Causa Perdida? escrita por Gabriela Maria


Capítulo 3
Capítulo 3




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Lily chegou ao salão comunal da Grifinória após dez minutos de umacaminhada desorientadapelos corredores daquela ala do castelo. Durante o percurso, ela não encontrou Remo nem Black, mas sabia que não teria feito nada se os tivesse visto. Na verdade, ela ainda se sentia completamente desconcertada.

Havia apenas um pequeno grupo de setimanistas no salão comunal e Peter Pettigrew dormia sobre um emaranhado de papéis numa mesa junto à janela. Como ninguém se importou com sua chegada, Lily apanhou o livro que deixara numa poltrona afastada e sentou no chão, diante da lareira. Pensou na conversa com Potter e sentiu um estranho arrepio na espinha. Por um segundo, ela realmente acreditara que ele podia ter sido sincero, mas James Potter não era do tipo romântico apaixonado.

Ainda assim, o que mais a exasperava era a não tão infeliz lembrança de que elao tinha beijado. Lily não entendia por que tinha feito isso, mas sabia que Potter a tinha surpreendido. Afinal, como ele a conhecia tão bem?

Foi arrancada desses devaneios pelobaque de um livro caindo. Assustada, ela se levantou e viu um dos setimanistas apanhar umlivro grosso do chão e seguir para o dormitório. Finalmente, aproveitando que os outros três marotos ainda não haviam chegado,Lily também decidiu subir para o próprio quarto.

Entrou cautelosamente no dormitório e encontrou Alice e Marlene conversando aos sussurros, sentadas na cama de Marlene. Elas pararam de falar quando viram Lily.

Lily! - exclamaram em uníssono.

- Pensei que você tivesse sido sequestrada pelo Pirraça – divertiu-se Marlene. – Mas por que demorou tanto? Não me diga que os armários de vassouras estavam cheios de casais...

- Não, não foi bem isso... – ela corou. – Vocês não deviam estar dormindo?

-Oh, não! – Marlene dramatizou. – A Alice está me brindando com uma interessante aula sobre os defeitos mais irritantes do Frank, não é, Lice?

- Você bem que quis ouvir – Alice retrucou tranquilamente. Ela parecia muito mais calma do que da última vez em que Lily a vira. – Amanhã mesmo eu vou falar com o Frank. Acho que exagerei um pouco.

- Isso mesmo, só um pouco – Marlene ironizou. Lily riu. – Afinal, Lily, o que aconteceu de tão interessante na ronda?

- Bem – ela começou, sentando-se na cama de Marlene –, o Remo teve um acesso maluco de tosse quando eu insinuei que a Claire poderia convidá-lo para a festa do Slughorn.

Alice e Marlene riram com gosto. Na cama ao lado, May Clinton se remexeu. As outras três se entreolharam.

- Bem, acho que vou me preparar para dormir – Lily falou distraidamente.

- Você está estranha – Marlene desconfiou. 

- É – Alice apoiou. – O que aconteceu?

Lily piscou os olhos, atordoada. Era tão óbvio assim?!

- Ah, nada... É só que eu encontrei o Potter durante a ronda – os olhos de Alice e Marlene brilharam sugestivamente e elas deram pequenos sorrisos. – Quê?!

- Bem, pelo que eu sei, você nunca se incomodou de dar um flagra nele e aplicar uma boa detenção – Alice respondeu.

- E imagine só a cena: você e o James, sozinhos nos corredores desertos de Hogwarts.

Alice afundou o rosto num travesseiro para abafar uma gargalhada. Marlene sorriu também, mas Lily não conseguiu amarrar a cara como de costume.

- Ora essa! Não aconteceu nada! – protestou, corando.

- Não? – indagou Alice, segurando o riso.

- Não! – Lily respondeu irritada. Como as outras duas continuavam sorrindo de modo suspeito, ela se levantou. – Vou me trocar – anunciou.

Em seguida, rumou para o banheiro. Alice e Marlene imediatamente trocaram olhares cúmplices e delinquentes.

- Você acreditou? – Alice quis saber.

- Nem por um segundo – respondeu Marlene.

- Será que ela vai contar? – a outra insistiu.

Mas Marlene apenas deu de ombros.

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- Ai!

