Masked Archer escrita por Jessie Wisets


Capítulo 11
Janelas da verdade.


Notas iniciais do capítulo

É... A historia esta chegando ao final. Esse não é o último capítulo. Bem... espero que gostem e que não comecem a me odiar. Então... Boa leitura '-'



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Morto.

Foi a primeira coisa que pensei quando recobrei a consciência e encarei um pano branco acima da minha cabeça. Meu cérebro pulsava como se tivesse esquecido sua função e estivesse imitando um coração no lugar. Estou morto. Depois de um tempo de agonia reconheci o lugar. Enfermaria do Acampamento Meio-Sangue, o lugar onde passei grande parte das minhas primeiras semanas como semideus. Tentei levantar a cabeça e todo o local pareceu entrar em um furacão.

– Que bom! Você acordou. – disse Gillian.

Os cabelos loiros estavam presos em uma trança de lado, seu rosto estava limpo, sem nenhuma maquiagem, o que era raro para uma filha de Afrodite. Seus olhos de caleidoscópio brilhavam num tom de lilás, o que a fazia parecer com uma personagem de The Game of Thrones.

– Como cheguei aqui? – perguntei.

– Argo o trouxe aqui. Estava ferido e desacordado, mas os filhos de Apolo já cuidaram disso.

– Quanto tempo fiquei apagado?

– Um dia inteiro. Tinha muito veneno no seu sangue. Teve sorte de não perder uma perna.

– Onde está Wisets?

– Quem?

– Jessie Wisets. Cabelos castanhos cacheados, olhos cinza e pele bronzeada. Campista nova.

– Não chegou nenhuma campista nessas descrições. – Gillian parecia confusa.

Uma onda de pânico instantâneo me atingiu e tudo rodou novamente. Eu tinha certeza de que ela estava aqui. Se Argo me trouxe, significa que Wisets o encontrou no ponto marcado. Então por que ela não está aqui? Levantei-me cambaleando e caminhei em direção à saída.

– Aonde você vai?

– Caçar respostas.

A neve do inverno começara a cair transformando o acampamento em um grande tapete branco. Caminhei com dificuldade pela neve, seguindo em direção à casa grande. Os filhos de Apolo fizeram um trabalho ótimo em minha perna. Não sentia dor, mesmo com minha perna enfaixada. Vestia a blusa do acampamento e minha calça jeans, que agora estava com um rombo enorme na panturrilha. Subi as escadas, pisando forte para a neve nos meus sapatos soltarem, e bati na porta. Quíron a atendeu.

– Já está de pé? Fico feliz por sua melhora.

– Obrigado. Argo está aí dentro?

– Vamos entrando.

Segui-o para dentro da casa grande. A lareira estava acesa e havia chá na mesa de centro. O visual rustico e o calor faziam com que o lugar tornasse bem aconchegante. Quíron, em sua forma de cavalo, caminhou até sua cadeira de rodas encantada e se acomodou, voltando à sua aparência de professor de escola pública. Guiou a cadeira até a mesa de centro e fez sinal para que eu o seguisse.

– Sente-se – disse servindo o chá. – Aqueça-se um pouco. Temos assuntos a resolver.

– Se for sobre o exterminador...

– Justamente sobre isso – Interrompeu-me ternamente.

– Eu sinto muito, Quíron. Ela deveria estar aqui. Argo a encontrou e me trouxeram até aqui, mas...

Parei bruscamente. Quíron estava com as mãos estendidas entregando-me algo. Segurava um pacote familiar e um papel dobrado. Encarei Quíron e ele assentiu. Estiquei a mão, percebi que estava tremula, e peguei o pacote e o papel. Coloquei o pacote no colo e abri o papel. Em uma bela caligrafia estava escrito:

Não fui sincera com você e não poderia partir devendo uma explicação decente. Menti sobre quem eu era. Não sou filha de Atena, sou filha de Nike e irmã do Rick.
Sinto por ter feito você correr perigo e se ferir. Não menti com relação à mão do Rick nem em relação à minha irmã.
Esse dinheiro que está com você, venho juntando desde o acidente do Rick, trabalhava por poucos períodos em empregos simples, com este dinheiro eu compraria uma prótese para ele. Quero que fique com o dinheiro, como desculpas por minhas mentiras.
Resolverei as coisas com o meu irmão. Não quero que venha atrás de mim.

