Causa Perdida? escrita por Gabriela Maria


Capítulo 37
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Demorou um pouco, mas chegou! O capítulo ficou um pouco maior que o de costume, mas gosto de pensar nisso como uma forma de fazer a demora valer a pena. Aguardo os comentários, hein?!
Boa leitura, pessoal!



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Lily empurrou os livros ao longo de uma mesa do salão comunal, impaciente. Ao seu lado, Marlene observou tudo com as sobrancelhas erguidas.

— Que foi isso? – ela perguntou. Lily suspirou.

— James Potter. Quem mais?!

— Ele continua se fazendo de difícil?

— Difícil é uma coisa diferente, Marlene. Meu namorado está sendo um idiota— ela deu um risinho amargurado. – Isso se é que ele ainda quer ser meu namorado.

— Não seja tola – a outra a repreendeu. – James nunca terminaria com você por uma bobagem dessas. Aliás, eu até acho que ele nunca terminaria com você por nada – Lily balançou a cabeça, desenganada.

— E de que adianta? Ele mal fala comigo, vive mal humorado, quer me culpar por tudo – houve uma pausa, então ela explodiu: – E eu não posso desperdiçar meu tempo com isso! Os NIEMs estão bem aí!

Marlene acenou para que a amiga falasse mais baixo, mas já era muito tarde. Várias pessoas as olharam de diferentes pontos do salão comunal. Marlene respirou fundo.

— Ainda por cima a biblioteca não abre aos domingos – Lily continuou, irritada como há muito tempo Marlene não via. – Eu sempre odiei estudar aqui. Não dá para se concentrar com todo esse barulho.

— Lily, pare de procurar desculpas para alimentar seu mau humor – Marlene disse enfim. – Por que você não dá logo uma dura no James?

— Para quê?! Só para ele dizer que eu o trato feito um pirralho? – Lily inspirou demoradamente. – Me diga de novo como eu me convenci de que James Potter não era um idiota, Marlene.

— Olha, quer saber o que eu acho? Isso tudo só vai se resolver quando o Remo voltar e colocar tudo em pratos limpos com os outros garotos. Quero dizer, Sirius também ficou chateado com a falta de notícias e tudo o mais. Imagino que os quatro Marotos vão precisar de uma espécie de reconciliação – mas a atenção de Lily se perdera na frase anterior.

— Como você sabe que o Sirius ficou chateado? – disparou.

— Ora, eu não sabia que era segredo.

— Não desconverse, Marlene – ela deu de ombros.

— Você sabe que a gente voltou a se falar, Lily. Não é bem a mesma coisa, mas... – as duas se encararam e Marlene vacilou. Lily sabia que a amiga estava escondendo algo desde a semana anterior. Marlene sumia sem aviso prévio nos períodos livres e, apesar de toda a tensão e de toda a tristeza que a partida de Claire provocara, Lily a flagrara sorrindo à toa em momentos inusitados.

— Você sabe que pode me contar, não é? – arriscou. Marlene não pareceu nada tranquila.

— Contar o quê?

— Qualquer coisa. Vamos, Lene, você também já sabe que gosta do Sirius, não é? – o rosto de Marlene corou rapidamente. Ela olhou ao redor para se certificar de que ninguém estava bisbilhotando.

— Eu não sei bem como você vai lidar com isso – começou –, mas me sinto muito mal por esconder isso de você e da Lice – Lily franziu as sobrancelhas.

— Como assim, Lene? – a outra garota engoliu em seco. Então, chegou mais perto da amiga e murmurou:

— Depois do que aconteceu com a Claire, eu acho que me dei conta de que qualquer um de nós pode ser a próxima vítima a qualquer instante. Sei lá... eu só... eu me desesperei um pouco e decidi que já tinha perdido tempo demais. Procurei o Sirius – Lily arregalou os olhos e cobriu a boca com as mãos, já imaginando o que viria a seguir. Marlene parecia dividida entre alegria e constrangimento. – Nós estamos juntos desde então.

— Marlene! – Lily deu um gritinho abafado. – Juntos como? – exigiu. Mas o rubor no rosto da amiga já entregava tudo.

— Namorando... ou algo assim.

— Por que você não contou?! – Lily a beliscou, fazendo Marlene pular na cadeira.

— Ai! Francamente, Lils, nosso timing foi horroroso. Todo mundo estava mal, o Remo tinha sumido, você e o James se desentenderam pouco depois... Como eu ia falar isso?! – Lily amarrou a cara.

— Nós nunca condenaríamos vocês por isso.