- Que foi, Sirius?!

Sai da frente, Almofadinhas!

- Pontas?! Por que você está com a Capa da Invisibilidade?

- É uma longa história, Remo. Digamos basicamente que eu não quero ser visto!

Shiii! – Sirius interrompeu – Querem acordar o Filch?! – ele olhou ao redor – Onde está a Evans?

Remo e Sirius pareciam muito interessados, mas James soltou um bufo de aborrecimento enquanto despia a Capa.

Não sei. Ela saiu da sala onde nós estávamos há algum tempo – informou de má vontade.

- Então o plano deu errado? – Remo quis saber.

- Ainda não tenho certeza – Remo ficou confuso. Sirius balançou a cabeça.

Outro fora, Pontas? – perguntou decepcionado – Por que você não entende logo que a Evans não te quer?

- Ah, Sirius, não enche!

James não esperou por mais comentários. Cobriu-se de qualquer jeito a Capa da Invisibilidade e saiu marchando para o salão comunal. Remo e Sirius o acompanharam.

Ninguém conversou durante o caminho até a torre da Grifinória. James não sabia o que sentir. Parte sua ainda estava anestesiada pelo beijo de Lily, mas outra parte se sentia completamente frustrada. Ele sabia que Sirius e Remo esperavam ansiosamente por um relato minucioso da conversa, mesmo assim, não sentia qualquer vontade de falar sobre o assunto. Surpreendentemente, uma pequena fagulha de esperança começava a nascerem seu interior. Vendo pelo lado bom, um beijo é um grande passo eLily sequer tentara estapeá-lo.

Peter era o único aluno ainda presente no salão comunal. Quando os outros Marotos chegaram, ele dormia tranquilamente sobre vários livros e pergaminhos.

- Peter! – Sirius chamou impaciente. – Acorda, cara!

- O quê?! O que foi? – Peter mal conseguia erguer a cabeça.

- Da última vez que você dormiu no salão comunal, nós tivemos que aturar seu mau humor o dia inteiro por causa de um mau jeito no pescoço – Remo lembrou, juntando o material escolar do amigo.

Ainda muito sonolento, Peter se levantou, guardou o material na mochila e foi com os amigos para o dormitório.

- E então, Pontas, como foi com a Evans? – indagou enquanto subiam as escadas.

- Ele ainda não sabe – Sirius respondeu, olhando de esguelha para James.

Talvez amanhã eu conte. Agora tô com muito sono para isso.

Os outros três trocaram olhares confusos, mas James os ignorou. Estava concentrado em convencer a si mesmo de que tinha tudo sob controle.

No dormitório, Frank já estava dormindo. Peter caiu na cama com a roupa que estava e, cinco minutos depois, já estava roncando. Remo e Sirius se trocaram rapidamente e também se recolheram. James, porém, fez tudo isso muito lentamente e, quando enfim se deitou, ficou contemplando o dossel da cama. Seus pensamentos pairaram por vários minutos, enquanto ele revia mentalmente cada reação de Lily.

Suspirou. Talvez ela realmente não o quisesse...

Mas a lembrança de tinham se beijado fez com que James se tranquilizasse um pouco. Ele se remexeu na cama, tentando dormir. Sorriu involuntariamente. E daí que Lily tinha fugido? Era óbvio que ela não cederia facilmente...

- Bobagem – murmurou para si mesmo. – Ela vai entender que eu fui sincero.

E, pouco depois, adormeceu.

*****************************************************

Lily?

- Hum?

- Ainda não conseguiu dormir?

- Acabei de cochilar – mentiu Lily. Ela ouviu o barulho de Marlene se remexendo sob as cobertas da cama ao lado.

- Então, o que está perturbando seu sono?

Mesmo no escuro, Lily podia sentir os olhos da amiga sobre si. Continuou deitada de barriga para cima, contemplando o dossel da cama, pensando numa resposta viável.

- Acho que estou preocupada com aquele dever enorme de Transfiguração – improvisou.

- Sei – Marlene respondeu pensativa. – Então você preferiu ficar só pensando em vez de fazer o dever? Quem é você e o que fez com minha amiga Lily Evans?!

Lily deu um sorriso sem graça. Marlene se remexeu outra vez e, no instante seguinte, um feixe de luz surgiu da ponta de sua varinha.

