Causa Perdida? escrita por Gabriela Maria


Capítulo 5
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/368098/chapter/5

O vento frio açoitava as janelas do dormitório feminino. Alice tinha caído no sono enquanto estudava as últimas anotações de História da Magia, Marlene provavelmente estava passeando pelos corredores e Lily continuava olhando a neve bater na janela enquanto se lembrava da conversa com Potter.



“Só você finge que não sabe, Lily, mas até o Nick-Quase-Sem-Cabeça sabe que eu gosto de você.”



Afinal, por que ela não parava de pensar nisso? Potter nunca foi uma parte importante da sua vida. Claro que ele era inegavelmente presente, mas não era importante.



Lily se remexeu, incomodada, e se largou sobre a cama. Alice e Marlene já estavam desconfiadas de seu comportamento. A primeira perguntou várias vezes a Frank se ele sabia de algo, mas, pelo visto, Potter não espalhara nada sobre o ocorrido. Marlene até o procurou, mas ele garantiu que nada demais tinha acontecido. Isso era, sem dúvidas, o que mais confundia Lily. James Potter, o conquistador arrogante, não estava se gabando do seu último feito. Na verdade, ele sequer a procurou durante a semana e não pareceu incomodado pela forma como ela sempre fugia ao avistá-lo nos corredores. De certa forma, Lily deveria estar aliviada, mas assuntos que envolviam James Potter nunca a deixavam tranquila.



Então, por que ela não recorria à ajuda das amigas? Por que não contava tudo de uma vez? Ora, porque falar em voz alta faria a coisa parecer ainda mais real, sendo que pensar em Potter o dia inteiro já era real o suficiente.



“O que eu estava pensando quando o beijei de volta?!” lamentou-se Lily.



Talvez ela tivesse simplesmente perdido o juízo, mas Potter já não lhe parecia um completo insensível.



O barulho da porta do dormitório sendo aberta arrancou Lily de seus devaneios. Marlene tinha acabado de chegar e trazia uma expressão atordoada no rosto. Ela caminhou aos tropeços até a cama de Lily e cutucou a amiga com urgência.



– O que houve? – assustou-se Lily.



– Sirius – Marlene sussurrou. – Sirius me beijou.



– Quê?!



– Não grita! – pediu envergonhada. Lily a observou, chocada, enquanto Alice se remexia na cama ali perto.



– Marlene, como foi que isso aconteceu? – desconfiou.



– Eu fui devolver um livro na biblioteca e encontrei com ele no caminho. A gente conversou um pouco, riu, mas o Sirius começou a falar umas coisas suspeitas...



– Quer dizer que vocês não estavam flertando antes? – Marlene se atrapalhou um pouco.



– Ah, bem... mais ou menos... Isso não importa. Pessoas flertam por diversão o tempo todo, Lily. O que importa é que rolou um clima e, quando dei por mim, nós já estávamos aos beijos.



– Quem foi que ficou aos beijos? – elas olharam assustadas para o lado. Alice tinha acordado e estava tentando se sentar na cama. Sua voz ainda estava cheia de sono. – Do que vocês estão falando?



– Sirius Almofadinhas Black – Lily respondeu, ignorando a careta de Marlene.



– Ah-há! Eu sabia que aquelas noites de conversa no salão comunal iam dar nisso...



– Noites no salão comunal? – Lily repetiu, voltando-se para Marlene. – Que história é essa?



– Sirius e eu voltamos a nos falar naturalmente desde o início da semana. Você tem evitado o salão comunal, então não nos viu conversando – Marlene explicou.



– E por que vocês não me contaram? – Alice e Marlene se entreolharam, confusas.



– Qual a novidade em saber que a Marlene está flertando com algum garoto? – Alice falou com indiferença.



– Mas não é qualquer garoto. É o Black!



– E o que é que tem? – quis saber Marlene, em tom defensivo.



Tinha muita coisa, é claro. Lily não gostava de se sentir de fora e, por algum motivo, o fato de Black e Potter serem melhores amigos a incomodava.



– Você anda tão concentrada em fugir do James, que nem se deu conta do que estava havendo – Alice comentou.



– Não estou fugindo do Potter – Lily retrucou.



– Não... – as outras ironizaram. Ela amarrou a cara.



– Na minha situação, o que vocês fariam?! – reclamou.



– Pegava. Com certeza – declarou Marlene. Alice e ela caíram na gargalhada, mas Lily revirou os olhos, o rosto ardendo de vergonha. Se Marlene soubesse...



