se despediu antes de se retirar.

               Olhei para o relógio na parede, aparentemente meu tempo se esgotaria em dois minutos. Olhei para Wisets e pude ver que ela estava cansada e precisava de repouso. Ajudei-a a deitar e se aconchegar na cama, puxei as cobertas mais para cima de seu corpo e tirei a flor de seu cabelo, colocando na mesa ao lado da cama. Levantei-me, enchi um copo com água e coloquei ao lado da flor. Peguei o casaco verde e pela primeira vez notei a diferença. Os anos de uso não estavam mais visíveis, na verdade o casaco parecia novinho em folha. Aparentemente Apolo ajeitou o casaco de Wisets sem que ninguém notasse. Botei o casaco na cadeira em que eu estava sentado. Fechei as cortinas das janelas e me aproximei para ver se ela precisava de algo. Ela sorriu e me chamou para mais perto. Ao me aproximar ela beijou minha bochecha e agradeceu mais uma vez. Fechou os olhos e dormiu. Meu rosto nunca ficara tão quente como naquele momento. Ainda entorpecido me retirei do quarto, ansioso para a visita do dia seguinte.


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