Masked Archer escrita por Jessie Wisets


Capítulo 14
Ouro


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui está a continuação! Se você gostou, deixe seu comentário!



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O ar gelado ardia meus pulmões e diversas vezes eu quase cai de cara no chão, mas eu não me permiti parar de correr. Helena corria ao meu lado. A enfermaria do acampamento era um prédio branco simples e de dois andares. No andar superior ficavam os campistas que precisavam ficar em observação por mais tempo, no primeiro andar ficavam os leitos de atendimento rápido e duas salas de cirurgia. Ao passar pelas portas pude ver o rastro de sangue pelos corredores. As manchas levavam até a segunda sala de cirurgia e ela estava repleta de semideuses. Antes que eu pudesse entrar, Helena me segurou dizendo que eu poderia atrapalhar ou pior, causar uma infecção.

Pela porta de vidro da sala pude ver Wisets. A barra de ferro não estava mais em seu corpo, mas sangue manchava não só o piso como as roupas dos semideuses que a operavam. Ela estava entubada e uma máquina ficava apitando em uma velocidade assustadora. Pude ver o olhar de desespero dos integrantes da equipe. Anica, uma filha de Apolo formada em medicina, comandava toda a cirurgia. Ela tentava fechar os ferimentos ao mesmo tempo que observava as máquinas com uma preocupação que fez meu estomago embrulhar.

— Marshall! Marshall! – Helena sacudia meus ombros, tentando me tirar do transe – Agora não é hora de travar! Qual o tipo sanguíneo dela?

— Eu... Eu não sei! – falei ainda observando a cena dentro da sala.

— Eu preciso que você pense! Ela não te disse nada? Já chegamos ao limite de consumo de néctar! Não podemos dar mais e ela está tendo uma hemorragia! – disse tentando enfiar as palavras na minha cabeça – eu preciso que você pense!

Forcei meu cérebro a funcionar, mas em nenhuma de nossas conversas ela me passou essa informação. Repassei todos os nossos diálogos. Comecei a tentar pensar em outras saídas, outras opções que tínhamos. Ela já tinha recebido toda a dose de néctar considerada segura, se receber mais corre risco de entrar em auto combustão. Senti o bolso do meu casaco esquentar e retirei de dentro dele o pequeno frasco que minha mãe me entregou. Olhei para aquele pequeno vidro como se ele representasse minha última esperança... e de fato era.

— Acha que isso funciona?! – perguntei mostrando o frasco para Helena – ouro da lira de Apolo!

— Onde você conseguiu isso?! – disse com os olhos brilhando – Não importa! Definitivamente ajuda a fechar o ferimento mais rápido, mas ela ainda perdeu muito sangue, precisaria de uma transfusão de qualquer forma e nossos estoques de O- estão baixos e podem não ser o suficientes.

— A+ – respondeu uma voz cansada, na outra ponta do corredor. Ao olhar para a origem da voz, vi Rick apoiado nos ombros de Gillian. Helena correu para colocá-lo em uma cadeira de rodas e o trouxe para mais próximo – o sangue dela é A+

        – Tem certeza disso? – Perguntou Helena

        – Absoluta. Sou irmão dela, temos o mesmo tipo sanguíneo. Pode pegar o meu – respondeu já esticando o braço e levantando a manga do casaco de maneira fraca.

        – Não será necessário. Temos o suficiente – Disse sorrindo e depois virou-se para mim com a mão esticada – Agora me dê o ouro. Vamos salvar nossa companheira.

Entreguei o frasco e ela saiu correndo em direção ao centro cirúrgico. Quando ela entrou na sala e mostrou o frasco para os demais campistas, eles olharam para fora e, mesmo por debaixo das máscaras, foi possível ver o sorriso de alívio. Ela ficaria bem.

De repente toda a energia que eu tinha foi embora e eu caí no chão de exaustão. Parando pra pensar: eu não como nada há dois dias. Assim que eu acordei no acampamento e soube que Wisets não estava lá, sai correndo a base de ambrosia e néctar. Sentia-me fraco. Uma menina de Hefesto e um menino de Afrodite, voluntários na enfermaria, ajudaram-me a ir para um dos leitos de descanso. Rick foi colocado na maca ao meu lado, ambos visivelmente abalados. Gillian avisou que iria buscar um lanche para nós e se retirou.