— É, mas o Remo podia ficar mais deprimido – ela retrucou, já recomposta. Lily assentiu.

— Certo, vou perdoar os dois. Mais alguém sabe?

— Alice descobriu... ela meio que viu o Sirius me mandando uns bilhetes na aula e veio me pressionar.

— Então é por isso que o Sirius não perde mais nenhuma aula! – Marlene sorriu, sem jeito. – Não acredito que vocês esconderam tudo!

— Ah, mas Alice só soube de tudo na sexta. Desde então, eu combinei com ela de te contar. Mas ontem você se trancafiou na biblioteca para estudar, então não tive muitas chances.

— Eu estou tão feliz por vocês dois! – Lily falou com sinceridade. – Já não era sem tempo, sabia?

— É, eu também acho que estava na hora. Mas, Lily, você não pode sair comentando por aí, ok? Sirius ainda não contou nada para o Remo – Lily assentiu.

— Ao menos uma notícia boa nisso tudo – suspirou. – Qual a sensação de namorar Sirius Black? – acrescentou, com uma expressão sugestiva. Marlene riu.

— É bem parecido com o que costumava ser, só que agora eu tenho permissão moral de sentir ciúmes – Lily riu também. – Não que seja preciso, claro.

— Ele se aquietou? – Marlene confirmou com a cabeça. Lily apenas sorriu. – Também já não era sem tempo. Só me explica mais uma coisa: vocês mal têm se falado na nossa frente desde a partida da Claire. Por quê?

Marlene abriu a boca para responder, mas desistiu de repente, parecendo assustada. Antes que Lily perguntasse qual o problema, uma voz conhecida falou ao seu lado:

— Há quanto tempo, meninas.

Lily se virou, agitada.

— Remo! – ele lhe ofereceu um sorriso cansado.

— E aí, Lily.

Ela se levantou para abraça-lo. Não pensou muito sobre isso, mas, felizmente, Remo não demonstrou qualquer incômodo quando retribuiu o gesto.

— Não te vi no café da manhã – Lily comentou depois de se afastar.

— É... Admito que preferi tomar café nas cozinhas. É uma história meio esquisita... – ele olhou para Marlene. – Como vai, Lene? – ela também ficou de pé e veio abraça-lo.

— É bom te ver de novo, Remo – Marlene falou, sorrindo. Remo corou um pouco.

— Obrigado.

— Você ressurgiu hoje?

— É, eu decidi que já estava mais do que na hora – Marlene concordou com a cabeça.

— Graças a Merlin. Eu já estava preocupada em como manter o estresse da Lily sob controle sem você por perto.

— Muito engraçado – Lily retrucou.

— Não se preocupe, Lene – Remo esboçou um sorriso. – Eu também farei o meu melhor com ela – eles ignoraram a careta de Lily.

— Bem, você já quer começar estudando com a gente? O senhor perdeu muita aula importante... – Lily começou.

— Na verdade, eu só queria dar uma palavrinha com você, Lils. Tudo bem? – ela trocou um rápido olhar com Marlene.

— É claro. Vamos lá fora.

Os dois se despediram brevemente de Marlene e foram para o corredor. Remo parecia constrangido, então Lily apenas esperou. Os dois caminharam em silêncio por um longo momento.

— Eu sinto muito pela confusão que causei entre você e o Pontas – ele disse enfim, evitando encarar a amiga. – Nunca pensei que ele pudesse ficar tão ofendido com o que houve.

— Remo...

— Só queria dizer que eu já falei com ele – Remo a interrompeu. Ele parou de andar e finalmente sustentou o olhar de Lily. – Nós conversamos e eu disse que ele devia parar de descontar em você a raiva que sente de mim. Não sei se vai surtir efeito imediato, mas fiz o melhor que pude – Lily respirou fundo.

— Você não precisa se sentir culpado por nada disso, Remo. O problema inteiro só existe na cabeça do James.

— Você é a pessoa em quem ele mais confia, Lily. Acho que ele sentiu que eu tinha roubado isso ou, sei lá... como se você não confiasse nele na mesma medida, entende? – ela balançou a cabeça.

— Isso seria uma maluquice. Sei lá... Desde o que houve com a sra. Potter, James tem umas conversas estranhas... Um dia desses, ele veio falar que eu provavelmente ia querer alguém mais inteligente para namorar depois da escola. Você acredita nisso?! – Remo estava com uma expressão confusa.

— Não parece algo que ele diria.