Obrigada por ter sido meu amigo.

Jessie Wisets.

Minha cabeça estava a mil por hora e minhas mãos tremendo. Senti algo escorrer pelo meu rosto e só então percebi que estava chorando. Esfreguei o rosto com brutalidade e raiva.

– Argo entregou-me assim que chegaram. – disse Quíron pacientemente – Ele parecia triste, sabe reconhecer boas pessoas.

– Tem algo errado... – disse. – Ela precisa de ajuda. Sei disso.

– Não o prenderei aqui. A escolha é sua.

Com isso se levantou e foi até o lado de fora da casa grande. Fiquei encarando a xícara de chá intocada. Pensei nas mentiras de Wisets. Por que ela mentiu para mim? Sentia-me enganado e usado. Então um turbilhão de lembranças me atingiu. O sorriso de Wisets, a preocupação em seus olhos, a simplicidade, os abraços, as noites em que deitamos lado a lado na grama. Mas o que me atingiu mais forte: Meu sonho. Eu e Wisets, sentados na fogueira com um cobertor nos cobrindo. Abri mão de muitas coisas em toda minha vida, mas não abrirei mão dela.

Corri para o lado de fora, passando por Quíron e não ligando para a neve, e fui em direção ao meu chalé. Chegando lá botei roupas de inverno e calcei minhas botas para a neve. Fui para o meio do chalé, onde tinha um grande espaço livre e coloquei a mão no chão.

Lorem – pronunciei um feitiço de busca.

Com minhas pálpebras fechadas pude ver o nome de um lugar. Walter Windows, Produzindo Janelas desde 1924. Parecia abandonado agora, um ótimo local pra um gênio do mal fazer de esconderijo. Peguei a mordecostas no bolso da calça rasgada e a fiz crescer. Senti a raiva e a angustia voltarem, mas sou mais forte.

Nunca fui bom em equitação com Pégasos, mas situações extremas pedem medidas extremas. Apenas como garantia montei no Pégaso mais calmo do acampamento, nunca se sabe né? Alcei voo e concentrei-me no caminho. Quando se utiliza um feitiço de rastreamento um rastro de luz é criado até o seu objetivo, tornando o trajeto bem mais fácil.

Depois de uma viagem em uma velocidade que deixaria um trem bala com inveja. Quando pousei minhas pernas pareciam feitas de gelatina. Recompus-me da melhor maneira possível. Dispensei o Pégaso, não sabia quanto tempo levaria e com o frio que estava, e levando em consideração que peguei carona com um Pégaso sem conhecimento de ninguém, achei melhor que estivesse no acampamento.

Olhei para a fabrica abandonada. A estrutura era completamente feita de ferro e estava completamente enferrujada. O irônico em uma fabrica de janelas abandonadas é o fato de a maioria das janelas estarem quebradas. Dentro do local uma luz emanava amarelada e quente, como uma lareira. Apertei o punho da espada e caminhei em direção a fabrica.

O interior não estava muito diferente da faixada. As esteiras e os moldes estavam sujos e danificados, como se não fossem usadas há anos. Fui seguindo a direção da luz. Pelas janelas quebradas pude ver o crepúsculo se aproximando. A fonte de luminosidade era a sala principal, onde o patrão deveria ficar. Em uma cadeira, de veludo vermelho e encosto alongado, estava Rick. O que chamou minha atenção foi direto para o que ele vestia: O casaco verde.

– Onde ela esta? – perguntei empunhando a espada melhor.

– Meu convidado finalmente chegou. Quer um chocolate quente?

– Eu perguntei: Onde ela esta? – comecei a me aproximar – Responda ou eu...

– Ou o que? – interrompeu-me – Vai me matar?

Rick se levantou da cadeira e veio caminhando em minha direção, ignorando a mordecostas na minha mão. Ele parou exatamente no momento em que a espada encostou em seu peito. Então fez algo assustador e nauseante ao mesmo tempo. Como quem não ligasse caminhou para frente, a espada atravessando seu dorso como se ele fosse um fantasma.