– Talvez eu simplesmente admitisse que o cara não é tão ruim – Alice falou após um tempo. Marlene se apressou em concordar.



– É do Potter que estamos falando – Lily lembrou, como se isso encerrasse a questão.



– Exatamente – interveio Marlene. – Lily, o James tenta chamar sua atenção há quase seis anos!



– Isso não muda o fato de ele ser um idiota – ela resmungou. – E essa não é a questão.



– Bem, nós já discutimos o assunto em questão – Marlene disse solenemente.



– Não mesmo! – Alice protestou. – Eu estava dormindo!



– Lene – Lily falou pausadamente –, eu acho que você gosta do Black.



Houve um breve silêncio, que Marlene rompeu com uma escandalosa gargalhada.



– Por Merlin! – exclamou, rindo. – Eu não sou tão desmiolada assim, ok? – Lily e Alice se entreolharam.



– Mas, desde o final do ano passado, vocês estão nessa situação – Alice lembrou timidamente. – Se você quer saber, é possível que ele sinta o mesmo – Marlene balançou a cabeça.



– Sentir o quê, Lice? Eu não sinto nada desse tipo por ninguém.



As outras duas se convenceram de que era inútil insistir, mas Lily ainda se lembrava da expressão desorientada de Marlene quando, no ano anterior, Black simplesmente parou de falar com ela.



– O que houve? – Lily perguntara.



– Não faço a mínima – Marlene respondera. – Acho que ele se cansou e esqueceu de me avisar.



– Que tal nós irmos para o salão comunal? – Marlene sugeriu enfim, interrompendo as lembranças da amiga.



– Ótima ideia! – Alice apoiou. – Prometi ao Frank que jogaríamos snap explosivo hoje.



Elas saltaram das camas e olharam ansiosamente para Lily, que hesitou.



– Vamos? – impacientou-se Marlene. – Daqui a pouco já vai ser hora do jantar no Salão Principal.



– Eu preciso contar uma coisa – Lily começou. Desconfiadas, Alice e Marlene se entreolharam e sentaram lado a lado, de frente para a amiga.



– O que foi? – perguntou Alice calmamente. Lily engoliu em seco antes de disparar.



– Potter me beijou.



Alice demorou uns segundos para absorver a informação e arregalar os olhos, chocada. Marlene soltou uma exclamação de satisfação e Lily corou furiosamente enquanto fitava o chão.



– Eu sabia! – animou-se Marlene. – Eu sempre suspeitei que você estivesse escondendo alguma coisa!



– E como foi? – Alice finalmente recuperou a fala. – Ele beija tão bem quanto dizem?



A resposta sincera seria que sim, mas Lily não tinha coragem nem condições emocionais de dizer algo do tipo. Estava atordoada demais. Então, apenas encolheu os ombros e disse:



– Sei lá!



– Ora essa! – Marlene se manifestou. – É claro que sabe! Você está evitando o James por quê? Gostou tanto assim do beijo?



– Ei! – protestou Lily. – Eu não disse que gostei de nada!



– Nem precisa! Já tá escrito na sua cara, Lily! Se tivesse sido ruim, o James estaria morto há dias.



– Faz sentido! – Alice apoiou. Lily começou a se desesperar. – Se tivesse sido realmente ruim ou incômodo, você teria ficado zangada, deixado o James de detenção pelo resto da vida e nos contado tudo na primeira chance.



– Quê?! Eu... não... Quem ele pensa que é... – atrapalhou-se Lily.



– Só tenho mais uma pergunta – Marlene continuou impiedosamente. – Por que você não procura logo o James e pede bis?



– Marlene! – Lily gritou indignada.



– Que foi?! A festa do Slughorn está chegando. Você poderia convidar o James.



– Nada disso! – Lily rebateu. – É exatamente isso que o Potter quer: que eu o procure e ele possa me mostrar como troféu. Não! Não vou dar esse gostinho a James Potter.



– Você está me dizendo que nós acertamos: você está louca para dar uns beijos no James, mas não vai fazer nada disso por puro orgulho?! – indignou-se Marlene.



– Mas ele gosta tanto de você! – Alice choramingou.



– Ele é um abutre insensível – Lily rebateu enfaticamente.



– E você é uma cabeça-dura idiota – Marlene censurou. – Se o James quisesse, Lily, ele já teria espalhado para os quatro cantos da Terra que vocês se beijaram.



– Mas não significou nada – teimou Lily. – Ele pode dizer o que quiser e a quem quiser, mas nós não temos nada!