— Eu sei! – Lily começou a gesticular apressadamente, da forma como só fazia quando estava muito nervosa. – Não sei o que deu nele para me falar isso. E parecia tudo normal depois que ele pôde se afogar de novo no quadribol. Acredite, Remo, ninguém tem mais medo do futuro aqui do que eu. Não consigo nem resolver qual profissão seguir...

— Lily, você vai ser brilhante em qualquer carreira que escolha – Remo falou tranquilamente. – Não precisa se descabelar.

— Mas eu não sei! – ela finalmente conseguiu verbalizar sua maior preocupação. – Desde quando voltamos das férias de Natal, eu faço de tudo para não me perder na ansiedade, mas a pessoa com quem eu mais preciso conversar sobre isso resolveu me ignorar.

— Como assim?

— Eu venho de uma família trouxa, Remo. Não posso simplesmente largar meus pais para viver inteiramente no mundo bruxo. Isso não... sei lá. Não é certo. E eu não sei como o James vai lidar com isso. Não sei se ele ainda vai me querer depois disso, se o pai dele vai mudar a opinião que tem de mim por causa disso... Uma bruxa que quer viver entre os trouxas e seguir carreira na magia com essa situação que temos hoje? – ela revirou os olhos, desdenhando. – Gosto nem de pensar.

Remo pôs as mãos nos ombros dela, gentilmente. Seus olhos encontraram os de Lily.

— James nunca terminaria com você pelo simples fato de você agir exatamente como a garota que ele ama agiria. Ele nunca esperaria menos de você, Lily. Nenhum de nós esperaria, para ser sincero – ela bufou, impaciente.

— Mas eu me preocupo, fico assustada... e ele age como se fosse o único aqui que está com a vida incerta. Ele está sendo um idiota, Remo! Procurando motivos para ter raiva de mim e de todo o mundo, usando essa baboseira de que eu menti para ele... não menti porque queria enganar. Menti porque foi preciso, ele sabe!

— Ele vai se dar conta, Lily – ela baixou a cabeça. Estava cansada de escutar aquilo.

— Uma coisa tão pequena.... – lamentou. – Ainda não acredito que ele fez isso.

Remo não respondeu mais. Ele apenas afagou o ombro de Lily com uma mão durante um instante. Então, recomeçou:

— Eu também queria te agradecer por tudo o que você fez. Principalmente por me dar a coragem necessária para vir aqui e encarar meus amigos, agir como um homem adulto – Lily ergueu o rosto para olhá-lo. Remo estava sério, mas sua voz era terna. – Você tem sido a parte brilhante nisso tudo, Lily. Acendeu a luz para mim quando achei que não existia nenhum interruptor. O Pontas também vai reconhecer isso em breve e vocês vão se acertar – dessa vez, ela arriscou um pequeno sorriso.

— Não foi nada, Remo. O que importa é que você está com a gente outra vez. Já falou com os outros garotos?

— Rabicho não fez perguntas, nem o Frank. Mas conversei com o Almofadinhas, sim – ele sorriu, satisfeito. – O garoto também cresceu bastante, Lily. Eu fiquei surpreso.

Lily sorriu de volta, pensando em Marlene e em como ela e Sirius tinham, ao longo dos últimos dois ou três anos, ajudado um ao outro nessa fase de amadurecimento. Ficou tão feliz pela amiga que desejou que Remo já soubesse de tudo só para que pudessem comentar o assunto. Contudo, ela conteve o impulso de falar qualquer coisa, porque sabia que quem deveria dar a notícia era Sirius.

— É, acho que os seus amigos irresponsáveis melhoraram muito do primeiro ano para cá – ela brincou. Remo concordou.

— A Marlene fez muito bem a ele – acrescentou. – Um dia eles vão se entender. Não é possível.

Lily sorriu mais. Talvez já estivesse até contente demais para alguém que não queria deixar Remo desconfiado, mas ele não pareceu se importar.

— Bem, é isso, Lily. Agora, se não for pedir demais, será que posso ver suas anotações da última semana? Sabe como é, os garotos nunca copiam nada durante as aulas...

Eles voltaram juntos para o salão comunal. Remo já estava até conversando normalmente. E Lily pensou, pela primeira vez, que, dali a poucos dias, seria lua cheia novamente. Em outros tempos, só isso seria o bastante para deixar Remo abatido. Agora, porém, ele estava um pouco mais enérgico, mais vivo. Lily se alegrou ao perceber:

Remo estava lutando.

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— Então agora é oficial: só os garotos que não sabem ainda.