– Não pode me matar. Agora, se quiser saber onde ela está, é bom se comportar como um convidado. Você não pode me matar, mas eu posso mata-lo.

Caminhou novamente para a cadeira e deu ordens para que eu o seguisse. Sentei na poltrona de frente para ele. Ficamos assim por um tempo, encarando-nos como presa e caçador. Infelizmente, tinha a impressão de que eu era a presa. Rick soltou uma risada, seca e profunda.

– Você ainda se preocupa com ela? Mesmo depois de todas as mentiras? – perguntou.

– Eu já sei de tudo – menti

– Já sabe? Sabe que ela é filha de Nike e minha irmã, mas sabia que somos irmãos de mesmo pai também? Sabe que somos gêmeos? Sim, não nos parecemos. Ela puxou os cabelos de nossa mãe e os olhos do nosso pai, enquanto eu puxei os olhos de Nike e os cabelos do lado mortal do sangue.

– Eu não...

– Sabe que depois do que ela fez com nossa irmã mais velha e de fugir, meu pai me expulsou de casa? “Minha única filha normal, morta. Saia daqui, você é um monstro como ela.” Foram essas as palavras. Inicialmente procurei por Jessie para que sobrevivêssemos juntos. Não queria vingança, nem nada. Mas ela me obrigou a isso, depois de decepar minha mão.

– Ela te salvou! Você estava louco!

– Sabe também que eu tenho minhas próprias habilidades? Jessie pode controlar as pessoas com a mente, bem, eu posso controlar animais com a minha. Animais e monstros.

– O cão infernal, Eaton, Anfisbena... Tudo aquilo foi você!?

– Nós éramos uma dupla invencível. Os semideuses possuem uma frequência cerebral diferente da dos mortais, como deve saber. Enquanto Jessie encontrava os semideuses em meio às multidões, eu me comunicava com os animais para localizar o sátiro mais próximo. Salvávamos muitos semideuses. Ai surgiu à Guerra Titã. Chegamos tarde para as batalhas, mas eu consegui algo com tudo isso. – apontou para a espada.

Um rugido alto fez com que a sala tremesse. Fiquei de pé e encarei Rick que sorria.

– Quer ver a minha irmã? – Levantou-se e se dirigiu as cortinas.

Ao abri-las meu coração pulou pela boca. No nível mais baixo da fabrica estava Jessie, acorrentada às paredes. Usava a blusa branca, que agora estava manchada de sangue, o short jeans, que revelava os arranhões. Seus cabelos estavam em um rabo de cavalo parcialmente destruído encobrindo parte do rosto ensanguentado, com cortes nos lábios, bochechas e testa. A Anfisbena rosnava com os dentes próximos ao rosto dela.

– Você não pode machuca-la ainda – disse Rick para ninguém em particular.

A Anfisbena começou a se contorcer de dor enquanto Rick a encarava. Como quem percebendo o movimento familiar Wisets se virou. Nossos olhares se encontraram. Seus olhos estavam arregalados e traços de lagrimas criavam linhas limpas em seu rosto sujo. Sacudia a cabeça freneticamente em negatividade. A fera deixou de se contorcer e encarou Wisets novamente. Com uma das patas abriu três faixas na barriga dela. Contorcendo o rosto de dor Wisets gritou.

– Assim esta melhor – disse Rick.

– Como não sente nojo de si mesmo? – perguntei ríspido – Você é quem não sabe! Desde que vocês se separaram e ela cortou a merda da sua mão fora ela vem trabalhando! Juntava dinheiro pra uma prótese pra você! Vivia como uma mendiga mesmo tendo dinheiro. Por você!

– Eu não sabia disso... – disse Rick visivelmente abalado.

–Saia da minha frente!

– O que pretende fazer?

– Fazer o que você, como irmão, deveria fazer! Vou protegê-la! – gritei. Joguei a mordecostas nos seus pés – Pode ficar com isso. Não quero ficar egoísta como você.

Coloquei as mãos, agora acesas com um brilho verde, no vidro. Pensei em uma corrente elétrica percorrendo a grande janela. O vidro explodiu em mil cacos e eu pulei do segundo andar para o térreo.


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