Um silencio um tanto quanto constrangedor recaiu sobre mim e Rick. O que posso dizer? O cara está há semanas perseguindo a mim e a irmã dele. Tenta dar a própria irmã de lanchinho para um monstro. Nossa única semelhança é a Wisets e infelizmente ela está meio ocupada agora, lutando pela própria vida.

—Eu te devo um pedido de desculpas – disse Rick olhando para o teto – também preciso te agradecer. Sei que é difícil de acreditar, já que você me conheceu assim, mas eu não sou esse ser desprezível. Quando eu encontrei aquela espada, me senti invencível, um poder incrível emanava dela, mas também uma energia ruim. No início eu só a usava em último caso, mas era tão fácil e rápido quando eu a brandia. Com o tempo fui ficando mais violento, agressivo, viciado no poder. Não quero me justificar, sei que o que eu fiz foi imperdoável. Quando vocês levaram a espada, foi a primeira vez que fiquei longe dela. Com o tempo a influência que a espada tinha sobre mim foi sumindo, mas entrei em um estado de abstinência e comecei a ter ações fora de controle como perseguir e atacar vocês. Quando você me contou na fábrica sobre o dinheiro que Jessie vinha juntando, eu me senti pela primeira vez livre da espada. O que eu quero dizer é... obrigado. Obrigado por proteger minha irmã de mim mesmo, por trazê-la até aqui e por me libertar da espada. E desculpa, por ter botado sua vida em perigo.

Um silêncio seguiu a fala de Rick. Eu olhei para o lado e vi que ele estava visivelmente arrependido. Tudo o que acabara de me contar era um peso em seus ombros e em sua consciência, e esse peso acaba de ser retirado. Semideuses erram, estamos sujeitos a vontade dos deuses e a influência de objetos mágicos. Todos fizemos coisas horríveis e Rick estava disposto a mudar de verdade.

— Sabe... – comecei a dizer – o acampamento acolhe a todos, mesmo os que fazem besteira. Inclusive os desprezíveis – disse imitando o Patolino – Acho que você pode acabar encontrando o seu lugar aqui, basta você...

— Você é sempre dramático assim mesmo? – interrompeu com um sorriso torto – obrigado.

—Bom ver vocês dois se dando bem – Disse Gillian na porta da sala de leitos.

Ela carregava uma bandeja com vários sanduiches e uma jarra que parecia ser suco. Ela apoiou a bandeja na mesa de cabeceira entre meu leito e do Rick. Ela nos ajudou a sentar e entregou um sanduiche na mão de cada um de nós e serviu o suco. Enquanto comíamos meus pensamentos foram parar em Wisets. Estava preocupado, mas confiava que os filhos de Apolo cuidariam dela. A filha de Hefesto, que me ajudou a chegar no leito, entrou na sala em que estávamos e conectou uma bolsa de soro no braço de Rick. Assim que comeu seu último sanduiche ele apagou, entrando em um sono profundo. Gillian retirou a bandeja e os copos vazios e os colocou em outra bancada. Ao retornar sentou-se ao pé da minha cama.

— Acha que eles vão ficar? – perguntou Gillian.

— Espero que sim. – Respondi – Lembra como você chegou ao acampamento? Tinha uma história de um esquilo...

— Sim. Um sátiro me encontrou e disse que um esquilo tinha contado para ele quem eu realmente era – Disse rindo ao lembrar da história – Mas por que trazer isso à tona?

Contei a ela a história que Rick havia me contado, sobre como ele e Wisets ajudaram semideuses a chegar ao acampamento. Gillian ficou surpresa e fitou o Rick adormecido. Não disse mais nada, apenas apressou para que eu dormisse também. Após se certificar que eu continuaria no leito é que ela se retirou. Poucos minutos se passaram e eu apaguei de exaustão.


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