Sirius soou preocupado. Ele passou uma mão no rosto, como se estivesse nervoso.

— Quais as chances de a Alice já ter contado para o Frank também? – Marlene fez uma careta.

— Posso te responder numa escala entre “eu confio na minha amiga” e “não sei exatamente como ela e o Frank decidem o que devem manter em segredo um do outro”? – Sirius balançou a cabeça, suspirando. – Desculpe – Marlene arriscou. – Eu sei que nem tudo está saindo como a gente planejou, mas é que eu acabei meio encurralada... – ele deu de ombros.

— Não tem problema, Lene. Não é nossa culpa que o Aluado desapareceu durante todo esse tempo. Ficou difícil de os outros não perceberem.

— Você já pretende contar para ele? – Sirius meneou a cabeça.

— Acho que vou esperar só mais um pouco. Me certificar de que ele está mais recomposto, sabe – ela assentiu.

— Ele pareceu normal hoje de manhã, quando foi falar com a Lily. Os dois até voltaram conversando numa boa. Depois o Remo sentou e ficou estudando com a gente – Sirius parecia surpreso.

— Essa é uma ótima notícia. Inusitada, é claro, mas ótima. O Pontas passou o dia trancafiado no dormitório enquanto o Remo foi socializar com as garotas. Quem diria – Marlene sorriu brevemente.

— Lily me contou que o James andou trocando farpas com o Remo. E sobrou para a Lily, para variar – Sirius amarrou a cara.

— Eu não entendo qual o problema do Pontas. Tentei falar com ele sobre isso uma vez, mas o cara não consegue sustentar o assunto por muito tempo. Sei lá... É como se ele não quisesse perceber que está errado, sabe?

Os dois estavam sentados na mesma escadaria da Torre Norte onde, certa vez, Marlene confessara seus sentimentos por Sirius.

— Vai ver que é isso mesmo que está acontecendo – ela arriscou. – Mas tem que existir uma causa para esse surto dele.

Enquanto Sirius pensava, ela apoiou a cabeça no ombro dele. Lá fora o sol já estava se pondo e, felizmente, a maioria dos alunos estava jantando no Salão Principal, o que lhes garantia que os corredores estariam mais vazios que o normal para um domingo.

— Quando eu saí da casa dos meus pais nesse verão – Siris recomeçou –, Aluado e Rabicho foram me visitar assim que souberam. Desde então, nós meio que prometemos que enfrentaríamos tudo juntos, mesmo quando nosso tempo em Hogwarts acabasse. E o Aluado usou isso como uma forma de tranquilizar o Pontas depois do que houve com a sra. Potter – Marlene sentiu o corpo dele estremecendo ao mencionar a mulher que o acolhera como um filho. – E o Pontas sempre teve um problema em não conseguir controlar o que acontece de mal às pessoas que ele ama. Vai ver que foi daí que surgiu tudo.

— Você acha que ele surtou por que sentiu que o Remo não ia cumprir o pacto de vocês? – ela indagou, afastando-se para encarar o namorado. Sirius encolheu os ombros.

— Faz sentido para mim, mas é só um palpite – Marlene considerou a ideia por um tempo.

— É, quem sabe... A Lily bem que se reclamou, dizendo que o James agia como se ele fosse o único com o resto da vida incerto – Sirius deu um riso abafado.

— Quase como se ele estivesse com a síndrome do Aluado para sentir pena de si mesmo.

Durante um longo momento, ninguém falou mais nada. Sirius apoiou as costas no batente de cima e passou um braço por trás dos ombros de Marlene. Ela acomodou a cabeça no peito dele, satisfeita.

— Então... – começou, incerta. – O que você quer fazer depois de Hogwarts? – ela podia ouvir o coração de Sirius batendo num ritmo constante. Esse tinha se tornado há pouco tempo um de seus sons favoritos.

— Não sei – ele admitiu. – Pontas e eu costumávamos dizer que íamos viajar pelo mundo, como as pessoas faziam antigamente, sabe. Não falamos sobre isso há muito tempo, mas tudo mudou de lá para cá. Quando fizemos esse plano, ele ainda não estava com a Lily, a sra. Potter ainda estava com a gente... – houve uma breve pausa. – E eu também não estava com você, nem fazia a menor ideia do que faria com a minha vida.

Marlene sorriu. Parte sua estivera ansiando por ouvir algo parecido com o final da fala dele.

— Viajar é ótimo, mas não acho que ainda seja viável. Com tudo o que vem acontecendo... Já há boatos lá fora, sabia? As pessoas querem lutar. Dizem que talvez Dumbledore organize um grupo para fazer frente a Você-Sabe-Quem – ela não percebeu quando Sirius engoliu em seco.