Alice revirou os olhos e soltou um suspiro cansado. Marlene pareceu decepcionada.



– Você quem sabe – Alice disse enfim. – Só para constar, eu ainda acho que o James gosta mesmo de você, Lily.



– Eu também – disse Marlene. – O detalhe é que ninguém espera para sempre. Um dia desses, ele vai gostar de outra garota e você não vai poder reclamar.



– Certo – Lily resmungou subitamente incomodada. Por mim, tanto faz.



– É claro – Alice falou, ficando de pé. – Avise quando você tiver condições de olhar na cara do James outra vez, ok?



Lily amarrou a cara, mas as outras duas não lhe deram atenção. Elas apenas se despediram e foram para a sala comunal, deixando a amiga mais agitada que nunca.




– Outra! – Lily resmungou para as paredes. – Tomara que ele arranje mesmo. Quem sabe assim eu me livro daquele ser – mas essa ideia não a tranquilizou.

*******************************************************************************


– Você tem absoluta certeza disso? – Peter verbalizou o que James e Sirius também estavam pensando.



– Tenho – Remo confirmou. Em seguida, acrescentou um pouco de purê de batatas ao próprio prato. – Segunda-feira, depois do almoço, eu vou falar com a McGonagall.



– Mas, Aluado, você adora ser monitor! – James comentou ainda perplexo.



– É verdade, mas é só uma questão de tempo até o Malfoy fazer uma confusão inesquecível para pedir minha cabeça e eu não vou dar esse gostinho a ele.



– Se você entregar o distintivo – Sirius começou preocupado –, quem vai acobertar nossos malfeitos? – Remo deu de ombros.



– Vocês vão sobreviver, Almofadinhas. Aposto que meu substituto será o Frank.



Involuntariamente, os quatro Marotos olharam para a extremidade da mesa da Grifinória, onde Frank conversava com Alice e Marlene. Junto deles, Lily remexeu no próprio prato com o olhar vago.



– A Lily está estranha – James observou.



– A coitadinha ainda está traumatizada – Sirius brincou. Peter riu, mas James e Remo ignoraram o comentário.



– Remo, você é tão amigo da Lily... Por que não tenta descobrir o que ela achou de tudo?



– Ela ainda não esqueceu que eu fiz parte do plano, Pontas, está estranha comigo também.



– Mas você devia tentar.



– Não vou perguntar à minha melhor amiga o que ela achou do seu beijo – Remo falou com uma careta.



– Meu caro Pontas – intrometeu-se Sirius –, quando é que você vai escutar a voz da razão e partir para outra?



– Não enche, Almofadinhas – James resmungou.



– Ele pode estar certo – disse Peter.



– É claro que estou certo! – Sirius falou com vigor. – A ruiva não te quer, Pontas. Ponto final.



– Não é bem assim – James discordou. – O Aluado também acha que a Lily só está fazendo jogo duro, não é? – ele olhou esperançoso para Remo, que não se animou com o rumo da conversa. Ele pensou um pouco antes de responder:



– A questão é que ela está fazendo jogo duro há quase seis anos, cara.



– Isso mesmo! – James exclamou exasperado. – Ela está prestes a ceder!



Houve uma espécie de suspiro coletivo. Sirius olhou para cima, como se pedisse ajuda aos céus. James se irritou.



– Vocês não entendem – sentenciou. – Sou capaz de apostar que a Lily ainda vai correr atrás de mim e a gente vai se beijar de novo!



– Oh, não me diga! – Sirius falou maliciosamente. – Você quer que eu te acorde ou o sonho já está acabando mesmo?



– Vá zombando, Almofadinhas. Só porque você não consegue convencer a Marlene de nada, não significa que eu também vou me dar mal – Sirius riu.



– Bem, não sou eu que estou levando um gelo da garota, não é?



– Vocês vão ver só! – James garantiu, o peito estufado de certeza. – Eu posso ficar meio burro quando o assunto envolve a Lily, mas eu a conheço o suficiente para saber que ela vai, no mínimo, tentar esclarecer as coisas. Ela vai acreditar em mim. Esperem para ver.



E saiu do Salão antes mesmo de terminar o almoço, sentindo-se enérgico demais para continuar sentado.



– Se a Evans sonhar com uma coisa dessas... – Peter comentou em voz baixa. Sirius e Remo concordaram com a cabeça.



– Nem quero imaginar, Pedrinho – disse Sirius. – Nem quero imaginar...




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!