- Marlene! – Lily censurou. – Quer acordar as meninas?

Mas Marlene não se incomodou. Afastou lentamente as cobertas e correu para se sentar na borda do colchão de Lily, de frente para a amiga. Em seguida, puxou as cortinas para camuflar a luz da varinha.

- O que foi? – assustou-se Lily, ficando sentada também. Marlene a encarou fixamente, com uma expressão séria.

- Você está estranha – disse com firmeza. – Voltou da ronda com uma cara esquisita, não quis ler nem estudar até mais tarde...

- Acho que sua insônia é contagiosa – Lily falou com simplicidade. Marlene ergueu uma sobrancelha.

- O James está em apuros?

?!

- Você não o deixou de detenção pelo resto do ano, não é? Quero dizer, Alice falou que James e Sirius sumiram do salão comunal, então eu pensei que eles tinham aprontado.

- Não... – atrapalhou-se Lily. – Não teve nada... Dessa vez, o Potter foi quase inocente.

- Quase? – Marlene repetiu desconfiada. Lily suspirou.

- Ah, Lene... é que... – respirou fundo. – Potter armou uma cilada.

E contou sem muitos detalhes sobre o plano de Potter e a conversa que teve com ele. Naturalmente, Lily não mencionou o beijo, mas Marlene parecia estar num dia de inspiração.

- Uau! Lily! – exclamou contente. – Ele falou tudo isso mesmo? – Lily assentiu timidamente. Marlene estava maravilhada.

- Você tem certeza de que nunca, nunca mesmo mencionou essas coisas para ele?

- Definitivamente. Nós nunca debatemos esse assunto, Lily. Geralmente, o James tenta se fazer de forte na minha frente, como se os seus foras não tivessem importância para ele. Aliás, sabe que eu nunca tinha notado essa sua mania de mexer o nariz quando está constrangida? – involuntariamente, Lily mexeu o nariz.

Seu ânimo começou a afundar. Será que Potter realmente tinha falado a verdade?

- Bem, eu fico imaginando como serão os próximos dias – falou num suspiro cansado.

- Serão como sempre – Marlene disse confusa. – O James tentou te conquistar. Você deu outro fora nele. Black vai rir da cara de vocês, o Remo vai balançar a cabeça, Alice, Claire e eu vamos dizer que você e James estão claramente apaixonados um pelo outro. Por que seria diferente?

- Porque ele se declarou! – desesperou-se Lily. – Lene, eu nunca achei que Potter conhecesse algum sentimento além do amor próprio!

- Então você acredita mesmo que ele foi sincero?

- Sim! Digo, não! Ah, Marlene, eu não sei! Argh! – apesar da frustração evidente da amiga, Marlene sorriu.

- Por que você não dá uma chance a ele, Lily?

- O quê?! Eu não gosto do Potter. Não há nada nele que me interesse.

- Ora, não seja tão dura. No começo do nosso primeiro ano, você disse que ele era bonito e engraçado. Disse que gostava do contraste entre os cabelos assanhados e os óculos redondos.

- Isso foi antes de ele se provar um ser desprezível, um completo estúpido – Lily se odiou por ficar com o rosto tão vermelho quanto os próprios cabelos.

- Você tem de convir que ele tem melhorado...

- Marlene, você não vai me convencer de que o Potter é um bom partido. Nós duas sabemos que eu estou interessada em outra pessoa – ela falou com firmeza, tentando desconversar.

- Amos Diggory já terminou Hogwarts e Adam Corner está namorando uma colega da Corvinal. Você sabe disso, Lily.

- Não importa. Eles é que fazem o meu tipo, e não o Potter!

Houve uma pausa. Lily estava levemente exasperada por perceber que só agora estava pensando em algum garoto além de Potter. Pensando bem, ela mesma já não se julgava interessada em Amos nem em Adam, ainda que Potter não fosse uma opção.

- Vou dormir – Marlene anunciou. – E você, já que está com tanta insônia, deveria pensar num jeito de evitar que seu rosto pegue fogo sempre que alguém menciona James Potter.

Ela seria capaz de jurar que seu rosto nunca mais foi o mesmo depois da travesseirada que seguiu suas palavras.


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