— E nós vamos ter que lutar, não é? – ele perguntou, com a voz anormalmente séria. – Todos nós – Marlene confirmou.

Sirius a abraçou de um modo protetor que ela ainda não conhecia. Mentalmente, Marlene agradeceu por saber que ele não a julgava por seu medo. Sirius respirou fundo.

— Eu largaria a luta se você viesse comigo – isso a confundiu um pouco.

— Se eu fosse para onde?

— Viajar – ele vacilou por um segundo. – Nós podíamos passar um tempão viajando por aí, esperando as coisas se acalmarem por aqui. Eu iria, se você fosse comigo.

Marlene ergueu a cabeça para retribuir o olhar dele.

— Eu não posso ir embora, Black. Minha família está aqui, e eles vão querer lutar que eu sei, meus amigos estão aqui... Não posso simplesmente fugir. Ainda mais depois do que houve com a Claire – Sirius assentiu desajeitadamente. – E você também tem seus amigos... Não quer acabar com a raça dos malditos que fizeram a Claire deixar a gente? – ela hesitou. – Que levaram o Régulo? – Sirius ficou subitamente tenso.

— Meu irmão não foi levado – disse com firmeza. – Régulo é novo, mas ele sabe muito bem em que se meteu. Garanto que minha mãe pode ser ótima para se certificar disso – Marlene se odiou de imediato.

— Desculpe – ele passou uma mão pelo rosto, desconfortável.

— Não tem problema.

— Mas nós temos que ficar, Sirius. Quando tudo estiver bem, eu viajo com você para qualquer lugar.

Ele a olhou por uns segundos, sem dizer mais nada. Parecia divertido e, ao mesmo tempo, curioso. Marlene esboçou um sorriso.

— Então você ainda quer ficar comigo depois de Hogwarts? – ela fez uma careta, sem entender.

— Por que não ia querer? Eu lhe falei isso há mais de uma semana, nessa mesma escadaria.

Pela primeira vez desde que Marlene se lembrava, Sirius Black desviou o olhar e corou.

— Só para garantir – ele falou. – Gosto de te escutar dizendo que quer ficar comigo – Marlene sorriu, balançando a cabeça.

— Black, Black... – arriscou um beijo na bochecha dele. – Será que você também anda se preocupando com o resto da sua vida?

— Eu sei que tenho minha própria fortuna no Gringotes, mas dinheiro pode acabar, sabia? Eu preciso de um plano.

— Nós vamos dar um jeito – Marlene garantiu. Sirius a observou demoradamente, então disparou:

— Vou contar tudo ao Aluado amanhã.

— Quê?

— Não quero mais esconder de ninguém. Chega – Marlene sorriu.

— Tudo bem, então. Mas, só para você ficar sabendo, eu vou dizer ao Michael também – Sirius não entendeu.

— McLaggen? – ela confirmou. – Como assim?

— Bem, querendo ou não, ele foi meu primeiro namorado e a gente não terminou há tanto tempo assim... Na verdade, quando eu decidi que não dava mais, ele falou algo do tipo: “meu pai sempre disse que alguns erros, por piores ou mais tolos que sejam, a gente precisa fazer. O seu é me trocar pelo Black. O meu foi teimar por tanto tempo para que você não fizesse isso”.

— É por esse cara que você tem tanta consideração? – Sirius reclamou, indignado.

— Black, ele foi a primeira pessoa a jogar na minha cara o que eu ainda não queria aceitar: eu ia correr atrás de você em algum momento. Era inevitável. Não acho que tenha sido um erro, mas, sei lá. Passar aquele tempo com o Michael me fez perceber tanta coisa, inclusive sobre o que eu sentia por você... E eu sei que ele pode ser arrogante às vezes e que é cheio de outros defeitos, mas Michael sempre me tratou muito bem, por incrível que pareça. E o ciúme dele me convenceu de que você talvez gostasse de mim, afinal.

Ela podia perceber o quanto a conversa deixara Sirius desconfortável. Os dois nunca tinham conversado sobre Michael ou Jenna. Era como se não tivessem tempo para isso. Na maioria dos encontros, eles trocavam poucas palavras importantes entre uma sessão e outras de beijos. Marlene já ouvira muita gente dizer que começo de namoro era assim, então não viu problema algum, mas, já que estavam mais calmos naquele dia, decidiu que era hora de ter essa conversa com Sirius.

— Você se importa mesmo com o McLaggen? – ele disse enfim.

— Não é o tipo de pessoa para quem pretendo escrever depois que terminar a escola e tudo o mais, mas, sim. Conheço as qualidades dele e acho que não me custa nada entregar a notícia em primeira mão – ela fez uma careta. – Nós dois sabemos que ele sempre foi mais envolvido do que eu no que a gente tinha – Sirius continuava emburrado. Marlene suspirou. – Sinceramente, Sirius Black, eu estou com você agora, já não ficou óbvio o bastante?! Nunca voltaria com o Michael. Vê se me dá algum crédito.

Ele quase sorriu depois disso.

— Eu sei, você tem razão – suspirou. – Só fico pensando: você sempre teve relacionamentos significativos. Os meus eu sempre fiz questão de que fossem bem rasos – Sirius franziu o cenho. – Como nós chegamos aqui?

Marlene sorriu sugestivamente.

— Da única forma que a gente conseguia se entender até bem pouco tempo.

Ela encostou a boca na dele. Sentiu os lábios de Sirius sorrindo sob os seus antes de retribuírem o beijo.

— Bem pensado, Lene – ele murmurou quando já tinham parado.  – Acho que vou dizer isso mesmo ao Aluado amanhã: “sabe como é, cara, a gente se agarrou tanto e tão bem que as coisas foram acontecendo” – Marlene riu.

— Não sei se encaro como um elogio ou como um desrespeito.

Sirius a beijou de novo e ela sentiu uma felicidade boba. Se alguém lhe dissesse há menos de um ano que suas conversas mais longas com Sirius Black podiam acabar com declarações assim, ela não teria acreditado. Nem mesmo em um milhão de anos.

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Nas manhãs de segunda-feira, Lily tinha apenas um período livre. Poucos minutos antes de se livrar da aula de História da Magia, ela recebera um bilhete de James pedindo que ela fosse encontra-lo numa sala ali perto no seu período livre. Agora lá estava ela caminhando pelo corredor lotado, tentando se convencer de que ainda tinha bons motivos para tentar conversar com James Potter. Ele inventara alguma bobagem sobre estar com dor de cabeça para escapar da ronda na noite anterior, então Lily decidira que deveria encontra-lo ao menos para despejar todas as suas reclamações.

Parou diante da sala onde James deveria estar, respirou fundo e abriu a porta. Odiou-se por sentir o coração bater mais forte só de ver o namorado sentado sobre a mesa do professor, de cabeça baixa. James ouviu o barulho quando Lily entrou na sala e fechou a porta, o que o fez olhar na direção dela. Eles se encararam por um segundo, mas a atenção de Lily se concentrou no monte de flores amontoadas ao lado de James.

— Você veio – ele começou, sem jeito.

— O que você quer dessa vez? – ela falou defensivamente. – E para que essas flores?

— São lírios – James informou. – Eu só estava praticando para a aula de Transfiguração – Lily quase mordeu a língua para não dizer que eles já tinham estudado conjuração de plantas há meses.

— Então, você quer começar ou eu começo? – James assanhou os cabelos e desceu do birô para ficar de frente a Lily. Diante da falta de resposta, ele decidiu: – Você primeiro.

Ela respirou fundo. Não sabia mais o que pensar. Estava chateada pela forma como James a tinha tratado, mas também estava arrasada de saudades. Era difícil decidir qual sentimento mostrar.

— Você é um idiota – disse enfim, porque foi tudo o que lhe ocorreu. – E eu ainda não acredito que você fez todo esse drama por conta de uma coisa tão pequena – por um segundo, James vacilou e não conseguiu mais encará-la. – Você sabe quem eu sou, James. Sabe que faço de tudo para ajudar meus amigos. E você é amigo do Remo também! Meu Deus, por que você me tratou assim? – a voz dela falhou um pouco, destacando uma nota de ressentimento. – Você sabe que eu não menti por vontade de enganar. Eu só queria que o Remo não se sentisse pressionado, só isso. Mas, então, você ficou todo esquisito e começou a tratar todo mundo feito bosta de dragão, e resolveu me ignorar sempre que possível, ou me responder com monossílabos e eu tentei, juro que tentei ser paciente, quis acreditar que você só estava confuso, mas... – os olhos dela arderam de repente. Pela primeira vez, Lily percebeu o quanto estava magoada com tudo. – Esse garoto infantil não é o James por quem eu me apaixonei. E eu não posso mais fazer isso se você não está disposto a conversar abertamente comigo quando eu fizer algo de errado. É trabalho de equipe, James! E eu sinto sua falta. Eu preciso conversar com você sobre umas coisas e preciso daquele abraço no fim do dia para me prometer que vou me sair bem nos NIEMs, e....

— Lily – ele interrompeu, surpreendentemente calmo. – Você está coberta de razão – Lily virou o rosto para que ele não a visse enxugando os olhos nas mangas do uniforme. – Eu fui infantil, é verdade. Fui idiota. Nunca devia ter agido assim. Desculpe.

Ela se surpreendeu um pouco com a resposta. Virou o rosto para a frente de novo e percebeu que James já estava mais perto, encarando-a com firmeza.

— Por que você fez isso? – conseguiu perguntar. James pareceu acanhado.

— Porque eu sou um medroso de vez em quando – murmurou, olhando para o chão. – E eu não gosto de pensar que, em apenas uns meses, tudo na minha vida vai mudar. Acho que fiquei um pouco chateado com o fato de o Aluado evitar falar com a gente, triste pelo que houve com a Claire... e irritado por ver que você estava lidando tão bem com tudo isso – ele finalmente a encarou de novo. – Você, Lily, que tinha tudo para estar deprimida, engoliu o choro e foi cuidar do Aluado quando nenhum de nós achou que ele aceitaria ajuda – James encolheu os ombros com simplicidade. – Eu morro de medo do mundo real, Lily. E acho que meu medo aflorou quando a Claire fugiu, depois só piorou quando pensei que talvez o Aluado fosse nos abandonar também, quando quis acreditar que ele não confiava na gente. E descontei minha insegurança em quem não tinha nada a ver com isso. Fui infantil. Você está certa.

Lily fungou, ainda com o olhar fixo no dele.

— Você podia ter só conversado comigo sobre isso – James fez uma careta.

— Ninguém é perfeito. Eu sei que isso não é desculpa, mas eu fiquei meio cego, ou sei lá o quê. Não é sua culpa nem nada. Eu só não queria aceitar que estava errado.

— Você precisa confiar em mim, James.

— Eu confio – ele foi firme. – Confio em você mais do que em mim mesmo, para falar a verdade. Merlin, Lily, eu nem sei direito o que me deu. Mas é que todo mundo estava num momento tão estranho e tão difícil... E eu explodi na pior hora. Eu devia ter entendido seus motivos para não contar sobre o Aluado. Devia ter entendido os motivos dele para não querer a gente por perto. Eu só... surtei. Achei que aquilo era o começo do fim.

Lily não respondeu. Durante um momento, eles ficaram em silêncio, olhando para pontos diferentes, pensando. Então, James falou:

— Você se lembra do que aconteceu nessa sala? – Lily o observou, confusa. James estava esboçando um sorriso quando ela arregalou os olhos, lembrando. Ele pareceu satisfeito. – Foi aqui que eu tive a coragem de me declarar pela primeira vez – continuou. – Eu te beijei e achei que estava tudo resolvido, mas você fez questão de dizer que nada tinha mudado. Eu quis te odiar por isso depois de um tempo, juro.

— Você não é medroso – Lily disparou inesperadamente. Isso lhe parecia algo importante de se destacar. – Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço, James. Tudo bem que tem lá seus defeitos, mas nem todo mundo consegue expor as emoções com a mesma facilidade que você. E é normal sentir medo. Eu só preciso saber que você conta comigo na hora de enfrentar isso – ele engoliu em seco.

— Eu sei que você ficou magoada e eu realmente sinto muito, mas não te pedi para vir aqui só para me perdoar. Eu quero que a gente fique juntos por muito tempo, Lily. Se isso for mesmo acontecer, nós dois vamos nos magoar várias vezes e vamos precisar perdoar um ao outro o tempo inteiro. Eu te pedi para vir aqui hoje porque te amo e acho que você me ajuda a ser uma pessoa melhor. E, se você decidir me perdoar, o ideal é que seja pelo mesmo motivo.

Ela inspirou demoradamente. James parecia preocupado, mas sua expressão era a mais controlada possível. Lily balançou a cabeça.

— Eu sinto muito a sua falta – admitiu. – Muito mesmo, James...

Ele a abraçou e ela finalmente retribuiu. Escondeu o rosto no peito de James por um tempo indefinido, agarrando-se à sensação de segurança que ele sempre lhe trazia. Não pensara que perdoá-lo seria tão fácil e tão rápido, mas era muito pior ter de aguentar a falta injusta de James do que aceitá-lo de volta.

— No Natal do sexto ano – ele recomeçou em voz baixa, ainda abraçado a Lily –, eu pensei em te fazer uma surpresa e te convidar para a festa do Slughorn. Você estava me evitando desde o beijo, então eu conjurei um monte de lírios, montei uma espécie de buquê e me preparei para deixar na sua cama, no dormitório feminino. Escrevi bilhete e tudo o mais.

Lily ergueu a cabeça para olhá-lo, confusa.

— Eu não recebi nada disso – James assentiu.

— Decidi que ia entrar no dormitório num sábado à tarde, quando você devia estar na biblioteca com as garotas. Mas no caminho para passagem secreta, eu te vi com o Christian Wood – Lily escondeu o rosto nas vestes dele outra vez, envergonhada. – Aos beijos – James continuou, num tom quase divertido. – Nunca agradeci tanto por estar vestindo a Capa da Invisibilidade. Juro que pensei em transformar o Wood em gelatina.

— Wood queria me levar para Hogsmeade – ela falou, com a voz abafada pela camisa de James. – Saí com ele na visita de Natal e ele me abordou depois da reunião de monitores para me convidar para a festa do Slughorn.

— E você aceitou – James concluiu. – Imagine só como não fiquei dividido quando recebi o distintivo de monitor durante as férias de Natal. O Wood era nosso monitor-chefe e você faria as rondas comigo. Eu quis morrer – ele recuou um pouco e a soltou. – O ponto é que, quando você caiu naquela cilada boba e veio parar nessa mesma sala para me encontrar, há mais de um ano, você encontrou um cara muito diferente. Eu ainda não tinha entendido o significado real de estar perdidamente apaixonado por alguém. Agora eu sei. E eu não quero que um lapso nervoso meu faça você se esquecer disso.

— Então aquelas flores...? – ele sorriu.

Accio! – ordenou, apontando a varinha na direção dos lírios. Eles voaram em sua direção e James os arrumou numa mão antes de entrega-los à namorada.

— Eu só queria ter alguma coisa bonita para te dar quando pedisse desculpas. Não sou mais o romântico bobo do sexto ano, mas ainda lembro que garotas gostam dessas coisas – Lily sorriu.

— São lindos – admitiu timidamente. – Mas você sabe que pode contar comigo, não é? E sabe que eu também conto com você? Todo mundo está com medo do que vem por aí, James, mas ninguém vai resolver isso na base da irritação. Nós precisamos ficar juntos, confiar uns nos outros, ter paciência com os defeitos uns dos outros – ele concordou com a cabeça.

— Eu sei. Você está coberta de razão. Eu só... sei lá. Eu estou meio perdido. Não sei direito o que vou fazer depois de Hogwarts e papai ainda está bem abatido pela morte de mamãe, então é difícil... – Lily segurou uma mão dele com força.

— Eu estou com você. Tem sido difícil para mim também, mas eu gosto de pensar que você vai estar comigo sempre, que a gente vai se ajudar – James tocou o rosto dela com cuidado.

— Você sabe que eu estou com você sempre, Lily – o coração dela deu uma batida particularmente forte.

— Até quando eu te disser que também não sei qual carreira seguir na magia e que penso seriamente em morar com meus pais trouxas depois de Hogwarts? – James sorriu.

— Especialmente agora que sei disso – Lily deu um risinho de alívio. – Eu preciso conhecer seus pais, explicar que tenho as melhores intenções... Não me esqueci de nada disso não.

— Eu também te amo – Lily disparou, com os olhos marejados de novo. – Só para constar. Amo mesmo. Não seja idiota comigo de novo – o sorriso de James aumentou.

— Farei meu melhor.

— Certo – ela respirou fundo para se recompor.

Quando seu olhar retribuiu o dele, James já estava se inclinando. Lily ergueu a cabeça e encostou a boca na dele. Beijou James por um tempo indefinido, até que algum deles finalmente resolvesse recuar e deixou sua insegurança evaporar a cada segundo, porque, agora ele tinha voltado, estava agindo, falando e beijando exatamente como o James Potter que ela aprendera a amar, então nada mais a preocuparia naquele momento.

— Nossa primeira briga de casal – James comentou quando eles interromperam o beijo. – Já podemos dizer que sobrevivemos à primeira crise.

Lily sorriu antes de beijá-lo outra vez. Há pouco mais de um ano, naquela mesma sala, eles tinham se beijado e Lily garantira que nada mudaria por causa disso. Felizmente, o arrogante do Potter a convencera do contrário.

 


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